História Is It Love? G. 💌 - Cristal

Já é meia-noite quando decido me deitar. Vamos ver o que vai acontecer amanhã, por agora eu preciso de uma boa noite de sono!

Quando levanto, vejo a Cristal estirada diante da porta em um estado lamentável. A pobrezinha vomitou de novo e não tem forças nem para vir me ver. Preciso cuidar dela!

- Meu amor...

A pego nos braços com muito zelo. Cristal parece estar tão mal. A sinto mole, como se não tivesse força alguma. E agora? Preciso estar na empresa dentro de 1 hora! Nem cogito a hipótese de deixá-la aqui sozinha. Sem chance! Não tenho ninguém de confiança para ficar com ela... Só se eu passar em algum veterinário no caminho para o trabalho. Infelizmente ainda não tive tempo para pesquisar algum, mas eu já vi vários pelo trajeto.

Depois de limpá-la, eu procuro nas minhas coisas uma bolsa de esporte e olho para minha pobre gatinha. Sei que você não vai gostar, mas não temos escolha. Coloco uma manta no fundo da bolsa para que fique bem quentinha e confortável. Depois pego a Cristal com muito cuidado e a ajeito lá dentro. Como ela é muito educada, não reclama. Talvez ela entenda que é para seu próprio bem.

- Você vai ver, você vai ficar muito bem. - digo otimista.

Fecho a bolsa, mas não totalmente, e vou me arrumar. Sem tempo para pensar, eu visto novamente o tailleur do primeiro dia de trabalho. Gosto dele porque me cai bem, fico bem vestida​, porém sem exageros. Não escuto nenhum pio. Quando volto, percebo que minha querida amiga já dormiu, dessa maneira facilitará tudo. Eu fecho a bolsa.

No caminho eu passo por 4 clínicas, todas fechadas! É muita palhaçada. Puta que me pariu! Nenhum hospital nessa merda! Já são 5h50min e eu ainda não sei o que fazer. Tenho dificuldade de pensar em algo diferente de esconde-la. Imagino a expressão de meus colegas quando descobrirem o que eu tenho dentro da bolsa... Na verdade é melhor que eles não saibam!

Na empresa, tão cedo, eu só vi a moça da limpeza e o segurança que felizmente não pediu para eu mostrar o que tenho na bolsa. O setor está completamente vazio, ao menos não tem ninguém para perceber a presença da Cristal. A coloco embaixo da mesa e noto que ela ainda dorme. Está tudo bem.

Ando até o escritório do Gabriel. Toda essa história com a Cristal me fez esquecer totalmente as preocupações com essa reunião de emergência, mas tudo volta de vez a minha mente.

Quando entro em sua sala, me sinaliza para que sente na cadeira diante dele. Pergunto-me como Gabriel pode ter uma expressão tão radiante entre as horas de trabalho e a vida noturna.

- Bom dia, Michelle! Te falei para vir mais cedo pois temos um projeto para terminar até o fim do dia.

- Do que se trata?

- Um cliente importante para o futuro precisa que seja organizado um evento com urgência. - Gabriel fita meus olhos incansavelmente e alguns segundos depois prossegue. - Precisará ficar focada junto com o Matt, prioridade número um... Trabalhei com esse cliente até tarde ontem, - ele diz, orgulhoso de si - eu o fiz sonhar mostrando nossos projetos super competitivos para que ele não vá à concorrência. - Gabriel me entrega os arquivos mostrando confiança. Entretanto a minha pergunta nesse momento é onde o Matt está.

- Ok, mas cadê o Matt?

- O enviei um SMS ontem mas ele não me respondeu... Conto com você para explicá-lo sobre o projeto, tá bom?

- Ok, eu farei isso assim que ele chegar. - Gabriel simplesmente concorda com a cabeça sem expressar um sorriso sequer. - Mãos a obra. - Me levanto calmante para sair de seu escritório, quando de repente.

- Essa roupa caiu muito bem em você... É... Você está muito elegante.

