1. Spirit Fanfics >
  2. Intoxicated >
  3. Intoxicated

História Intoxicated - Intoxicated


Escrita por: seexsaw

Notas do Autor


Escrevi essa angst ouvindo Fake plastic trees e recomendo pela vibe.

Boa leitura!

Vejo vocês nas notas finais <3

Capítulo 1 - Intoxicated



Ele* mora com um homem corrompido
Um homem de polistireno lascado
Que apenas se destrói e se queima. 

—Fake Plastic Trees, Radiohead.

Eram exatas 3h30 da madrugada quando recebi a chamada de Kyungsoo em meu celular. Não foi preciso qualquer explicação para que eu soubesse o que havia acontecido já que o menor tossia incessantemente e parecia gorgolejar do outro lado da linha.

Toda vez que ele me ligava algo doía em mim,um súbito aperto no peito fazia-me sufocar. Odiava as suas ligações porque eram sempre naquelas circunstâncias.

Como o idiota preocupado que era me via dirigindo até a casa de Do Kyungsoo em plena madrugada sem a menor hesitação. O sono já havia escapado de mim por completo a partir do momento em que ouvi aquele maldito celular tocar.

Eis o que acontecia: Kyungsoo mantinha um relacionamento nada saudável com Kim Jongin—um cara pelo qual o menor conheceu por redes sociais—faziam uns bons 7 anos. Os primeiros anos foram maravilhosos,era nítido nos rostos de ambos o quanto se amavam e sentiam carinho um por outro,mas não demorou muito para que as coisas começassem a mudar e tomar uma forma desfigurada e doentia.

Desde que Kyungsoo começou a se relacionar com o tal Jongin sempre achei as conversas entre eles um pouco estranhas. O Kim sempre parecia ser muito bruto,agressivo e possessivo com o Kyungsoo o fazendo desistir de inúmeros planos por crises exageradas de ciúmes. Houve um tempo onde o menor resolveu parar de conversar comigo por uns meses,pois de acordo com Jongin estávamos próximos demais pro meu próprio bem.

Tudo pareceu piorar quando Kim resolveu vir encontrar o Do pela primeira vez e acredite,veio de mala e cunha dizendo que havia vindo morar com ele sem ao menos questionar o menor sobre suas vontades. As coisas estavam tomando um rumo do qual eu sabia que não teria uma saída ou um final saudável.

Já perdi as contas de quantas vezes tentei fazer com que Kyungsoo enxergasse que aquele projeto de relacionamento era extremamente abusivo e unilateral. Seus desejos,suas vontades e opiniões nunca eram acatados.

Percebi que as coisas estavam começando a sair de controle quando notei Kyungsoo aparecendo com várias marcas roxas em partes estratégicas do corpo. Como em um dia em que estava fazendo um calor infernal e obriguei o menor a retirar o moletom desnecessário que estava usando. Ele implorou para que eu o deixasse em paz,mas insisti de maneira tão afoita que acabei por conseguir despi-lo.

As marcas roxas de dedos em seus quadris,queimaduras de cigarro por todo o abdômen e suas costelas tomando uma cor esverdeada nauseante—tamanha era a gravidade da fratura—fizeram com que algo em mim despertasse. A mais pura ira.

Retoricamente questionei quem havia feito aquilo com ele. Quem havia feito aquilo com meu melhor amigo,o homem que eu tanto amava e queria proteger e a única resposta que me foi dada,foi a seguinte:

—O Jongin,ele... Ás vezes ele consegue ser um pouco bruto,não é nada com que tenha que se preocupar.

O sorriso mínimo em seu rosto enquanto me respondia fazia-me entender que aquilo realmente estava pior do que eu pensava. Kyungsoo se anulava completamente por Kim Jongin. Ele se deixava ser humilhado,espancado e muitas vezes abusado por pensar ser coisas toleráveis para que continuasse o relacionamento com quem acreditava amar.

Violência em contexto ou aspecto algum deve ser tolerada. Nenhum tipo de abuso,humilhação e desrespeito deve ser tolerado.

Por muitas vezes,Jongin o deixou jogado totalmente machucado e até mesmo inconsciente em um beco qualquer. Só quando o menor despertava de sua perda de consciência que ligava pra mim para que pudesse ajuda-lo. Por muitas vezes tive que ouvir o seu choro copioso contra o meu peito,o seu desespero,a sua necessidade de exteriorizar a dor que sentia.

Do Kyungsoo vivia um relacionamento tóxico e abusivo.

