História Invictus - Medidas Impensadas

POV Arizona

Eu andava apressada pelas ruas de Alexandria, precisava achar Rick. As palavras de Connor não paravam de ecoar na minha mente nem um só segundo. E quanto mais eu remoía, mais raiva me dava.

Não dormi, não tomei café e mal conversei com meus irmãos de manhã.

Estava andando tão distraída que nem percebi quando esbarrei em algo, alguém no caso.

-Me desculpa.- Falei meio aérea.

-Ooou, ta tudo bem?- Foquei no rosto da pessoa vendo que era Daryl. Um Daryl me olhando bem preocupado.

-Preciso achar o Rick.

-Ok, te levo até ele lá na obra.

Assenti voltando a andar.

-Espera.- Ele segurou meu braço me fazendo olhar pra ele. -Ta parecendo que não ta muito legal.

Olhei nos olhos dele deixando uma lágrima escapar.

-Ei, o que aconteceu?- Perguntou segurando meu rosto e enxugando a lágrima solitária.

-Connor.

Daryl me olhou confuso.

-Connor me contou porque tava estranho.

Ele continuou me encarando esperando eu continuar.

-Os homens do Negan..- Fechei os olhos deixando mais lágrimas rolarem. -Eles abusaram dele.

Daryl abriu a boca, mas não disse nada. O rosto dele foi mudando, uma expressão de raiva tomou conta e Daryl respirou fundo.

Me puxou pela mão sem dizer nada, mas pelo caminho eu sabia que estávamos indo até Rick.

Eu sentia uma necessidade absurda de gritar e ir correndo até Negan, pra matá-lo com minhas próprias mãos e dar seu corpo ainda quente de comida pros walkers.

Tínhamos um plano, e ainda faltava o rei confirmar se estava conosco nessa. Mas eu não conseguia me controlar, a raiva falava mais alto agora e todo meu corpo queimava de ódio.

Chegamos no canteiro de construção e avistei Rick conversando com meu irmão.

-Rick.- Daryl chamou visivelmente alterado.

Rick e Trevor nos olharam, e pelo rosto do meu irmão ele sabia que tinha alguma coisa errada. Me conhece quase tão bem quanto eu mesma.

-Aconteceu alguma coisa Daryl?- Rick perguntou.

-Uhum, Arizona conta pra eles.- Ele apertou de leve minha mão.

Olhei de Rick pra Trevor, meu irmão descruzou os braços me encarando preocupado.

-Connor me contou o que fizeram com ele quando ele foi levado.

-Pensei que ele já tivesse contado tudo.- Rick comentou.

-Não, ele anda muito quieto desde que voltou.- Trevor explicou.

-E o que ele te disse?

-Ele me disse..- Engoli seco e franzi a testa. -Me disse que abusaram dele.

Tão logo as palavras saíram da minha boca Trevor praticamente ficou possuído.

-É O QUE?- Gritou atraindo a atenção das pessoas trabalhando pra nós.

-Ele me disse que alguns dos homens de Negan entravam na cela e…- Fechei os olhos me estremecendo.

Daryl me puxou me fazendo olhar pra ele e então sussurrou que ia ficar tudo bem.

Rick soltou uma exclamação de surpresa e tapou a boca.

Trevor começou a bufar e andar de um lado pro outro igual a um tigre enjaulado. Eu comecei a chorar de raiva, sim raiva.

-Eu quero aquele filho da puta na minha mão quando invadirmos a casa dele.- Falei sentindo minha própria voz muito mais sombria do que em qualquer momento na vida.

Trevor respirou fundo e se virou pra Rick.

-Temos que atacar, amanhã.

-Não podemos, temos que esperar o rei Ezekiel dar a resposta dele.- Rick disse tentando nos manter calmos.

-Eu não vou ficar sentado esperando um maluco que se auto intitula rei arriscar que nosso plano dê errado. Rick, esses porcos dos Salvadores virão aqui dentro de dois dias. Quem me garante que não resolvam vir antes e acabem descobrindo tudo?

