História If we were together... (Sonadow) - Roubando Algo Roubado

“Afinal, por que estou aqui?” ele refletia consigo mesmo, por um triz de dar meia volta e ir embora.

Questionava-se o tempo todo. Por sua natureza, nunca foi de fazer favor por ninguém, de livre e espontânea vontade. Apenas se grana estivesse envolvida. Entretanto, aquilo era sua primeira exceção, e ainda tentava achar alguma explicação para aquela força de vontade de fazer algo para favorecer um outro alguém. Tudo parecia tão… instintivo.

Caminhando por um local escuro, apenas se localizava pelo simples fato de que já havia estado ali várias vezes antes. Se focava na suposta missão que tinha aceitado em concluir, embora a lógica já não se fazia mais presente.

De repente, algumas figuras negras apareceram à sua frente, como um borrão em um espelho. Enquanto mais se aproximavam dele, mais tinha a visão das supostas figuras que bloqueavam seu caminho. Ambos tinham algo em comum: eram musculosos, tinham largos ombros e levemente curvado pelo desgaste temporal, já que aparentavam ter entre quarenta e cinqüenta anos. Porque raios eles estavam ali como cães de guarda numa circunstância dessas ninguém poderia explicar. Utilizavam calças pretas, visivelmente rasgadas e surradas, um deles vestindo uma camiseta listrada, mostrando com orgulho o fato de que na realidade era um preso foragido. Já o outro, não utilizava nada para cobrir seu peito, talvez uma forma de intimidação, uma vez que seus músculos bem definidos eram a coisa primeiramente visível dentre todas as características do capanga. Utilizando de caras e bocas para intimidar mais ainda, eles aproximavam-se, sem mostrar hesitação nenhuma, como se uma briga sangrenta só seria diversão a eles.

-Não devia ter voltado aqui, mocinha! - um da dupla de capangas exclamou, usando das costas de sua mão para limpar o catarro que saía de suas narinas, num ato porco e nauseante.

-Pois é! Nós vamos te matar, sombrinha! - o outro afirmou num tom de superioridade, dando uma risada provocativa quase cuspindo em cima do outro capanga.

Shadow cerrou seus punhos. Odiava piadas, ainda mais se eram com seu comportamento ou seu nome. Entretanto, só não ficou com tanta raiva pois uma luta estava por vir e, por mais que parecesse que ele estava em desvantagem quanto aos homens musculosos, ele gostava daquele tipo de batalha. Principalmente, quando era subestimado por seus inimigos, pois assim era fácil humilhá-los no fim. Embora poderia facilmente utilizar seus truques com suas habilidades com a Esmeralda do Caos, ele optou por uma luta corpo a corpo, já que estava ansioso para dar uma surra em alguém, ainda mais nos capangas de Rouge.

Relaxando, o ouriço negro cruzou seus braços e desviou o olhar, dando uma mini risada, nunca ato de pura provocação. Nervoso, um dos capangas correu até seu adversário, com o punho e cotovelo quase na altura de seus ombros, pronto para desferir um soco. Utilizando da agilidade típica de sua espécie, Shadow desviou no último momento, passando por debaixo de seu braço e então agarrando-o. Numa fração de segundos, ele chutou o joelho direito do capanga fazendo se ajoelhar com apenas esta. Então, aproveitando que ele se encontrava mais próximo da altura do ouriço, Shadow usou de seu joelho para bater com extrema força em sua cabeça, fazendo ele desmaiar instantaneamente. Jogando o capanga desmaiado de lado, o ouriço negro encarou num ar de superioridade o outro capanga, que observara toda a cena sem interromper, algo lógico, já que fora tudo extremamente rápido.

Percebendo o olhar do adversário, o capanga logo pôs-se em posição de defensiva, tendo em seu olhar uma porcentagem considerável de medo. Shadow correu até ele, fazendo o capanga pensar que ele iria saltar sobre si, por isso, colocou os punhos cerrados perto de seu peito. Contudo, contrariando o pensamento do capanga, o ouriço escorregou por entre as pernas de seu adversário, o deixando confuso. Assim, aproveitou que ele estava de costas e a chutou, ouvindo um estalar de ossos se quebrando e um grave gemido de dor logo em seguida. O capanga cambaleou para frente e caiu, ficando gemendo de dor no chão, enquanto Shadow apenas percorria os olhos sob ele, com uma risada maléfica.

Por algum motivo, sentia-se feliz por mais uma vez ter provado o quão verdadeiro é tamanho não ser documento. Com um coração e sangue frio, Shadow não ligou nem um pouco se podia ter causado amnésia em um ou deixado paraplégico outro. Apenas se importava de que havia vencido mais uma vez, embora já notasse o poço de egoísmo em que nele se encontrava.

Avançando sem hesitação, cruzou o corredor escuro até uma porta no final, onde havia uma única tocha iluminando-a. A abriu, ouvindo seu ranger ecoar por uma escada que se encontrava logo após ela. As paredes das escadarias eram exageradamente estreitas, causando leve claustrofobia no ouriço.