Uau! Tenho certeza de que fiquei vermelha de vergonha tão rápido quanto sobe o calor pelo meu corpo. Fico impressionada como um simples elogio como esse me causa todo esse efeito! E então eu me lembro qual é a mesma roupa que eu estava usando no primeiro dia, no mesmo dia que saímos para a Starlite. Como se terminada uma reunião totalmente normal e nenhum pouco estranha, Gabriel volta a trabalhar.

- Ah, obrigada. - Respondo por instinto. - Você também. - Eu adoraria tanto que esta situação não se tornasse ridícula, sério!

- Obrigado, Michelle.

Saio do escritório quase batendo a porta devido ao tanto que isso me desestabilizou. Será que eu entendi direito naquele dia enquanto a gente dançava?

De volta a minha mesa, continuo vagando em meus pensamentos. Começo a ter ideias, começo a questionar essa situação... E se realmente ele gostar de mim? Não, ele é apenas gentil. Apenas. Diz minha consciência. Me recordo do pesadelo que tive essa noite, dele me usando e todos rindo de mim. De qualquer forma, e acima de tudo, Gabriel é meu chefe, não posso ser levada pela imaginação de tentar algo sentimental com ele. Tudo isso me parece muito inapropriado! Porém, como se conversasse comigo mesma, me pergunto o que aconteceria de tão horrível se Gabriel e eu tivéssemos uma relação... Sem dúvida não suportaria os comentários dos colegas​! Levo minhas mãos a cabeça e respiro fundo. Necessito urgentemente parar de pensar nessas coisas ou não conseguirei fazer mais nada de útil na vida!

Vejo se a Cristal está bem. Ela dorme. Agora eu começo a abrir os arquivos que o Gabriel entregou a mim. Tomo um banho de água fria e volto rapidamente à realidade. Quanto mais eu leio essa papelada, mais eu me desespero. Isso é nada mais nada, menos que GIGANTE! Não sei se vamos conseguir dar conta de tudo o que é necessário de agora até o fim do dia. Me sinto completamente desamparada, sozinha, perdida! É a minha primeira missão e eu preciso me dedicar!

A hora passa e o Matt ainda não chegou. Decido entrar em contato com ele, estou desesperada.

Oi, Matt, é a Michelle, bom dia! Estou na empresa, temos uma emergência aqui. Vem rápido, por favor!!!

Depois de alguns minutos meu celular toca. Resposta do Matt:

Estou saindo de casa. Chego aí em 10 minutos.

Ok, em 10 minutos ele estará aqui e vamos trabalhar juntos nessa! Não quero de forma alguma passar meu nervosismo para meu colega de trabalho, mas estou inquieta por ele ter ignorado o SMS que o Gabriel nos mandou ontem.

Diante da quantidade de trabalho, eu decidi enviar um e-mail ao meu gerente. Sinceramente, acho que não temos tempo suficiente, será complicado cumprir o que nos foi proposto. De Michelle Youmine Suzie para Gabriel Simons:

Bom dia, sr. Simons

Dando continuidade à nossa última reunião, ao analisar os arquivos pude perceber que o tempo é curto, será difícil entregar o projeto dentro do prazo proposto.

Atenciosamente,

Michelle Suzie

Assistente de Comunicações

Código 0955

Sua resposta é quase imediata e me deixa sem espaço algum para argumentos. De Gabriel Simons para Michelle Youmine Suzie:

Olá, Michelle

Grato pelo seu contato. Permaneço confiante em você e em seu trabalho. Conto com seus esforços para a realização dos objetivos estabelecidos.  O tempo é muito relativo e as urgências são, simplesmente, o nosso pão de cada dia nas Empresas Carter.

G.S.

Não poderia esperar uma resposta diferente vinda de um homem como ele, está mais do que claro que eu não devo decepcioná-lo...

No momento em que vejo o Matt sair do elevador, sinto que tenho uma bomba pronta para explodir e para causar vários danos.

- Oi. – digo tentando me controlar ao máximo.