Mas Do Kyungsoo também queria permanecer intoxicado e isso fazia-me ruir e sucumbir a impotência. Eu nada podia fazer,a não ser tentar fazer com que ele se afastasse por conta própria daquilo que tanto lhe fazia mal. Jongin tinha seus contatos e por isso nada o impedia. Não adiantaria denunciá-lo,não adiantaria tentar pará-lo porque o menor nunca me deixaria fazê-lo.

A sensação de impotência por si só era angustiante e doía como o inferno,mas isso somado com o amor que nutria pelo baixinho dava resultado a uma sensação quase insuportável. Insuportável,pois eu o via se autodestruir de perto e mesmo que tentasse mudar isso com todos os meus esforços,Kyungsoo não me deixava entrar. Não me deixava ajudá-lo da maneira que precisava.

Do Kyungsoo não me deixava amá-lo como realmente merecia.

Quando cheguei em frente a casa de Kyungsoo fiquei extremamente em alerta ao notar a porta totalmente escancarada. Desci do carro rapidamente o travando e fui correndo até a porta. Tinha que admitir que estava com medo do que podia encontrar,do que podia ver.

Em meus piores pesadelos rondavam imagens de Kyungsoo sendo vítima de Jongin,os cenários tortuosos e nauseantes nunca se repetiam em meu sonho. Tudo o que eu mais temia era que algum deles se tornasse realidade,pois não saberia se conseguiria aguentar.

Eu não conseguia nem cogitar.

Ao adentrar o ambiente e fechar a porta devidamente deparei-me com uma visão que fez com que aquela sensação de aperto e angustia em meu peito se multiplicasse. Kyungsoo estava caído de bruços ao chão bem próximo ao sofá da sala. Uma quantidade exorbitante de sangue saía de sua boca e o menor estava imóvel. O celular pendia de suas mãos inertes.

Ajoelhei-me desesperado virando o menor e depositando sua cabeça em minhas coxas. Dei leves batidinhas em seu rosto enquanto checava se o menor ainda respirava e pra minha felicidade e alívio,ele ainda o fazia.

—Soo... —chamei ternamente. Minhas mãos trêmulas e lágrimas que irrompiam sem intenção dos meus olhos eram sinais claros da minha ira iminente.

Eu queria matar Kim Jongin.

Eu queria que Kyungsoo se desintoxicasse daquele verme.

Lentamente Do foi abrindo os seus olhos e ao perceber que me encontrava ali,deixou com que um sorriso repleto de sangue surgisse em seus lábios em formato de coração. Sua mão que ainda segurava o celular levemente,o soltou e veio até o meu rosto enxugando uma das lágrimas que insistiam em cair.

—Você veio. —murmurou,tossindo fortemente grandes quantidades de sangue.

Levei minha mão até a sua que acariciava o meu corpo e entrelacei nossos dedos em um gesto de apoio e carinho.

—Você sabe que eu sempre venho. —respondi e Kyungsoo fez menção de se levantar levemente,mas gemeu de dor ao fazê-lo.

—Me leve pro banheiro,por favor. —pediu. —Eu vou precisar me limpar.

—Primeiro preciso saber o que ele fez dessa vez. —engoli à seco. Eu odiava falar aquilo como se fosse uma coisa corriqueira,odiava tamanha impunidade com um bastardo daqueles. —O que aconteceu?

Antes de me dizer qualquer coisa o menor limpou o sangue que saía de um corte em sua boca e com meu auxílio se sentou,tremulando muito de dor no processo.

—Foi mais uma das crises de ciúmes do Nini. —respondeu simplesmente já que para ele já era rotineiro. —Dessa vez,ele tem toda a certeza que eu transei com um dos amigos dele.

—Kyungsoo... —disse frustrado.

—Está tudo bem,Channie. —sorriu e comprimiu os olhos devido aos ferimentos que pareciam doer profundamente. —Só preciso da sua ajuda para que eu arrume toda essa bagunça antes que o Kim volte,pode ser? Tenho certeza que ele vai ficar irritado se me ver ainda debilitado e todas essas coisas fora do lugar. Ele odeia desordem.

—Chega,Kyungsoo! —esbravejei. —Chega,você não vê o que está acontecendo aqui?

—Chanyeol,agora não... Por fa...

—O homem que você acredita amar não passa de um sádico desgraçado,Kyungsoo. —afirmei. —Você não vê como ele te trata? Ele trata você como se fosse um saco de pancadas e até como coisas piores! Deus,você até trancou sua faculdade por causa desse maldito... Me diz,me diz até quando isso vai continuar?

—Nós já tivemos essa conversa antes. —o menor argumentou apoiando-se no sofá para se levantar. Quando tentou,um grito estridente fez com que ele caísse e se apoiasse em mim novamente.

—O que aconteceu,Kyungsoo? —questionei alarmado. O menor havia ficado extremamente pálido de repente.

