História Invictus - Hora de agir

 

POV Paul

22:35 p.m.

 

Eu estava sentindo uma sensação tão estranha desde que falei com a Angel e vim pra cá vigiar esse babaca do Spencer. Como se alguma coisa fosse acontecer, era estranho.

Respirei fundo antes de entrar no lugar onde ficava a cela, que quem estivesse lá em cima me desse paciência porque se me der forças eu mato esse cara.

Abri a porta e entrei, tinha uma cadeira pra quem fosse vigiar ele, as barras da cela me separavam de esganá-lo e infelizmente a chave estava com Rick.

Spencer estava sentado no colchonete que tinha na cela, com uma cara de cão arrependido que sinceramente me dava mais nojo do que qualquer outra coisa.

Me sentei na cadeira e não falei nada com ele, não devia esse esforço.

-Eu sinto muito sabia.- Ouvi a voz dele e rolei os olhos. -Queria pedir desculpa pra Arizona, eu estava agindo por impulso.

Continuei em silêncio.

-Você pode dizer isso pra ela?

-Olha só, eu só vim pra te vigiar porque a outra opção era o Trevor. E você não iria querer ser vigiado pelo irmão da Nana do tamanho de um gorila cheio de raiva de você e querendo te matar. O que possivelmente ele conseguiria porque ele é enorme. Então, não fala comigo ta bom. Arrependimentos existem sim, mas tenta provar isso pra outra pessoa que não seja tão envolvida emocionalmente com a garota que você tentou violentar. Conclusão, eu não vou passar nenhum recadinho seu de desculpa. Só tô aqui pra te vigiar, não fazer social.

Falei com raiva me levantando e chegando perto da grade. Ele me olhou de onde estava e suspirou derrotado abaixando a cabeça.

-Nossa.- A porta foi aberta. -Eu ia entrar aqui na paz, mas já vi que hoje você não ta com um humor muito bom.

-O que você quer Alex?- Perguntei entediado voltando a me sentar.

-Qual é? Não podemos conversar direito?

Rolei os olhos e cruzei os braços.

-Paul, mesmo depois do fim do mundo você continua me odiando?- Ele se sentou do lado da parede de barras da cela, ficando na minha diagonal.

-Ódio é um sentimento muito forte e grande, eu só não tenho paciência pra você.

Ele riu, os pelos da minha nuca arrepiaram.

-É, acho que eu mereço isso.

-Ah, você acha?- Perguntei irônico.

-Já te pedi desculpa tantas vezes.

Não respondi, continuei olhando pra grade da cela como se estivesse hipnotizado.

-Paul, sabe que eu sei que errei. E me arrependo muito.

-Alex o que ta fazendo aqui?- Perguntei olhando pra ele.

-Vamos ajudar na luta, esqueceu?

-Não, aqui. Aqui no mesmo lugar que eu.- Apontei pro chão.

-Perguntei onde você estava e me disseram que tava aqui.

-Por que?

-Porque eu queria conversar com você. É tão difícil entender que eu tô feliz que você ta vivo e sinto muito a sua falta?

Olhei pra ele buscando algum vestígio do famoso tom sarcástico dele. Nada.

-Eu sinto mesmo, não tô mentindo pra você.- Falou.

-Temos coisas muito mais importantes pra nos preocupar agora.

-Isso também é importante, pelo menos pra mim.

-Agora você resolveu dar importância.

-Porque antes eu era um idiota.- Levantei uma sobrancelha. -Ta, ainda sou idiota mas pelo menos deixei de ser tão babaca.

-Que bom pra você.

Alex riu de novo. Pigarreei limpando a garganta e me mexi na cadeira.

-O que esse cara aí fez pra estar preso?- Apontou com a cabeça pra cela.

-Tentou atacar a Angel.

-Arizona King?

Assenti.

-Nossa. Isso sim é um enorme babaca. E você ainda chama a Arizona de Angel, certas coisas nunca mudam.

Ri fraco concordando.

