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História Ironside's Daughter - Vikings - DEZ


Escrita por: I_R_R_Borba

Capítulo 10 - DEZ


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Pequenas gotas caíam por todo o vale montanhoso afastado de Kattegat. A terra descoberta estava cada vez mais úmida, assim como os cabelos de Siggy e Ivar. A cabeça de Ragnar aparentava ser uma esfera de ferro polido com as cocegas da garoa. Mais um baú foi erguido e posicionado abastecendo a carroça de mão. No entanto, um fora deixado, tal qual mostrava-se mais maciço e maior que os demais. Siggy perdia-se em maquinar maneiras de levá-lo até o centro da vila, assim como estava no desejo de  Ragnar. Contudo, a carroça não possuía mais espaço e forças para tal coisa, nem mesmo para uma pequena moeda de cobre. O jovem Ivar tratou de trabalhar em terminar de amarrar toda a carga muito bem justa com as tirar de couro e cordas velhas que seu pai havia conseguido. Quando tudo estava quase no fim, seus olhos vagaram para o último baú, seguidamente os levou até seu pai que descansava mais uma vez em uma pedra alta e larga como um descanso de trono. O jovem considerou-o quase que um ancião, pois parecia morrer esbaforido por carregar alguns baús, sendo que Ivar  e Siggy tinham feito a grande maioria do trabalho. Ragnar possuía alta estatura, quase um gigante aos seus olhos, mas estava velho, seus melhores dias de força e beleza tinham passado e isto era mais que evidente.  Ao perceber o olhar de Ivar, Ragnar virou-se para ele, que guiou seu observar até o baú. Ragnar inspecionou-o, em seguida deu-lhe de ombros, enquanto isto Siggy cogitava a ideia de arrastá-lo ao lado de seu avô, mas sabia que era praticamente impossível por conta do terreno do vale. Havia muitos morros ingrimes e grandes pedras para se desviar, como era formado grande parte do terreno de seu país. Ivar sentia-se descontente por ter amarrado todo a horda de seu pai em uma carroça de madeira gasta para ser dado como suborno aos homens.  No fundo desejava que os tais viessem como moscas para servir seu pai, mas a realidade era completamente diferente, pois o que ele fizera não havia desculpas para o povo a qual perdera parte de sua família, mas ainda assim Ivar tinha em mente que todos não passavam de covardes ingratos. Tendo suas riquezas graças as expedições de seu pai que levantou toda uma geração de guerreiros pilhados em ouro.

Ragnar levantou-se com dificuldade, mas ao portar-se de pé, aproximou-se de seu filho e neta. Os dois olharam-no esperando alguma instrução. 

-- Este último quero que repartam entre vocês.- Ivar e Siggy entreolharam-se. -- Sei que não paga pelos dias de minha ausência e tudo que perdi enquanto cresciam, mas eu ficaria feliz em dar-lhes um pouco do ouro que fez minha vida mudar. Um dia chegará o momento em que vocês derramarão sangue por um brilho como este. Sei que terão sucesso.- Ragnar olhou seu filho e neta por um breve momento com um pequeno sorriso. -- Contanto que não se matem primeiro.

Dito isso, ele deixou ambos os cabos da carroça em mãos, então começou a empurrá-la, por um instante quase que tombando-a. Siggy rapidamente foi-se para junto a ele colocando suas mãos para segurá-la. 

-- Eu vou com você.- avisou ela. Ragnar retirou ambas as mãos de Siggy da carroça com gentileza. 

-- Fique com Ivar. Trarei a carroça de volta para ajudá-los a levar seu ouro.- Siggy instantaneamente contorceu-se em protesto. -- Vá, vá.- Ela afastou-se de Ragnar relutante e voltou para o lado de Ivar, mas afastando-se dele poucos passos para a esquerda. 

