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História Irresistible Desire - Sexta à Noite


Escrita por: LiihAndrade

Notas do Autor


Boa leitura! :)

Capítulo 17 - Sexta à Noite


Fanfic / Fanfiction Irresistible Desire - Sexta à Noite

Olhava para o meu pai inconformada.

Estávamos nós dois na sala, Joe sentado no sofá escutava o noticiário que passava na TV, com uma taça de vinho tinto em uma mão e, na outra, o controle remoto, enquanto eu permanecia disposta ao lado do televisor, tentando chamar a atenção de seus olhos para mim.

Através das janelas, a noite caia sobre a cidade.

Conforme as horas passavam, percebia que meu tempo para convencer Joe de que poderia ir ao John's sem ter um surto psicótico ou qualquer coisa do tipo se extinguia, assim como minha crença de que ele fosse realmente deixar.

— Mas pai... É para um trabalho de escola! — Insistia, insinuando meu melhor olhar implorante.

— Caitlin, é melhor você ficar em casa, pelo menos hoje. Até Mabel concorda com isso. — Também insistia meu pai, trocando os canais e, por fim, voltando ao noticiário que assistia antes: — Telefone para os seus amigos e explique, não tenho dúvida de que entenderão.

Realmente, eles entenderiam.

O problema era que eu queria ir ao John's naquela noite.

Desde a noite no Café, meu pai me olhava com preocupação e até mesmo certa relutância. Parecia não saber como agir em relação a mim, e nossas conversas ao longo daquela semana haviam se tornado ainda mais espaçosas e monossilábicas. Na quarta-feira, sua preocupação aumentou quando teve de me buscar na enfermaria do colégio: havia passado mal repentinamente durante a aula de química, com uma dor de cabeça que quase me fizera gritar durante a explicação sobre moléculas hidrofóbicas do Sr. Niells; e assim fiquei de repouso em casa naquele mesmo dia.

Na quinta-feira comecei a melhorar, talvez os remédios que Mabel indicara realmente funcionassem, afinal depois de três doses tomadas, minha mente começou a finalmente se aliviar e desembaraçar os mares de lembranças perdidas e ideias não correspondidas. Mas, ao chegar da noite, um tédio mortal começou a se alastrar por meu corpo.

Já na sexta, faltara mais um dia do colégio: "por precaução, não quero que você piore novamente.", alegara meu pai. Tentei buscar distrações durante o dia inteiro. Escrevera muito em meu diário, tentando lembrar do que havia acontecido de mais importante até ali, desde quem conhecera, até sobre como dava para ver meu reflexo nos lábios exageradamente preenchidos por gloss de Gabriela Benson.

Uma única vez mencionei Heath entre as folhas pautadas, e logo que o fiz, fechei o diário com pressa e urgência.

— Nós tinhamos combinado hoje… — Tentei buscar uma desculpa, indo me sentar ao seu lado no sofá, e voltei a repetir: — Vamos por causa de um trabalho de escola…!

— No John’s?! — Joe respondeu sarcástico, e eu percebi que minhas chances de enrolá-lo tinham acabado ali: — Não me parece um lugar muito adequado para estudar.

— Vamos só para decidir a parte de cada um…

— Então não é tão importante assim ir hoje.

— É super importante! …De alguma forma. — Respondi, me embolando nas minhas próprias desculpas, e então decidi tentar minha ultima chance: — A Nancy vai… A Gabriela vai!

— E você também vai… — Joe disse imitando minha voz e, antes que eu pudesse ficar feliz, ele completou: — …Descansar. 

Fechei os olhos lentamente.

Já conseguia imaginar mais uma noite trancada em meu quarto, despejando palavras e mais palavras sobre meu diário sem uma razão específica. Sentia que a qualquer momento o pequeno caderno verde-musgo iria saltar pela janela, já cansado por tantas confissões e confusões. 

— Sinto muito, Caitlin. Mas estou muito preocupado com você… — Confessou Joe, tirando os olhos dos jornalistas na TV e olhando para mim. 

