História Intragável coração - O tempo

Cena 01 – Mansão de Selma – Quarto – Noite.

Selma estava em um longo banho e não esperava receber a visita de seu noivo, ela o encontrou em seu quarto.

- Meu amor, fico tão feliz por ter voltado, eu tentei ir a São Paulo, mas não consegui.

- Eu tinha que vir, não podia esperar mais porque eu preciso conversar seriamente com você.

Ela olhou assustada para ele que parecia um pouco irritado.

- Conversar seriamente? – Perguntou ela.

Ela se aproximou do noivo, mas ele a evitou se afastando e deu as costas.

- Selma, eu estive pensando todo esse tempo que estive em São Paulo, na verdade eu já havia pensado antes... – Ele olhou de volta para a noiva.

- O que você pensou meu amor? Eu sei que o que fiz não foi certo, mas eu estou arrependida, eu não sou aquela mulher que fez o escândalo no aeroporto, eu sou a mulher que te ama.

- Não é a primeira vez! – Ele continuou. – Não é a primeira vez que você faz um vexame desses, você acaba passando uma imagem desequilibrada, faz coisas sem pensar, eu aguentei muito porque eu te amava todo esse tempo, eu acreditava que era só um defeito que pudesse ser corrigido com o tempo, mas você não mudou.

Ela enxugou uma lágrima que escorreu em volta de seu olho e se aproximou de Marcos.

- Eu só te amo, eu só quero o seu bem, só quero ficar bem ao seu lado e ser uma esposa que cuide de você.

- Você não está cuidando de mim! – Ele tira as mãos dela sobre ele. – A verdade é que eu pareço um objeto seu, mas eu não sou.

- Eu faço tudo por você, Marcos! Eu deixei a Monteiro em suas mãos e te fiz presidente!

- Eu nunca te pedi isso, eu não deveria ter aceitado, mas você insistiu, enfim isso não vem ao caso agora. O que eu quero com essa conversa de hoje é algo simples e que vai ajudar todo mundo.

- Algo simples? – Perguntou curiosa.

- Eu quero um tempo, Selma. Um tempo pra poder pensar no que realmente quero, está tudo confuso na minha cabeça e eu preciso encontrar uma resposta.

- Tempo? Como assim, tempo? Você não me ama mais?

Ela se desespera e lhe beija totalmente aflita, mas ele se afasta em seguida.

- Por favor! – Ele implora.

- Eu não entendo, eu sei que não poderia ter feito aquilo, mas eu te amo, esse amor é tão forte aqui dentro do meu peito.

- Eu não estou duvidando do seu amor, mas eu não estou suportando mais, eu não estou suportando.

- Meu amor, eu prometo mudar, eu não serei mais aquela Selma de antes.

- Isso só o tempo vai dizer, fica bem!

Ela começa a chorar, ele lhe dá um beijo no rosto e sai do quarto. Ela vai atrás desesperada, mas o noivo já havia saído com o carro. Vera encontrou a patroa na sala e abraçou para confortá-la.

 

 

Cena 02 – Apartamento de Lauro – Dia.

Júlia tomava um pouco de chá e lia uma revista na sala. Lauro saiu com um cigarro da varanda e se aproximou da irmã, ele tratou de colocar o resto da bituca no cinzeiro.

- Como anda os preparativos para a viagem? Eu não a vejo tão empolgada.

- Eu não estou soltando fogos de artifício porque eu acredito que seja algo bem desnecessário, mas eu estou feliz meu irmão. Estou seguindo a minha carreira.

- Antes você nem sabia o que iria seguir.

- Disse certo, antes eu não sabia, mas agora sei! – Ela fitou o irmão.

- E o Daniel? – Ele perguntou um pouco curioso.

- O que deu em você? Sabe muito bem que essa história não existe, nunca existiu, o Daniel não tem nada comigo e o que ele vai ter é um bebê daqui a uns meses. Eu tenho uma carreira de modelo e é isso o meu foco agora.