Ambos observaram Ragnar apartar-se e quando não se podia mais vê-lo, Ivar tratou de deitar-se ali mesmo. Siggy permaneceu de pé, ainda observando o rastro de Ragnar que já havia se perdido de vista. O rapaz ergueu-se e suspirou ao ver Siggy encarar o nada. Ivar notara que ela admirava seu pai, mas considerava aquilo um tanto exagerado. Ela jamais o vira antes mesmo de conseguir dizer seu próprio nome, porém agora sentia-se grata por ouvir o ranger de seus ossos. Siggy virou-se para o chão e decidiu enfim sentar-se par esperar Ragnar. Ela decidiu abrir o baú dali mesmo onde estava, Ivar só a observava em silêncio. Tio e sobrinha não tinham trocado muitas palavras durante todo dia, pois sabiam que um provocaria o outro e Ragnar se zangaria outra vez. Para evitar tal situação, ambos decidiram internamente manter-se distantes e incomunicáveis. Siggy explorava o interior do baú calmamente, admirando as jóias que estavam quase submersas em moedas de ouro de todos os tamanhos e formas. Ivar continuava a olhá-la discretamente, dando toda sua atenção em não ser pego. Seu observar localizou-se nos longos cabelos livres de Siggy. As jovens guerreiras da vila possuíam cabelos longos e trançados, isto não era novidade a ser visto, porem imediatamente considerou as madeixas da garota em sua frente tão sedosas que não pôde compará-la com as meras moças. Rastejou seu olhar mais uma vez notando os traços de seu rosto delicado. Tudo em Siggy lhe parecia curioso, a garota tinha um rosto de princesa, mas as roupas lhe diziam o contrário. Com isso, deu-lhe  mais atrativo. O mais importante não deixou de mirar na jovem. Seus belos olhos, tendo um azul inegavelmente diferente. Não sabia como exatamente poderia explicar tal cor e tal brilho, mas não havia como deixar de admirá-los. Tentou encontrar uma jovem que fosse mais bela que Siggy, mas nenhum nome e rosto lhe apareceu em mente. Subitamente recordou-se de Sigurd e suas palavras e que talvez ele estivesse certo. Talvez a bela Siggy acabaria casando-se com Ubbe, pois ele era o mais alto e possuía boa fama com as mulheres dentre todos os irmãos. Ou então casaria-se com seu outro irmão Hvitserk. Talvez o filho de earl, Olaf. Como uma farpa em seu dedo o nome levou-o para incio de noite onde seguira Siggy até os estábulos, tinha um rasteiro objetivo de desculpar-se por suas palavras, mas o que vira tinha mais que convencido-o de que nada lhe daria serventia. Ele não poderia culpá-los, estava mais que na época dos jovens guerreiros escolherem suas esposas. Todos passariam pelos olhos seletores de Siggy para enfim casar-se, escolhendo o mais forte, o mais bonito, o mais alto, e certamente um que pudesse carregá-la e dar-lhe filhos. Sua garganta formou-se em um nó, seu queixo apertou-se como a mandíbula de urso faminto desfrutando de seu salmão. Seus olhos tornaram-se profundos e sombrios. Ele manteve-se distraído com seus tortuosos pensamentos em Siggy, até que inesperadamente ela ergueu seus olhos a ele.

-- É uma boa herança. Não vá gastar tudo com mulheres e hidromel.- brincou Siggy, mostrando-lhe um sorriso sem jeito. Ivar não teve uma reação imediata, pois não esperava tal comentário descontraído ou qualquer tipo de interação. Porem, agora o que lhe havia chamado atenção em seu rosto em posição frontal, fora o fino corte acima da bochecha de Siggy, que em volta aparentava ter uma leve cor avermelhada. Após fitar o ferimento, veio em sua mente uma pequena suposição de que Bjorn havia deixado sua marca no rosto de sua filha, dando o esclarecimento de sua fuga da casa do mesmo naquela noite. Ela havia enfim se encontrado com o pai e claramente seu irmão tratou de deixar o momento o menos agradável possível. 