Eram raras as vezes em que ficávamos tão próximos, olhos nos olhos, apenas tentando descobrir um pouco mais um do outro sem muitas palavras; na maioria das vezes, evitávamos momentos como aquele, pelo simples fato de que era duro conhecermos nossos interiores. Era como se algo gritasse: “Marie está morta. Por que ainda insistem em manter essa família?”.

Abaixei meu olhar para a minha mão, abafando todos aqueles pensamentos.

— …Não acho uma boa ideia sair hoje. Principalmente para ir ao John’s: não acho que seja uma boa ideia ir lá, nunca. Tudo bem?

— Tudo bem. — Ouvi as palavras saindo por meus lábios, apesar de minha mente pensar o contrário: — Vou dormir agora então, assim o tempo passa mais rápido…

Levantei-me do sofá sem pressa, não compreendendo muito minhas próprias palavras: uma idéia estava surgindo em minha mente e, como se tivesse medo que Joe pudesse descobri-las apenas por estar pensando nelas, tornei meus movimentos milimetricamente calculados. 

Afastei-me com lentidão, e quando cheguei às escadas, ouvi a voz de meu pai me chamar:

— Filha?

— Pai? — Perguntei, virando meu rosto para conseguir olhá-lo.

— Não apronte nada, por favor. — E, percebendo minha indignação por sua desconfiança, explicou: — Eu te conheço, Caitlin. Você não era de desistir tão fácil assim… Espero que o acidente tenha lhe dado um pouco de juízo.

Dei risada de sua fala, balançando a cabeça de um lado para o outro como se encarasse aquilo apenas como uma mera brincadeira, longe da realidade. Virei-me para as escadas e subi aparentemente cansada os primeiros degraus. Demorei a chegar no segundo lance de escadas, mas, assim que percebi que Joe já não me tinha mais em vista, corri para o meu quarto em um piscar de olhos.

O acidente havia me dado muitas coisas… Mas juízo definitivamente não era uma delas.

Peguei algumas almofadas que estavam no chão e as coloquei sob o cobertor da cama: uma menor no topo, uma alongada no meio, e outras duas mais embaixo. Corri para apagar a luz e fechar a porta do quarto. Minha obra de arte havia ficado incrivelmente… Enganadora. A iluminação que entrava através da janela dava às almofadas a minha silhueta e, se meu pai não acendesse as luzes, o plano daria certo.

Peguei meu celular de cima da cadeira: 18h055min, Nancy já havia chegado.

Guardei-o no bolso esquerdo de minha calça jeans. Vestia roupas simples: camiseta de manga comprida preta, com um jeans já desgastado e um all star. Meu cabelo, antes preso em um coque, havia se desmanchado em ondas desfeitas ao correr para meu quarto, e decidi que assim o deixaria. Por sorte já havia me arrumado, não contava que meu pai me prenderia em casa naquela noite, e logo que reparei que estava pronta para ir, continuei com o plano de fuga.

Empurrei o vidro da janela para cima, e, com um pouco de dificuldade para não fazer barulho, passei por ela até chegar ao telhado. Tentando não me desequilibrar, percorri-o até encontrar a varanda do andar de baixo e, com um pouco de medo, pendurei-me sobre ele, deixando minhas pernas penderem, até que meus pés conseguiram achar a cerca de madeira da varanda. Soltei minhas mãos do telhado ao me apoiar sobre a madeira e logo estava no chão. 

Precavendo-me para não aparecer em nenhuma janela e ser pega por Joe, procurei pelo carro de Nancy, e logo que o avistei parado na casa vizinha, corri para lá.

— O que você acabou de fazer?! Você pulou do telhado! — Nancy gritava inconformada assim que entrei em seu carro e fechei a porta: — Calma, você está fugindo?! Caitlin!

— Não! Não… — Disse, tentando acalmá-la: — A porta da frente estava… Emperrada.