-Ah olha só, consegui te fazer rir.

Suspirei desmanchando o sorriso.

-Talvez nem tudo esteja tão perdido assim.

Continuei sério olhando pra frente. Maldito homem, porque ele tem que ser assim?

-Vou voltar pra junto dos outros.- Falou se levantando, olhei pra ele. -Nos vemos amanhã.

Alex piscou e saiu do cômodo fechando a porta.

Rolei os olhos e balancei a cabeça, ele me tirava do sério.

Sorri de lado, ele realmente me tirava do sério.

 

POV Arizona

06:00 a.m.

 

Depois de andar quase o resto da madrugada toda, o que levou umas duas horas e pouco, achei uma bicicleta perto da estrada e resolvi fazer uma parte do caminho com ela. Se minhas coordenadas estivessem certas, eu chegaria um pouco ao nascer do sol. Eram por volta das cinco e quarenta quando achei a bicicleta, e faltavam poucos quilômetros.

Eu estava cansada, corri boa parte do percurso e nas outras que andei quase não parei pra descansar. De carro era uma coisa, mas a pé era outra história. Se eu tivesse tentado achar um carro mais cedo, já devia ter chegado. Mas o carro também implica que eu ia chamar muito mais atenção.

Tentei bloquear minha mente pra tudo que me fazia me sentir quase arrependida de ter vindo. Eu não era só a Arizona agora, era a tenente King. Minha missão era entrar, localizar e matar aquele filho da puta. Depois eu voltaria pra casa, isso se ficasse viva pra contar a história.

Eu preciso ficar viva, meus irmãos e todos contam comigo mesmo depois da luta para dar continuidade a Alexandria.

E Daryl, ele com certeza já devia ou estar acordando agora ou já ter acordado. Quando ler meu bilhete provavelmente vai ficar furioso.

Tenho que agir rápido. Porque assim que eu entrar lá e matar Negan, os homens dele vão querer se vingar de Alexandria. E isso eu também não posso permitir.

07:08 a.m.

Parei a bicicleta no topo de uma rua, ao que se via no final muitos escombros. Era o lugar.

Coloquei a bicicleta no canto da estrada de novo e ouvi o resmungo conhecido de um walker. Olhei na direção vendo uma mulher, com roupas camufladas e o cordão de identificação vindo na minha direção. Peguei minha machadinha e cravei no crânio dela quando chegou perto o bastante. O corpo podre caiu no chão e eu olhei pra ela.

Militar, não sobreviveu.

Talvez era um sinal de que eu devesse voltar. Talvez Deus, ou seja lá quem for que esteja lá em cima, esteja querendo me dizer que tomei a decisão errada.

E eu sabia que não era a mais cautelosa, ou mais pensada das decisões. Tinha plena consciência de que agi por pura raiva. Isso me fazia sentir raiva não só de Negan, mas de mim. Fui treinada pra nunca agir assim, e aqui estou eu.

Sacudi a machadinha fazendo o sangue nela respingar pelo mato do acostamento. Entrei pelas árvores e me sentei encostando em uma delas. Bebi o resto da água que me sobrou, respirei fundo e olhei no relógio, eram sete e dez. O sol estava nascendo.

Ainda dá tempo de voltar Arizona, não seja tão impulsiva.

Balancei a cabeça, não era hora pra arrependimentos. Mesmo que eu estivesse quase certa de dar meia volta, eu tinha uma missão agora. Mesmo com o risco de morrer, que era quase que total. Eu tinha que tentar. Se falhasse, pelo menos todos já estariam alertas e o plano podia seguir normalmente.

Eu devia ter pensado um pouco mais sobre isso.

“Ações no calor da emoção, mesmo que por causas nobres Arizona, trazem consequências.”

A voz do meu pai ecoou na minha mente.

Era hora de encarar as consequências.

 

POV Daryl

07:10 a.m.

