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História Iridescence - Legumes


Escrita por: nnigma

Notas do Autor


Não revisei o texto, então desculpem quaisquer erros.

Boa leitura. ♥
Nick.

Capítulo 2 - Legumes


 

Kyungsoo fechou o grande portão de ferro atrás de si e guardou as chaves do apartamento dentro da mochila atravessada em seu corpo. Estava um pouco em cima da hora para pegar o metrô e ir ao local onde começaria a prestar seu serviço comunitário, porém um som estridente fez com que se arrepiasse por inteiro.

“Kyungsoo!”

Sua mãe.

Ela estava ainda mais controladora e “preocupada” após o incidente de uma semana atrás e o rapaz sabia que teria muita dificuldade para conseguir fazer com que ela recuasse novamente. Já tinha vinte e quatro anos, mas ela continuava tratando-o como se tivesse oito.

Poderia fazer de conta que não ouviu, continuar seu caminho, colocar os fones de ouvido e sair correndo, mas forçou-se a arrastar seus pés na direção do carro conhecido e da mulher parada logo ao lado dele.

“Bom dia, mãe... O que está fazendo aqui?” Embora a amasse como ninguém e sempre tivessem tido uma boa relação – pelo menos na medida do possível –, teve que forçar aquele sorriso amarelo na cara.

“Bom dia, filho.” A mulher deixou um beijo estalado pela testa do rapaz pouco mais alto que si. “Eu vou te levar lá no lugar, achei que tivéssemos combinado assim.”

“Achei que eu tivesse dito que não precisava, consigo ir sozinho e-“

“Entra no carro.” Se Kyungsoo conseguia ser excelente cortando assuntos ou ignorando pessoas que falavam coisas desnecessárias... Tinha aprendido de algum lugar. Ele suspirou, dando a volta no carro para adentrá-lo.

 

O lugar não era longe dali, pelo jeito o endereço já estava informado no GPS do carro mas toda hora aquela voz irritante anunciava mudança de rota. Sua mãe parecia começar a dar voltas, como se quisesse prolongar aquela pequena viagem. A voz do GPS logo foi desligada.

 

“Olha, filho... Eu sei que você não gosta que eu fique em cima, que eu seja chata, fica falando que eu sou controladora e que não consigo te deixar partir... Mas você consegue entender meu lado? Consegue entender que eu simplesmente não posso te deixar sozinho? Olha o que acontece quando eu me afasto um pouco...”

Kyungsoo suspirou fundo. Era trigésima vez que escutava aquelas mesmas palavras. Ou seria milionésima?

“Eu sei de tudo isso, mas caramba, eu não sou mais criança, eu consigo me cuidar, há quanto tempo não acontecia nada?!”

“Doutora Kyung disse que você tem faltado nas consultas.” A voz da mulher era agora em um tom que fazia parecer que estava dopada em remédios, como se não sentisse muita coisa, sem muitas emoções. Sabia que ela sempre ficava assim quando tentava, ao máximo, reprimir-se de falar alguma coisa.

Doutora Kyung era a psiquiatra de Kyungsoo. O que infernos aconteceu com o sigilo sobre o paciente, algo que parecia tão prezado por sua profissão?

O moreno não respondeu. Até porque nem sabia como. Seus olhos ficavam vidrados no trânsito fora do carro.

 

“Por que você não tomou seus remédios naquele dia?” Ela tentou mais uma vez. Não era fácil tirar Kyungsoo de sua concha uma vez que entrava na mesma.

“Eu esqueci, já disse mil vezes.”

“Kyungsoo... Você é a pessoa mais organizada que eu conheço, nunca se atrasou para nada na sua vida inteira, nunca esqueceu de nada e continua querendo que eu acredite que você simplesmente esqueceu de tomar seus remédios? Logo você? Se fosse seu pai dizendo isso eu entenderia, mas não você.”  

O jovem ali apenas suspirou, observava algumas pessoas com pastas e roupas sociais entrando em um edifício enorme central.

