História Invictus - Surpresas

POV Arizona

Eu senti falta disso. Dessa sensação de que qualquer coisa podia acontecer, que a toda hora tínhamos que estar alertas e que meu coração batia tão rápido que parecia querer rasgar meu peito.

A luta sempre foi algo que me dava uma satisfação peculiar. Eu sempre era a primeira da turma a querer competir nos exercícios, fui a primeira da turma a expressar a vontade de ir pra faixa de Gaza, e fui a primeira da turma a abater mais de dez terroristas em menos de vinte e quatro horas.

Era estranho gostar de estar no meio do caos com perigo de perder a vida, eu sei. Mas era uma das coisas que me motivava a lutar pelo meu país. Pra mim, ir pra luta era fazer a minha parte e tentar garantir que todos teriam um futuro.

Agora eu não conseguia distinguir bem quem era humano de quem era walker, tamanha a confusão no perímetro.

Tudo estava quase no final, quase. Finalmente Alexandria e as outras comunidades estariam livres pra seguir seus caminhos e tentar reconstruir nosso mundo.

Meus irmãos estariam finalmente seguros.

Daryl não saía do meu lado, e Trevor estava que nem uma muralha do meu lado esquerdo. Os dois ainda achavam que eu não deveria ter ido lutar.

Connor e Dakota também estavam aqui. Eu não onde eu estava com a cabeça quando permiti os dois virem, já que nenhum de nós ficou com Oliver.

Vi um tiro passar de raspão em Dakota, fazendo o cabelo dela se mexer com a bala tão perto e enfureci. Certeza que fiquei vermelha.

-Dakota, presta atenção merda.- Gritei.

-Eu tô prestando Arizona.- Falou irritada com a minha repreensão.

-Não distrai ela Arizona.- Trevor disse do meu lado.

-Ela quase levou um tiro.

-Eu vi, mas relaxa.

Bufei voltando a atirar nos Salvadores que um por um iam acabando.

E foi como se eu tivesse piscado os olhos e então as coisas foram ficando mais calmas, respirei fundo me permitindo sorrir um pouco.

Tínhamos vencido.

Virei pra Daryl que me abraçou e me tacou um beijo ali mesmo, era a maneira dele de comemorar nossa vitória.

Olhei pra Trevor, meu irmão sorriu pra mim. Com aquele sorriso ele me dizia que finalmente teríamos um pouco de paz.

Mas toda a alegria se esvaiu quando o grito de Dakota com o nome de Connor ecoou pelo lugar e eu senti meu coração parar no pé.

Olhei na direção deles e vi Connor caindo enquanto Dakota tentava aparar ele, olhei em volta vendo o nojento do braço direito de Negan com um sorriso de lado e a arma levantada na direção de onde meu irmão estava.

Trevor saiu de perto de mim e correu na direção dele. Eu peguei meu arco nas costas e um flecha na aljava e mirei no braço do desgraçado, acertando antes que ele atirasse no meu irmão mais velho.

Trevor então pulou nele e desferiu socos em seu rosto. Corri até Connor vendo uma poça de sangue do seu lado e Dakota com os braços banhados no sangue dele me olhando com lágrimas escorrendo. Coloquei a mão na cabeça e gritei. Daryl chegou do meu lado e se agachou do lado do meu irmão.

-Puta merda.- Resmungou. -Rick!- Gritou pra Rick que logo chegou e começou a mobilizar uma retirada.

-VAMOS! Precisamos todos sair daqui.- Ele disse. -Tem um grupo que mandei limpar o local e trancar, nós precisamos levar Connor pra casa. Arizona olha pra mim.- Me chamou e eu tentei focar nele. -Eu preciso que mantenha a calma, entendeu? Temos que levar seu irmão antes que ele perca mais sangue.

Assenti meio desorientada voltando a encarar meu irmão.

Dakota levantou me olhando com os olhos arregalados e me agarrou.

Trevor voltou pra perto de nós arrastando o filho da puta com ele. Simon, era o nome dele se não me engano.

Corremos até os carros. Daryl, Rick, Abraham e Aaron carregando meu irmão e nós os acompanhando com mais alguns.

Entramos em alguns dos carros, o trailer e uma caminhonete e partimos em alta velocidade.