-Trevor, eu também sofri com a falta de limites deles mas não podemos sair assim na raiva.

Eu respirei fundo e tive uma ideia.

-Vamos esperar o rei.- Falei recebendo um olhar de indignação do meu irmão mais velho.

Rick assentiu.

-Me desculpem não poder agir agora, mas vocês entendem.- Ele falou.

-Arizona.- Trevor resmungou.

-Não Trevor, Rick ta certo. Nós dois somos militares e temos que entender que nossa emoção não pode sobrepor nossa razão.

Meu irmão assentiu claramente a contragosto.

-Tem uns walkers vindo ali.- Apontou e foi em direção a um grupo de três walkers que vinham em direção a obra saindo da floresta.

Ele os acertou com muita raiva, descontando nos cadáveres toda sua frustração.

-Ei, tudo bem mesmo?- Rick me perguntou.

-Não, mas vai ficar.- Respondi. Ele se virou e continuou a dar atenção a obra.

Trevor estava coberto de sangue podre e se apoiava em uma árvore com um braço.

-Arizona.- Daryl falou baixo me fazendo olhar pra ele. -Quer dar uma volta pra esfriar a cabeça?

-Quero.

Seguimos entre as árvores, Daryl com a crossbow preparada.

Por fora eu aparentava uma calma que estava longe de estar dentro de mim.

Eu só queria me vingar, e eu me vingaria com certeza.

Paul chegou no início da tarde com as meninas e um grupo pequeno de Hilltop.

O general também chegou com os soldados e olhem só, um tanque.

Andei um pouco pela floresta com Daryl, mas mal me concentrava no caminho. Ele percebeu isso e logo voltamos pra casa.

Me separei dele quando ele foi pro canteiro de construção ajudar e eu fui pro meu turno no portão. Subi na plataforma encontrando Maggie lá em cima.

-Ei, a senhorita não pode ficar aqui não.

-Eu sei.- Riu. -Mas eu precisava fazer alguma coisa, então vim pra cá e mandei Eugene fazer outra coisa.

-Aiaiai Maggie, vou acabar tendo que te prender no quarto.

-Vou ficar só um pouco aqui, prometo.

Balancei a cabeça cedendo.

-Tudo bem, vai ser bom não ficar sozinha.

Olhei pra estrada, um walker saiu da floresta. Levantei o arco e acertei a cabeça dele.

-Como aprender a atirar com arco e flecha? Não é bem uma coisa do exército né.

Olhei pra Maggie e sorri.

-Meu pai me ensinou. Ele sempre quis que eu e meus irmãos soubéssemos usar todo o tipo de armas, e como desde pequena eu tinha interesse por arco ele resolveu me ensinar.

-Trevor e os outros também sabem?

-Uhum, mas acabou que cada um pegou preferência por um tipo.

-E o Oliver?

-Ele não teve tempo pra aprender sobre armas com meu pai.- Sorri triste.

-Ah entendo.

-Ele era gêmeo.

-Gêmeo?- Perguntou bem surpresa.

-É, de uma menina. Blair.- Maggie sorriu. -Ela morreu junto dos meus pais quando o primeiro acampamento que nos refugiamos foi invadido por walkers.

-Eu tinha uma irmã, Beth. Ela morreu pouco depois que escapamos de uma comunidade canibal.

-Comunidade canibal? Minha nossa, acho que ninguém nunca me contou tudo sobre o que vocês passaram.

-Sabe que é verdade, eu não te contei muita coisa.

-Daryl também não, ele parece que não consegue contar.

-Ele é meio fechado.

-Meio não, muito.- Rimos.

-Mas vocês estão há quase dois meses juntos só, ainda tem muito tempo.

-Pelo menos eu espero.- Suspirei pensando no meu plano. -Maggie, não importa o que vá acontecer eu quero que você fique sabendo que foi maravilhoso te conhecer. É muito bom ter uma amiga.

-Também penso assim.- Ela sorriu abertamente.