 

Acordei me sentindo sozinho na cama. Procurei o corpo quente de Arizona mas só tinha um espaço vazio. Sentei na cama e esfreguei o rosto, ela devia ter levantado antes. Mas que horas eram? Dormi tanto assim?

Levantei e fui no banheiro lavar o rosto e me aliviar. Saindo do banheiro vesti minha camisa que estava jogada na poltrona de canto e bocejei sentindo o estômago roncar. Olhei pra fora da janela, os primeiros raios de sol começando a invadir o quarto. Estranhei, geralmente eu acordava mais cedo e meu sono era sempre bem leve. Me estiquei e virei pra pegar a crossbow apoiada na parede. Tinha um pedaço de papel preso nela, devia ser bilhete de Arizona me falando onde foi.

Peguei o bilhete e abri.

“Tive que sair. Não se preocupe, estou bem.

Diz pro Connor que eu fui resolver as coisas e que tudo vai ficar bem.

Não me odeie, por favor. Xx”

Primeiro fiquei confuso, resolver o que?

Então como um estalo eu entendi. Ela foi se vingar pelo Connor.

Merda.

Peguei minhas flechas apressado e sai logo correndo pelas escadas. Encontrei Trevor entrando na casa e o olhei desesperado.

-O que aconteceu Dixon?- Me perguntou analisando meu rosto.

-Arizona, ela foi atrás do Negan.

Levantei o bilhete, Trevor arrancou da minha mão e leu ficando tão nervoso quanto eu.

-Mas que merda!- Jogou o papel em mim. -Ela é tão estúpida as vezes, que porra!

-Eu vou matar a sua irmã quando achar ela, pode apostar.

-Ah meu amigo, eu te ajudo.

A irmã mais nova de Arizona apareceu no topo da escada.

-O que ta acontecendo?

-Dakota, fica de olho no Oliver e não sai da porra dessa casa.- Trevor gritou.

-Ta, mas por que?

-Porque a sua irmã resolveu dar uma de soldado solitário.- Respondi com raiva sentindo meu sangue correr cada vez mais rápido.

-Como assim? Arizona saiu?

-Saiu, e foi atrás do Negan.- Respondi.

Ela colocou a mão na boca e deixou escapar uma exclamação de susto.

-Eu vou atrás dela Dakota, fica com o Oliver aqui dentro.- Trevor falou apontando pra ela.

-Nós vamos.- Falei saindo na frente.

Andei com Trevor até o portão, os dois putos da vida. Rosita estava lá e nos olhou assustada.

-Abra o portão.- Resmunguei.

-Ei, calma. Por que estão assim?

-Só abre essa merda.- Falei com raiva.

-Rosita, abre o portão por favor.

-Não vou abrir até me contarem o que houve.

-Arizona foi atrás do Negan.- Trevor respondeu.

-Sozinha.- Completei.

-O que? Mas eu não vi nada.

-Ela é uma delta muito bem treinada, se tivesse visto até eu ficaria ofendido.- Trevor respondeu.

-Vocês não podem ir atrás dela sozinhos, e o plano?

-Não interessa, vamos buscar aquela desmiolada antes que ela faça alguma merda maior.

-Trevor, eu entendo que é sua irmã mas vocês tem que se acalmar.

-O que ta acontecendo aqui?- Rick chegou perguntando. -Ouvi os gritos de lá de casa.

-Arizona, aquela idiota, foi atrás do Negan sozinha.- Trevor respondeu.

-Ela o que?- Michonne chegou perguntando.

-Isso mesmo que vocês ouviram.- Resmunguei andando de um lado pro outro.

-Vamos atrás dela, mas tem que abrir essa merda de portão.- Trevor falou apontando pro portão.

Mais pessoas foram saindo das casas, curiosas por causa dos meus gritos e de Trevor.

-Vocês dois precisam se acalmar.- Michonne falou.

-Me acalmar? Ta brincando comigo?- Trevor devolveu.

-Sim, se acalmar. Ou se esqueceram que nós temos um plano?- Rick disse.