- Você está certa e sabe muito bem que eu quero a sua felicidade! – Ele se mostra feliz com a decisão da irmã e segura suas mãos olhando em seus olhos.

- Você bem que podia vir comigo, você adora a Europa e eu iria amar ter você ao meu lado.

- Não posso, mas eu pretendo viajar sim, mas só depois do casamento da Selma.

- Mas o que tem o casamento da Selma?

- Eu vou tentar pela última vez, se não der certo, eu estou planejando um cruzeiro e vou tentar ser feliz distante daqui.

Júlia beijou o rosto do irmão e sorriu.

- Esquece aquela doida, vai ser bem melhor para você! Eu tenho que ir ao shopping comprar roupas para a viagem, vê se tira aquela... Vou nem dizer.

 

Cena 03 – Praça – Dia.

Daniel está sentado em um banco perto de uma fonte onde pássaros pousam para pegar alguma migalha de comida e depois voam para encontrar outro lugar. Gabriela viu o namorado e se aproximou, ela tentou beijá-lo, mas ele se afastou.

- Não vai me beijar? – Ela questionou a atitude do rapaz.

- Eu preciso falar com você! – Ele disse sério.

Gabriela sentou ao lado de Daniel.

- Quando vocês dizem: “Eu preciso conversar sério!”. Esta frase deveria ser proibida e ser considera crime nacional. Está me deixando nervosa, o que foi Daniel?

- Eu sei que você está esperando um filho meu. – Ele disse olhando para a moça.

- Sim, o filho é seu! – Ela olhou de volta.

- Hoje em dia o mundo está tão diferente, nada é mais como antes, eu vou assumir o meu filho, isso você pode ter certeza que eu vou.

- Aonde quer chegar com isso, Daniel?

- Eu não te amo, Gabriela! Eu não te amo e não posso me casar com você sem amor.

Ela levanta do banco indignada com o que acabara de ouvir.

- Você não pode está falando isso, eu estou esperando um filho seu! – Ela pareceu descontrolada e desmaiou em seguida, mas há tempo que Daniel a segurasse.

 

Cena 04 – Mansão de Selma – Sala – Dia.

Vera carrega uma bandeja com uma xícara de chocolate e leva até a Selma que descansava numa poltrona.

- Eu fiz para você, chocolate quente que tanto adora para acalmar o seu coração! – Ela estendeu a mão segurando a xícara.

- Nada vai acalmar o meu coração, o Marcos não me ama mais e eu quero morrer. – Ela bebeu um pouco e colocou depois na mesa de centro.

- Não diga isso, você não vai morrer, não agora, pois tem muito que viver. O Marcos está chateado, ele pediu um tempo e logo volta.

- Será que volta mesmo?

- Se ele te ama, é claro que vai voltar e eu acredito nisso! – Vera sorriu para acalmar a patroa.

- Eu devo ser a pior pessoa desse mundo, ninguém gosta de mim, eu nem tenho amigos! – Ela lamentou.

- Mais uma bobagem que diz, o Marcos te ama e eu tenho um grande sentimento por você. Enquanto eu estiver viva, eu estarei aqui para cuidar de você minha menina.

- Obrigada Vera, você é mesmo a mãe que faltou na minha vida! – Sorriu enquanto segurava as mãos da governanta.

 

 

Cena 05 – Empresa Monteiro – Dia.

Marcos chega à empresa e encontra Letícia colocando seus objetos dentro de uma caixa, ele sussurra e é percebido pela secretária.

- O que está fazendo? – Questionou.

- Estou arrumando as minhas coisas, Seu Marcos!

Ele pegou o braço da secretária e levou a moça até a sua sala. Fechou as persianas e em seguida colocou os olhos em Letícia.

- Você não pode ir embora, não pode me deixar, eu quis dizer que não pode abandonar o seu trabalho.