“POR QUE VOCÊ QUER SE MATAR?!” A voz da mulher agora preenchia com força todo o carro e provavelmente alguém que estivesse do lado de fora também pudesse ouvir. Ela simplesmente gritou e por sorte estavam parados no farol fechado, caso contrário teriam tido algum tipo de acidente pela forma como ela bateu no volante e começou a encarar seu filho.

Kyungsoo desviou sua atenção a ela, os olhos arregalados num misto de preocupação e surpresa. Apesar de tudo, há tempos não a via tão alterada assim. Prestando muita atenção, conseguia notar pequenas lágrimas se formando no canto de seus olhos.

 

“Eu não quero me matar.”

 

“Não tomar seus remédios para que ele te controle não vai fazer as coisas melhorarem, Kyungsoo... E nem vai fazer com que ele acabe com isso por vocês dois.” Ela tentava ao máximo se controlar, uma lágrima solitária rolando por sua bochecha direita.

 

 

 

Continuaram ambos em silêncio por todo o resto do caminho. Os dois queriam dizer coisas, escutar um ao outro. Mas os nós em suas gargantas simplesmente os impediam. Principalmente dos de Kyungsoo, que o enforcavam desde novo.

 

Não disse nada ao descer do carro, seguindo o mais rápido possível para um grupo que pessoas que via aglomerado em frente à porta de entrada do local, um policial parado ao lado. Kyungsoo não acreditava ainda que teria que sujar sua “ficha” com algo do tipo, ter uma agressão e serviço comunitário registrados, mas tentava de toda forma não focar nisso.

Quando viu Kyungsoo o policial puxou sua prancheta e anotou alguma coisa ali, pelo visto ele era o único que faltava, já que o homem logo começou a falar.

 

“Bom dia! Vocês sabem o motivo de estarem aqui, então não preciso falar muita coisa... Saibam que apesar de eu ficar lá dentro vigiando vocês, as portas não serão trancadas, há sim meios de vocês irem embora... Só lembrem que se o fizerem, vai ser pior depois. Estão aqui porque o que fizeram não foi grave o suficiente para uma prisão, mas caso fujam os detentos vão adorar passar algum tempo particular com vocês dentro da cela.” O policial riu baixo, um sorriso totalmente sádico nos lábios.

Começou a entrar a instalação, pedindo para que todos o acompanhassem. Kyungsoo era o último do grupo, devia ter mais ou menos dez outros garotos junto de si ali. Alguns realmente mal encarados, outros apenas tão “normais” quanto si mesmo.

O policial continuava falando, dizia que cada semana iriam ficar em um local diferente com serviços diferentes, embora sempre no mesmo grupo. Teriam normas a seguir, condutas, e que era a última chance que teriam para aprender algo de bom na vida, além de outros sermões que Kyungsoo não prestou muita atenção.

 

Não conhecia bem aquele local, era um galpão enorme que parecia dividido precariamente com alguns biombos de madeira, embora notasse que o local estava passando por algum tipo de reforma.

Em um lado dos biombos, diversas mesas de refeitório e cadeiras bem arrumadas, do outro lado, fogões industriais enormes e várias pilhas de louças bem arrumadas. Algumas mulheres estavam ali, cortando o que pareciam ser legumes, outras já mexiam algo dentro das grandes panelas. Provavelmente era ali onde serviam os almoços para os pobres.

“Para que não conhece, aqui é onde funciona o refeitório comunitário. De Segunda a Sexta, das onze até catorze horas é servido almoço para a população de baixa renda, fornecido pelo governo. Essa semana vocês vão ficar por aqui, alguns vão ajudar a cozinhar, outros a lavarem louça, outros a limparem o local, enfim... O que essas belas moças precisarem.”

Enquanto o policial falava, uma mulher de aproximadamente trinta anos se colocou ao seu lado, rindo com a última parte de sua fala, mas pareceu apenas ignorá-lo. “Bom dia, rapazes! Estamos muito felizes de termos vocês aqui com a gente para ajudar essa semana... É muito trabalho, é cansativo, mas com certeza é algo que renova nossas almas podermos ajudar aqueles que necessitam.”