-Foda-se essa merda de plano, eu vou atrás da minha mulher agora.- Gritei.

Eles todos me encararam, inclusive Trevor.

-Sua mulher?- Maggie que tinha acabado de chegar perguntou querendo rir.

-É, minha mulher! Eu vou atrás daquela garota agora.

-Daryl, vamos reunir todos e ir atrás dela. Mas você vai precisar se acalmar. Arizona não é nenhuma criança e fez isso conscientemente.- Maggie falou. -Ela é minha amiga, e estou preocupada agora mas precisamos agir com calma.

Bufei.

-Certo, vamos reunir todos agora.- Trevor falou saindo em direção a casa de Rick.

-Daryl.- Rick chamou. -Vamos.

-Eu não sou um maldito cachorro.- Resmunguei e todos seguimos pra casa.

 

07:45 a.m.

Reunimos todos da comunidade de Hilltop e os militares em frente a casa.

Eu estava cada vez mais nervoso, pensando que precisava encontrar Arizona logo.

Paul chegou da sua vigia e ficou bem preocupado, mas agiu com tanta calma que me deu até inveja do infeliz.

Minha mulher podia estar correndo muito perigo agora. Sim, minha mulher. Arizona é minha, assim como eu já sou totalmente dela. Aquela garota teimosa tinha me feito ficar completamente rendido. E por isso eu preciso ir logo atrás dela, não posso perder Arizona. Não posso nem pensar nisso, porque só de pensar dói.

Rick anunciou que íamos esperar um pouco, até um pouco antes do meio dia pra ver se o pessoal do Reino chegava. Mais uma coisa pra me fazer passar raiva. Maldito rei cheio de frescura.

Fiquei sentado no canto da varanda o tempo todo, mexendo na crossbow e fabricando flechas novas. Ouvindo os detalhes do plano serem repassados com todos.

Paul chegou do meu lado e sentou.

-Eu devia ter desconfiado.

Olhei pra ele sem entender.

-Arizona estava muito estranha quando falou comigo ontem. Se eu tivesse perguntado..

-Ela não ia te contar.- Resmunguei.

-Tem razão.- Ele concordou. Respirou fundo e encostou a cabeça na parede. -Ela fez isso por nós sabia?

-Como assim?

-Pra nos proteger. Pode ter sido impulso, mas não foi só pra vingar o Connor.

Olhei pra flecha nas minhas mãos.

-Acredita em mim, eu conheço ela bem demais. Arizona sempre faz tudo pra proteger quem ela ama.

-Mas ela não tinha que ter feito isso.

-Também acho.- Concordou. -Mas a Angel é bem grandinha, e tem um espírito irritantemente teimoso. Quando ela coloca alguma coisa na cabeça, já era.

Não falei nada.

-Ela vai ficar bem Dixon, aquela garota sabe se cuidar.

-Acredita mesmo nisso?- Perguntei voltando a olhar pra ele. Paul sorriu.

-Não sei ainda.

-Ah, ajudou muito.- Bufei.

-Você tem que relaxar, se quer a Arizona na sua vida vai ter que aprender que ela não faz o que a gente quer. Ela faz o que dá vontade, mesmo que seja burrice.

-Você ta tão calmo, como consegue? Ela é sua melhor amiga e foi sozinha pra casa do diabo em pessoa.

-Eu só não vejo motivo pra ficar que nem você e Trevor, os dois assim já ta de bom tamanho.

Grunhi olhando pra frente.

-Sério Daryl, você chegar nervoso lá não vai adiantar de nada.

Fiquei quieto, ele tinha razão mas eu não ia falar isso. Não mesmo.

-Ta bom, vou ficar quieto. Mas se não se importa vou continuar aqui.

-Tanto faz.- Dei de ombros.

Paul riu baixo e então o silêncio caiu sobre nós dois.

