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História Is burning - Capítulo 1


Escrita por: porfircah

Capítulo 1 - Capítulo 1


Fanfic / Fanfiction Is burning - Capítulo 1

• DARI •

 

 

Olho ao redor e demoro a identificar onde estou, está muito escuro. Um escuro bom, um escuro familiar.

Sinto conforto ao respirar o ar puro, solto um suspiro que não sabia que estava guardando e ainda tento identificar onde estou, e noto que nunca havia estado em um lugar assim. Um pouco na frente vejo uma mulher e noto que ela está virada de frente pra mim, em um vestido comprido cinza e amarrotado, como um saco de batata bem velho. Seu cabelo parece sujo e sem vida, mas no momento em que fixo os meus olhos nesses detalhes vejo que ela me olha no fundo dos olhos esboçando um sorriso, e nesse exato momento prendo a minha respiração finalmente a reconhecendo. Ela está aqui! Eles estão aqui!

Não me contendo de tanta emoção vou correndo até ela e num impulso abraço-a, mas ela não me abraça de volta calorosamente.

Ela está tão fria.

- Você está aqui! Senti tanto a sua falta, mãe.

Ela me dá um sorriso meigo.

- Não vai cumprimentar o seu pai?

Olho em volta, mas não o vejo.

- Onde ele está?

- Você deveria saber, pois foi você que o mandou pra cá.

Opa, o quê? Congelo com suas palavras. Eu nem sabia onde estava como poderia mandar alguém pra cá?

- O que quer dizer com isso?

Em um primeiro momento ela me olhou com compaixão e um misto de tristeza, que logo passou para uma expressão de decepção e desapontamento.

- Filha, quando vai ver que isso tudo aconteceu por sua culpa.

Puta merda. O que essa mulher tá falando? Eu não me lembro de ter feito nada.

- Mãe, eu não estou te entendendo.

Seus olhos antes meigos agora transbordavam decepção, desgosto e raiva.

- Não me chame de mãe.

- O que?

- Parei de ser sua mãe a partir do momento em que você nos abandonou.

- Eu nunca abandonei vocês! Dá pra explicar porque você está falando isso?!

- Você não mudou nada, Dari.

Meu Deus! Essa mulher tá louca. Não estou entendendo nada com nada.

- Jesus, porque você não me explica o que está acontecendo?

Ela não parava de me encarar e deu um sorriso irônico apontando ao seu redor.

- O que você vê?

Olho a minha volta e vejo apenas escuridão, algumas sombras sinistramente esquisitas e tenho a impressão de ouvir gritos agonizantes em algum lugar bem longe daqui. Deve ser coisa da minha imaginação fértil.

- Onde estamos?

- O QUE VOCÊ VÊ?

Ela está surtando. O que eu faço?

- Nada, meu Deus, não vejo absolutamente nada.

- Pelo jeito você não é capaz nem de reconhecer o seu coração, não é mesmo?

Isso não é possível. Não pode ser possível.

- Está dizendo que estamos no meu coração? Está muito escuro e frio aqui.

- Foi o que você se tornou.

- Por quê?

- Porque nos matou.

 

•••

 

Acordo num pulo e não consigo enxergar nada. Puta merda, não é real. Não pode ser real.

Tento identificar onde estou e sinto que estou deitada numa superfície macia, na minha cama, coberta de suor na escuridão do meu quarto. Sento e espero meus olhos se ajustarem a escuridão, conseguindo assim identificar minha escrivaninha lotada de papéis e meu roupeiro. Está muito abafado aqui.

Levanto e vou até a janela em busca de ar fresco. Tiro a cortina da frente e fico surpresa em ver que ainda é noite lá fora. Puxo o trinque da janela e a empurro para cima tentando abri-la para o máximo possível de ar puro inundar o quarto. Logo uma brisa refrescante me invade e respiro fundo enchendo meus pulmões até o limite que eles suportam e reprimo um suspiro pesado.