— E aí você achou uma boa idéia descer pelo telhado?! — Continuou, mas dessa vez mais calma, como se aos poucos aceitasse a situação: — Ótimo, eu estou com uma foragida no meu carro…

Antes de conseguir responder, comecei a rir da reação exagerada de Nancy e, sem perder mais um minuto, partimos em direção ao John’s.

XXX

As luzes neon do lugar confundiam a minha vista.

Como da outra vez, o John’s estava lotado. A música alta inundava o local em uma sensação de caos contido, às vezes dando lugar ao som das bolas de bilhar e dos fliperamas espelhados pelas extensas paredes.

Nancy e eu havíamos nos separado. 

Jake e Gabriela não atendiam seus telefones, enquanto Tyler havia dito que estava por ali, só não conseguia nos encontrar no meio da multidão, assim como nós em relação a ele. Então decidimos nos separar, assim conseguiríamos encontrar Tyler mais rápido e, quando o encontrássemos, marcamos que iríamos para a frente do banheiro feminino.

Estava passando pelas mesas de sinuca.

Algumas garçonetes pediam para que os jogadores tirassem suas bebidas de cima da mesa de bilhar, já que muitos copos eram derrubados ao chão quando estes tinham de afastar o taco para realizarem suas jogadas. Encurralada ao lado de uma mesa por conta da multidão, senti uma dessas bebidas sendo derramada no meu tênis, e, ao meu lado, um rapaz que havia sido acertado em cheio pelo líquido começava uma briga com um dos rapazes que jogavam.

— Hei, você me acertou! — Gritou ao meu lado, empurrando o ombro do jogador e depois recuando novamente.

Eles então começaram a trocar xingamentos, e algumas pessoas já paravam para assistir o que estava acontecendo.

Tentei ir para trás, ou para os lados, com medo de que aquela briga se tornasse mais séria. Estava claro que os dois não estavam em um bom estado, provavelmente por causa do álcool e, com a música alta e a confusão criada pelas pessoas que formavam uma plateia ao redor deles, estava certa de que aquilo não poderia acabar bem. 

Mas estava ali, presa, no meio da briga dos dois, e não conseguia sair.

O que havia sido acertado berrava contra o jogador, que deixou seu taco cair na mesa e se virou para tirar satisfações com o encrenqueiro de maneira mais concisa. Como se para piorar minha situação, quando a multidão que me impedia de sair dali percebeu que realmente teria uma briga, se acumulou ainda mais para incentivar a discussão.

E então, tudo aconteceu muito rápido.

O jogador, enfurecido pelos xingamentos jogados contra a sua cara, ergueu seu braço, fechando seu punho com a maior força que conseguia reproduzir. Por estar no meio dos dois, vi seu murro se aproximando de meu rosto. Fechei meus olhos, já imaginando qual seria a reação de Joe ao ver sua filha, que pensava estar dormindo, chegando em casa com pelo menos um nariz quebrado.

A multidão estava indo a loucura com o repentino movimento do jogador, e eu, de olhos fechados, consegui sentir tudo isso em um átimo de segundo. Meu corpo estava tenso, meu rosto, um pouco de lado por mero reflexo, retorcido; e fiquei paralisada ali, apenas esperando para ver o que aconteceria.

Mas nada aconteceu.

Não senti seu punho estralar em meu rosto, muito menos algum tipo de dor.

A platéia formada havia parado de gritar palavras de briga, e um silêncio contido as tinha substituído. Ainda com os olhos fechados e uma expressão contorcida, tentei relaxar os músculos da minha face antes de fazer qualquer coisa.

Abri os olhos.

A mão fechada do jogador ainda estava próxima ao meu rosto, mas outra mão a cobria, deixando-a imobilizada no meio do caminho. Costas largas cobertas por uma camiseta preta impediam parte da minha visão sobre o que estava acontecendo, conseguia apenas ver o rosto de arrependimento por parte do jogador. 