A mulher pegou a prancheta do policial e tirou de lá uma folha branca, onde escreveu os nomes de todos os rapazes, conforme ia lendo na lista de presença e passava de um em um, perguntando seu nome e prendendo o papel com um alfinete em suas roupas. Sempre sorridente e animada. Kyungsoo perguntava-se como alguém conseguia ser tão feliz assim logo pela manhã.

 

O policial logo acomodou-se em uma cadeira no canto do lugar e ficou mexendo no celular, provavelmente jogando alguma coisa enquanto cada um dos rapazes eram divididos no que deveriam fazer.

 

A mulher explicava mais alguns detalhes, dizia que tinham pratos “de verdade” ali pois isso ajudava um pouco na auto estima das pessoas, ao invés de comerem em pratos fracos e descartáveis. Falava que os legumes eram todos de hortas naturais e outras coisas que, novamente, Kyungsoo não prestou atenção.

O rapaz foi destinado a cortar os legumes, junto de um outro jovem.

 

Não tinha notado ele no meio dos outros ainda, então assim que foi colocado em uma grande mesa com dezenas de cenouras, nabos, beterrabas, pepinos e várias outras coisas, estranhou sua presença.

Ele era alto, cabelos descoloridos e pele um tom mais escura que a sua. Assim como Kyungsoo, ele não tinha cara de ser um dos que eram realmente maus por ali, parecia ser mais novo e não ter muita ideia do que estava acontecendo ou o que era para fazer.

Quando seu olhar caiu sobre o menor, tratou logo de desviar sua atenção para a mesa, pegando uma faca e trazendo algumas cenouras para mais perto após colocar as luvas.

 

Existiam mais duas mulheres ajudando os dois a cortarem os legumes, ensinavam formas de fazê-lo mais rápido, ou qual deveria ser o tamanho, conforme o prato do dia. Diferente do que imaginou, ninguém tentava dar lições de moral ou perguntar o que tinham feito para estarem ali.

Pelo menos não as mulheres.

 

“Como é seu nome?”

O tal garoto ao lado de Kyungsoo perguntou, como se tentasse apenas iniciar alguma conversa qualquer para quebrar o tédio.

“Kyungsoo.” Respondeu simplista, se segurando muito para não falar que tinha um papel com seu nome preso na roupa, era só ler.

 

“Meu nome é Jongin.” O outro disse com um sorriso nos lábios. Um sorriso que realmente não condizia com alguém que tivesse que prestar serviço comunitário. Era inocente... quase infantil.

Não soube se deveria continuar a conversa, parar ali, retribuir o sorriso. Kyungsoo trabalhava como programador e como todo nerd dessa área, não era a melhor pessoa em sociabilidade.

 

Jongin pareceu notar isso.

“O que te trouxe até aqui?”

 

Um arrepio subiu a espinha de Kyungsoo ao ouvir aquilo. Realmente não queria ter que responder tal pergunta. Embora já tivesse perdido o medo ou vergonha de sua doença, quando estava em ambientes novos sempre se lembrava do quanto era zoado na escola por ser “doente mental” ou “louco”, como era chamado.

“O que te trouxe aqui?” Apenas rebateu a pergunta, esperando que o outro entendesse.

 

Jongin riu, abrindo um pouco mais seu sorriso.

“Eu estava grafitando um muro. Era num prédio abandonado, e não era como se eu estivesse fazendo aquelas pichações horríveis de maloqueiro, eu só faço a minha arte por aí para tentar deixar a cidade menos cinza, mais viva... Mas os policiais não parecem entender isso.”

De alguma forma, Jongin conseguia dizer aquelas palavras com uma felicidade que o mais baixo realmente não entendia. Ele estava feliz por ter sido detido? Ou ele estava feliz por ter pichado, ou melhor, grafitado um muro?

“É a primeira vez que te pegam?”

“Terceira em um ano.” Novamente o outro parecia animado demais. “Eu sou bom em me esconder, ou então escolho lugares que realmente não vão ter ninguém passando, mas as vezes não tem como evitar...”

 

“Wow, terceira? Eu achei que as pessoas passassem por aqui uma vez e se fossem pegas de novo eram presas.” Kyungsoo, embora tentasse não demonstrar muito, estava mais aliviado por ter alguém para conversar e passar o tempo.