As imagens do sonho voltam como correntes, me percorrendo por inteira e sinto uma tristeza indefinida.

Sinto falta de casa.

Sim. Nunca pensei que fosse realmente sentir falta da minha antiga casa, a casa onde cresci, rodeada de lembranças que traziam sorrisos, tristezas e segredos. Como eu sinto falta disso... Porém, mesmo que eu voltasse pra casa, à tristeza me dominaria completamente. Aquela casa não era mais minha. As pessoas que lá antes habitavam tinham ido embora, e tinham me levado junto. Pra sempre.

Por isso agora tenho que parar de pensar nisso e voltar pra cama. Olho a hora no relógio do lado da cama e vejo que já são 5h40 da manhã.

- Argh! Nem vale a pena voltar a dormir.

Decido tomar um banho e chegar mais cedo no hospital. Quanto mais cedo me distrair e começar a trabalhar melhor.

Saio do quarto de pés descalços e vou até a varanda pegar a minha toalha. Se minha mãe me visse agora de pés descalços no chão gelado eu com certeza iria levar um sermão sobre nunca andar assim sobre o piso, penso e sorrio com a lembrança. Mas o sorriso não durou dois segundos e logo já me senti extremamente vazia novamente. Ela não está aqui.

Com isso no pensamento, faço o caminho de volta ao quarto mais apressadamente, ligando as luzes logo quando entro. Vou até o roupeiro e pego sutiã e calcinha pretos na primeira gaveta, uma regata branca que está em cima da cadeira e entro para o banho. Nem espero a água esquentar e já entro. Uma sensação de relaxamento toma conta do meu corpo me causando um arrepio muito bom. Pego o sabonete e começo a me lavar bem devagar pra poder relaxar ainda mais, massageando meus ombros. Pego o shampoo logo em seguida e massageio meu coro cabeludo. Caralho! Como isso pode ser tão bom?

A água começa a amornar, os vidros ficam embaçados e me fito no reflexo da porta de vidro do box do banheiro. Fito meus olhos castanhos e eles parecem mais confusos do que o normal. Deixo escapar um suspiro e resolvo terminar logo o banho. Passo o condicionar e deixo agir por alguns minutos enquanto me depilo. Logo o enxáguo.

Desligo o chuveiro, pego a toalha e me seco dentro do box mesmo. Visto as roupas e saio com a toalha no cabelo. Vou até o roupeiro pra escolher uma calça optando por um jeans azul escuro, coloco meu all-star preto e pego minha jaqueta de couro preta do cabide. Quem me ver na rua nem imaginaria que sou uma enfermeira.

Visto a calça jeans e vou até o espelho do banheiro pra pentear o meu cabelo, prevejo ele bem armado no meio do turno hoje, mas estou com preguiça de alisá-lo. Ainda tenho tempo, o meu turno só começa às 8h, então decido descer e passar um café. E nem sei por que decido fazer isso, nem gosto de café. Que se dane.

Caminho apressadamente até a cozinha fazendo um barulho absurdo no assoalho como sempre e sinto que hoje a Dona Judite vai comer meu fígado pelo barulho que estou fazendo nessa "hora da madrugada" conforme ela costuma dizer. Não me importo muito, mas não quero ter que ouvi-la falar de novo sobre bons modos que eu deveria ter, por isso decido não ligar a televisão. Ela deveria ter comprado o seu apartamento em outro andar, se bem que de nada adiantaria, consigo sentir quando o cara debaixo caminha sobre o assoalho da cozinha, imagina o barulho que uma televisão faz quando ligada então. Ela que se dane também, se não gosta de ouvir meus barulhos matinais (ou seria madrugadais? Isso existe?) não posso fazer nada.

Passo meu café, sirvo ele em uma xícara e me sento na bancada da cozinha. Fico batucando com meus dedos criando uma melodia estranha esperando a hora passar. As juntas dos meus dedos começam a ficar vermelhas e a doer e logo me vem o pressentimento que vai chover, minha mãe que costumava falar sobre esses pressentimentos. Outro suspiro. Tenho que tirar ela da minha mente, porque se não tirá-la não vou conseguir trabalhar direito.

