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História Isabella - A cura


Escrita por: Estherzinha13

Capítulo 19 - A cura


Alguns meses depois, uma notícia apareceu na internet. A princípio, nada confirmado, mas, segundo o suposto criador, não era nada oficial. Ele não quis revelar seu nome, mas sua entrevista foi vista por pessoas do mundo inteiro. Aventurei-me a vê-la. O garoto me era um pouco familiar, loiro, olhos escuros, pele pálida. Era forte, pelo menos na aparência. Mas seu rosto só ficou à mostra por um segundo, e embaçaram sua imagem. Sua voz também foi modificada, mas entendi isso da entrevista:

"A cura da paraplegia ainda não é oficial, mas estamos a um passo de concluí-la. Em breve, todos com tal problema poderão voltar a andar", falou o rapaz, que é aluno de reformatório.

"E o que te inspirou a fazer isso?", questionou a entrevistadora.

"Uma... amiga de antes de eu vir para cá. Ela tem paraplegia. Quando tive que estudar aqui, pensei que deveria dar alguma coisa para ela. Mas eu pensei muito nela enquanto trabalhava nisso."

"Hum... E essa sua 'amiga' não seria... nada a mais?"

Ele ficou em silêncio.

"Para falar a verdade... eu gostava dela, de um jeito especial. Mas não era recíproco."

"Oww... Um coração partido! Quer dizer que você fez isso por ela?"

Ele assentiu com a cabeça.

"Que fofo! Aposto que, depois de descobrir quem você é, vai cair direto em seus braços!"

"Eu não sei... Ela tem um namorado. Não sei se ela o faria."

"Bem, se eu fosse ela e soubesse quem você é, terminava logo o namoro! Para o caso de ela chegar a ver esse vídeo, você tem um recado para ela?"

"Tenho.", falou, virando para a câmera. "Onde quer que você esteja, sei que não me esqueceu. Não sei se continua onde estava, mas você não mudou nada. Eu a vi em uma festa, de um amigo seu. Você ainda está com ele? Pois saiba que eu sinto sua falta. E que eu não mudei. Ainda te amo."

"Muito bem, sr. Keenan! Você diria o nome dela para nós?"

A brancura de seus dentes apareceu quando ele deu um sorriso malicioso.

"Sinto muito, mas já revelei demais. Acho que ela vai querer descobrir por si só, se eu a conheço."

"Muito bem!"

A repórter agradeceu aos patrocinadores e outras pessoas e encerrou o vídeo. Até então, era tudo que se sabia. Keenan...? De onde eu conhecia aquele nome?

Aos poucos, mais mídia e mais propaganda aquilo ganhava. Nem se era certeza que ia se tornar realidade! Mas era mais e mais divulgado. Não poucas pessoas me questionaram se eu usaria a cura. Respondia que não sabia. Eu sequer tinha certeza de que queria aquilo! Mas notei uma diferença em Davi. Desde o dia em que viu a entrevista, ele parecia ficar doente. Parecia perder o descanso. Não comia. Não dormia. Parecia definhar. Angustiada, chamei-lhe para conversar.

- Davi?

- Sim, Bella?

- O que está acontecendo? Você parece mal...

- N-não é nada...

- Davi, é sério. Você não está bem, é notável. Você pode me contar. Estou aqui para você...

Peguei sua mão e fiz um carinho nela. 

- Bella... - ele suspirou e fechou os olhos, tentando esconder a própria dor. - Não dá. É para o seu bem.

- Mas, se você não estiver, eu vou continuar preocupada. É isso que se faz quando se ama. E eu te amo.

Ele mordeu o lábio e me puxou para perto, abraçando-me com dor. Senti quando uma lágrima caiu de seu olho em minha cabeça e apertei-o contra mim. 

- Por favor, Davi. Por mim. O que está acontecendo? Você está estranho desde que o sr. Keenan apareceu naquele vídeo sobre a cura da paraplegia.

- Sr. Keenan? Cura da paraplegia? - ele parecia mais irritado do que surpreso.

- Sim... Vou te mostrar.

Coloquei o vídeo para que ele visse. Ao final, ele parecia quase em fúria.

- Davi, o que está errado?

- Isso é algo que posso falar. Se ele não se identificou, vou contar agora. Bella, Keenan é o sobrenome de...

Enquanto pesquisava outra coisa, descobri quem era. Em choque, completei:

- ...Paulo!

