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História Irresistible Desire - Histórias na Biblioteca


Escrita por: LiihAndrade

Notas do Autor


Boa leitura! :)

Capítulo 14 - Histórias na Biblioteca


Fanfic / Fanfiction Irresistible Desire - Histórias na Biblioteca

Os pompons coloridos nas mãos de Gabriela, girando e sacudindo de um lado para o outro, enquanto gritava ordens em meu ouvido, começavam a fazer meu estômago revirar.

Não conseguia pensar em outra coisa, senão por que havia escolhido fazer parte do teste para líder de torcida ao invés de dar algumas voltas pelo campo correndo. Afinal, os dois me fariam querer vomitar, a diferença estava em querer ficar surda também por causa da voz irritante de Benson.

— É cinco, quatro, dois, um, três, Caitlin! Não um, dois, três, quatro, cinco! — Gritava remexendo os pompons na minha frente.

Benson conseguia ser irritante até na forma de nomear os movimentos que devíamos fazer na coreografia. Eu não possuía coordenação motora o suficiente para fazer os movimentos "dois, um, três" enquanto ela contava, ou melhor, gritava “um, dois, três”. E temia em breve não conseguir nem mesmo ouvir sua contagem.

— Pare de pensar no Jake e faça as coisas direito, Cait-Caity!

Ah, sim. Pior que seus gritos, talvez apenas as suas provocações enciumadas, sussurradas melindrosamente em meu ouvido.

— Não estou pensando nele, Benson… — Respondi, enquanto prosseguia com a coreografia, mexendo pompons imaginários de um lado para o outro do quadril.

— Então em que está pensando para fazer tudo tão errado? — Provocou mais uma vez, e vi a chance de me livrar de seus berros.

— Estava pensando na França. Paris, na verdade… Acho que você adoraria passar um tempo lá, não acha? 

Pegando a indireta, Benson se afastou, indo na direção de outra vítima com seus terríveis pompons.

Após mais alguns passos desastrosos e totalmente descompassados com a música, desisti do teste. Afinal, não sabia nem porquê havia resolvido tentar; talvez por falta de opção, afinal o que havia para fazer era ou o teste, ou correr, ou jogar futebol, sendo que esta última opção não era viável, uma vez que todas as outras garotas haviam optado pelo teste, e então o futebol se tornou apenas masculino. Também havia algumas pessoas que não haviam optado por nada, e mesmo com as ameaças do professor de zerar suas notas, continuavam sem fazer nada na arquibancada. Algumas até pareciam estar tomando sol.

Por um momento, senti inveja de suas notas zeradas.

Ouvi a voz autoritária do professor chamando por meu nome, prestes a reclamar sobre o porque de eu estar parada sem praticar alguma atividade. Antes que tivesse de começar a me explicar, rendi-me à corrida, e comecei a volta pelo campo.

A pista de corrida, composta por quatro faixas vermelhas com contornos brancos, formava um “O" gigante, contornando o campo de futebol, onde os garotos jogavam. Ao ultrapassar os primeiros cinquenta metros, consegui vê-los melhor. Tyler usava uma regata escura, que puxava para um tom avermelhado, e estava na posição de defensor, e bem naquele momento estava a marcar… Jake. 

Diminui minha velocidade, quase parando de correr.

Jake vestia também uma regata, mas totalmente branca. Estava incrivelmente atraente, e até o suor que deixava seu corpo brilhante arrematava sua beleza. No momento em que eu os observei, estavam os dois olhando para cima, na direção da bola que havia sido cruzada para Jake, e que Tyler teria que roubar. Com habilidade, a bola caiu como uma luva, e logo Jake fez a rede balançar. Ninguém o congratulou pelo gol, ao contrário, todos apenas ignoraram e voltaram para suas posições, talvez pelo pouco tempo que tinham para tentar virar o jogo, já que estavam perdendo para o time de Tyler.

Logo quando Jake foi voltar para o meio de campo, nossos olhos se encontraram.

Sua boca formou um sorriso cansado para mim, ofegante por causa do futebol. Retribui-o timidamente, mas logo me coloquei a correr novamente.

Depois de correr mais alguns metros, afastando-me de onde Jake estava, olhei para trás e percebi que o professor de Educação Física, o Sr. Thompson, estava ocupado cuidando de uma líder de torcida que caíra no chão, e portanto não estava prestando atenção no restante da turma. Resolvi então mudar um pouco o percurso, e saí da pista de corrida.