—Não é nada. —murmurou. —Você pode arrumar essa bagunça pra mim enquanto tento dar um jeito em meus machucados?

—Você mal se aguenta em pé,como o deixarei nessas condições? —disse. —De jeito nenhum,te ajudarei com seus ferimentos e depois damos um jeito na casa. Certo?

Do aquiesceu e vagarosamente o ajudei a se levantar. Sem muita dificuldade peguei o menor no colo com cautela para que não agravasse suas feridas. Ele gemeu em descontentamento,mas nada pode fazer quanto à isso.

Assim que cheguei até o banheiro principal do menor,o deixei sentado rente a pia enquanto me equipava com o kit de primeiros socorros. Kyungsoo me encarava com receio enquanto mordia os próprios lábios,ele estava visivelmente aflito com alguma coisa.

Tive a constatação do porque quando levei minhas mãos até a barra de sua blusa de malha extremamente larga e manchada de sangue em alguns pontos. Levantei uma sobrancelha com uma expressão confusa.

—O que foi? —perguntei. —Preciso tirá-la para que possa limpá-lo,tudo bem? Eu não vou fazer nada.

—Não é isso. —comentou. —Eu confio em você.

—O que é então,Soo? —questionei pacientemente.

—Você vai me odiar quando ver. —murmurou encarando-me.

—Nada me faria odiá-lo,Kyungsoo. —disse simplesmente,até porque era a mais pura verdade. —Você pode me mostrar.

Vagarosamente o menor subiu o tecido de sua blusa expondo assim sua tez mesclada com diferentes tons de roxo e verde. Imagine o meu espanto e indignação quando percebi a protuberância saliente no ventre de Kyungsoo.

Nada poderia alcançar a dimensão do meu ódio naquele momento.

—Você está gravido?! —esbravejei. —O Jongin o bate mesmo sabendo que está grávido? Aquele desgraçado,filho da puta!

—Não,não! —gritou Kyungsoo em desespero. —Ele ainda não sabe.

—Como...?

—Faz meses que Jongin não me toca daquele jeito. —murmurou enquanto brincava com seus próprios dedos. —Ele diz que... Não o satisfaço mais da mesma maneira,foi por isso que brigamos também até. Ele acha que venho me entregando a outros caras,que estou satisfazendo outros caras.

—Você não po... —fui interrompido.

—Channie você não pode demorar muito aqui,sim? Prometo que conversamos depois.

Suspirei sentindo a sensação incômoda de frustração tomar conta do meu corpo. Kyungsoo agora carregava outra vida em seu ventre e muito provavelmente permaneceria nesse relacionamento abusivo. Não podia deixar isso acontecer,tinha que fazê-lo mudar de ideia.

Mas como?

Decidi que não tocaria no assunto naquele momento. Cautelosamente cuidava de cada ferimento seu,os desinfetando e fazendo curativos logo após. Retirava calmamente o sangue que havia secado na pele do seu rosto com um pano úmido. Aos poucos se revelavam os pequenos cortes em seu inferior,supercílio e maçãs do rosto.

Do encarava-me intensamente o que fez com que eu o encarasse de volta instintivamente. Nada podia explicar o amor que eu sentia por aquele baixinho. Nada podia explicar o quanto eu o queria em meus braços,o quanto eu queria protegê-lo e mostrá-lo como realmente devia ser tratado. Mostrá-lo o verdadeiro amor que ele merecia.

Fez menção de dizer algo,mas meneou a cabeça como se pensasse em algo estúpido.

—Eu sinto muito,Chanyeol. —murmurou. —Mas eu preciso fazer isso antes de tudo,tenho certeza que você irá me odiar depois que eu falar tudo o que preciso.

—Do que você está falan...

E subitamente Kyungsoo agarrou-me pela nuca fazendo com que nossas bocas se chocassem. Iniciou-se um ósculo que condizia com o desespero em suas palavras anteriores.

Do trouxe-me pra mais perto agarrando minha camisa com volúpia. Podia sentir o gosto levemente metálico do sangue masclar-se com o dele. O gosto dele que por muito tempo quis desfrutar inebriou os meus sentidos.

Coloquei ambasas minhas mãos em seu quadril trazendo-o pra mim e com nenhuma intenção de soltá-lo. Toda sensação parecia muito certa naquele momento. Como se Do Kyungsoo pertencesse à mim. Como se eu pertencesse á ele e aqui fosse o meu lugar. Em seus braços,o beijando,o amando.

De certa forma eu pertencia. Meu coração pertencia a Do Kyungsoo e ninguém mais.

Seus dedos embrenhavam-se em meus cabelos com necessidade. Sentia vontade e sentimento transbordar daquele beijo. Havia algo que ele queria transmitir,mas o que era?