- Oi, gata! O que está acontecendo por aqui? Que cara é essa?– Matt esboça o seu belo e habitual sorriso. Quero lhe explicar logo sobre todo o trabalho, mas ao mesmo tempo não quero ser rude, ele mal entrou no salão. Mantenha a calma.

- Tive uma noite bem curta, estou sem energia...

- Ah... Foi para a farra? – seu olhar fica zombador e sua sobrancelha se ergue. Reviro os olhos.

- Não, Matt, os vizinhos foram bem respeitosos... você provavelmente não deve ter visto a mensagem do Gabriel, mas eu cheguei na empresa às 6hs hoje.

- Que mensagem? - o meu colega aperta a testa sem saber do que se trata.

- Gabriel nos enviou uma mensagem ontem à noite para que chegássemos mais cedo essa manhã.

- Sério? Não recebi nada! - Matt levanta uma das sobrancelhas e balança a cabeça levemente de um lado para o outro. Eu não faço ideia de quem esteja mentindo, mas algo me diz que não é o Matt.

Decido não ficar enrolando com essas histórias e o coloco a par do projeto para que comecemos a trabalhar logo.

- Poxa, Michelle! Acho que coloquei a minha camisa ao contrário e estacionei a moto de qualquer jeito na vaga. Você me assustou, eu pensei que fosse algo muito grave!

- Mas é muito grave! - Matt me encara como se dissesse "sério isso!?!?" - Ok, foi mal... Eu entrei em pânico, tá?

- Relaxa, o papai chegou e tudo vai ficar bem agora! - ele me lança seu sorriso mais encantador e eu fico pensando como ele consegue fazer isso em plena segunda-feira e a essa hora da manhã. Me contento em não responder a sua piadinha, apenas dou um sorrisinho de lado.

- Na moral, Michelle, isso é muito recorrente por aqui, estamos sempre a mil por hora e não podemos perder nenhum cliente. - Fico em silêncio concordando com a cabeça, ele está certo, eu sou muito ansiosa mesmo. Matt dá mais uma olhada nos documentos que Gabriel me deu e conclui sua fala. - Não vejo nada de impossível aqui. - Nada de impossível!? Será que ele olhou direito? - Nós vamos conseguir, basta ter tranquilidade e caminhar um passo de cada vez, ok?

- Miaaaaaauuu! - Matt dá um pulinho.

- Você ouviu isso?

- Isso o quê!? - Vejo discretamente debaixo da mesa, Cristal está me encarando com seus grandes olhos azuis. Com cuidado para que o Matt não perceba, eu faço um sinal para que ela não faça barulho.

- O que você está fazendo? - Matt está intrigado.

Preciso inventar alguma coisa rápido. Mas o quê? O quê??? - Eu deixei cair uma coisa aqui, eu... - Sinto que não é um bom momento para que meu colega saiba sobre o meu segredo, então me ajuda aí, Cristal, fica quietinha!

Observo várias pessoas se levantando, olho para o relógio do grande salão: 12:15hs. - Mas já?

- Está na hora de recuperar as forças, minha cara. - Lá está o Matt com seu sorriso de novo, ainda bem que não se atentou ao que ouviu, mas me preocupa já estar na hora do almoço e nós ainda não termos feito praticamente nada sobre o projeto!

- Não dá! Nunca terminaremos a tempo se sairmos agora!

- Ah, mas um Matt de estômago vazio, é um Matt insuportável, senhorita.

- Você não precisa estar de estômago vazio para ser insuportável, senhor. - provoco.

- E você que se transforma numa ogra? - a cara do Matt é de insatisfação.

- Ei, vocês estão indo almoçar agora? - Lisa aparece tendo um grande sorriso nos lábios.

- Justamente, Lisa, a gente... - Matt começa, mas eu o interrompo antes de terminar.

- Justamente, Lisa, não vamos almoçar fora hoje porque temos um projeto para entregar com urgência. Desculpa, fica para a próxima, tá?

- De boa! Bom trabalho para vocês! - Lisa sai andando para o elevador.

- Tá de brincadeira, né?

- Não... - Ignoro a cara de cu que o Matt faz para mim e foco exclusivamente no meu trabalho. Quando ouço uma voz familiar.