Entrei na escola pela porta da biblioteca. Ainda não havia a conhecido, e me surpreendi com as prateleiras sem fim repletas por livros grossos e meio amarelados; pensava que fosse mais diminuta, mas havia até mesmo alguns computadores no final dela. O salão com mesas de madeira estava com as luzes apagadas, deixando-se iluminar apenas pela luz do sol que entrava pelas enormes janelas, criando um efeito sépia. Todos os corredores, mesas e computadores, até mesmo no segundo andar pelo que podia notar, estavam vazios — Nem mesmo a bibliotecária se encontrava ali. Como o período da tarde era reservado à educação física, provavelmente não havia necessidade de ter alguém cuidando da biblioteca.

— Olá? — Perguntei em um tom alto, confirmando que mais ninguém estava ali comigo: — Tem alguém aqui?

Mas apenas o silêncio dos livros me respondeu. 

Eu realmente estava sozinha… Mas por que sentia então o contrário?

Lembrava-me das palavras de Mabel Benson, na sessão que havíamos tido no dia anterior — Alguns dias depois da reunião entre vizinhos que meu pai fizera em casa, e que os dois não pararam de se falar; acabei descobrindo, depois, que não pararam de falar sobre mim e meus supostos “problemas”. A sessão havia sido bem ordinária, não contando a bagunça em que sua sala se encontrava: gavetas estavam jogadas ao chão, com relatórios abertos e cadernos com suas páginas escancaradas. Parecia que alguém tinha revirado a sala de ponta à ponta. Mabel explicou que não tivera tempo de arrumar o que alguém fizera quando eu e as garotas, Gabriela e Nancy, invadimos a escola. Mas a psicóloga tratou de deixar claro que tinha a certeza de que fora eu que roubara minha própria ficha e fizera aquela bagunça. E seu diagnóstico sobre o que eu supostamente tinha, ainda assombrava a minha lucidez:

“Os esquizofrênicos paranoides têm delírios de controle, grandeza e também delírios de perseguição. Costumam desconfiar de tudo e de todos. Atinge uma em cada cem pessoas, Caitlin querida, mas não se preocupe: nós vamos conseguir sair dessa juntas.” Foram suas exatas palavras, seguidas por um: “Você se lembra de onde guardou a ficha que pegou daqui?”.

Eu não me lembrava. 

Afinal, não havia sido eu que a pegara, e sim um psicopata que eu tinha a certeza de estar me perseguindo… Mas achei que explicar isso para Mabel apenas confirmaria suas hipóteses sobre mim.

“Será que eu realmente sou paranoide?”, perguntava-me mentalmente, enquanto andava pelas estantes infinitas de livros: “Eu certamente sou esquecida, mas eu tenho provas de que não sou louca. As mensagens estão no meu celular! Não posso deixar que um diagnóstico baseado em suposições suba à minha cabeça e acabe realmente me enlouquecendo…”.

Tentei deixar o sentimento de perseguição de lado, e subi os degraus da larga escada que davam para o segundo andar. 

O piso era totalmente recoberto de madeira escura, e as mesas de estudos, feitas com a mesma madeira e com pequenas luminárias sobre elas com uma luz forte amarela, deixavam no ambiente uma mistura de aconchego e mistério — Talvez exatamente como uma verdadeira biblioteca deveria ser. 

Avancei a lentos passos por entre as mesas, tocando-as e verificando que estavam sob uma grossa camada de poeira, deixada pelo tempo e pelo não-uso. Estantes agora mais baixas recobriam as paredes, mas davam lugar também a algumas portas e vãos vazios. Foi então que meus olhos se sentiram atraídos por algo, assim como a minha mente pareceu relampejar. Uma pequena saleta no fundo do segundo andar, cercada por uma grade trançada de ferro que deixava vislumbrar por entre ela o que havia por detrás, parecia atiçar minha curiosidade.

A passos largos, fui até sua grade, verificando que havia um cadeado trancafiando a saleta. Olhando melhor por uma segunda vez, para o meu contentamento, percebi que sua chave estava na fechadura, pronta para ser girada.

Antes que fizesse qualquer coisa, espiei por entre os espaços que o ferro formava, e encontrei muitos papeis acumulados, além de muitas gavetas empilhadas. Então olhei para um lado, para o outro, confirmei que não havia ninguém olhando e destranquei a grade, entrando na comprida saleta.

“2007… 2008… 09, 10…”, lia as etiquetas coladas em cada armário, provavelmente designando o conteúdo que se tinha em cada ano: “Será que é aqui onde guardam as fichas escolares?”.