“Que nada, depende do que você faz... Eles não podem me prender de verdade por pintar muros de lugares abandonados, até porque, a última vez que me pegaram e contataram o dono do terreno abandonado, ele agradeceu e acabou me pagando para pintar o muro inteiro.”

Kyungsoo riu ao imaginar a cena, e como a cara dos policias deve ter ficado com a situação. Jongin olhou rapidamente o mais baixo enquanto ele ria, sorrindo junto.

 

“É a sua primeira vez fazendo isso, certo?” Jongin era curioso por natureza e insistiria mais um pouco para tentar arrancar algo do outro.

“Cortando legumes? Não, eu costumo cozinhar em casa também.” A resposta do moreno fez com que o outro empurrasse seu corpo levemente com o próprio, mesmo que acabasse se afastando no mesmo instante, não sabendo se ele receberia aquilo de forma boa.

“Você entendeu o que eu disse.”

“É a primeira vez que estou aqui sim, e espero que seja a única.”

 

Ao terminarem de cortar tudo, passaram a servir os pratos para alguns outros levarem para a parte da frente, para os visitantes poderem comer.

Revezaram-se em passar pano no local, cortar mais legumes, lavar os pratos, lavar as panelas, passar pano de novo, secar os pratos, secar as panelas, mais pano e enfim era quatro da tarde.

 

Ao final do turno, todas as mulheres se juntavam em uma roda e oravam em agradecimento pelo dia que passou. Kyungsoo não era religioso então apenas deu as mãos a elas como todos os outros, mas sem falar nada. Na verdade, pensava em como queria ir embora e tomar um banho quente, além dos serviços que tinha que fazer.

Trabalhava para uma agência de marketing e publicidade, porém como cuidava da parte de programação, apenas uma ou duas vezes na semana tinha que aparecer de fato no escritório para ver alguma coisa. Trabalhava em casa mesmo, o que o permitiu poder não informar ao chefe o ocorrido da última semana nem da “pena” que teria que cumprir por isso.

“Amanhã, mesmo horário, mesmo local. Não se atrasem.” O policial foi o primeiro a ir embora, provavelmente devia odiar ter que trabalhar com aquilo.

 

Kyungsoo ajeitou a mochila pelo corpo e então se apressou para a saída. Ninguém ali parecia conversar ou sair em grupo, os rapazes quietos seguiam por seus caminhos, e o moreno se surpreendeu por alguém interromper o seu.

“Hey! Kyungsoo-ya!” Ao se ouvir ser chamado, olhou para trás, vendo um Jongin vindo correndo em sua direção.

“O que foi?” Perguntou, sem entender muito a cena.

“Você mora por onde? Talvez pudéssemos vir juntos amanhã, você vem de carro, certo?”

Se arrepiou apenas em pensar em sua mãe o trazendo todos os dias, provavelmente Jongin notou a cara de desprezo do menor, pois pareceu se arrepender de ter perguntado aquilo.

“Foi mal, eu moro no centro mas venho de metrô, apenas hoje que tive carona.” Não queria parecer negando carona ao outro, porém realmente dizia a verdade.

“Ah, sim... Tudo bem, até amanhã, boa tarde!” O loiro não se estendeu mais, dando meia volta e seguindo seu caminho para a rua de trás do galpão.

 

 

Kyungsoo estava deitado em sua cama, eram duas horas da manhã e não conseguia dormir.

Encarava seu criado mudo observando os pequenos frascos de seus remédios. Quatro ao total.

Tomara apenas dois.

 

Odiava ser escravo de medicações. Odiava não ter controle sobre o próprio corpo, sobre a própria consciência. Talvez realmente fosse incapaz de se virar sozinho como sua mãe tanto dizia, talvez por isso tivesse sempre “alguém” junto de si, o tempo inteiro, apenas esperando uma brecha para poder aparecer.

 

Acabou tomando os últimos dois remédios.

O calmante sempre ajudava a quebrar o borbulho de pensamentos que o atacavam sempre que a noite chegava. 

 


Notas Finais


O que acharam? Meio parado, eu sei, mas não desistam de mim. HUAHUAHA
Obrigado por terem lido, até o próximo cap.

See ya.
Nick.


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