- E aí, mano? Bora lá no Bob?

- Eu.. - Matt está visivelmente tenso.

- Colin, o Matt está ocupado, sinto muito, mas hoje ele precisa ficar aqui comigo para terminarmos um projeto!

- Ah, oi, Michelle. - ele sorri para mim e vira novamente para o Matt. - Não sabia que você tinha uma mamãezinha para cuidar de você aqui na empresa...

Vejo Colin se divertindo e o Matt cochicha algo na qual eu nem me interesso em saber e depois ele sai. Dá para acreditar que somos requisitados por todos justo no dia que não podemos?

- Bom, vou pegar algo rápido para comer e trago pra cá. Você quer?

- Aham, compra qualquer coisa, pode ser o mesmo que o seu, contando que seja rápido mesmo.

- Beleza, vou pedir lasanha para nós.

Olho feio para ele que ri de mim enquanto sai da sala. Não me importa o que vou comer, estou sem apetite. Sou assim mesmo, quando quero muito fazer algo, não paro por nada até terminar. Vinte minutos depois, Matt retorna com dois sacos de papel.

- Trouxe dois sanduíches de salmão.

A verdade é que ele demorou mais do que eu esperava, mas não quero ser chata de ficar reclamando sendo que ele está me fazendo um favor.

- Muito obrigada!

- De nada, chefe. Seu desejo é uma ordem! - Matt abre um sorriso tão grande que seus olhos até se fecham. Não sei porque, mas penso que ele deve ter ensaiado essa frase desde o momento em que saiu daqui para comprar os lanches. Revira os olhos e mordo meu sanduíche. Às vezes sinto que eu sou muito maldosa, mas agora que já cheguei nesse ponto, é melhor eu não voltar atrás para não me contradizer. Passadas cerca de duas horas, Matt levanta uma de suas mãos como uma criança faria para sua professora.

- Diz aí, chefe, será que eu posso buscar um cafezinho?

Ele me enche o saco, estou ocupada demais para rir de suas gracinhas. - Faça o que quiser!

- Ah, eu trabalho para uma verdadeira carrasca. Vou reclamar com direção! - ele diz com sarcasmo.

- Ótima ideia, o Colin deve conhecer o caminho para lá, eu o envenenei um dia desses.

- Estou sabendo mesmo, você é tão perigosa!! - Matt fala a palavra "tão" bem devagar.

- Pois então vá logo pegar seu café, antes que eu perca a minha paciência.

- Sim, senhora! - Ele conseguiu me arrancar um sorriso mesmo com tanto stress.

Aproveito o momento sozinha para ver como é que está está. Abaixo para alcançar minha bolsa.

- Miaaaaaauuu

- Ótimo Cristal, continua assim. - Dou um beijinho em sua cabeça e ela ronrona.

- O que está fazendo, senhorita?

Eu tomo um susto e bato minha cabeça na mesa. Aiiii. Uma mulher jovem e maravilhosa me olha. Ela está vestida com tailleur que valoriza muito suas formas generosas e voluptuosa.

- Nada, eu só deixei cair uma coisa.

- Que coisa?

- Uma caneta.

- Miaaaaaauuu. - Não, Cristal, agora não...

- O que é isso? É um gato? - a mulher indaga com surpresa.

- O quê? Não, de jeito nenhum. Na verdade se parece um pouco, mas...

- Olhe em volta, por acaso a senhorita trabalha em um zoológico?

- Ela estava doente e... - Justifico-me.

- Isso deve ser uma brincadeira. - A olho com insegurança, claro que isso não é uma brincadeira. - Você vai levar... Essa... Esse animal embora daqui imediatamente. - A mulher fala com nojo.

- Sinto muito, mas eu preciso terminar um trabalho urgente, o senhor Simons não pode esperar. - Nesse momento seus olhos são pura maldade.

- Oi!