Meu defensor então atirou a mão do rapaz para longe e, com força, mas sem aparentar a mínima dificuldade ou comoção, empurrou-no contra a mesa de sinuca. Com tranquilidade e mansidão, ele tirou os olhos do desordeiro e se virou para mim. 

A multidão, que agora apenas observava, não ousava reproduzir som algum.

Ele então deixou seu rosto pender calculadamente para o lado, enquanto um sorriso malicioso sutil aparecia no canto de seus lábios; mas este sorriso era apenas impresso por ele, não era cordial, muito menos amigável. Era um sorriso perigoso. E seu olhar de um verde profundo e audacioso… Irresistível.

Heath.

No mesmo momento, entendi o porque de eu querer tanto ir até o John’s naquela noite: “Se você quiser realmente saber, eu vou estar no John’s, provavelmente de sexta à noite…”.

Ainda confusa com o que havia acabado de acontecer, não consegui dizer uma só palavra. Heath, ao contrário, parecia capaz de tirar qualquer palavra de minha boca e tornar sua, com o seu jeito arrogante e irreverente típico.

A plateia o assistia paralisada, como se curiosa demais com o que ele faria a seguir para simplesmente seguir seu caminho. O jogador era amparado por alguns amigos na mesa de bilhar, que perguntavam se estava tudo bem, enquanto o outro desordeiro já não estava mais ali ao meu lado.

— Caitlin… — Ouvi Heath sussurrar com um sorriso insinuante, como se me cumprimentasse.

— Heath. — Respondi com um sorriso discreto, inesperado e curioso.

Ele então pegou minha mão, levando-na até seus lábios. Depositou nela um demorado beijo, não interrompendo nosso contato visual. Seus olhos pareciam pegar fogo, e ao mesmo tempo congelava qualquer tentativa de compreendê-los — Igualmente estava meu corpo, da cabeça aos pés, com ondas de calor trespassando impiedosamente, e arrepios que tentavam controlá-las.

Sem dar nenhuma satisfação, Heath jogou um último olhar contra mim, insinuando novamente algo; e então se afastou, saindo daquela bolha formada pela multidão, que agora já se desfazia.

Por alguma razão, parecia estar me convidando para acompanhá-lo.

Tentei o seguir com meus olhos, mas as pessoas ao meu redor eram mais altas que eu, e assim tampavam minha vista. Passei por algumas brechas de espaço e fui levada para outra, e no final, acabei perdendo-o de vista.

Foi quando senti alguém segurar meu braço.

Virei assustada, esquecendo-me de que ainda estava ali, no John’s, procurando e sendo procurada por alguém.

— Tyler! — Gritei, segurando em seu braço da mesma forma como segurava o meu, assim não seríamos separado pela multidão: — Você me assustou!

— Caitlin! Foi mal… Ouvi os gritos de que estava tendo briga, tentei chegar a tempo para ver, mas… Acho que hoje não tem diversão para mim. — Respondeu com um sorriso, fingindo-se de chateado ao citar que havia perdido a briga: — Você viu o que aconteceu? Alguma coisa?

Por um momento, refleti sobre o que devia responder. E então, balançando a cabeça de um lado para o outro, fingi-me desentendida:

— Nada… Não vi nada. Foi mal.

“Nada…”, pensava comigo mesma, ainda balançando a cabeça para Tyler: “Nada, além de quase ter levado um soco no nariz e ter sido salva por um cara que tinha certeza que há algum tempo seria capaz de matar pessoas. E talvez ainda seja.”.

— Nós temos que ir para o banheiro feminino, Nancy está nos esperando lá. — Respondi quase ao seu ouvido, já que a música era ensurdecedora.

— No banheiro feminino? Já estamos nesse estado de intimidade, Caitlin? — Tyler brincou também ao meu ouvido, e antes de dar um tapa em seu ombro, confesso que ri: — Quem teve a brilhante ideia de marcar a reunião aqui no John’s de qualquer jeito?!