A sorrateira raiva de Ivar começou encher seu peito, quase sufocando-o. Tentou imaginar o confronto de Bjorn e Siggy. Ele sabia que seu irmão não gostava que mencionassem sua antiga esposa e sua filha, mas não pensou que ele realmente a odiasse a ponto de machucá-la. Sua respiração tornou-se tão pesada que surpreendeu-se com tal coisa. Inicialmente não compreendia o motivo de importar-se com a situação. Ele mantinha seu olhar firme com seus lábios ligeiramente apertados imaginando cada movimento de Bjorn contra Siggy. 

-- Por que está me olhando desta forma?- perguntou Siggy calmamente. Com a pergunta imprevisível, Ivar ergueu uma de suas sobrancelhas a ela saindo de seus pensamentos em um estalar. -- Você se alimentou hoje? Não encare as pessoas com essa cara miserável, vão achar que está passando fome.- concluiu, deixando escapar um pequeno riso de zombaria. Ivar revirou seus olhos e a encarou novamente, mas desta vez não havia tanta intensidade, coisa que até mesmo Siggy havia notado. 

-- Escuta aqui, sua...- começou Ivar. Siggy inclinou sua cabeça ligeiramente e semicerrou seus olhos esperando-o completar a frese que certamente esperava ser um insulto. Ivar esforçou-se em segurar as palavras, assim que vislumbrou mais uma vez o corte no rosto de Siggy. Aquilo lhe havia deixado enfurecido, mas não pensou a respeito até estar evitando pensar em qualquer coisa que a insultasse. Ele engoliu o seco e fez uma falha tentativa de respirar profundamente. -- Parece que ser neta de earl é motivo suficiente para rejeitar um baú de ouro. O que fazia em Hedeby, ordenava as servas a costurarem novos vestidos para você?- Ivar assistiu o rosto de Siggy transformar-se em uma carranca em primórdio enfurecimento. Tinha em mente que sua pergunta era mais que insultante para uma guerreira como Siggy. Percebeu que tinha falhado mais uma vez em segurar-se. -- Você ouviu o velho, não ouviu? 

Siggy levantou-se tão bruscamente que terra escapou abaixo de seus pés. Ivar deixou seu duro semblante vacilar ao ver o rosto de Siggy passar por diversas mudanças, parecendo pensar antes de dizer-lhe algo. Tudo que ele esperava era apenas mais trocas de ofensas ou uma ameaça de morte, nada mais. Porém, nada veio da jovem além de um lento suspiro. Suas sobrancelhas tiveram uma pequena queda, seus olhos fixaram em Ivar por tanto tempo que ele começou a se constranger, mas tal sentimento tornou-se passageiro, pois a expressão de Siggy que por fim firmou-se para ele era familiar. Havia visto tantas e tantas vezes que rapidamente percebera. 

-- Você tinha razão antes, não sou filha dele. Você é o filho, ele não me deve nada.- Siggy esfregou ambas as mãos uma contra a outra para limpá-las da terra negra do vale. -- Não sou nada além de passado.- Ela caminhou para ponta do penhasco onde sobre o mar havia os últimos barcos da frota de expedição. Siggy levou seu observar para além de onde podia ver, além do mar e da espeça neblina que fechava-se pra lá do oceano. A direção onde deveria tomar para seguir distante a terras que jamais vira, mas ouvira de muitos que lá estiveram. Um lindo lugar, verde e fértil. -- Com Ragnar talvez eu tenha uma aventura ou um lugar.- ela virou-se para Ivar com um esperançoso sorriso. -- Ser quem eu deva ser e seguir o que me espera.- Os olhos de Ivar nem mesmo piscaram, estava tão atento que perdera até tal necessidade. Siggy aproximou-se dele lentamente, ao ficar em sua frente olhou tão penetrante em seus olhos que folego lhe faltou. -- Nunca sentiu estar vivendo a vida que deram a você e não a que escolheu, desde mesmo seu nascimento?! Pois eu sinto isso, a cada olhar em mim me dizendo como estou agora por conta de algo que aconteceu antes mesmo de ter meus próprios pensamentos.- Ela aproximou-se mais de Ivar, deixando seus rostos próximos. -- Eu quero mais que isso.- Seus olhos ruíram lentamente para os lábios um do outro. -- Eu quero ir a batalha pelo meu ouro. 