- Ah, oi, Matt, como vai? - o rosto da moça fica com uma expressão doce de repente. - Dê um pulo no meu escritório qualquer hora. - Seu olhar se volta para mim. - Quanto à você, não quero nunca mais vê-la com um bicho aqui dentro! - A mulher vira as costas e sai rebolando.

- Você tem um bicho aí? - Me olha chocado.

- É uma gatinha, se chama Cristal.

- Puta... Tu tá me zoando! - Matt acha graça e se aproxima de mim, depois abaixa para olhar debaixo da mesa. - Ela é tão linda! Oi, Cristal! - Cristal cheira um pouco seus dedos e depois aceita o carinho dele.

- Ela está doente desde o fim de semana e hoje de manhã estava muito mal, fiquei com muita dó dela. Pensei em passar na veterinária no caminho para cá, mas não achei nenhuma aberta tão cedo... - Explico-me.

- Sério? O que ela tem?

Penso se eu conto ou não a verdade ao meu amigo. Só então percebo que...

- Matt...?

- Quê?

- Sua mão... - Digo sem graça enquanto observo sua mão direita. O seu olhar segue o meu e então ele percebe e levanta num impulso dando vários passos para trás.

- Ai, Michelle! Desculpa, cara, foi mal mesmo, eu... Nossa! - Matt diz enquanto gesticula com as duas mãos.

- Ei, calma, Matt! - Levanto da minha cadeira e vou na sua direção em uma distância que em que eu consigo segurar seus ombros. - Calma. - Matt respira fundo e eu sorrio para ele. - Se você queria uma justificativa para colocar a mão na minha perna, era só me dizer. Será que assim vou quebrar o clima pesado? Acho que sim. Matt sorri e eu solto seus ombros e sento novamente olhando para a Cristal.

- E então, por que ela está assim?

- Acho que ela comeu muitos biscoitos e isso fez mal.

- Você deixou ela comer?

- Claro que não, eu nunca dou comida de gente para ela. Fiz aqueles biscoitos para trazer para o trabalho e deixei em um pote plástico sobre a mesa da cozinha, essa danadinha comeu tudo de madrugada... Só restou farelo, né, gulosa!? - Falo para a minha gatinha.

- Pera aí, você trouxe biscoitos e não me falou? - Não sei o que falar. - Poxa, você ficou realmente triste com a brincadeira do Colin no outro dia, hein?

- Não, bom... Na verdade eu só trouxe bolinho mesmo, o plano era trazer biscoitos amanteigados, mas como a Cristal comeu tudo, tive que recorrer ao que tinha no meu armário.

Matt se acaba de rir. - Michelle, você é hilária! Se você for tão boa na cozinha quanto é nas suas histórias, admito que, infelizmente, perdemos a chance de comer muito bem... - Ele me dá um tapinha no ombro como se fosse um de seus amigos, nem parece que há pouco estava com a mão na minha coxa.

- De qualquer forma, você acabou de salvar a minha pele com aquela...

- Você acabou de conhecer a nossa querida e amável Cassidy Sparke, uma verdadeira fera, mas também um docinho... - Faz uma pausa. - É a gerente de recursos humanos. - Conclui.

- Ah... Gerente, né... De RH, né... - Não sei se é pelo nervosismo do que acabou de acontecer, mas não consigo me segurar, não aguento conter a risada. - Hahahahaha... A gerente de recursos humanos!

- É... Digamos que ela mostrou trabalhar muito bem. - Nós começamos a rir como dois idiotas, o que me faz um bem fora do comum.

Vou buscar um pouco de água para dar a Cristal e, assim que volto, vejo que ela se entregou aos carinhos do Matt. Minha amorzinha bebe um pouco e volta a deitar na bolsa.

- Relaxa, minha mãe teve um gato que costumava comer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, até o chamávamos de Lixeiro... Basta seguir uma dieta por alguns dias e vai ficar boa novamente.

- Não me preocupo muito, é uma verdadeira guerreira e já passou por situações muito adversas, não teve mordomias no começo de sua vida.

- Ahhh, então é por isso que nos damos tão bem, eu e ela, a gente se entende! - Matt diz com tranquilidade.