Eu podia ouvir meus próprios batimentos claramente. Connor estava perdendo muito sangue, tanto que eu já não sabia se ele sobreviveria. E as lágrimas queimavam meu rosto, deixavam um gosto ruim. Minha garganta tinha um nó que parecia que ia me sufocar. Trevor estava desesperado tentando conter o sangue de Connor, e eu abraçava Dakota que tremia chorando. Daryl tentava ajudar meu irmão mais velho, e os outros só conseguiam prender a respiração. Rick dirigia a toda a velocidade, mas parecia que quanto mais ele acelerava mais longe ficava Alexandria.

Connor não podia morrer, não assim e nem agora.

-Os batimentos dele estão caindo.- Trevor disse checando o pulso do mais novo.

-Estamos quase lá.- Michonne avisou.

-O médico?- Perguntei aflita.

-Graças a Deus está em Alexandria com alguns equipamentos. Deixamos ele alerta por conta da ofensiva de hoje.- Trevor respondeu.

-Ah é.- Falei sentindo minha cabeça pesar.

Olhei pra Connor e a visão de um sonho em que ele transformado falava comigo veio. Só pra me deixar mais nervosa ainda.

Finalmente os portões de Alexandria. Agora além de Connor Dakota não estava bem já que estava em estado de choque por ter visto Connor levar o tiro.

Descemos dos carros e segui correndo com Dakota agarrada em mim junto de Trevor, Daryl, Abraham e Rick que carregavam Connor em direção a enfermaria.

Todos pela rua nos olhavam tensos, sabiam que nem tudo tinha ido bem. E quando eu estava na porta ouvi a voz de Oliver me gritando. Olhei pra trás vendo ele correr até mim assustado.

-O que aconteceu? Cadê o Connor?- Ele tentava olhar por trás de mim.

-Oggy, o Connor se machucou.- Falei me ajoelhando na frente dele.

-Que?- Meu irmãozinho perguntou começando a respirar fundo. Ah não.

-Ele vai ficar bem meu amor.- Disse passando a mão no rosto dele. -Vai ficar tudo bem. Agora eu preciso que você vá com a Maggie e fique com ela até eu te buscar como combinado antes ok?

Oliver assentiu deixando lágrimas rolarem. Sorri o encorajando e ele correu o caminho de volta.

-Eu vejo se ele realmente foi.- Michonne disse.

Agradeci e me virei pra Dakota de novo. Ela tinha os lábios pálidos e olhava fixamente pro chão.

-Ei Doda, olha pra mim.- Tentei olhar nos olhos dela mas ela parecia uma estátua. -Irmãzinha, por favor olha pra mim.

Coloquei uma mão no queixo dela e levantei devagar.

-Dakota.- Falei olhando nos olhos perdidos dela. -Vem aqui.- A puxei pra dentro da enfermaria e a fiz sentar.

-Ele vai precisar de uma transfusão.- O doutor disse.

-Eu posso doar.- Trevor falou.

Meu irmão tinha a roupa ensanguentada por conta de Connor e respirava fundo.

Eu peguei um copo com água e entreguei pra Dakota a fazendo beber com calma. Ela me entregou o copo e eu a abracei fazendo carinho no cabelo dela.

Daryl chegou do meu lado e abraçou nós duas.

-Vai ficar tudo bem.- Sussurrou no meu ouvido.

Assenti sem deixar de encarar Connor deitado enquanto o médico cuidava dele. Quando os pesadelos irão acabar?

O doutor tinha colocado Trevor sentado do lado de Connor para que o sangue fosse transferido. Ele terminava de suturar a parte inferior do ombro direito do meu irmão, pelo visto tinha passado de raspão em umas artérias importantes mas felizmente o médico disse que Connor aparentemente ficaria bem. Doutor Carson disse que tinha feito tudo que podia e que agora era só observar e esperar, torcer pra Connor ser forte e sobreviver.

Eu estava sentada no chão, Trevor ainda sentado do lado do mais novo terminando a transfusão. Dakota acabou dormindo com a cabeça no meu colo, depois de muito tempo calada e chorando.

Daryl entrou na enfermaria e olhou pra mim.

-Oliver está bem, queria vir pra cá mas eu disse que era melhor ele ficar com a Maggie.