Cliquei na nova manchete, com uma nova entrevista, com outra entrevistadora. Dei play no vídeo e comecei a vê-lo.

"Muito bem! Sr. Paulo Keenan, vejo que agora decidiu revelar seu nome e rosto! O que te motivou a fazê-lo?"

"A minha garota, a paraplégica que citei na outra entrevista." trinquei os dentes. Eu não sou a garota dele! "Ela com certeza já me identificou. Se não por si só, com a ajuda do meu primo traíra."

"Primo traíra? Você nunca falou nele... Gostaria de falar um pouco dele?"

Ele olhou bem na câmera e falou.

"Ele é órfão de pai e mãe. Seus pais descuidados morreram em um acidente de trânsito por falta de atenção. Ele quase morreu." senti as palavras implícitas em sua entonação: era melhor que tivesse morrido mesmo. Vi que Davi serrara os punhos. "Como nós éramos os parentes mais próximos dele, ele se mudou para Paris, onde eu morava com minha família. Era brasileiro. Mas já sabia francês. Entrou na minha turma. Ele sabia que eu gostava da menina paraplégica, Isabella. Mas, mesmo assim, cortejou-a. Ela se apaixonou por ele e começaram a namorar. Irritei-me com aquilo, pois passei três anos da minha vida tentando em vão."

Ele calou-se e, vendo que ele não tinha mais nada a falar, a entrevistadora continuou:

"Três anos? Isso é muito tempo..."

"Sim. Eu soube daquilo no momento em que foi bater em minha porta. Minha mãe desacatou-a, mas ela estava determinada a me dar boas-vindas. Jogou uma pedra em minha janela e me chamou para descer. Aquela menina doce me levou para seu jardim, onde flores brotavam e uma frondosa macieira dava frutos. Elogiei seu belo jardim, que ela disse ter plantado a maior parte. Com o canto do olho, vi que meu pai estava chegando no carro dele e disse que precisava ir. Atravessei a ruela às pressas. Isa tentou me parar, seguindo-me. Mas não escutei que ela corria atrás de mim, seus passos delicados sobre a grama. Mas ela não viu o carro do meu pai. Ela foi atropelada e caiu de costas no chão. Chamei-a, mas ela não parecia ouvir. Vi que tinha perdido a consciência e peguei-a no colo. Olhei para o meu severo pai e pedi que levasse-a ao hospital, e que era o mínimo que ele podia fazer. Ele aceitou e sentei no banco de trás, deitando sua cabeça em meu colo. Chegando ao hospital, foi rapidamente socorrida. Ela ficou apagada por três dias e foi diagnosticada com paraplegia. O acidente atingira sua coluna vertebral, rompendo a ligação da medula espinhal com suas pernas. Desde aquele dia eu sabia que gostava dela, mas ela parecia não me notar. Aliás, não parecia notar ninguém. Não por se achar melhor, mas por se sentir pior. Ela não sofreu pouco. Especialmente nas mãos de um certo grupo que precisava diminuir os outros para se sentir bem. Eu me sentia culpado pelo acidente. Não foram poucas as vezes que vi Isa chorar por isso através de minha janela. Todas as vezes, eu me torturava também, pensando no sofrimento que eu lhe havia infligido." e, olhando direto na câmera, terminou: "Você não sabia disso, sabia, querida Bella?" por uma fração de segundo, vi seu sorriso malicioso surgir.

"Que história triste, Paulo! Mas tenho certeza de que ela vai terminar com o namorado assim que souber para se jogar em seus braços!"

"Eu ainda não terminei. Dois anos depois, meu primo chegou. Isa parecia viver em um mundo totalmente cinzento e só. Ele chegou atrasado na aula e sentou com ela. Em seguida, foram para a biblioteca, os dois. Quando a aula acabou, Isa descobriu que o novo aluno, Davi, estava morando comigo, na casa à frente da dela. Da minha janela nova, vi que ela o chamara para descer. Mostrou-lhe o jardim como fizera comigo. Conversaram como velhos amigos à sombra da macieira. E Isa pareceu sentir uma fagulha de alegria pela primeira vez em anos. Fiquei com raiva de Davi. Ele mal a conhecia! Mas vi que ela se alegrou, entrando em casa e abraçando seus bichos de pelúcia. Uma eterna doçura da parte dela..."

"Mas que história! Me pergunto se eles poderiam falar mais sobre isso..."

"Não." falou bruscamente, logo se recompondo. "Isa não gosta muito de falar de sua vida pessoal, nem Davi. Vocês não conseguiriam muito."