Olhei para o lado direito, e lá estavam as gavetas com a etiqueta de “2016”. Abri a primeira com cuidado, e percebi que as fichas estavam organizadas por ordem alfabética, começando por um garoto chamado “Aaron Oliver", e então “Amberly Kinn”, que reconheci da aula de química que tinhamos juntas. Foi então que confirmei minhas suspeitas, e comecei a ficar ainda mais preocupada por estar ali… Invadir a ficha de arquivos do colégio não devia ser muito bem aceito nas regras e normas do diretor.

Pensei em sair e trancar a grade como se nunca tivesse estado ali, e assim o faria. Mas antes, daria uma olhada em alguns arquivos.

Puxei a terceira gaveta, acreditando que a letra “C” estaria ali, e logo achei “Caitlin Dagger” em uma das pastas. Puxei-a e dei uma olhada em seu conteúdo. Com certeza a minha ficha psicológica devia ser mais interessante que aquela, repleta por documentos como a matricula e outras contas. Acabei por ficar frustrada… Realmente esperava algo mais emocionante sobre a minha ficha.

Foi então que um nome em particular surgiu em minha mente.

— Claro, como poderia esquecer? — Sussurrei em tom divertido, excitada para ver o que encontraria em sua ficha: — Heath, Heath, Heath… O que você me esconde?

Puxei a sexta gaveta, e acabei me deparando com a ficha de Gabriela Benson. Pensei em rasgá-la ou colocar ela na última das gavetas, mas eu estava ansiosa demais para ver a de Heath.

Fechei a gaveta e abri a sétima, encontrando os poucos nomes que começavam com H, e dividiam a mesma gaveta com os da letra I. Comecei pelos nomes Hanna, Harpey, Harry… Heaton, Heaven e então, quando finalmente comecei a ler “Heath”, uma voz atrás de mim fez com que eu quase puxasse a gaveta inteira para baixo.

— Hei, você! — A voz feminina irritada gritou, conforme chegava mais próxima a passos largos: — O que está fazendo aqui?!

Larguei a gaveta e a olhei assustada. Estava na minha frente uma garota um pouco mais alta que eu, tinha cabelos compridos loiros claro armados e olhos que pareciam dois caramelos brilhantes. Seu nariz, um pouco avantajado, era fino e arrebitado, combinando com seus lábios igualmente finos. Tinha em sua fisionomia algo de exótico, e em sua postura algo de rígido. Parecia ser mais velha, provavelmente estava em seus vinte e cinco anos, e tinha pendurado ao seu pescoço um crachá com os dizeres “Bibliotecária” e outras informações minúsculas.

Oh droga.

Que ótimo momento a bibliotecária havia escolhido para aparecer.

— Oi, eu só estava… — Comecei, mas realmente não sabia como terminar.

— Quem é você?— Perguntou-me irritada.

Senti meu corpo congelar, enquanto minha mente superaquecia tentando pensar em uma desculpa. Sabia que devia ter ignorado minha curiosidade e saído dali, afinal o que havia ganhado em permanecer? A comprovação de que minha matrícula havia sido paga e ainda mais curiosidade sobre a ficha de Heath, que nem sequer tinha chego a pegá-la em mãos.

— Quem é você?! — Perguntou novamente, ainda mais irritada.

Pensei em tentar fugir dali correndo, ou então mentir sobre meu nome. Mas antes que pudesse pensar qual das alternativas era menos pior, ouvi uma voz macia e com o toque malicioso e despojado tão típico:

— Ela é a minha namorada.

Foi então que meus olhos se encontraram com os dele, de um verde profundo e misterioso. 

Heath.

Estava com um sorriso convencido, como se soubesse exatamente o que eu estava fazendo ali: querendo saber mais sobre ele. 

— Pedi para que me ajudasse com uma coisa… — Disse ele, e por mais que sua explicação não desse explicação alguma, a bibliotecária parecia já convencida pelo dono daqueles olhos e sorriso. E, como se de propósito para estimular ainda mais a admiração da moça por ele, Heath continuou em seu pior estilo de bom moço: — Eu pensei que não tivesse problema, Becky…

Heath veio para o meu lado, e passou seu braço por meu ombro como se realmente fosse meu namorado. Ele então me puxou contra o seu corpo, e estalou um beijo em meu rosto, mais precisamente no canto de minha boca. 

O beijo fez com que eu me arrepiasse, e conseguia senti-lo mesmo depois de passado, suave e ao mesmo tempo marcante. 

