História Ir ou não? Eis a questão. - O passeio

6:30 o despertador toca e eu já estou de pé, sento na cama e encaro a parede por alguns segundos, lembro que estou sozinha e lembro também que não liguei para mamãe ontem, ela vai me matar! Volto a realidade e começo a me arrumar para ir a Harvard... que emoção! o celular toca, ligação de Amy.

 — Alô? - Sonolenta, quase não sai o som da minha voz. 

 — E aí? Animada? - quase não entendo pois ela diz bocejando 

 — Muito! - Respondo ironicamente 

— Ótimo! Vou te buscar de carro, até mais! beijos baby.

 Desligo o celular, desço para tomar café e esperar Amy, começo a folhear o meu diário, ganhei do meu pai antes de tudo acontecer, nossa, ele guarda tantas lembranças, prometi a meu pai que escreveria nele todos os dias e assim faço. Escuto barulho de buzina do lado de fora, é ela sem dúvidas, não costuma passar carros por aqui e bom... Não temos vizinhos. Pego a bolsa jogo o diário dentro e saio rapidamente, entro no carro e Amy me recebe com um sorriso sonolento.

 — Me desculpe por ontem, meus pais saíram e tive que ficar com meu irmãozinho. Dormiu bem? - Ela troca o assunto 

 — Sim... dormi a tarde e a noite toda, acordei com sua mensagem. - Olho para ela mas desvio rapidamente, para não tirar dela a concentração na estrada. 

— Tomara que esses caras da universidade sejam gatos! Esse passeio tem que valer alguma coisa! Já pensou? Eu saindo com um estudante de Harvard... me sinto mais inteligente só de pensar. - Ela tenta lançar um olhar sedutor e ela mesma pelo retrovisor. Não pude deixar de rir 

— Você não pensa em outra coisa? -  pergunto 

 — E tem coisa melhor para pensar? - Ela me olha sorrindo e volta a atenção para a estrada. 

— Sim, aprender a como ser um estudante digno de Harvard. - Respondo ironicamente

- Ela ri — Brincadeira né? 

 — Sim! - Nos duas rimos.

Amy estaciona o carro na garagem da escola e avistamos o Sr Hebert e os demais alunos da nossa turma ao lado do ônibus da universidade, não estávamos atrasadas mas pelo jeito só restava nós duas a chegar. O professor  contava os alunos então nos aproximamos. 

 — 37 e 38, pronto, aí estão vocês! Bom dia meninas. - Ele sorriu para nós e fez um gesto para irmos para a fila. 

 — Turma é o seguinte,  por regras da Universidade vocês terão que se sentar nos assentos do ônibus conforme o número da chamada ou seja, em ordem alfabética. Então os que eu chamar por favor entre no ônibus e sente do lado do colega que entrou antes, entenderem? Começando pelos primeiros bancos.

  *Todos reclamam e falam ao mesmo tempo* 

 — QUIETOS!  Ada... suba e se sente no primeiro lugar por favor! 

 Depois da chamada, todos nós estávamos sentados em seus lugares dentro do ônibus só esperando a ordem do professor para o motorista partir. Amy sentou ao lado de Antoni o menino mais chato e bagunceiro da sala, talvez de toda a face da terra. Faz parte de time de futebol, é bonito, mas tem o a burrice no mesmo nível da beleza. Pele escura, cabelos negros cacheados e um bom físico, por conta dos jogos. Toda hora ele olhava para trás e jogava alguma coisa, seus amigos ficaram todos no fundo do ônibus e riam feito hienas.

 —  Será que tem como você parar com isso e ficar quieto pelo menos por um tempo? - Indagou Amy já irritada com as brincadeiras de Antoni.

— Relaxa gata, se quiser nesse passeio eu sou só seu! Te dou toda atenção do mundo.. - Disse ele se insinuando e passando a mão nos cabelos dela. 

 — Ah! Cala a boca seu ridículo, antes que eu arranque seus dentes com um soco! - Respondeu ela mais irritada do que nunca.  

 — Uow! Gatinha selvagem, gosto disso. - Disse ele tirando sarro dela. 

- Amy se levanta do banco. — E da minha mão na sua cara? Gosta também? 

  A turma que percebeu a discussão começou a querer acender ainda mais o fogo " Briga, briga" alguns gritavam.

 —  EU JÁ NÃO PEDI PARA VOCÊS FICAREM QUIETOS?! - gritou o professor. 

— Eu não quero escutar mais nada durante a viagem estamos entendidos? quem falar qualquer coisa ou insinuar alguma briga, começar alguma discussão, vai pra fora e é 0 na minha matéria automaticamente! 

 Todos se calaram.

 — Podemos ir?. - Perguntou ao motorista. 

 Sentei do lado de Rachel. Estudamos juntas desde a 5 série mas nunca nos falamos, ela nunca falou com ninguém na verdade, não que eu tenha visto. Ela está sempre sozinha, em nenhum momento ela sequer olhou para mim, ficou o tempo todo olhando para a janela. Coloquei meus fones, liguei a rádio e relaxei já que seria uma longa viagem.