— Eu tenho quase certeza de que foi você mesmo, Tyler…

— Oh. — Ele respondeu, parecendo se arrepender de ter escolhido o local: — Vocês não deviam me ouvir sempre. Na verdade, talvez vocês não devessem me ouvir nem de vez em quando.

Ri de sua fala. Tyler era um garoto legal, divertido… Ter sua amizade parecia tornar tudo mais leve e engraçado.

— Bem, vamos? — Perguntei, depois de alguns segundos passados em silêncio, e ele se colocou a andar.

Por ser muito mais alto que eu, foi na frente, abrindo caminho entre o mar de gente. Passamos pelas mesas de madeira do centro, altas e com banquinhos de metal compridos, repletas por clientes, e chegamos até o bar. Tyler pediu uma bebida que não consegui reconhecer, e eu pedi um drink de chocolate — estava realmente quente ali dentro.

Antes de continuarmos o percurso até o encontro de Nancy, algo me chamou atenção no canto esquerdo do estabelecimento. Ou melhor, alguém.

Heath cumprimentava um rapaz magro, alto e com uma aparência assustadora; e inclinou o queixo para saudar quem o estava acompanhando, inclusive três garotas que não tiravam os olhos de cima dele. Desceu então por uma escada, que até então não havia reparado, mas devia levar a um piso inferior, e sumiu novamente de minha vista.

— Caitlin? — Ouvi Tyler perguntar ao meu lado, tentando encontrar o que eu estava olhando: — Você está parecendo comigo quando olho para a Benson… O Jake está aqui?

— Há-há. — Respondi sarcástica, ignorando sua brincadeira em relação a Jake. Foi então que eu avistei, no canto direito extremo do John’s, Nancy acenando de uma mesa de madeira, juntamente com Benson: — Achei elas!

Fomos com certa dificuldade até a mesa.

Nancy vestia uma camisa salmão, e em seu pescoço, um lenço azul claro. Estava com o cabelo preso em um coque malfeito, e seus óculos grossos davam um ar de seriedade e compromisso, terminando em uma calça jeans clara e tênis também de cor salmão. Já Gabriela atraía a atenção de todos para si, com uma blusa de crochê cropped creme, toda rendada de manga comprida, completada por uma saia preta curta e bufante. Seu cabelo loiro comprido e gloss brilhante nos lábios, a deixavam como uma Barbie. Mas quem conhecesse ela direito poderia garantir que Gabriela Benson estava mais para Annabelle.

— Eu odeio admitir… — Comecei a falar, me sentando ao lado de Benson: — …Mas gostei da sua blusa.

— E eu odeio admitir, Cait-Caity… — Gabriela retrucou, já pegando algo dentro de sua bolsa: — Mas os seus lábios gritam por uma cor! Você não aprendeu nada comigo quando saímos para comprar vestidos? Sério?!

E então, sem mais nem menos, ela me pegou pelas bochechas, forçando-me a fazer um biquinho, e passou um batom em meus lábios. Pude reparar que a cor era de um vinho vibrante, e fiquei na dúvida se ficaria bom; mas quando ela terminou de passar, pude reparar por sua expressão que estava orgulhosa do resultado.

— Agora sim! — Exclamou Gabriela batendo palmas, e sabia que não eram para mim, e sim para ela mesma.

— Cara, essa foi a cena mais sexy que eu já vi em toda a minha vida… — Tyler disse boquiaberto, referindo-se a Benson segurando minhas bochechas.

Rimos, e Nancy deu um soco no ombro de Tyler.

Foi quando senti um beijo em minha bochecha, estalado por alguém atrás de mim. Virei meu rosto e dei de cara com um par de olhos azuis claros. Jake sorriu para mim, e eu sorri para ele; mas logo mudei meu olhar de direção, não querendo causar problemas com Gabriela.

— Jake! Finalmente! — Nancy comentou, já cansada de ter que ficar no John’s por mais do que alguns minutos: — Vamos conversar logo sobre o trabalho?

E então Nancy começou mais um de seus monólogos.