A respiração quente de ambos aquecia seus rostos. Ivar sentiu-se tentado a acariciar as longas madeixas de Siggy e beijá-la, mas manteve-se distante temendo que sua ação provocasse na jovem grande alarmar. Ivar sempre agia por seu impulso mais insano, mas desta vez trancafiou-se. 

Siggy afastou-se de Ivar com seu sorriso sincero nos lábios e ficou uma curta distancia do jovem. Ele protestou contra seu retirar internamente. Siggy dissera tudo que sempre quis em muito tempo. Certamente não esperando revelar a Ivar, na verdade sentia que seira a última pessoa a fazer tal coisa. Porém ele partiria para Inglaterra juntamente com ela, passariam tantos dias em alto mar que construir um agradável dialogo por hoje talvez trouxessem muitos outros durante toda  a viagem. Um pequeno peso enfim tinha se desgarrado de suas costas, mas ainda havia muitos. 

-- Eu...- Ivar desviou-se do observar de Siggy, tentando encontrar palavras para definir o que realmente queria dizer. O som do vento correndo pelo campo e das ondas batendo nas rochas abaixo de onde estavam era tudo que se ouvia enquanto Ivar mantinha-se exitante nas palavras. Siggy não desviou nem por um segundo do rosto de seu jovem tio, pois ali estava algo que ela não havia visto antes. -- Quero me desculpar por aquilo. Você sabe.- Siggy semicerrou seus olhos apenas um pouco ao ouvi-lo, com isso ele esclareceu. -- Desculpe por ter lhe ofendido daquela maneira, não foi...- Mais uma pausa constrangedora. -- Certo. Não nos conhecemos bem, então eu não devia ter dito. Eu só, sinto raiva o tempo todo e...- Ele se cessa. Nenhuma resposta de Siggy veio, pois estava mais que surpresa para poder formar uma frase que fizesse sentido. Ela realmente não esperava e claramente o próprio também não. Ivar a olhou, pois não obteve nenhum som sequer, então tudo que encontrou foi os olhos de Siggy em si. -- Pare de me olhar deste jeito e me responda. Eu não costumo me desculpar, então fale antes de eu me arrepender por completo.

Ivar esforçava-se em mostrar um duro olhar a Siggy, mas claro que não estava obtendo sucesso, pois seu olhos mantinham-se sinceros e suplicantes. A costumeira encarada ameaçadora que sempre lhe era apresentada mantinha-se ausente, quase que muito distante. Havia uma genuína bondade nos olhos de Ivar. Seus lábios estavam entreabertos ansiosos pela resposta de Siggy, fazendo palpitar forte o coração da jovem apenas por isto. Como ela havia se esquecido, esteve tão concentrada em abastecer a carroça de seu avô que não havia reparado como o jovem Ivar possuía uma beleza única. Bruta e encantadora para si. Seu maxilar lhe parecia perfeitamente desenhado, tendo em alguns momentos de pequenas contrações. Os lábios com um arco de cupido levemente elevado, ela os considerava comuns quando o vira pela primeira vez, admirando apenas seu sorriso que realmente cativava, mesmo que em grande parte de demonstrações lhe era perverso. Porém agora observando-os, seguia cada linha com os olhos, vendo seu delicado e ligeiramente carnudo formato. Ela observou uma solitária gota da fina chuva escapar por eles. Fora algo hipnotizante. Ergueu a visão para os olhos do rapaz. Os mesmo estavam com seu brilho habitual, mas a luz  no momento do dia dava a Siggy uma bela visão. Ela engoliu o seco, sentiu que sua boca estava seca, então virou-se mais rápido que pôde e tratou de encarar o distante. 

-- E por Harvert?- perguntou ela inesperadamente.

Ivar espremeu ambos o olhos sem entender.

-- Quem?

-- Meu cavalo, você o ofendeu também.- responde ela virando-se de volta. 

-- Não vou me desculpar por uma porcaria de cavalo.- protestou Ivar com seu rosto em incredulidade. 

-- Então não está totalmente arrependido. 