 Ao chegarmos em Harvard University já fomos recebidos por uma equipe de guia turística uniformizada que nos esperava no estacionamento. Chegamos em horário de aula e pelas janelas do ônibus dava pra ver um enome campo verde de frente a um grande prédio, lá estavam alguns estudantes sentados, uns estavam lendo, outros conversando, estudando com os colegas havia alguns  no estacionamento. Todos no ônibus  olharam pela janela e ficaram maravilhados, um lugar enorme e muito bonito visto por fora, não tinha um que nunca ouviu falar sobre Harvard University, mas ver de perto assim, poucos viram. 

- Ao estacionar o ônibus, os alunos descem um por um e amy caminha até o banco onde eu estava.  — Não aguentava mais ficar nesse ônibus ao lado de Antoni, mais um pouco e eu afundava a cara dele. Finalmente chegamos! Gatinhos inteligentes, mamãe chegou. - Diz  amy toda feliz me puxando para fora do ônibus.  

 - O professor juntou todos nós em uma única fila ao lado de fora, uma mulher muito bem vestida ae aproxima de nós. — Olá pessoal, meu nome é Rose e eu vou guiar vocês nesse passeio, qualquer duvida podem me perguntar, farei o possível e tentarei responder todas as dúvidas de vocês, só peço que façam silêncio, vamos passar em frente a algumas salas e estamos em horário de aula, não me interrompam enquanto falo por favor, podem ficar a vontade, vamos esperar a outra turma chegar. - Ela e o Sr. Hebert começam a conversar.  

Foram escolhidos as turmas do segundo ano, mas não todas, só aquelas com desempenho melhor, no caso, duas, e para o meu azar, a sala da minha pior inimiga Sophie Green a menina mais popular de toda escola, e como todas as histórias de inimigas escolares, nós duas já fomos melhores amigas de infância, até ela insistir que roubei a boneca dela que eu nunca nem mexi pois tinha muito medo dela,  já faz uns 8 anos isso e desde então ela inferniza a minha vida e faz de tudo para me provocar. Sophie Green é líder chefe das líderes de torcida na escola, Loira, olhos azuis, corpo desenhado, perfeitamente desenhado,  é a garota mais desejada e invejada de toda escola, sempre teve tudo que quis, como quer e quando quer, vive acompanhada de seu braço direito Valerie, a amiguinha burra que concorda com tudo que ela diz. 

 Alguns minutos depois chegou o ônibus com a outra turma do segundo ano, para a minha sorte eles ficaram com outro guia turístico. 

 — Essa viagem quase acaba com a minha beleza.. ah esquece! Isso é impossível! - disse Sophie. 

—  Isso é impossível! - Amy imita ela com uma voz ridiculamente ridícula.

— Muito impossível mesmo! - Repete a amiga Valerie. 

- Sophie analisa a vista para o campo da universidade. — Esse lugar é demais... a convivência deve ser muito melhor também. - Ela diz olhando para mim.  — Falando em convivência... - Elas caminham em minha direção. — Quase não lembrava que vocês existiam, Clark. - Ironicamente ela faz uma cara de espanto e ri junto com  Valerie. 

Antes que eu pudesse responder Amy me puxou  para longe delas.

 — Vamos Olly, a Rose está chamando a turma.

 Passamos por corredores, salas, assistimos um pequeno filme sobre a fundação da Universidade, depoimentos sobre os primeiros estudantes a se formaram nela e muitas outras coisas. Depois, Rose nos levou até o refeitório e então aguardávamos o lanche e a outra turma  para voltarmos a escola. 

 — Queridos, quem quiser ir ao banheiro, tomar água antes de voltar fique à vontade, as placas nas paredes indicam a direção de qualquer lugar para onde quiserem ir. Espero que tenham gostado do passeio e espero vê-los novamente como estudantes de nossa querida Harvard University. - Disse Rose, a guia turística. 

 Eu sabia que a qualquer momento Sophie e Valerie chegariam, então resolvi ir ao banheiro, antes delas chegarem e quererem aprontar alguma comigo. Amy não quis ir  pois aguardava ansiosamente pelo lanche. Então resolvi ir sozinha mesmo, segui as placas, me distraí no caminha com algumas coisas e entrei em alguns corredores, um verdadeiro labirinto. Parei para observar alguns quadros e pinturas nas paredes, peguei minha bolsa e fui conferir se estava tudo lá, com Sophie por perto, não duvido nada que tentaria pegar algo que me pertence por vingança daquela boneca. Caneta, papel, blusa de frio, prendedor de cabelo, diário, parece estar tudo ok.  Escuto de fundo uma voz dizer "com licença, saiam do caminho, estou atrasado" olho para os lados mas não vejo ninguém, guardo as coisas na bolsa novamente e assim que volto os olhos para frente sou atingida por algo... ou melhor, por alguém, caí no chão e minhas coisas foram todas espalhadas pelo ar.

 — Nossa, acho que matei alguém. - Diz a pessoa que me derrubou. — Mil desculpas.

 Rapidamente ele se levanta e eu também, de joelhos, começo juntar minhas coisas e o ajudo  a juntar as dele, um monte de papéis e livros no chão. 