- Por favor, Marcos! Eu não posso continuar sendo a sua secretária quando se há um sentimento forte da minha parte. – Ela tentou esconder seus olhos com uma das mãos e ele se aproximou.

- Letícia, não vá embora, não faça isso, por favor! – Ele implorou.

- É isso que deseja? Deseja que eu sofra mais a cada minuto que passo aqui dentro com você? Eu tentei controlar o que eu sinto, não queria me apaixonar, eu estou sendo sincera!

- Vamos arrumar uma saída, eu pedi um tempo a Selma!

- O que você fez? – Perguntou preocupada.

 

Cena 06 – Shopping – Tarde.

Júlia está olhando algumas peças de roupas em uma loja do shopping. Algumas vendedora rodeiam o lugar oferecendo ajuda. Gabriela vê a garota do lado de fora pela vitrine e entra decidida.

- Você não vai roubar o meu namorado! – Gritou diante de Júlia.

- O que? O que está dizendo sua louca? – Olhou para Gabriela.

- Eu vou repetir! – Levantou o dedo.

- Tira isso do meu nariz! – Júlia deu uma tapa tirando o dedo da mulher de sua frente.

- Eu não vou deixar você roubar o meu namorado, o Daniel é meu e eu estou esperando um filho dele. – Ela continuou alterando o tom da voz.

- Querida, se esse foi o destino que você escolheu para você! – Júlia debochou.

- VAGABUNDA! – Gritou Gabriela.

Júlia sorriu e esbofeteou o rosto de Gabriela.

- Você pode estar grávida, mas eu tenho certeza que uma tapa não vai afetar em nada, mas espero que deixe você um pouco mais educada.

Júlia sai da loja levando suas compras e Gabriela permanece sendo rodeada pelas funcionárias.

- Você está bem? Que um copo de água? – Perguntou uma das funcionárias.

- Eu quero que você se exploda! – Disse Gabriela que saiu da loja furiosa.

 

Cena 07 – Empresa Monteiro – Sala de Marcos – Tarde.

Letícia estava decidida a ir embora, mas Marcos não queria deixar sua funcionária predileta partir.

- Você ama a Selma, Marcos! Não se engane agora só porque aconteceu algo a mais entre nós.

- Eu sei que eu não deveria ter deixado isso acontecer, mas eu não posso voltar no tempo e corrigir.

- Não, realmente não pode! – Ela tentou sair da sala e ele ficou em sua frente.

- Letícia, o que aconteceu... Eu não quero que você vá embora, vá para casa e pense um pouco, não tome essa decisão agora. – Continuou implorando.

- Tudo bem, Marcos! Eu fico! Eu sei que o que aconteceu não mudou nada em você, eu que sou boba de acreditar em um amor que eu mesma inventei, eu não posso te ter porque o seu amor pertence à outra e se é tão verdadeiro, não perca algo que é tão raro hoje.

- Eu não sei se amo a Selma, eu preciso de um tempo só para mim!

- Você ama a Selma, não mude seu pensamento só porque está chateado com ela, eu ficarei aqui na empresa, mas eu quero que você fique bem com ela, não quero destruir a relação de ninguém e não precisa me contar mais detalhes.

- Tudo bem, eu só espero que a nossa relação não seja abalada, eu quero que você fique bem.

- Eu sei ser profissional e separar as coisas, agora eu irei para casa e você não tome nenhuma decisão que possa se arrepender depois.

Ela segue para fora da sala e ele abre espaço para que ela passe.

 

Cena 08 – Aeroporto – Noite.

Júlia chegou acompanhada de seu irmão Lauro ao Aeroporto, o voo para o exterior iria sair em uma hora, ela parecia emocionada e encontrava conforto no irmão.

- Obrigada meu irmão, não sabe o quanto fico feliz em ter você ao meu lado neste momento tão especial.