Se apenas seus lábios no final dos meus conseguia me fazer sentir daquele jeito, começava a imaginar como seria se os atingisse por completo.

— Ah, não! Não! De forma alguma, não tem problema…! Nenhum! — Disse a tal de Becky, simplesmente encantada, soltando algumas risadinhas para ele. 

Parecia realmente não se importar comigo, concentrando toda a sua atenção apenas em Heath.

Pela primeira vez, eu me sentia agradecida por Heath ser tão charmoso.

Becky parecia nem ao menos lembrar sobre o que estava reclamando antes e, desse jeito, não me mandaria à diretoria e não faria meu pai e Mabel concretizarem ainda mais a teoria de que eu havia roubado minha própria ficha psicológica — E, agora, a do colégio.

— Eu vou… Eu tenho que… — Becky começou a falar, dando alguns passos para trás, ainda com um sorriso encantado, e então arrematou: — Eu tenho que dar uma saída. Até mais, Heath.

E antes que Becky sumisse de vista descendo pelas escadas, tropeçou em um e outro móvel, ainda sem jeito com a presença de Heath.

Ficamos então a sós.

Heath afastou-se um pouco de mim, sentando-se sobre a quina de uma mesa ao meu lado. Eu, na frente da saleta dos arquivos, olhava em seus olhos com os braços cruzados. 

A má iluminação do segundo andar caía perfeitamente sobre Heath, notando e reforçando seus traços elegantes e, ao mesmo tempo, indecorosos. Talvez não houvesse melhor palavra para defini-lo senão perigoso.

E por que, eu me perguntava, sentia um desejo tão irresistível pelo perigo?

— Shorts legal, namorada. — Ouvi sua voz me provocando, enquanto seus olhos me rondavam provocantes: — Resolveu virar líder de torcida?

Eu tinha esquecido que ainda estava com o shorts que havia vestido para o teste de líderes de torcida. Ele era razoavelmente… Muito curto.

— Eu tentei… Mas Benson não facilitou muito. — Respondi, lembrando-me do meu fracasso como líder de torcida: — E você? Resolveu me espionar na biblioteca?

— Estava procurando um livro, e vi a oportunidade de te salvar de uma suspensão… Agora você me deve uma, Cait.

De certa forma, ele estava sendo legal. De certa forma.

— Obrigada por me livrar, mas não acredito em você…

— E por que?

— Você não parece o tipo de cara que gasta o tempo lendo, e sim o tipo de cara que passa o tempo dando em cima da bibliotecária.

— Por que não posso fazer os dois? — Heath brincou, enquanto eu balançava a cabeça discordando da sua atitude, mas ainda assim rindo: — Brincadeira. Eu sou fiel a você, Cait.

— Muito obrigada por isso, "meu amor". — Brinquei, sentando-me sobre a mesa que tinha logo à frente de Heath: — Mas, de verdade, o que estava fazendo aqui?

— Por que você não acredita em mim?

— Bem, é improvável que um cara que falta a todas as aulas venha à biblioteca com o simples intuito de ler…

— Você está me magoando, Caitlin… — Heath brincou, fingindo-se de triste, antes de abrir seu sorriso cínico típico.

— Então qual é o seu livro preferido? — Perguntei, provocando-o: — Kama Sutra?

— De fato esse é um ótimo livro… Se quiser, posso te mostrar o que aprendi com ele. — Heath brincou e nós rimos, apesar de eu balançar a cabeça desacreditada.

— Você é assim com todas? — Ainda rindo, perguntei apenas para ouvir o que ele teria a dizer. E claro que me arrependi.

— Especialmente com você, Cait. 

Heath deixou seu corpo cair mais para trás, apoiando-se sobre a mesa com os cotovelos, e mantinha o contato visual comigo mais relaxado, como se se sentisse totalmente a vontade. Seu sorriso agora era aberto, e especialmente divertido, como se gostasse daquele joguinho de provocações comigo. 

Levantei-me da mesa onde estava, e me sentei ao lado de Heath; mais por um impulso que pensadamente. Ele me encantava de uma maneira que não conseguia entender — mas não da mesma maneira como Becky se encantava por Heath. Era algo dentro dele que chamava a minha intenção e implorava por ser descoberto.

Conforme eu me acomodava ao seu lado, percebia a sua expressão surpresa. Parecia não ter calculado a minha aproximação, e seu sorriso era uma mistura de incompreensão com aprovação.

— Me conte uma história, Heath. — Fiz o pedido olhando-o nos olhos.

— Uma o que? — Era a primeira vez que via Heath quase desconcertado.