Enquanto descia, pensamentos começaram a fluir dentro de sua mente. Embora questionou a si mesmo anteriormente sobre o motivo pelo qual o convencera de estar ali, seu subconsciente berrava por atenção, como se possuísse as cartas certas e queria mostrá-las ao seu consciente. Era mais do óbvio, estava claramente ali por ninguém menos que Sonic. Afinal, não se daria a dificuldade de infiltração no covil de Rouge para pegar um simples cachecol que ele alegara ser importante. Por mais que Shadow tentasse negar a si mesmo, no fundo sabia que era verdade. Quando o pegou no colo, duas vezes para ser exato, seu coração disparara, embora tenha escondido tal fato muito bem. Aqueles olhos mergulhados em um verde vivido, aqueles “cabelos” azuis levemente puxados para trás, seu sorriso cativante. Ora, ele havia mais do que simples razões para se convencer disso e ainda assim não queria acreditar que dentro de si havia um sentimento homossexual.

Quando se deu conta, já estava no fim da escada e uma claridade fraca e instável de tochas começou a invadir suas pupilas, fazendo-as contrair involuntariamente. Por sorte, após a estreita escadaria havia um corredor bem mais largo e de pé direito alto. Ao redor, encontrava-se grades da prisão particular de Rouge. Contudo não eram simples celas, pois na maior parte delas havia cadeiras de tortura, mesas com instrumentos de mesma finalidade, entre outras coisas. Uma certeza que Shadow tinha era que a morcego tinha uma afinidade com o desespero e o medo dos outros, algo realmente doentio. Passando por todas elas, o ouriço avistou uma pequena porta de madeira levemente esverdeada em causa de musgos. Sem hesitar, puxou sua maçaneta de metal enferrujado, ouvindo um rangido típico. Dentro, havia todos os pertences “confiscados” pelo império tirano de Rouge e seus capangas. Havia de tudo lá e para não se tornar uma verdadeira bagunça, estava dividido em prateleiras, dos mais valiosos até os mais insignificantes. O que mais chocou o ouriço foi encontrar o objeto que procurava junto com diamantes, ouro e coisas afins. Entretanto, como não possuía muito tempo, tratou de logo pegar o tal cachecol e “cair fora dali”. Calmamente, caminhou em direção às escadarias pela qual havia vindo. Porém, durante o percurso, acabou por sentir uma dor aguda no lado esquerdo de sua cintura. Ao passar a mão na região, percebeu suas luvas manchadas pelo seu próprio sangue. A ferida era grande e ele sangrava muito, sentindo sua pressão sanguínea baixar drasticamente. Sua visão ficou levemente embaçada por um tempo, contudo não o impediu de ver o que estava à sua frente, fincado entre o pedregulho do chão e manchada por um vermelho quase roxo. Uma flecha. Fora o que o atingiu. Seguindo com o olhar a direção pela qual esta fora lançada, encontrou nada menos do que a pessoa da qual não queria tropeçar novamente, dona do covil e aquela que até hoje ainda anda sob dinheiro sujo.

Rouge The Bat.

-Hã-hã! - ela falou num tom de ironia, com o arco na mão esquerda e utilizando da mão direita para balançar o indicador de um lado para o outro repetidamente - Onde pensa que vai com meu tesouro?

-Isso não é seu. - rosnou Shadow, cobrindo sua ferida com sua mão esquerda, que ainda sangrava

-E nem seu, bonitão. - ela afirmou, dando ênfase na última palavra, e dando uma piscadinha a ele - Viu? Você não é muito diferente de mim. Está roubando algo roubado.

-Bem, e isso me faz de um ladrão ao quadrado. Gostei! - respondeu o ouriço, sorrindo de lado e pegando discretamente sua esmeralda.

-Complete: um ladrão ao quadrado morto! - exclamou ela, retirando uma flecha de uma bolsa de couro de suas costas, logo encaixando-a no arco e apontando para a cabeça do negro.

-Eu já não teria tanta certeza disso. - ele afirmou, se concentrando em sua Esmeralda, escondida em suas costas - Chaos Control!

No mesmo instante que Shadow gritou tais palavras, Rouge soltou a corda que prendia a flecha, a impulsionando para o alvo. Entretanto esta nada acertou e se fincou no chão, com uma distância mínima a outra.

-Desgraçado! - Rouge, por fim, bufou.

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Quando finalmente conseguiu perceber onde estava, se deu conta que estava acima de um prédio, a noite estrelada logo acima e o barulho da feira noturna típica do reino logo abaixo, entre estreitas ruas. Se sentia tonto, sabendo bem o motivo. Aquela flecha devia ter algum componente que impedia Shadow de se regenerar, fazendo-o perder grandes quantidades de sangue. Sua cabeça parecia mais pesada e doía, sentia suas mãos frias e seus pés formigando. Embora tinha como objetivo de teletransportar para o castelo, a tontura o impediu de se concentrar adequadamente, o fazendo ir a um lugar indesejável.

“É inútil. Enquanto meu corpo trava uma batalha para me curar, minha mente fica sobrecarregada, já que toda informação emitida ao meu corpo é em vão. Preciso fazer um último esforço para fazer isso direito” refletiu consigo mesmo.

Com a Esmeralda ainda em mãos, ele pronunciou as palavras novamente, pensando fielmente em seu destino e então desapareceu novamente, aparecendo no dormitório de seu amado, que estava debruçado na cama, visivelmente de autoestima baixa.

-Olá, Sonic. - Shadow o chamou, carinhosamente, fazendo-o olhar diretamente para si.

To be continued...