Ainda está escuro lá fora, as nuvens carregadas mostram que talvez eu esteja certa sobre o tempo. O que seria um milagre, pois aqui em Los Angeles nunca chove.

Largo a xícara na pia da cozinha e volto até o quarto pra escovar os dentes e pegar o resto das coisas que preciso. Entro no banheiro, pego meu jaleco azul, minha calça azul e minha alpargata branca, essas roupas não fazem bem o meu estilo, mas tenho que trabalhar com elas. Coloco tudo na mochila, inclusive a minha escova de dente depois de me escovar. Volto para cozinha, pego uma maçã da fruteira pra comer na hora do almoço, visto minha jaqueta de couro e pego meu capacete que está sobre a bancada da cozinha. Pego minhas chaves e me dirijo para o corredor do apartamento fechando a porta e trancando-a logo em seguida.

Ouço os passos da Dona Judite no apartamento ao lado e me sobe um desespero. Droga, não quero vê-la. Então corro em direção à escada de emergência fazendo mais barulho do que pretendia. Merda, agora ela sabe que tentei fugir dela. Vamos seguir com o plano de fuga.

Desço as escadas correndo de dois em dois degraus, em direção à garagem pra pegar a minha moto, apesar de que com certeza vai chover pouco me importo de dirigir assim. Vai ser bom pra refrescar as ideias.

Coloco o capacete, monto na moto, ligo-a e me preparo para dar a partida. Abro o portão da garagem e saio em disparada. Na rua, o vento me refresca, mas mesmo assim não gosto muito dele. Prefiro o calor escaldante do sol.

Vou desviando dos poucos carros que estão saindo a essa hora das suas respectivas casas. Logo chego ao hospital Cedars-Sinai onde trabalho há uns quatro anos como enfermeira na UTI, paro a moto no estacionamento e desço retirando o capacete. Dou uma olhada na hora e ainda tenho uma hora até o meu turno começar. Decido então entrar pra fugir do vento que bagunçava os meus cabelos que já não estavam em um bom estado.

Entro na recepção e lanço um sorriso que não alcança os olhos pra Caroline e Sam que trabalham naquela área, elas estavam acostumadas comigo chegando bem antes de começar o meu plantão. Não falo bom dia, espero que meu sorriso forçado tenha dito isso por mim. Entro no vestiário e começo a me arrumar pra trabalhar. Depois de vestida, prendo o meu cabelo em um coque desarrumado e vou andando de volta a recepção pra tomar um copo de água.

Avisto com o canto dos olhos o Dr. Sanders andando na minha direção. Ele é o "chefe", meu chefe pra ser mais específica. Será que hoje vou ser demitida?

- Bom dia, Dra. Lenz.

- Bom dia, mas não sou Doutora, Dr. Sanders - Dou-lhe um sorriso irônico, mas ele sabe que estou apenas brincando e rindo da cara dele, logo depois faço uma careta por ter escolhido essas palavras, que patético. Depois dessa brincadeira com certeza serei demitida. - Posso ajudá-lo em algo?

- Na hora do seu intervalo pode vir até meu escritório? Quero falar com você sobre algumas coisas e sobre a convenção que terei que ir ao fim de semana.

- Com certeza.

Com certeza vou ser demitida.

- Ok, bom trabalho. Te pago pra dar o seu melhor.

- Por isso estou aqui. - Respondo querendo mandá-lo se ferrar.

Nunca brinquei em trabalho, nunca espero algo em troca, mas mesmo assim sempre sou cobrada, eles talvez não entendam que eu quero apenas salvar quem eu puder. Já que não posso mais me salvar. Uma das poucas qualidades que eu tenho não me distrair no trabalho com certeza é uma delas.

 

 

•••



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