Acabamos por interromper o ato por causa da privação de ar. Kyung deixou vários selos tímidos em meus lábios ao se afastar. Quando abri meus olhos,o menor ainda estava com os seus fechados enquanto mordia os lábios levemente. Encostei ambas as nossas testas e acariciei com o meu polegar o novo hematoma em sua bochecha e ele correspondeu aos estímulos deixando-se levar pela sensação,mas logo sua mão estava em cima da minha que o acariciava acabando com o contato carinhoso ao me afastar.

Seus olhos se abriram e ele me encarou antes de direcionar o olhar para baixo com uma expressão arrependida. Tudo bem,eu aguentaria a rejeição. Engoli à seco e me afastei alguns passos. Kyungsoo direcionou seu olhar a mim novamente.

—Eu amo o Jongin. —afirmou convicto.

Aquilo doeu.

Doeu como o inferno.

—Eu sinto muito,Chanyeol. —falou. Seus olhos se encontravam exacerbadamente marejados. —Mas eu amo o Jongin e não consigo controlar isso. Esse sentimento é muito mais forte do que eu. Esse sentimento me consome,Chanyeol! Me consome,me frustra,me muda! E é exatamente por isso que irei tirar o bebê.

Eu não havia ouvido direito,certo?

Eu tinha entendido errado.

—Você... —ri com escárnio. Era uma brincadeira,certo? Kyungsoo não seria capaz de... Foi quase impossível moldar a minha expressão de decepção.

—Eu sei que você não apoia e muito menos concorda com as minhas ações,os meus sentimentos por mais loucos que ele sejam. —argumentou o menor. —Na verdade,ninguém o faz e eu não quero envolver outra pessoa nessa bagunça. Não seria justo,não posso deixar uma criança entrar nessa comigo.

—Então mude! —gritei. —Fuja,saia de perto do Jongin. Você sabe que pode ser feliz com essa criança,Kyungsoo... O que você está fazendo da sua vida? Pare e pense no que você está prestes a fazer. —completei incrédulo.

—É a minha decisão,Chanyeol. —disse amargurado.

Já não conseguia controlar as lágrimas que irrompiam de meus olhos. com a manga de minha camisa as limpei rapidamente antes de encarar Kyungsoo com uma visível expressão de dor. Decepção.

—Me desculpe,Do. —murmurei. —Mas dessa vez eu não posso compactuar com isso.

Dessa maneira,deixei a casa de Kyungsoo fechando as portas abruptamente. Tentei controlar a dor que queria tanto exteriorizar-se nas lágrimas que insistiam em cair enquanto me direcionei até meu carro. Chovia intensamente,mas não me importei com minhas roupas se encharcando.

Eu não estava sentindo nada além de dor.

Destravei meu carro adentrando no mesmo. Coloquei a chave na ignição e dei a partida bruscamente. Enquanto dirigia sem um destino determinado,os últimos acontecimentos rondavam em minha mente.

O que aquele desgraçado havia feito com o meu Kyungsoo?

O que aquele maldito havia feito com o cara que eu tanto admirava?

Perdido em meus devaneios,acabei por não prestar atenção na estrada e só acordei do meu transe ao ouvir as intensas buzinadas vindas da minha frente. A luz intensa do automóvel atrapalhou minha visão por completo e tudo o que conseguir fazer foi desviar bruscamente invadindo a propriedade de alguém e batendo contra uma lixeira sentindo o meu corpo sendo impulsionado pra frente.

Com o carro agora parado,passei minhas mãos trêmulas por meus cabelos sentindo a adrenalina correr por minhas veias. Estava assustado,frustrado e decepcionado. Não sabia mais no que pensar.

—Merda,Kyungsoo! —gritei socando o volante de maneira incessante até parar gradativamente e me entregar ao choro copioso.

O Do Kyungsoo que as pessoas costumavam conhecer... O Do Kyungsoo que eu tanto amava... Estava morto.

A causa de sua morte?

Intoxicação.

 


Notas Finais


Ele*: modificação feita por mim para se encaixar na história,o pronome usado era "ela".

A ideia pra essa OS veio a partir de uma leitura um tanto quanto desagrádavel de uma história de outra plataforma que "mascarava" relacionamento abusivo. Com essa ideia na cabeça,quis trazer algo feio,explícito,bruto e rústicamente doloroso como um relacionamento desses realmente é. Quis trazer um pouco de realidade para aqueles que pensam ou até mesmo nem percebem o quanto esse tipo de relacionamento destrói e machuca.

Acho que é só isso.

Espero que tenham gostado e pegado a mensagem(?) de que a toxicidade,como a própria palavra diz,de um relacionamento abusivo não é bonita.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...