— Uma historia, ou uma lembrança… Não tenho muitas.

Heath riu momentaneamente, e então ficou com uma expressão pensativa. Parecia refletir sobre o que iria me contar, e fiquei feliz por atender meu pedido.

— Tudo bem, Caitlin, vou te contar sobre um cara que eu conheço. Eu até poderia dizer que ele é meu amigo, mas o cara é muito instável para isso: um dia ele te da de presente um martelo, e no outro dia te mata com ele. Digo isso porque já aconteceu com um outro cara que eu conheço, mas isso eu posso te contar depois… — Heath começou a contar e eu ri, boquiaberta com o início da historia: — Esse cara é conhecido como Jim “OneEye", e o nome não podia ser mais sarcástico.

— Calma, ele tem só um olho?!

— Só um. Diz que o outro um tubarão lhe arrancou, mas isso não passa de uma mentira… E eu sei qual é a verdade. E agora você vai saber da verdade por mim, então não conte para ninguém o que vou te contar… Ou nós dois estamos ferrados.

Aconcheguei-me mais sobre a mesa, excitada com aquela história. Heath continuava sobre seus cotovelos, estando meio deitado, enquanto eu, sentada com as pernas cruzadas, deixava meu rosto ficar por cima do dele, interessada em seu relato.

— Prometo não contar. — Afirmei, ansiosa pela continuação.

— …Muitos acreditam que seu olho realmente foi parar no estômago de um tubarão. Outros, mais céticos e cruéis, acreditam que Jim arrancou o próprio olho depois de achar a mulher que amava com outro. Mas não foi nada disso… 

— Então o que foi?

Heath fez uma cara séria, e aos poucos foi abrindo um sorriso sádico; enquanto eu prestava atenção nos mínimos detalhes de seu relato.

—Jim comeu o próprio olho em uma noite de natal.

— O que?! — Gritei com horror: — É serio?! Como alguém pode comer o próprio olho?

— É serio! — Heath respondeu rindo da minha reação e, com a maior tranquilidade, explicou: — Ele arrancou o globo ocular do rosto com seus dedos, colocou um pouco de sal, pimenta, fritou e então adicionou um pouco de uvas passas para entrar no espirito natalino.

— Calma, além de fritar o próprio olho, ele ainda colocou uvas passas?! Esse cara só pode ser louco… — Brinquei me fingindo de horrorizada, e nós dois rimos.

Estávamos com nossos rostos separados por apenas alguns centímetros, e nossos olhos sorriam um para o outro. Seu cabelo negro parecia as ondas de um mar revolto, e seus lábios esbanjavam surpreendente calmaria; naquele momento entendi que talvez nunca conseguisse compreender Heath totalmente.

Foi então que os chamados de Nancy eclodiram na biblioteca vazia, querendo saber onde eu estava. Afastei meu rosto de Heath e desci da mesa, ajeitando minha camiseta e meu shorts. 

— É a Nancy… — Expliquei quando Heath também se levantou e se colocou na minha frente: — Vamos a um café discutir algumas coisas do jornal.

— O jornal da escola ainda existe? Faz tempo que não vejo um… — Heath disse, e eu abri um sorriso divertido.

— É exatamente sobre isso que vamos discutir.

Virei-me para ir embora, mas voltei para olhar Heath por uma última vez:

— Eu adorei a história do Jim OneEye… Mas ainda quero saber a sua.

Heath se aproximou de mim, invadindo totalmente a minha zona de conforto, e olhando para baixo, para que conseguisse me olhar nos olhos, começou.

— Se você quiser realmente saber, eu vou estar no John’s, provavelmente de sexta a noite… — E com um sorriso convencido, disse: — Se você der sorte, eu até te mostro quem é Jim OneEye.

— Você sabe que eu só vou para saber quem é Jim OneEye, não sabe? — Brinquei para provocá-lo e, ficando na ponta de meus pés para conseguir dar um beijo em seu rosto, disse: — Até mais, Heath.

De onde tinha tirado coragem para fazer aquilo, eu também não sabia. Mas estava feliz por assim ter feito. Talvez depois eu me arrependesse de chegar tão próximo de meu vizinho, disso eu sabia, mas em alguns momentos como aquele essa condição parecia simplesmente não contar.

E, enquanto descia as escadas para o primeiro andar, ouvi como um sussurro:

— Até mais, namorada…


Notas Finais


Espero que tenham gostado, e também que tenham um ótimo 2017!
Críticas, elogios ou reclamações serão muito bem aceitos e amados :)


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