-- Você realmente está me deixando menos arrependido por me desculpar a cada palavra que sai da sua boca. Apenas diga que sim e acabamos logo com isso.

-- Sendo desta maneira, esqueça.

-- Então retiro minha desculpa, você não a merece.

-- Você não merece que eu o desculpe.- Ivar solta um arfar irritadiço ao ouvi-la. 

-- Está será a primeira e a última vez que me desculpo com com você ou qualquer outra pessoa.- Siggy lhe entregou um olhar de desdém. -- Na vida!- concluiu ele. 

-- Então lembre-se do que direi.- Siggy aproximou-se de Ivar, ele ergueu seus olhos a ela aguardando seu dito em puro fastio. -- Este será meu constante não a você.

Ivar rolou de olhos, mas a encarou com sua petulância

-- Por que não cavalgada seu cavalo idiota de nome idiota, para quele penhasco e pula?- apontou ele para o distante, na direção do fim da visão de campo. Siggy não seguiu seu gesto, apenas manteve-se sorrindo.  

-- Só se você estiver sento arrastado por ele.

Houve uma pequena olhadela entre eles, então se desviaram para qualquer direção. Ivar voltou a deitar-se, com os olhos para o céu que mantinha-se obscuro em seu distante. Perguntando-se se realmente uma tempestade chegaria. A sonoridade das ondas abaixo do penhasco retornaram ao seu redor, mas desta vez trazia consigo suavidade e calmaria. Siggy decidiu então deitar-se também na grama molhada, ainda com o véu da garoa fina e delicada. 

Ivar sentia em dizer mais a jovem guerreira, mas pedir desculpas era seu limite. Um silencio se formara entre os dois, nenhum se atrevia a dizer mais alguma coisa. Siigy sentia-se inquieta ao lado de Ivar, mesmo com a gelada brisa e as gotas finas caindo sobre si, seu corpo começara a aquecer-se cada vez mais. Para distrair-se disto, levou seus pensamentos em seu avô. Ela sabia que sorrateiramente estava fazendo dele sua imagem paterna que jamais tivera. Se navegar ao lado de seu avô significasse aturar os ditos enfarpados de Ivar, estava tudo bem para ela. Um sorriso conseguiu se formar em seus lábios imaginando que após voltar da Inglaterra seria alguém diferente ao lado de seu avô, bom e quem sabe ao lado de Ivar também. Mesmo lutado consigo para descartar o jovem tio de seus pensamentos, sempre vinha uma grande derrota. Parecia estar sob sua pele, todo o momento ali. 

-- Já que não quer o ouro guardarei para você.- disse Ivar após um longo silencio. -- Também preciso fazer umas coisas antes de partirmos.- sua voz parecia enfim animada. Siggy considerou que finalmente ele estava aceitando sua ida a Inglaterra. 

-- E o que é?- perguntou ela realmente curiosa. 

-- Você verá. 

     ❂❂❂ 

 