Eu queria sair e ir atrás de Arizona, colocar ela nas minhas costas quando achasse e só soltar ela no chão de novo quando estivesse em casa de novo. Mas Rick e os outros tinham razão, tínhamos mesmo que esperar. Se fossemos sem pensar, podíamos piorar a situação da teimosa.

Teimosa. Eu tinha mesmo que arranjar uma mulher tão cabeça dura quanto eu.

Isso só podia ser coisa de Merle, seja lá de onde estiver. Colocar ela no meu caminho pra morrer de rir me vendo perder o controle de mim mesmo. Desgraçado.

08:19 a.m.

Passado mais um tempo minha paciência já estava quase zero. Eu não aguentava mais esperar, não mesmo.

-Ei Daryl.- Rick chamou. -Pode ficar mais calmo, Ezekiel chegou.

Olhei pra onde ele apontava vendo o cara sair de um caminhão e caminhar até nós.

-Você está certo Rick, precisamos fazer algo.- Disse com um sorriso de político no rosto.

-Então vai se juntar a nós.

-Sim, eu e meus homens viemos pra lutar.- Falou apertando a mão de Rick quando chegou mais perto.

Me levantei e desci os degraus da varanda.

-Vejo que estão todos preparados já.

-Sim, estamos com pressa. Uma de nós acabou se precipitando e agindo por conta própria na madrugada.

-Isso não é bom.- Ezekiel falou franzindo a testa.

-Ela tinha seus motivos. Motivos nobres.- Rick respondeu. -Mas agora que chegaram, podemos passar a estratégia e ir.

-Tudo bem.

-Daryl.- Carol me abraçou.

-Vai lutar também?- Perguntei. Ela me olhou nos olhos e respirou fundo.

-Não, vou ficar aqui em Alexandria. Não quero me envolver no combate corpo a corpo, mas posso ajudar a proteger os que ficarem aqui.

Assenti.

-Toma cuidado lá.- Me pediu.

-Vou tomar.

-Cadê sua namorada?- Perguntou com um sorrisinho.

-Foi ela quem foi atrás do Negan sozinha.

Carol fez uma cara de espanto.

-Ah Daryl..- Falou colocando a mão no meu ombro.

-Eu sei.

-Por que ela fez isso?

-Os homens do Negan abusaram do irmão do meio dela.

-Ela agiu pela emoção então.

-Foi.

-Daryl.- Abraham me chamou. -Temos que preparar os carros.

-Vai lá.- Carol disse. -Vai ficar tudo bem.

-Tomara.- Resmunguei indo com Abraham e mais alguns preparar os carros.

 

POV Arizona

07:56 a.m.

 

Não cheguei muito perto do muro, subi em uma das árvores nos limites da floresta e observei o perímetro da fábrica. Alguns guardas, mas ainda assim tinha pontos cegos. O problema era que tinham walkers espalhados em volta do lugar, muitos deles. Grudados nas cercas, amarrados, fincados com estacas. Eles não eram burros.

Olhei meu relógio, eram quase oito da manhã. Eu tinha passado um bom tempo analisando o lugar e já tinha minha estratégia em mente. Entraria pelo ponto cego mais próximo de uma escada em frente a uma porta que eu vi Negan saindo e entrando com aquele bastão nas mãos. Era arriscado entrar ali sem saber o que encontrar lá dentro, mas eu ia me virar.

Lembrei de casa. A essa hora talvez estivessem em reunião. Trevor devia estar uma fera comigo.

Afastei tudo isso e resolvi descer da árvore.