Eu sorri de lado meio triste, eu podia perder tudo isso se tudo desse errado.

-Tem alguma coisa errada Arizona?

-Não, só tô preocupada.

-Certeza?

Olhei nos olhos dela, meu peito apertou um pouco.

-Promete pra mim que cuida do Trevor e os outros?- Pedi segurando as mãos dela.

-Não tô entendendo.

-Só promete, por favor.

Maggie me olhou confusa.

-Prometo.- Soltou fraco.

Abracei ela, que retribuiu.

-Eu posso dizer que amo todos vocês, mesmo.

-Arizona.- Ela sussurrou. -Vai dar tudo certo, você vai ver.

Uma lágrima solitária rolou. Eu só podia esperar que sim, tudo desse certo.

Fiquei o resto do dia todo na vigia do portão depois que Maggie foi embora, evitei conversar muito com quem fosse. Até Paul não se livrou do meu humor quando eu não quis muito papo. Daryl veio diversas vezes no portão, nem sempre subia na plataforma pra ver se eu estava bem mas era bem óbvio que ele vinha pra checar isso.

Eu fui rendida por Rosita no início da noite e fui pra casa encontrando Paul em frente a minha casa me esperando.

-Ei, Trevor me contou o que houve. Quer conversar?

-Não tô muito no humor pra conversar sobre isso.- Falei baixo cruzando os braços.

-Tudo bem, mas e um abraço?- Ele sorriu de lado abrindo os braços.

Sorri cedendo me aproximando dele deixando que me abraçasse.

-Eu vou ficar de vigia do Spencer essa noite e tentar fugir do Alex, mas qualquer coisa me chama.- Paul disse me apertando um pouco.

-Tudo bem.

Ele me soltou e sorriu fazendo um carinho na minha bochecha.

-Tem alguém vindo ali.- Apontou atrás de mim.

Me virei vendo Daryl andando na minha direção, coberto de sangue.

Paul me deu um beijo na bochecha e seguiu seu caminho pra cela onde Spencer estava preso.

-Oi Dixon.- Falei sorrindo de lado quando ele chegou perto. -O que aconteceu?- Perguntei apontando pro corpo dele.

-Uns walkers na zona de construção do muro.

-Uns?- Levantei a sobrancelha.

-É, não eram poucos.

-Será que tem alguma horda grande por perto?

-Vamos ver isso amanhã de manhã.

-É uma boa ideia.

Ele assentiu.

-Acho que Dakota fez alguma coisa pra jantar, vai comer aqui?

-Se não tiver problema.

-Claro que não, vem.- Segurei a mão dele o puxando pra entrar comigo em casa.

Depois de ter jantado com meus irmãos, subimos pra tomar banho. O jantar foi bem engraçado, com Oliver fazendo mil perguntas pra Daryl e Trevor tentando dar uma de irmão ciumento. Mas o clima entre nós que sabíamos sobre o que houve com o Connor ainda continuava pesado. Ainda mais quando Connor entrou em casa pra comer.

Eu saí primeiro do banho e fiquei sentada na cama pensando em tudo que tinha planejado durante o dia. Mordi o lábio me sentindo nervosa, e meio em dúvida. Mas a dúvida me deixou quando lembrei do rosto apavorado de Connor quando voltou do cativeiro, e quando me contou o que aconteceu com ele. Só de pensar no que ele passou, eu sentia meu corpo formigar de raiva.

Daryl saiu do banho e pra acabar mais ainda com a minha mente sorriu pra mim. Sorri de lado sentindo meu coração se apertar um pouco mais.

Ele deitou, mas eu continuei sentada com as pernas cruzadas. Senti a mão dele passar pelas pontas dos meus cabelos, um carinho tímido. Fechei os olhos, mais lágrimas caindo. Sequei-as rápido, mas Daryl percebeu.

-Você ta chorando.- Se sentou. Ele colocou meu cabelo atrás da orelha e fez um carinho com o polegar.

