História Ir ou não? Eis a questão. - Brigas e desacerto.

Não consegui dormir por conta a tudo que aconteceu na noite anterior, o sumiço de Amy principalmente, não sabia se me preocupava ou ficava brava por ter sido esquecida ontem a noite, tive que ir embora com um desconhecido. Sobre Dilan também, saber que é possível que ele soubesse que eu estaria naquele lugar aquela noite, então esteve lá de propósito me assusta muito.

O despertador toca as 6 horas e meia e eu me levanto, coloco o uniforme e antes de sair de casa ligo mais uma vez para Amy, o celular toca e caí na caixa postal, isso só fez com que meu desespero aumentasse. Os pais dela não me ligaram para perguntar se ela estava comigo, talvez ela tenha ido embora mesmo, ou talvez eu devesse ligar para a policia, por via das dúvidas, o melhor seria esperar mais um pouco. Começo a me sentir culpada por deixá-la ir conversar com um estranho, sozinha ainda, aquela gente não tinha cara de quem tem boas intenções. Desço as escadas, passo pela cozinha, pego uma fruta e então vou a escola, resolvi sair mais cedo já que teria que ir  andando. Aproveito a caminhada sozinha para colocar algumas coisas no lugar.

Chego na escola a tempo, entro na sala do Sr. Hebert antes dele, sento no meu lugar, tiro o material e me pego olhando pela janela, distraída e como sempre, pensando na vida. Sinto alguém se aproximar de mim e sentar ao meu lado.

- E aí baby? Deveríamos ter mais noites como a de ontem! Vou te contar viu, não me divertia a assim a tempos! passei na sua casa e Beth falo que você já havia saído, não me esperou por que?

Lentamente viro a cabeça sem acreditar no que acabara de escutar, sim era Amy, ali, viva, graças a Deus viva, falando como se nada houvesse acontecido enquanto eu quase nem durmo de preocupação. Vê-la ali, sorrindo e feliz enquanto eu estava acabada e preocupada com ela fez meu sangue ferver.

— VOCÊ FICOU MALUCA? - As palavras soam da minha boca em um tom mais alto do que eu esperava.

— Maluco por que? Para de gritar sua doida. Todo mundo está olhando. - Ela responde docemente constrangida.

— DOIDA EU?! VOCÊ... - percebo todos me olhando por causa do meu tom de voz alto e abaixo a voz. — O que aconteceu com você ontem? Eu te liguei varias vezes e só dava caixa postal, liguei para você hoje de manhã e a mesma coisa, comecei a pensar o pior já que você sumiu ontem e me deixou sozinha naquele lugar.

— Perdi meu celular ontem, me desculpa, eu ia procurar você para irmos embora, daí aquele gatinho que eu te falei, o que eu fui atrás me chamou para ir a outro lugar, falei que precisava te levar de volta para casa e ele me falo que você estava com um amigo dele e que ele te levaria, que podíamos ir, no começo eu fiquei preocupada, mas ele me garantiu que você estava em boas mãos, pois já conhecia o rapaz, então eu fui... me desculpa?  - Ela da um meio sorriso.

Essa explicação só piorou o que eu sentia no momento.

— ME TROCOU POR UM DESCONHECIDO? NÃO, MELHOR QUE ISSO! ME LARGOU NAS MÃO DE UM DESCONHECIDO? EU... - Abaixo novamente o tom da voz. — Eu poderia ter sido sequestrada sabia? E você também! Perdeu o juízo? Custava ter avisado Amy? Como pode fazer isso comigo? Eu te procurei como uma doida, fui atrás de você onde deixamos o carro, te liguei várias e várias vezes.. Já estava pensando o pior. 

- Ela tenta falar e a interrompo. — E se ele não me levasse embora e eu ficasse esperando você? Já parou para pensar nisso? Acho que não pois você nem ligou não é mesmo? - Deixei escapar decepção na voz.

Não conseguia acreditar no que ela havia feito comigo, me segurei ao máximo para não chorar, nunca senti tanta raiva dela em toda minha vida.

— Me desculpa... E-eu nem sei o que dizer, sei que fui irresponsável.  Não pensei no que poderia acontecer, não sei o que deu em mim. Achei que você conhecia mesmo o cara... Não deveria ter te deixado preocupada, juro que pensei que soubesse onde eu estava... sei que prometi que te levaria de volta e era o que eu deveria ter feito... - Ela pausa as palavras por alguns segundos. — Me perdoa por favor Olívia.

Percebi sinceridade e arrependimento nas palavras dela, e ao me virar vejo uma lagrima cair. Me segurei para não chorar junto, nunca  brigamos assim antes, mas minha raiva falava mais alto naquele momento.

— Me perdoa? É só isso? Tem noção de como fiquei ontem?

 * O professor nos interrompe*

— Já que as moças tem tanto assunto para tratar, creio que seja sobre minha matéria, por que não falam mais alto e compartilhem todo esse conhecimento com a turma?

Todos na sala estavam olhando para nós esperando o que íamos falar.

- Me desculpa Sr.Hebert. Não vai se repetir. *Olho para Amy*. — Eu garanto. - Foram as únicas coisas que saíram da minha boca.

Amy me olha e vejo tristeza em seu olhar, o Sr. Hebert vira de costas e volta a explicar a lição do quadro.

— Essa conversa ainda não acabou!  - Sussurro para Amy.