Sorri fraco.

-Obrigada.

Ele sorriu de lado e sentou do meu lado direito.

-E ela?- Apontou com a cabeça pra Dakota.

Respirei fundo passando a mão entre os cabelos dourados dela.

-Dakota está em choque, mas acabou pegando no sono.

Ele passou um braço pelo meu ombro e me deu um beijo na têmpora.

-Vai ficar tudo bem.

Meus olhos encheram de lágrima e eu não tentei contê-las.

-Ele não pode partir assim.- Falei baixo. -Depois de tudo o que passamos, eu achei que meus irmãos estavam finalmente seguros. Achei que eles tinham um lar e que eles teriam um futuro.

-E eles vão ter.- Daryl respondeu me fazendo olhar pra ele. -Sua família é forte Arizona, muito forte. Connor vai acordar.

-Ele perdeu muito sangue.- Sussurrei pensando no pior.

-Descansa um pouco, eu fico de olho em tudo.

Olhei pra ele, suspirei e me dei por vencida deitando a cabeça em seu ombro.

Parecia que eu tinha sido atropelada por um tanque. O cansaço emocional pesava mais que o físico, e minha cabeça estava tão pesada que parecia estar sendo esmagada por um peso enorme.

Fechei meus olhos e deixei a inconsciência me levar, com a visão de um Connor transformado voltando a minha mente mais uma vez.

Estava escuro quando acordei. Daryl ainda do meu lado, Dakota ainda deitada mas Trevor não estava ali sentado do lado de Connor. Franzi a testa estranhando e levantei a cabeça do ombro de Daryl.

-Ele foi ver o Oliver.- Daryl respondeu o que eu me perguntava. -Disse ver se Rick precisava de alguma coisa e depois trazer alguma coisa pra vocês duas comerem.

-Connor?

-Nada ainda, nem abriu os olhos.

Encostei a cabeça na parede e respirei fundo.

Dakota se mexeu mas não acordou. A porta da enfermaria abriu e Michonne entrou.

-E então, nada ainda?

-Nada.- Daryl respondeu.

-E você Arizona, está bem?

-Tô sim. Com medo dele não acordar, mas bem.

Ela sorriu fraco.

-Ele vai acordar, você vai ver. Rick pediu pra falar com você que se você quiser fazer alguma coisa com Simon, o cara que atirou no Connor, você e Trevor tem carta branca.

-Vou querer sim. Mas prefiro esperar Dakota acordar, e então eu procuro vocês e vou lá com Trevor. Ele ta onde?

-Sendo vigiado por Abraham, eu e Aaron no cômodo em cima da cela de Negan.

-Tudo bem, obrigada.

Ela acenou com a cabeça e saiu da enfermaria.

-Vou com você.- Daryl disse.

-Não vai tentar me impedir de nada?

-Não, você tem todo o direito, e eu já aprendi que não adianta tentar te impedir de nada porque você não obedece mesmo.

Ri baixinho.

-Ainda bem que aprendeu Dixon.- Levantei uma sobrancelha.

Ele sorriu e me deu um beijo leve.

Não muito tempo depois de Michonne sair, Trevor voltou com algumas maçãs e pão pra mim e Dakota.

-Doda, acorda.- Sussurrei balançando ela de leve.

Dakota abriu os olhos preguiçosamente e se sentou coçando os olhos.

-Por quanto tempo eu dormi?

-Bastante, mas você precisava.- Trevor respondeu estendendo uma maçã pra ela, que não pegou e ficou só encarando o chão.

Olhei dela pra Trevor, e pra ela de novo e suspirei.

-Dakota você tem que comer, por favor.

-Eu não tô com fome.

Desencostei de Daryl e fiz ela olhar pra mim

-Eu sei que não é muito legal ver alguém levando um tiro, principalmente alguém que você se importa. Mas você precisa ficar forte pra esperarmos Connor acordar.

-Ele viu ele Nana.- Ela falou.

-Viu ele quem?

-O cara que abusou dele, Connor viu e se assustou.

Nós três olhamos pra Dakota esperando ela continuar.

-Connor falou que era ele, o cara sorriu tão nojento quando olhou pra nós e então deu um tiro no Connor.