-Eu vou ficar bem.- Sussurrei olhando pra ele.

-Por que ta chorando?

Abaixei os olhos e segurei uma mão dele.

-Só tô com medo de perder todo mundo, ou de acabar nunca mais voltando.

-Ei, isso não vai acontecer.- Me fez olhar pra ele. -Eu não vou deixar.

Puxei ele pra mim e o beijei. Deixei tudo o que sentia transbordar naquele beijo.

Ainda não tinha dito pra Daryl que o amava, mas não sentia que esse era o momento. Eu tinha que pensar que ia ter outra chance de dizer.

Encerrei o beijo e encostei minha testa na dele.

Ele não disse nada, foi se deitando e me puxando pra deitar junto dele. Senti ele deixar um beijo na minha cabeça e respirar fundo relaxando. E meu coração ainda mais apertado.

A noite foi passando e eu só pensava.

Pensei no meu plano. Eu tinha que fazer, precisava fazer alguma coisa.

Pensei em todos de Alexandria, todos se tornaram parte da minha família nesses poucos meses que estamos aqui.

Pensei em meus irmãos, eu estava tão feliz deles terem um lugar. Nunca iria querer magoá-los, eles são tudo pra mim.

Pensei em Paul, ele com certeza tentaria me fazer mudar de ideia se soubesse. Por mais que entendesse meus motivos.

Pensei em Daryl. Olhei pro outro lado da cama o vendo dormir. Aquele homem tinha me feito descobrir o amor de um jeito muito mais profundo do que eu jamais tive.

Fechei meus olhos e respirei fundo contando de um a três.

1...se levanta Arizona.

2...você precisa fazer isso por eles.

3...AGORA!

Me levantei com cuidado pra não acordar Daryl. Peguei minhas roupas em cima da cômoda e vesti. Peguei meu arco, enganchei no suporte nas costas, coloquei as machadinhas no cinto e também minha arma. Deixei o bilhete que tinha preparado mais cedo preso na crossbow e segui pra porta.

Parei antes de sair e olhei pra Daryl deitado mais uma vez. Mordi meu lábio, mais uma lágrima caiu.

-Eu vou voltar.- Sussurrei.

Saí de casa, eram quase três da manhã e só quem devia estar acordado era quem estava de vigia.

Eu sabia de um ponto cego pra quem estivesse na vigia essa hora, e foi pra lá que eu fui me escondendo e esquivando.

Subi pelo muro com os pedaços de ferro que tinha encontrado perto do portão durante a tarde. Quando cheguei no topo olhei pra Alexandria, quase desistindo de sair. Olhei pro lado de fora do muro, limpo. Nenhum walker por perto, o que seria bom para não fazer alarde da minha saída. Desci devagar, tomando cuidado pra não fazer nenhum barulho. Cheguei no chão e respirei fundo. Segui pela beirada da floresta, não entrando muito na mata por conta do escuro e nem saindo pra não ser vista.

Andei um pouco, e quando estava há uns cem metros da entrada parei e olhei pra trás.

Senti as lágrimas caindo. E mesmo que estivesse certa do que queria fazer, meu coração se quebrou com a possibilidade de nunca mais voltar pra Alexandria com vida.

Me desculpem, mas eu preciso vingar o que fizeram ao meu irmão e garantir que aquele miserável não faça mais nada a Alexandria junto dos seus porcos.

Será que Daryl entenderia que fiz isso pra proteger a todos? Ele com certeza me odiaria por isso.

Sequei as lágrimas.

Era preciso e ia ser feito.

E afinal de contas, eu sou o capitão do meu destino. Sou o mestre da minha alma. Pensei nos dizeres do poema favorito do meu pai que eu e meu irmão sempre recitamos quando saímos em missões.

Levantei o pulso esquerdo pra olhar minha tatuagem de âncora. E isso me deu força.

Segui meu caminho na direção dita por Trevor e Paul.

Negan eu estou chegando, e vou matar você.

Não olhei mais pra trás, eu voltaria.