No final da última aula o sinal bate, guardo o material e saio da sala sem esperar Amy, tinha meus motivos para estar nervosa com ela e ela sabia disso, por isso nem me pediu para esperar, desci as escadas que levam até a saída e ela veio atrás.

— Estou de carro, vai querer carona? - Ela pergunta.

— Eu sei andar. - Respondo sem olhar para ela.

- Nossa Olly, vai ficar com essa birra até quando? Eu já pedi desculpa...

Sem dizer uma palavra, apenas olho para ela por alguns segundos e continuo andando, foi o suficiente para ela entender que eu não queria conversar.

— Tudo bem... você que sabe, quando se sentir mais calma e quiser conversar, sabe onde moro.

Ela vira a esquerda e entra no estacionamento, eu sigo a direita, para a saída dos alunos.
Na verdade, a escola não é muito distante de onde moro, poderia ir e voltar andando sem problema nenhum.

 Não fui direto para casa, resolvi passar na pracinha que havia perto da escola e sentar no banco, esfriar a cabeça. Sinto alguém se aproximar de mim mas não olho para ver quem é.

— Com licença, posso sentar aqui?

Uma voz masculina, doce e bem familiar. Olho por cima do ombro esquerdo e vejo Dilan,  em pé, me assustei, confesso. Ele usava uma calça jeans e uma blusa de frio preta, apesar de uma pequena alegria em vê-lo, eu estava brava com ele também, por causa da noite anterior.

— Pode né, fazer o que, a praça não é minha. - Posso dizer que fui o mais ignorante possível.

—Nossa... Dia difícil? - Ele pergunta insistindo em puxar assunto.

— Talvez sim... talvez não. - Respondo secamente.

— Como assim? - Ele pergunta.

— O que? - Pergunto em seguida, só para provocar.

— Você, disse talvez sim e talvez não. - Ele me olha, esperando minha resposta.

— Eu digo muitas coisas. - Respondo ironicamente.

- Ele sorri. — Minha frase de efeito. Essa você aprendeu comigo.

Olho para ele por meio segundo e volto a olhar para o outro lado.

— Não vai me contar o que te deixou assim? Poxa, a menina do diário que eu derrubei é bem mais simpática e tem um sorriso tão bonito. - Ele simpaticamente diz.

— E porque eu deveria dizer? São só problemas e mais problemas. - Respondi.

— Poxa... não estou gostando do rumo dessa conversa. - Ele se levanta. — Nas sei como melhorar,  vamos começar de novo, pode ser?  - Ele se levanta do banco e volta ao mesmo lugar que estava abtes de sentar. — Com licença posso sentar aqui?

Olho para ele por um instante, percebo seu  ridículo esforço em tentar me fazer sorrir de qualquer maneira, enquanto olhava para ele, lembrei da mensagem no diário, no celular, e fiquei imaginando como as coisas acontecem sem que  percebamos, quando me dei conta,  já estava sorrindo.

— Eu tinha razão, viu? - Diz ele cortando meu momento.

— Razão? - Olho para ele sem entender.

— Sim, seu sorriso é lindo. - Ele se senta novamente e sorri para mim.

Sophie e Valerie se aproximam.

— Uau, Que surpresa, olha só Valerie quem resolveu sair da toca. - Sophie fala para mim, Valerie solta uma risada irônica.

— O que vocês querem? Não vão me deixar em paz nunca? .-  Saiu mais como uma afirmação do que como uma pergunta.

— Pelo contrário queridinha, resolvi quebrar a rivalidade, soube que você e aquela sua amiguinha tal de Amy, estão brigadas, verdade?  - antes que eu responda ela continua a falar — Mas não vim pra isso, então, vou dar uma festa e resolvi te chamar, vai ser segunda a noite, na minha casa e todos da escola vão, ofertinha de paz. - Ela retira um convite da bolsa e me entrega. — Aqui está, pode levar seu amigo. - Ela retira outro convite da bolsa e entrega a Dilan. — Ficaria muito feliz se você fosse. - Ela pisca para ele. — Vamos embora Valerie. Tchau esquisita! Ops!... Tchau Olívia.

Elas dão meia volta e sai.

— Pelo jeito não se dão muito bem não é? - Dilan comenta.

— Nem um pouco. - Olho para o relógio do celular e são quase 3 horas da tarde. — Preciso ir se não Beth ligará para mamãe, fiquei muito tempo aqui, vão achar que sumi.

— Se quiser te levo de volta.

— Melhor não, não estou muito longe de casa. - Me levanto e arrumo a bolsa no ombro.

— Posso te ver hoje a noite?

— Não sei se seria boa idéia, não costumo sair com pessoas estranhas.

— Ah.. eu também não tenho costume de sair com pessoas estranhas, mas acabei te achando legal. Pego você as 8 horas, até mais Olly. - Antes que eu responda, ele sorri, da meia volta e vai embora.

Ao chegar em casa, encontro um bilhete de Beth no balcão dizendo que iria ao mercado, subo para meu quarto, guarda minha bolsa, e desço para a cozinha para almoçar, meu celular começa a tocar e aparece um número desconhecido, atendo a ligação e um um barulho muito alto aparece de fundo, barulho de coisas sendo movidas e muito chiado.

— Alô? - Pergunto esperando alguém responder.

Depois de alguns segundos escuto alguém chorando.

—  Olly? Socorro!