- Você sabe que te amo, minha irmã e eu estaremos sempre ao seu lado.

Os dois então se abraçaram emocionados. Entraram carregando as malas em um carrinho. Júlia despachou a mala e voltou com a passagem nas mãos.

- E o Guilherme não vem? – Perguntou olhando para a irmã.

- Ele deve estar chegando, espero que venha logo, quero pisar o mais rápido em Paris!

Eles são surpreendidos pela chegada de Guilherme, o rapaz já havia feito o processo de despacho e estava pronto para embarcar.

- Vamos? Está chegando a nossa hora! – Disse o rapaz.

- Eu vou sentir saudades meu irmão! – Ela disse emocionada e o abraçou novamente.

- Eu também vou, se cuide viu, não quero que nada lhe aconteça e vou torcer para que tudo dê certo.

- Ela vai ter uma carreira brilhante, linda do jeito que é! – Complementou Guilherme.

- Eu prometo dar sempre notícias!

Lauro beijou o rosto da irmã e se despediu. Guilherme ofereceu um aperto de mão e em seguida saiu com a modelo para embarcar. Daniel chegou e tentou ser rápido, mas Júlia já havia desaparecido.

- Júlia! – Disse ofegante.

- Chegou tarde demais garoto! – Disse Lauro indo embora.

 

 

Cena 09 – Dias depois – Loja de noivas da Lady Marly – Dia.

Selma está provando o vestido de noiva enquanto está tocando “Up&Up” da banda Coldplay. Ela está olhando sua imagem através do espelho, mas seu rosto lhe revela uma tristeza jamais vista por Lady Marly.

- Mas o que aconteceu? Nunca vi noiva tão triste. – Disse Lady Marly.

Selma virou-se para a costureira e sentou-se em um banco que ali havia.

- Eu nem sei o motivo de estar aqui com esse vestido, o meu casamento não vai acontecer, o noivo não me ama mais. – Ela disse com voz de choro.

- Menina, deixe de bobagem. Uma noiva tão linda e triste desse jeito, vai dar tudo certo, o casamento está próximo e você vai ser muito feliz. – Lady Marly tentou ser bastante positiva.

- Lady Marly, a senhora sempre tão gentil! – Disse com uma voz um pouco fraca.

- Estou nos meus melhores dias, agora vá para casa e descanse, uma noiva tem que estar alegre e não triste desse jeito. – Ela deu três batidas com um leque que segurava no ombro de Selma.

 

 

Cena 10 – Casa de Diana – Dia.

Diana ouve a campainha e ao abrir a porta recebe uma encomenda, era a roupa do casamento do irmão. Daniel chegou logo em seguida.

- O que é isso? – Perguntou curioso.

- Chegou agora e é para você, pelo que vejo é sua roupa do casamento, mas você não parece nada contente e está diferente desde que voltou de São Paulo.

Daniel pega a roupa que está envolvida num plástico e deixa sobre a mesa de centro.

- Eu pedi um tempo a Selma! – Ele disse forçadamente.

- O que foi que disse? – Pareceu não entender. – Pediu um tempo a sua noiva poucos dias do casamento? Eu não acredito.

Ela senta ao lado do irmão e o encara.

- O que foi Diana? – Olhou de volta para a irmã.

- Eu sou a sua irmã e você só me conta isso agora? Faltam oito dias para o seu casamento com a Selma. Tudo bem que ela não é nenhuma flor que se cheire, tem aquele nariz para cima, mas é um pouco tarde para desistir, não é?

- Eu tenho meus motivos, Diana. A Selma estava passando dos limites e eu não aguento mais!

Diana pega na mão do irmão.

- Eu serei a pessoa mais feliz desse mundo se quiser desistir de casar com aquela louca, mas você tem que decidir se é isso o que você quer ou vai esperar o dia do casamento para dizer não?

Marcos olha para a irmã pensando na resposta.

 

Continua...