O som da música era alto, de maneira que tivemos de nos aproximar para conseguir ouvir tudo com exatidão. Decidimos que falaríamos sobre o que os sentimentos fazem com nossos corpos biologicamente; por votação, decidimos quem ficaria com o quê: eu ficaria com o medo e o amor, Nancy ficaria com o orgulho e a depressão, Tyler com a tristeza e a ansiedade, Jake com a raiva e a felicidade, e Gabriela Benson, ironicamente, com o desgosto e o desprezo.

Ao final da designação do grupo, eu já havia tomado todo o meu drink.

— Busquem o que esses sentimentos atingem, e então como atingem. Acho que o tema ficou bem legal, temos chances de ganhar os dois pontos! — Nancy terminou de explicar confiante, e então, pegando o caderno que havia trazido consigo, reclamou: — E eu, se ficar mais um minuto nesse lugar, tenho chance de morrer.

— Você já vai? — Perguntei, terminando de anotar o que tinha de procurar para o trabalho no meu celular.

— Já… Está ficando tarde. Você quer carona?

Olhei para o relógio do meu celular, que marcava 20h40min. Estava ficando realmente tarde, ainda mais porque eu não fazia a menor ideia de como voltar para o meu quarto sem ser descoberta por meu pai.

— Por favor… — Falei para Nancy com um sorriso tímido; sabia que ela não gostava muito de me dar carona.

— Você pode ir comigo se quiser — Ouvi Jake me oferecer gentilmente: — Não seria incômodo algum.

— É, fica Caitlin! — Tyler apoiou e, passando seu braço pelo ombro de Benson, brincou: — Aí teremos um encontro duplo…

— Eu e Jake, você e Caitlin? — Gabriela respondeu ácida, retirando o braço de Tyler sobre si.

— O contrário também serve. — Tyler respondeu, piscando para a loira.

Ri dos dois, e comecei a pensar se ficaria ou não.

Estava me divertindo com eles; o ambiente estava legal e a música havia se transformado em um misto de Green Day e Blink 182. Não sentia vontade de ir embora, e também não seria prudente chegar em casa antes de ter certeza de que meu pai estaria dormindo.

Agradeci Nancy pela oferta, e acabei recusando a carona. Fiquei feliz com o sorriso que Jake abriu ao saber que iria com ele.

Ficamos então os quatro conversando, bebendo e rindo dos ataques que Gabriela tinha com Tyler. Fazia tempo que não conversava tanto assim, tão leve e descontraída sobre os assuntos mais diversos. 

Após o que me pareceu mais ou menos uma hora, Benson me cutucou de lado, perguntando se queria ir ao banheiro com ela. Concordei em ir, afinal sentia que aquele convite era mais para ter certeza de que eu não ficaria a sós com Jake do que por ter a minha companhia, e não queria arrumar confusão.

Enquanto Gabriela entrou no banheiro feminino lotado, eu fiquei do lado de fora, apoiada contra a parede de tijolos dos fundos. Observava as pessoas que transitavam por ali: alguns casais tentavam achar um espaço mais reservado, e conversavam a sussurros; outros transeuntes, sozinhos, divertiam-se com copos de tequila na mão, e sorriam sem motivo algum.

Meus olhos então foram atraídos para o outro lado do salão: ali estava a escada para o piso inferior.

Um sentimento estranho começou a crescer em mim. Por alguma razão, sentia vontade de ir até lá — Não para ficar, de jeito algum. Sentia medo e receio de entrar em um ambiente tão particular como aquele, principalmente sabendo que Heath estaria lá. Mas não conseguia conter o meu desejo de descobrir um pouco mais sobre o local.

Talvez uma leve olhada não fizesse mal a ninguém.

E então, garantindo que Benson ainda estava no banheiro, e que Jake e Tyler não conseguiam me ver de onde estavam, comecei a cruzar o salão.

Rumo ao primeiro degrau.


Notas Finais


Críticas, elogios ou reclamações serão muito bem aceitos e amados :)


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