O sacrifício de sangue já havia sido feito, Siggy chegara atrasada, não que realmente quisesse chegar em tempo. Helga havia convencido-a a ir, até mesmo se ofereceu para arrumá-la, ainda que não tendo a intenção de tal ato, permitiu que a mulher fizesse qualquer coisa em seu cabelo pelo simples fato de parecer animada com a presença de Siggy em sua casa. Quando finalmente olhou-se no metal polido que lhe refletia tinha de admitir, Helga havia feito uma bela trança deixando grande parte de seu cabelo solto em cascata cobrindo as costas de seu vestido azul. Após isso fora caminhando pela floresta escura até o local do sacrifício. Nunca sentira prazer com tal derramamento de sangue sem a necessidade de uma boa briga, mas era um agrado aos deuses então considerava aceitável. O sacrifício fora realizado próximo ao porto da vila, onde havia altos troncos de madeira erguidos e uma grande fogueira ardia no centro. Em frente a ela, uma baixa pedra tinha uma larga e funda tigela de ferro fundido, recipiente onde localizava-se parte do sangue da oferenda. O resto dele, todos os guerreiros e guerreiras estavam revezando em borrifá-lo em si e logo bebendo-o para receber a benção dos deuses. A noite estava em agradável brisa gélida, porém ao aproximar-se do grande tumulto de pessoas, estando envolto as tochas e todo o calor humano, fizeram Siggy aquecer-se por completo. Ela não sabia para que lado ir, seu primeiro impulso natural fora procurar por Lagertha, pois imaginou que Ragnar não viria a tal evento. Ele tinha esperanças que Bjorn o seguisse na jornada de volta a Inglaterra, mas não aconteceu. A cabeça de Siggy girava rapidamente para todas as direções, buscando um pequeno vislumbre da cabeleira loira adornada de tranças e jóias, com inclusão das roupas finas que sua avó sempre usava. Era impossível confundi-lá. Para Siggy não havia mulher mais temida, admirada e desejada que Lagertha. Já se perdera a conta de quantos pretendentes de altas posições vinham em sua casa pedir a mão de sua avó em casamento. Claramente todos foram rejeitados, mas ainda sim, mesmo tendo Astrid como companheira, Siggy entendia que Lagertha não a via como algo definitivo. Para ela, sua avó só queria se divertir um pouco, após tanta angustia que já passara na vida. Na mais pura verdade, Siggy torcia por isso, não gostava de Astrid nem por um momento, havendo sempre desconfiança e o costumeiro desprezo.

Ela caminhou mais para o ponto central da celebração, onde havia a tigela do sacrifício que era rodeada por um volumoso folguedo. As mulheres dançavam em agito e sexualidade, os homens carregavam sorrisos de malicia e cobiça em resposta. Muitos estavam em êxtase em cantos e rodas de conversas com altas risadas. Ao levar sua busca em locais menores de pessoas, Siggy finalmente conseguira ver sua avó. Inclinou ligeiramente o pescoço para ver mais claramente. Lagertha estava levemente curvada, Siggy aproximou-se um pouco mais e vira que sua avó encontrava-se conversando com alguém, com uma mulher constatou após ver o vestido com longas jóias. O rosto da mulher apresentava uma pintura, tal como reconheceu ser da anfitriã de sacrifício, então veio finalmente a ela que Lagertha estava a falar com Aslaug, pois ela era a rainha de Kattegat. Da maneira que o rosto de sua avó aparentava, era certo que não era uma conversa amigável. Lagertha falava entre os dentes e Aslaug tinha um semblante constante de transe, que claramente estava além de seu estado normal. Certo era que ela havia tomado hidromel com misturas de ervas que juntas proporcionavam uma boa loucura, tal coisa muito comum em noites de sacrifícios e festejo. Todos queriam aproveitar a noite até seu final, pois pela manhã os guerreiros da expedição de Bjorn partiriam, assim como disse Ivar.

Lagertha afastou-se de Aslaug deixando-a sentada sozinha, não antes de borrifar bruscamente sangue em sua face pintada. Ela virou-se para ir, e logo seus olhos encontraram os de Siggy, e ao vê-la sorriu. Lagertha agradou-se de ela estar vestindo um dos vestidos selecionados para a viagem. A distancia entre as duas diminuiu, com ambas indo de encontro. Lagertha parou em frente a Siggy e pegou em mãos uma mecha de seu cabelo que estava livre, ainda com o sorriso no rosto.

-- Pensei que não viria.- relatou ela, com bom humor em sua voz. -- Mas veio e está linda.- Lagertha pôs sua mão nas costas de Siggy e virou-se apontando com a outra para todo lugar com sutileza. -- Vá se divertir, talvez encontre algum rapaz interessante. Há guerreiros de muitos lugares e...

-- O que estava dizendo a Aslaug?- perguntou Siggy, cortando-a.

O sorriso de Lagertha se modificou em um triunfante. Em seguida ela puxou o ar da noite observou o céu que tinha as fagulhas da fogueira erguidas com sagacidade.

-- Um pouco de intimidação.- Ela virou seu rosto a Siggy em seu lado. -- Somos boas nisso, lembra?- Siggy finalmente sorriu naquela noite. Lagertha olhou para longe, em seguida voltou-se para sua neta. -- Soube que jovem Ivar irá com você e Ragnar.