Andei pelos escombros próximos a entrada da fábrica, precisaria correr e escalar a grade bem rápido e sem ser pega pelos walkers. Tinha uma brecha, e ninguém estava no lugar que eu queria pular, era a hora. Respirei fundo e corri. Subi a grade mas um walker agarrou meu pé quase me fazendo escorregar. Peguei a machadinha no cinto e tentei acertar ele, mas não podia abaixar muito ou seria pega pelo outro que rosnava querendo minha carne. Balancei o pé conseguindo fazer com que me soltasse quando consegui chutar a cara dele. Cheguei no topo da grade e pulei pro outro lado. Quando caí no chão chequei meu tornozelo e não tinha nenhum arranhão, respirei aliviada. Me escondi atrás de uma caçamba pequena de lixo e peguei a arma no coldre colocando o silenciador nela. Levantei e subi a escada com cuidado pra não fazer barulho, no topo dela olhei pela pequena janelinha na porta e não vi ninguém no corredor. Virei a maçaneta devagar e abri logo entrando. Era um corredor longo, com luzes não muito fortes e umas cinco portas. Tinha mais um corredor atravessando ele e no final também parecia um cruzamento. Andei um pouco passando em frente duas portas fechadas. Tinha mais uma porta perto do outro corredor e estava aberta, então andei devagar até ela e me encostei na parede tentando olhar dentro do cômodo. Vazio. Parecia um quarto, mas não tinha nada que me chamasse a atenção então continuei andando. Depois de passar pelo corredor e as outras duas portas eu decidi ir pela direita. O caminho me levou até uma área com escadas. Subi as escadas parando antes do topo pra ver o que era. Duas mulheres saíram de uma porta com uma expressão meio triste e foram pra outro cômodo. Atrás delas saiu Negan rindo e ajeitando o cinto. Nojento. Elas deviam ser dele, e pela expressão não de boa vontade. Ele falou alguma coisa e entrou no cômodo de novo, era minha chance. Me ergui e subi o resto dos degraus. Atravessei o pequeno cruzamento e fui andando encostada na parede, com a arma erguida. Entrei na sala onde ele tinha entrado e ele estava sozinho de costas pra porta. Andei dois passos e pigarreei. Negan se virou e fez uma expressão de surpresa, com um sorriso aberto.

-Uma hora ou outra eu sabia que você viria.- Mordeu o lábio descendo os olhos pelo meu corpo. Meu estômago embrulhou.

-Sabia?- Perguntei debochada.

-Claro. Esse olhar.- Apontou pro meu rosto. -Esse é o olhar de uma mulher forte, e eu sabia que você ia querer fazer alguma coisa contra o malvado que está extorquindo a sua comunidade e que sequestrou seu irmãozinho.

Trinquei o maxilar.

Meu irmão.

Deixei a arma abaixar um pouco, e Negan percebeu meu hesitar andando um passo na minha direção com um sorriso debochado.

Firmei a arma o encarando.

-Me dá um bom motivo pra eu não estourar sua cabeça agora.- Cuspi fervendo de ódio.

-Por que se você fizer isso, vai assinar sua sentença de morte.

Ouvi um clique atrás de mim e algo encostar na minha cabeça.

Droga.

-Larga a arma.- A pessoa atrás de mim falou.

Respirei fundo. Eu podia atirar e logo render o atirador atrás de mim, já tinha feito isso antes. Mas era arriscado, dessa vez podia não dar certo.

-Mandei largar a porra da arma.- Pressionou o cano da arma mais um pouco em mim.

Bufei largando a arma no chão.

Negan sorriu chegando perto de mim.

-Boa garota.- Passou a mão na minha bochecha. Virei o rosto com rispidez. -Você e o seu namoradinho tem o mesmo jeitinho selvagem pelo que tô vendo. O dele custou a vida de um amigo.- Falou indo até uma garrafa que parecia conter whisky e colocou no copo.

Engoli seco quando ele falou de Daryl.

O homem atrás de mim veio pra minha frente e pude ver que era o do rosto deformado que tinha roubado a moto e a crossbow de Daryl. Ele pouco olhou no meu rosto, se agachou pra pegar minha arma e guardou na calça. A arma apontada pra minha cabeça o tempo todo.

-As outras armas.- Falou.

-Não.- Negan disse. -Deixe ela com as machadinhas e esse arco por enquanto Dwight.

O loiro assentiu, agora sem deixar de me encarar.

-Sente-se.- Negan falou pra mim apontando pra poltrona em frente ao sofá ele tinha sentado.