 — Obrigado. - Ele me agradece e sorri simpaticamente.  

Nossos olhos se encontram, por um tempo ficamos parados olhando um para o outro. Ele quebra o clima com um sorriso, um sorriso perfeito, dentes tão brancos e certos, pareciam balas de menta. Mais bonito que o sorriso dele só os olhos acinzentados, seus cabelos claros, quase loiros, lisos, sua pele e seu rosto perfeitamente desenhado. 

 — Acho que isso lhe pertence. - Ele se levanta e me entrega a blusa que estava no chão.

 Depois desse corte de clima me toquei que ainda estava de joelhos então levantei rapidamente e peguei a blusa.

— Obrigada. - Sorri agradecendo.

— Mais uma vez me desculpe, me atrasei para a aula, como sempre me atraso, atraso é meu sobre nome. - Ele diz um pouco nervoso e  sem graça. 

 — Te entendo muito bem.

 — É... eu tenho que ir, obrigado por me ajudar a pegar as coisas e desculpa mas uma vez.  

 Antes de esperar minha resposta ele se vira e volta a correr. Fico um tempo parada, pensando, até me lembrar que eu ia ao banheiro, pego minhas bolsa e vou.

 Ao voltar para o refeitório encontro Amy sentada mexendo no celular.

 — Você não vai acreditar no que acabou de acontecer! - Sento ao lado dela. 

— Sophie caiu da escada? - Pergunta ela com uma esperança na voz. 

 — Não!

 — O que então? - Ela se vira para mim esperando a resposta. 

 — Eu meio que fui atropelada por um estudante dessa Universidade.

 — Como assim? - Ela pergunta com um tom surpreso, e se vira para mim interessada no assunto.

— Exatamente, eu fui ao banheiro e no meio do caminho, veio um rapaz correndo e me atropelou, derrubou todas as minhas coisas e as dele também.

 Antes que eu terminasse de falar o Sr Hebert apareceu e tivemos que ir  até a saída junto com Rose, saímos pelos enormes portões da universidade, passamos pelo campo verde dos alunos e voltamos ao estacionamento, o ônibus já nos esperava lá fora.

 — Pegou todas as suas coisas? Depois vai ter que me contar isso direito. 

 — Sim. - Respondi. —  Mas não custa conferir. 

 Comecei a contar novamente as coisas. 

— Prendedor de cabelos, canetas, blusa de frio, caderno e... e... DIÁRIO! O MEU DIÁRIO SUMIU! - Procurei mais uma vez conferindo. 

— Será que aquele menino levou sem querer? Não acredito. 

 — VOCÊ PERDEU O SEU DIÁRIO? Sua louca! por que trouxe ele?! - Amy diz tão desesperada quanto eu, talvez por saber o quanto ele significava para mim. 

— Eu estava mexendo nele antes de você passar lá em casa, não tinha onde esconder então resolvi levar e agora o perdi. - Não consigo disfarçar o tom de desespero e decepção. 

 Amy foi atrás do Sr Hebert e a Rose para tentar resolver isso, tento voltar para dentro da Universidade para achar meu diário, chego até os bancos, próximo aquele enorme campo verde e escuto uma voz vinda de longe "DILAN! Volte já aqui!"   Olho para trás e vejo aquele menino correndo na minha direção. Desesperado ele chega até a mim, pausa a corrida para recuperar o fôlego e se aproxima.

 — Acho que isso pertence a você. - Ele estica a mão e está segurando meu Diário. 

— Achei que o tivesse perdido para sempre, obrigada - Sorri agradecida. — Você leu?  - não queria nem imaginar essa hipótese.

— Não, achei que era uma agenda, quem sabe na próxima. - Ele ironicamente sorri.  —  Você está com a escola que veio de visita? - Ele troca o assunto. 

 — Sim, estamos voltando. - Respondi

— Legal... quer dizer, não que seja legal vocês estarem voltando, não foi o que eu quis dizer e... eu preciso voltar, daqui a pouco mandam me buscar, foi bom te conhecer. Até mais Olly. - Ele se vira e volta andando. 

 — Você disse que não leu! - Eu quase grito pois ele já estava longe.

— Eu digo muitas coisas. - Ele grita de volta, tive a impressão de ver um sorriso irônico. — Antes que eu esqueça, deixei algo para você na última página, mas não veja agora, espere eu entrar primeiro. - Ele se vira e corre ao ver um guarda se aproximando.

 Me virei a andei em direção a minha turma, abri a última página a havia um número e uma mensagem " Se quiser saber se li ou não seu diário vai ter que perguntar." 

Fechei o diário e caminhei em direção a Amy. 

— Que sorrisão é esse? - Ela perguntou.  Então só aí percebi que sorria. 

— Achei meu diário. 

 — Ufa! Quase mando as forças armadas atrás dele. - Ela me analisa por meio segundo. —  É só por causa disso mesmo? Tem certeza? - Ela ironicamente muda o assunto. 

— Sim! Vamos, todos já estão no ônibus.  - puxo ela e voltamos para casa.