Se antes eu já estava nervosa agora eu não conseguia nem controlar a corrente de ódio que passava pelo meu corpo.

-Trevor.- Falei entredentes.

-Eu sei.- Meu irmão respondeu.

Dakota nos olhou confusa.

-O que foi?

-Ele está aqui em Alexandria, preso. E eu e Trevor vamos dar uma liçãozinha nele.

Ela abaixou o olhar e pegou a maçã que Trevor tinha oferecido de novo.

Olhei pra Daryl e ele assentiu, em um apoio mudo.

Eu ia acabar com a vida daquele desgraçado. Se Negan era um filho da puta que merecia sofrer, esse miserável era pior ainda. Eu ia fazer ele implorar pela morte.

Dakota foi pra casa de Maggie ficar com ela e Oliver. Tara disse que ficaria de olho em Connor já que ela estava sem sono.

Seguia agora até onde Simon era vigiado, com Daryl e Trevor comigo. Acabei encontrando Rick quando fui levar Dakota até Maggie.

Meu sangue borbulhava, tamanho o ódio que eu sentia agora. Já estava cheia de vontade de acabar com aquele filho da puta, agora ainda mais depois de descobrir que foi ele quem estuprou meu irmão. Bem debaixo do nariz daquele outro filho da puta, que alegou não saber de nada.

Respirei fundo soltando todo o ar pela boca quando chegamos em frente a casa.

-Querem que eu chame Alex?- Rick perguntou.

-Eu vou atrás dele, fica aqui com eles.- Meu irmão disse seguindo a procura de Alex.

-Ok, vamos entrando então.- Rick disse.

Antes de entrarmos na casa Daryl segurou meu braço com calma e me virou pra ele.

-Eu sei que você ta com raiva e querendo acabar com a raça desse desgraçado, com total razão, mas me escuta.- Parou um momento parecendo procurar as palavras certas. -Se por qualquer motivo você achar que não vai conseguir continuar o que você vai fazer lá dentro, me fala que eu te tiro daqui. Você não é de ferro amor.

Sorri com ele me chamando de amor. Era a primeira vez, e eu podia ouvir ele me chamar de amor por toda a eternidade que não cansaria.

-Vou ficar bem.- Falei passando a mão no rosto dele. -Fica tranquilo, qualquer coisa eu te aviso.

Ele sorriu e me deu um selinho longo.

Separei nossas bocas e entrei na casa, seguindo até a sala onde o verme estava sentado no meio e os outros estavam de pé o vigiando. O olhei com todo o nojo que consegui. Senti uma ânsia de vômito absurda e tive que respirar fundo colocando a mão na boca. Michonne percebeu e me olhou levantando uma sobrancelha.

Ninguém disse nada. E nem precisava, já que todos ali sabiam o que ia acontecer. Com exceção de Simon que nos olhava confuso.

-Arizona, vai querer ajuda?- Abraham perguntou.

-Não, tudo bem. Trevor está vindo junto de Alex, e acho que na verdade eu não vou precisar de muita ajuda.- O olhei fria.

-Ajuda pra que?- Simon perguntou.

Ri debochada.

-Ansioso? É o primeiro.- Cruzei os braços e sorri debochada.

-Como assim? O que ta acontecendo?- Ele perguntou mais agitado.

Cheguei perto dele descruzando os braços e o encarei com ódio.

-Você vai ver.

Trevor entrou no cômodo com Alex e Paul junto deles.

-Tudo aqui.- Alex disse me entregando a maleta.

-Ok, preciso de uma cadeira e cordas.

-Já trouxemos.- Rick disse colocando a cadeira do lado de Simon e as cordas em cima dela.

Trevor levantou Simon pela caminha e o fez se sentar na cadeira, o amarrou com os braços pra trás e amarrou seus pés também.

Puxei uma mesinha que estava no canto e coloquei a maleta em cima dela, a abrindo.

-O que vão fazer comigo?

Respirei fundo.

-Alex, me faz um favor e coloca a faixa na boca dele.

Ele fez o que pedi enquanto Simon tentava esquivar.