Lagertha pôde ouvir o suspiro de conformidade de Siggy.

-- É o que parece.- disse Siggy rispidamente. -- Não sei como navegarei daqui a Inglaterra sem a vontade de jogá-lo ao mar.

-- Acha que será um problema?- perguntou sua avó sem preocupação em seu tom. Coisa que Siggy havia grande costume de ouvir. Lagertha não estava mais em Hedeby, tinha de manter-se intocável e imperturbável aos olhos de tantos reunidos, apenas observando-a. E sua infelicidade de Siggy estar partindo para o Oeste era clara em seus olhos. 

-- Com certeza será. É só olhar para ele.- respondeu Siggy sem nem mesmo pensar. Ela olhava para as mulheres dançando com olhares sedutores. Cada levada de mãos e a leveza de pés descalços na terra abaixo. Sentiu uma pequena curiosidade em ter a sensação de dançar para encantar um homem. Ela sabia dançar, mas nunca havia usado tal coisa para esse tipo de artificio, sempre fora apenas para divertir-se. 

-- É, aquelas pernas são um problema.- cortou Lagertha os pensamentos de Siggy. Ela pensou rapidamente sobre antes de responder. As pernas de Ivar vieram em sua mente, mas não encontrou incapacidade no rapaz. Recordou-se do interno apelido que já agora não fazia mais sentido a ela.

-- Não acho que as pernas sejam um empecilho. Estou falando da cara irritante que ele faz sempre que me vê. E claro que não posso deixar de citar da língua afiada que ele possui e nunca a deixa dentro da boca.- Explicou Siggy com serenidade. Lagertha olhou-a com curiosidade, mas então soltou um pequeno riso. Sua neta devolveu com um olhar confuso. -- Não é engraçado. É certo que algum dia ainda um de nós irá matar o outro.- Lagertha deixou mais um riso escapar discretamente. Siggy lhe mostrou um zangado cenho, mas não conseguiu mantê-lo.

-- Oh, desculpe.- Ela apontou para onde antes estava olhando. -- Ele está bem ali, não acha que deveria levar algo para ele beber?- O rosto de Siggy contorceu-se em uma careta terrível, até mesmo Lagertha espantou-se com tal reação. Ela nem mesmo quis olhar para onde sua avó apontara.

-- Levar algo para ele beber? Ele não é um pobre coitado, que pegue a própria bebida.- replicou Siggy com indignação. Lagertha franziu a testa com o súbito comportamento da neta. Não era comum o jeito como Siggy elevou a voz.

-- Filha, é que vocês estarão em um barco por dias, talvez devesse tornar as coisas mais amigáveis entre ambos. Não sabe como uma boa conversa durante a viagem ajuda a passar o tempo em alto mar.

Siggy finalmente ousou seguir a direção onde Lagertha havia apontado. Semicerrou os olhos para a longa distancia onde Ivar encontrava-se sentado. Estava isolado da multidão, sem seus irmãos por perto. Lagertha analisava silenciosamente sua neta observando o jovem Ivar no distante. Ela tinha variações de expressões a cada suspiro.  Finalmente Siggy virou-se para Lagertha.

-- Talvez eu faça isso.- disse, não com convicção. -- Agora falemos de outra coisa, como quando devolverá minhas armas.

Lagertha assentiu com a cabeça com um sorriso nada surpresa pela citação. 

-- Em sua partida.- Siggy claramente descontente cruzou os braços com uma carranca. Lagertha aproximou-se dela levando uma de suas mãos ao seu cabelo mais uma vez. -- Eu gostaria de conversar sobre mais cedo. Não quero que tire conclusões precipitadas do que será seu futuro.

-- Não há nada para falar, mãe. Terei um futuro horrível se os deuses não mudarem de ideia.- interrompeu Siggy rapidamente. -- Eu não esperava nada mesmo.

Lagertha a olhou com tristeza e a envolveu em um de seus braços. Percebeu que talvez não fosse o momento de explicar as coisas.