Dwight me puxou pelo braço me fazendo ir até a poltrona e sentar.

-Sabe por que não te matei ainda?- Negan perguntou.

Não respondi. Ele sorriu de lado.

-Apesar de você ser bem gostosa, esse não foi o único motivo. O motivo é porque eu sei que seus amiguinhos virão atrás de você. Porque ao contrário do seu irmão, você veio por vontade própria e julgo eu por algum ímpeto sentimental. Eles sabem que tem que te resgatar. E eu não acredito nem um pouco naquela merda de que o Rick realmente se rendeu.

Continuei impassível.

-O que te faz julgar que eu sou tão importante assim?

Ele se surpreendeu com a minha pergunta.

-Seu namoradinho é, e pelo jeito que ele segurou sua mão no dia que me aproximei de você eu sei que ele vai querer vir. E não vão deixar ele vir sozinho.- Soltou uma risada. -Uuh, os porquinhos vão tentar soprar a casa do lobo mau.

Ele tomou o restante do líquido no copo e soltou um suspiro.

-Você tem sorte, eu não tenho nada demais pra fazer hoje. Então, sou eu quem vai te vigiar.

Olhei pro rosto de Dwight, ele contorceu a boca e abaixou a arma.

-Dwight.- Negan falou alto se levantando. -Pode voltar pras suas tarefas. Eu e a gracinha vamos dar uma volta.

Não tive escolha a não ser levantar e seguir com ele pra fora da sala. Antes de seguir pelo corredor olhei pra porta oposta vendo varias mulheres muito bem vestidas e espalhadas por uma sala cheia de mobília que parecia cara. Elas cochichavam me olhando. Ele tinha um harém? É sério isso? Senti pena delas.

-Vê? Você se encaixaria entre elas muito bem.- Negan sussurrou no meu ouvido.

Senti um frio na espinha.

Ele soltou um riso baixo e me fez seguir com ele pelo corredor.

Fechei os olhos por um momento me xingando.

Ah Arizona, em que merda você se meteu.

 

POV Daryl

09:00 a.m.

 

Estávamos na estrada indo atrás de Arizona, indo matar Negan e seus homens.

Era agora, a luta ia começar. Como estaria Arizona? Eu não conseguia parar de pensar nisso.

Estava sentado na caçamba de uma das caminhonetes. Quase não tinha falado durante a reunião com todos.

Não sei o que esperar dessa luta. Talvez Negan já saiba que estamos indo, e esteja preparado. Aquele desgraçado sabia mais coisas do que provavelmente o próprio demônio.

Eu não sabia o que sentir. Sentia tudo de uma vez, e era tão confuso. Eu não sei lidar com isso tudo. Sentia raiva por Arizona não ter me falado o que queria fazer, mesmo entendendo o porque ela fez isso. Sentia raiva de Negan pelo o que ele podia estar fazendo com ela, e pelo o que já fez a todos nós. Sentia medo de perder a única pessoa que me fez me sentir tão exposto como nunca na minha vida. Desde que conheci Arizona fiquei confuso sobre tudo, mas agora era claro pra mim que eu amo aquela mulher. E agora ela corria risco de morrer e eu não ter falado isso antes por ser tão imbecil.

Paul estava sentado do meu lado, junto daquele irritante do Alex que estava quieto também. Na verdade todos estávamos, o clima tinha pesado quando saímos de Alexandria.

-Não vai demorar muito e chegamos lá.- Paul falou baixo pra mim. -Já já vamos resgatar a Angel e acabar com eles.

-Que JC te ouça.- Resmunguei.

-JC?

-Jesus Cristo.

Paul gargalhou chamando a atenção pra nós. Alex pareceu sorriu ao ouvir a risada do outro.

-Que JC me ouça Dixon.

Sorri de lado.

Tomara mesmo que ele ouça.

Arizona aguenta aí que eu tô chegando.

Espero que esteja bem.