Olhei pros objetos dentro da maleta e não sabia qual usar primeiro. Eu queria usar todos de uma vez só, fazer ele sofrer o bastante pra que pensasse que nunca queria ter se metido com alguém daqui. Principalmente pensasse que nunca deveria ter violado meu irmão. Só de pensar no quanto Connor sofreu me dava vontade de só esganar ele com minhas próprias mãos. Mas não, Simon merecia mais. Ele merecia sofrer muito mais que só uma morte rápida.

Uma das ferramentas brilhou nos meus olhos e decidi começar com ela. Era uma seringa, e com ela se injeta a toxina de uma formiga da América do sul que causava uma dor excruciante. Uma formiga sim, e uma substância que fazia algumas pessoas chorarem de dor. Coloquei parte do conteúdo do frasco na seringa e me virei pra Simon.

-Se você resistir, vai ser bem pior.

Ele me olhou assustado. Olhava do meu rosto para a seringa, sem ter ideia do que aquilo ia fazer com ele.

Aproximei a seringa de seu braço que estava para trás e apliquei a toxina como se fosse realmente uma picada da formiga.

Simon começou a respirar mais rápido e a tentar se debater. Não demorou e ele gritava de dor.

-O que é isso?- Michonne perguntou.

-Uma toxina que causa uma dor filha da puta.- Alex respondeu.

-Tipo um veneno?- Daryl perguntou olhando de mim pra Alex.

-É, tipo um veneno. Só que a vítima não morre, só deseja morrer.

Eu encarava Simon se contorcendo de dor, com um sorriso sádico e a seringa ainda erguida.

-Aprendi muitas coisas durante meu treinamento para ser uma Delta.- Falei começando a andar em volta dele. -Passei por muitos testes que a maioria das pessoas chamaria de desumano. E uma das coisas que aprendi foi como suportar a dor, inclusive já foi injetada em mim e mesma toxina que eu injetei em você.- Parei na frente dele de novo. -O veneno da formiga-cabo-verde é tão ruim que na primeira vez que eu experimentei achei que fosse desmaiar de tanta dor.

Olhei pra Trevor, ele deu um sorriso mínimo.

-Sabe qual o castigo que eu acho que estupradores merecem?- O fiz olhar pra mim puxando sua cabeça pra trás. -Eu acho que a morte é uma punição muito leve pra vocês.- Aproximei meu rosto um pouco e sorri de lado. -Primeiro eu quero ver você implorar pra que eu te mate, e depois implorar um pouco mais. E quando você perder toda a porra da dignidade que você acha que tem, aí então eu posso aliviar a dor da sua vida miserável.- Ri fria. -Mas te garanto que isso não vai vir rápido.

Soltei ele e coloquei a seringa na maleta, pegando um pequeno laser em seguida.

Olhei pra todos ao meu redor procurando algum sinal de objeção, mas ninguém disse nada e nem expressou nada. Somente Rick me encarou de volta e assentiu com um leve movimento da cabeça.

-Vai ser uma longa noite.- Falei ativando o laser.

POV Dakota

Oliver dormia com a cabeça no meu colo no sofá. Já fazia um bom tempo desde que Nana e Trevor foram dar uma lição naquele monstro. Connor ainda não tinha acordado pelo que vieram nos avisar, e isso estava me deixando cada vez mais tensa.

Carl entrou na sala com Judith no colo e olhou de mim pros três que vieram de Washington.

-Ei.- Disse sentando do meu lado. -Como você está?

-Já estive melhor.- Dei de ombros. -Pelo menos consegui com que Oliver dormisse.

-Quer que eu coloque ele no meu quarto? Vou ter que por Judith lá também.

Olhei pra pequena que coçava os olhinhos com sono e não contive um sorriso.

-Pode ser.

Carl me entregou Judith e pegou Oliver com calma no colo.

Quando ele saiu da sala vi que os três me olhavam.

-Vocês são um casal bonito.- A loira disse.

-Não somos um casal.- Falei sentindo minhas bochechas corarem.

-Oh me desculpe, mas parece.- Ela sorriu, acho que tentando ser simpática.

Sorri minimamente e embalei Judith, que bocejou.

-Vocês podem ter um futuro realmente brilhante, sabia?- O senhor de capuz falou.

Ri sarcástica.

-Acho que nem todos nós.

-Claro que todos.- Ele respondeu.

