História Intocáveis - 00 - Prólogo

                                                        Dia chuvoso.

Quando se está em setembro os dias chuvosos não são algo de se surpreender. Ficar de baixo das minhas cobertas andando pela casa, as vezes parando num ponto e refletindo sobre o dia, ou até mesmo o ano, é um costume meu pra dias chuvosos, não tem porquê não, é perfeito, é como se o planeta separasse um dia em que tudo conspira pra você só ser, refletir. Mas hoje estava mais pra um dia de descontração e liberdade de seus pensamentos do que pra um dia reflexivo, e não vou mentir, adoro me ver liberto de mim mesmo, as vezes é bom sair da prisão dos seus pensamentos, da pressão e tudo mais, e só viver o momento.

Mais uma vez estamos nós três reunidos na minha casa, nós três digo eu, Lucia e Johane, só mais uma festa do pijama.

– DAVID. – Lucia pela quinquagésima vez gritava meu nome, enquanto me encontro ajeitando-me na cama e ela alguns centímetros longe de mim ajeitando seu colchão no chão, ou seja, não havia necessidade alguma de gritar-me.

– Olha aqui, você não grite comigo que eu ‘tô do seu lado, Lucia. O que é que você quer? – Eu tenho um jeitinho meio impaciente e aparentemente rude de responder minhas amigas, mas é algo nosso, não as ofendo falando assim.

– Eu não ‘to achando aquele travesseiro que você me deu – Ela para pra olhar em volta e coçar sua cabeça, com uma expressão confusa no rosto, que eu não vou negar a deixava muito fofa. – ‘to procurando a um tempo já...

– Filha... – Falei em meio aos risos e Johane me acompanhava rindo jogada no seu colchão, que do contrário do de Lucia, estava perfeitamente pronto pro uso, se é que me entendem. – Tá em baixo dos seus joelhos.

– Ah, mentira?... Como eu pude... – Lucia parecia realmente séria em relação a quase ter perdido seu travesseiro – Do que vocês dois estão rindo? No fim eu poderia ter de dormir sem um travesseiro!

– Ah mas é claro, Johane, nós não deveríamos estar rindo da cara da Lu coitadinha, imagina só se ela não achasse o travesseiro? Teríamos de ir buscar outro no armário e... Só Deus sabe o que aconteceria... – Eu estava sendo totalmente irônico, e Johane com certeza deve ter notado meu tom pois já tinha parado de rir e incorporado a personagem, já Lucia parecia contente com o resultado de seu “sermão”.

– Lucia, você me perdoa? Eu não tinha pensado nas consequências, agi sem pensar. – Como amo Johane.

– Sim e... – A loira por um segundo parou e encarou eu e Johane por uns cinco segundos, nós estávamos tentando conter nosso riso, e falhando. – Ah mas olha aqui eu vou afogar vocês dois.

Depois dessa ameaça eu e Johane finalmente liberamos nossos risos e não era só uma ameaça, Lucia pegou seu travesseiro e realmente tentou nos afogar. De um assassinato se tornou uma guerra de travesseiros e nós perdemos um tempo significativo nisso, havíamos até construído fortalezas de cobertas e qualquer outra coisa que encontrássemos no caminho e servisse pra tal, quem venceu não importa, acho que nem nós tínhamos tal informação, mas foi extremamente divertido, e no final acabamos todos exaustos jogados num canto do cômodo.

– Eu desisto de afogar vocês. – Lucia falou em meio a respiração descompassada.

– Por ora eu desisti, mas não pensam que estão seguras dormindo sob o meu teto.

– Nada. A. Comentar. – Johane disse com muito esforço e dando longas pausas entre as palavras pra respirar.

Nenhum de nós tínhamos uma rotina de esportes ou exercícios que nos mantinham em forma então estávamos todos exaustos, eu estava bem em só assistir jogos. Nós ficamos uns cinco generosos minutos só esperando nossos corpos voltarem ao normal.

– Prontas? – Prontas pra dormir, eu me referia, era um dia de semana então tínhamos aula no dia seguinte e já tínhamos meio que ultrapassado o horário que nos permitisse dormir o suficiente pra não acordarmos como lesmas ressecadas no dia seguinte. Sem falar que amanhã teria jogo da nossa escola e eu não perderia por nada. –  A gente deveria estar dormindo já, imagina se a mãe da Lu descobre que deixei ela acordada até essa hora, Jo...

– Aí vou nem fala nada, agora eu só durmo, vai que ela aparece aqui. Ixi, olha aqui to toda arrepiada.

Johane é uma ótima atriz, o que fazia com que seus momentos de humor fossem bem mais engraçados do que se fossem feitos por outra pessoa. A questão era que a mãe da Lucia é bem rigorosa e todo aquele papo de mãe brava.

Apesar de Lucia sempre ter algo pra responder sobre sua mãe, se manifestar ou qualquer outra coisa, ela se permaneceu quieta como se não tivesse ouvido essa parte da conversa e tentava arrumar o lençol no colchão, talvez tenha acontecido algo.

Nessa noite a gente acabou prometendo ir dormir depois de arrumar o quarto mas acabamos indo dormir sabe Deus quando. Mas dizem que são as pequenas coisas que mudam um dia, um relacionamento, o humor, e eu acredito nisso.

Meu nome é David, ou só Davi, se lê Dêivi e não Daví. E eu tenho atualmente dezesseis anos.