-- Sendo assim, vá distrair a mente, caminhe por ai, conheça pessoas.- ela beija sutilmente o rosto de Siggy e se afasta gentilmente. -- Falarei com algumas pessoas antes de me retirar, eu realmente não desfrutarei mais de um sacrifício realizado pela aquela bruxa.- concluiu Lagertha em baixo tom. 

Siggy assentiu levemente com a cabeça mostrando-lhe um afetuoso sorriso. Então Lagertha foi-se, ela a observa afastar-se por completo, notando guerreiras rapidamente segui-la. Era claro que sua avó tinha grande popularidade na vila e em qualquer outro lugar. Lagertha era amada por muitos e odiada por poucos. Em parte por ser uma valorosa guerreira e gentil earl. Siggy não se imaginava sendo uma mulher de tantas admirações, mas sabia que sua avó planejava que ela seguisse seus passos de liderança. Desde muito nova lhe dava a responsabilidade de liderar guerreiros em batalhas pequenas e árduas. Isso não antes de lhe treinar com extrema rigidez. 

Siggy traçou seus dedos deixando suas mãos atrás das costas e voltou a caminhar entre as pessoas. Os músicos esforçavam-se em tocar canções animadas para não deixar ninguém adormecer. Siggy permitiu-se então sorrir para as situações que lhe apareciam a cada passo. Bêbados caindo uns nos outros comicamente, mulheres em discussões beirando em risadas e crianças que corriam de um lado para o outro com suas espadas imaginárias. Ela ergueu seus olhos em busca de admirar a lua no topo do céu, mas a ausência da luz era evidente. O manto da noite sobre suas cabeças tinha a familiar cor negra azulada e as estrelas escondiam-se por ele. Não havia mais a garoa de antes do cedo dia, Siggy sentia o céu em silencio. A jovem guerreira conhecia a noite como cada escama do cabo de suas espadas gêmeas, como o brilho da negra crina de Harvert e como os olhos de Lagertha. Siggy podia ver através daquela escuridão e oque ocultava-se, sendo assim, ela temeu. 

Ao descer seu observar para as pessoas em seu redor totalmente alheias sobre seu sobrosso, seus olhos encontraram um homem, sua cabeça acima de todos. Seu pai, mas não apenas ele. Em seus braços estava o pequeno Erik, onde tinha um largo e caloroso sorriso ao homem que o agitava. Torvi estava apenas alguns passos a frente de seu marido e filho, carregando orgulho em seu rosto olhando um jovem rapaz magricela com cabelos louros. Ela sabia que se tratava do filho da mulher, de seu casamento anterior. Bjorn havia adotado o filho de outro homem por ela, mas a primogênita, sua filha de sangue permanecia com indiferença e o duro desprezo. Siggy não pôde deixar de sentir a infelicidade sufocando-a. Estava ali, em pé dentre muitas pessoas, sendo testemunha da família que seu pai havia formado. Era como quisesse confirmar-lhe que Siggy não passava de uma lembrança ruim. Em um piscar de tempo, seus olhos estavam em seu pai, que sorria para o menino. Mas então, de súbito os olhos do homem lhe encontraram. Seu sorriso se desfez, dando lugar a um frio e indecifrável semblante. Ela não desviou-se nem por um segundo, com isso Bjorn fitou-na como um animal bravio intimidando uma ameaça a sua família. Ela não sentiu medo, muito pelo contrário. 

Uma pesada mão tocou o ombro de Siggy, ela virou-se após finalmente conseguir tirar os olhos de seu pai. O que encontrara atrás de si, foi seu jovem tio Ubbe que ao contrario de Bjorn trazia consigo um amigável sorriso, mas modificou-se quando ele notou o rosto de Siggy, que mantinha seu mirar para o chão um tanto melancólica. Ubbe pegou uma das mãos da jovem e envolveu um curto chifre transbordando hidromel de sua boca. Ao sentir o toque, Siggy ergueu os olhos a ele. 

-- Beba um pouco.- encorajou Ubbe, voltando-se a sorrir. 

 

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