Surpreende-me que ele se abra desse jeito, mas não quero dar uma de curiosa. - Bom, vamos voltar ao trabalho. Seria horrível se a Cassidy aparecesse e te visse assim, com a Cristal no colo.

- A Cassidy não me repreenderia!

- É... Do jeito que ela se transformou quando você chegou...

- Não precisa ficar com ciúmes, princesa!

Matt Volta para sua mesa enquanto eu me reinstalo na minha, sempre dando uma olhada embaixo da mesa. Se acontecesse algo com ela, acho que eu não superaria.

Ao abrir novamente os arquivos, minha mente continua a recordar da Cassidy. Cassidy, Cassidy. Já vi isso em algum lugar. Claro! A pasta do computador!

Depois de temer que a pasta tivesse desaparecido, eu sinto excitação por burlar as regras assim que a encontro. Sozinha e diante dos meus olhos. Me gritando de maneira ensurdecedora e ultrajante: "ME ABRA!" O que fazer, o que fazer? É claro que a Cassidy é uma vaca e é mais claro ainda que não é normal levar um gato para o trabalho... Mas fala sério! Para que o prazer dure mais tempo, eu olho as informações da pasta com um clique no botão direito: 421 MB distribuídos em 34 pastas. Certamente são fotos, talvez alguns vídeos! Um sorriso maquiavélico se forma em meus lábios. O que você esconde, senhorita Cassidy?

- Ei? Você está com uma cara bem estranha, o que tá aprontando?

- Quê!? ... Nada... Só trabalho mesmo. - Matt me olha de um jeito engraçado, ele deve pensar que sua colega tem problema mentais, provavelmente. Fecho rapidamente a janela e volto aos meus afazeres.

Um dia inteiro de trabalho duro, sem pausas. Supervisionei o Matt o tempo todo como se ele fosse uma criancinha e mediei suas pausas. Obviamente, toda vez que a Cristal se manifestava, ele me dava uma risadinha ou uma piada boba.

Já são 22hs quando eu libero o Matt e vou levar o projeto pronto ao Gabriel. Não me surpreende que meu gerente ainda esteja aqui trabalhando, na escuridão do seu escritório... Humm...

- Oi... Aqui está o projeto Voverdis, está tudo ok.

- Excelente! Pode deixar aí em cima, por favor, amanhã eu enviarei ao cliente no primeiro horário.

Ufa, tenho a impressão de conseguir falar uma frase sem gaguejar. Até que enfim eu digo algo sem parecer uma idiota! Quando dou as costas elegantemente ao meu interlocutor, ele me chama.

- Espere um segundo. - Me viro para ele. - Obrigado.

Gabriel levanta da mesa e vem na minha direção. No escuro, tenho a impressão de que o seu olhar mudou, está mais sombrio.

- Sabia que poderia contar contigo. Você nunca deve se desvalorizar ou se desmotivar. É a melhor funcionária que temos.

- Obrigada. - É a única coisa que consigo dizer, não quero parecer uma retardada.

Seu rosto está apenas alguns centímetros do meu, meu coração bate tão forte no peito que tenho a impressão de que vai explodir. Estamos absolutamente sozinhos, não há nenhum barulho e as luzes da cidade deixam o ambiente com uma atmosfera bem particular. Quando ele toca meus ombros, minhas pernas ficam moles e de repente me sinto fraca.

- Ei, você está bem? - Gabriel parece assustado, ele me segura com doçura colocando uma das mãos nas minhas costas.

- Sim... Apenas estou esgotada depois desse dia... - E se você pudesse parar de ficar me tocando com essas suas mãos grandes.

- Ah, claro... Quer que eu te leve para casa?

- Não!! - Respondi antes mesmo de pensar. Sozinha com ele em um lugar ainda menor seria inviável! - Vou andando, respirar ar fresco...

- Como quiser.

Quase fujo do escritório assim que o Gabriel me libera. Com certeza, depois dessa, não é só o Matt quem está me achando uma louca... Guardo minhas coisas e pego a bolsa onde é Cristal está, não quero cruzar com ele novamente.