-Nem todos de nós podem ficar vivos pra viver o futuro.

Ele sorriu como que se eu tivesse falado a maior estupidez do mundo.

-Você tem que ter fé. O mundo ainda tem chance.

Não respondi. Eu sempre acreditei nisso, mas depois de ver a reação de Connor e ver ele praticamente morrer na minha frente eu comecei a ter minhas dúvidas.

-Vocês são pessoas boas.- O grandão disse.

Levei meu olhar pra ele e suspirei.

-Pronto.- Carl disse chegando na sala e percebendo que eu encarava os três. -Ta tudo bem?

-Está sim, só estamos conversando.- Respondi. -Judith apagou.- Sorri. -E bem rápido.

-Vou colocar ela no berço.- Falou pegando a irmã no colo e indo colocá-la no quarto.

-Seu irmão vai ficar bem.- A loira disse sorrindo.

-Tomara. Agora, quem fez o que fez com ele que eu acho que não vai ficar nada bem.- Falei com frieza. E me surpreendi com meu tom.

Os três perceberam a seriedade do que tinha acontecido.

Tentei sorrir, mas acho que só saiu uma careta. Carl voltou pra sala e se sentou do meu lado pegando minha mão. Encostei minha cabeça em seu ombro, mas não conseguia nem cochilar. Eu não ia conseguir relaxar até Connor acordar.

POV Arizona

Já passava da uma da manhã. Simon vinha resistindo bem. Agora Trevor desferia uns socos nele, e o rosto de Simon estava inchado já.

Ninguém tentou nos interromper. Todos continuavam ali. Quer dizer, menos Aaron que teve que ir pra seu turno na vigia.

Eu estava do lado da mesinha com a maleta, meu corpo ainda fervilhava de ódio.

Trevor acertou mais um soco e se afastou respirando rápido.

-Desgraçado.- Resmungou com a voz embargada.

Meu irmão tinha atingido uma barreira, ele estava prestes a chorar. Voltou pra perto de Simon e o segurou pelo colarinho.

-Como você teve coragem?- Rosnou. -Ele é só um menino, seu filho da puta desgraçado. Ele é só um menino.- Bradou a última frase.

Eu olhei pra Alex, ele encarava Simon com frieza. Busquei os olhos de Daryl, e ele me encarou de volta me passando confiança.

Meu irmão acertou mais um soco em Simon, e ouvi um barulho de osso quebrando. Tinha quebrado o maxilar dele.

-Por favor.- Simon resmungou pela terceira vez naquela noite.

-Trevor.- Chamei meu irmão. -Trevor.- Chamei de novo colocando uma mão no ombro dele. Meu irmão se virou pra mim como um animal e quando percebeu que era eu relaxou um pouco os músculos.

-Faça- Disse entredentes.

Assenti.

-Embora eu pense que você devia sofrer muito mais tempo essa noite pelo o que fez, acho que posso me contentar com isso.

Ele me encarou, o rosto inchado e ensanguentado. E eu só conseguia pensar em como Connor deve ter sofrido durante aqueles dias.

Lá estava o ódio borbulhando de novo.

-Divirta-se no inferno.- Falei antes de girar o pescoço dele, quebrando.

A cabeça de Simon pende inerte e eu me afastei respirando fundo.

Eu podia com certeza afirmar que Simon tinha sofrido durante aquelas quatro horas. Eu tinha usado de praticamente todas as ferramentas de tortura que tinha na maleta. Cada uma eu usava o suficiente pra ele sofrer e não desmaiar.

Meu peito ardia. Subindo e descendo rápido, como se eu tivesse corrido uma maratona.

-Menos um desgraçado no mundo.- Falei saindo do cômodo.

A carga emocional me atingindo como uma bala.

Eu tinha acabado de torturar e matar o cara que abusou do meu irmão, era diferente de torturar e matar um inimigo da nação.

Senti o ar puro invadir meus pulmões e desabei na calçada caindo sentada.

Uma dor aguda no meu abdômen me atingiu e eu fechei os olhos sentindo as lágrimas.

Gemi de dor e ouvi alguém chegando perto.

-Arizona.- Daryl disse assustado olhando pro meio das minhas pernas.

Olhei pra baixo e arregalei os olhos. Eu estava sangrando.