"Ah... Que pena..." falou, sua expressão triste. "Muito bem, espectadores! Este foi Paulo Keenan, inventor da finalmente pronta cura da paraplegia!"

Um silêncio mortal abateu-se em meu quarto. Lágrimas formaram-se em meus olhos. Davi me abraçou, também soluçando. 

- Era para ter sido eu, Bella. Eu deveria ter estado lá no dia do acidente.

- Não. Você estava com seus pais...

Ele negou com a cabeça.

- Eles morreram pouco tempo antes de Paulo se mudar. Eu escondi isso de você, Bella. Eu passei a morar na casa da namorada que eu tinha na época. Seus pais me acolheram como um filho. Mas eu nunca te esqueci. Achava aquilo meio estúpido, afinal, eu não te via desde o segundo ano, então deixei bem enterrado no fundo de mim. Lembro que eu tinha um diário. Eu escrevi bastante sobre você. Mas meu erro foi não colocar datas. Minha namorada, Carol, encontrou-o, pois eu o levava comigo. Era bom lembrar o passado, afinal, ele nos ensina a não cometer erros passados. Ela viu o quanto eu falava de você e, dois anos depois do acidente, ela terminou comigo por pensar que eu a estava traindo. Tive que me mudar para a casa de Paulo. Senão, teria ido antes. Mas ela descobriu a verdade sobre você. Que era uma garota do passado. E relaxou. Ela me procurou. Como era rica, conseguiu se mudar para cá. Mas ela não me achou. Não o local onde eu estudava. Entrou para o internato para o qual Paulo foi enviado. Ela me enviou mensagens, Bella. Ela ainda me ama. Mas bloqueei seu contato. Ela conheceu Paulo, eu sei. Eles descobriram essa cura juntos. Era um acordo. Ele ficaria com você, e ela comigo. Mas não é para ser real. Eu te amo, Bella, e nunca vou deixá-la. 

- Como você sabe?

Ele sussurrou em minha orelha, como se falasse um segredo:

- Ele vem me ver, Bella. Todas as noites, ele drena um pouco da minha vitalidade. Isso é necessário para a cura. Ele me convenceu a ceder por ser para você, para seu bem.

Neguei com a cabeça.

- Não quero. Essa cura não é para mim. Essa é minha decisão final: não quero ser parte de algo que conscientemente drena alguém para dar pernas a outros. Eu me acostumei, e estou feliz assim. Enquanto você estiver comigo, vou ser feliz. Você é tudo para mim. Eu te amo com todo o meu coração. Por favor, desista. 

- Paulo vai atrás de mim. 

- Então fique aqui. Fique comigo, ao menos esta noite. Não vou me permitir deixá-lo só sabendo que vai sofrer por isso. Por favor...

Sua cabeça balançou de cima a baixo, concordando. Ele ficaria. 

Naquele instante, Estela chega saltitando:

- Isa! Isa! Isa! Você viu?!

- O quê?

- A cura! Você vai ficar curada! Vai poder andar de novo! - e pulou para o meu colo, me abraçando.

Suspirei e passei minha mão por seu longo cabelo.

- Sim, Estela, eu vi. Mas eu não vou usar essa cura. Prefiro ficar paraplégica a usá-la.

- Mas... Por quê? - ela parecia chateada.

- Tenho meus motivos.

Ela queria insistir, mas não contei. Decepcionada, falou para Mamy, que veio falar comigo.

- Espero que não seja só porque o criador é Paulo.

Neguei com a cabeça.

- Tenho meus motivos. Além disso, estou feliz sem minhas pernas. Não que não as queira de volta, mas tudo bem. Já tinha me conformado há tempos que eu nunca voltaria a andar. Estou bem, juro. Além disso, os fins não justificam os meios. - falei, repetindo uma frase que Mamy me dissera quando eu lia Maze Runner, tentando entender se CRUEL era bom ou não, e aquilo me levara à resposta certa.

- Os meios...?

- Sim. Paulo fez muitas coisas que não devia para aquela cura.

- Como você sabe?

- Me falaram. Fontes seguras.

Ela apenas assentiu, e lembrei de pedir:

- Mamy, Davi pode ficar aqui hoje? Eu... Estou com medo de que algo aconteça com ele.

- Pode sim, Isa.

- Obrigada. 

E ele ficou. Naquela noite, ele estava a caminho do quarto de hóspedes, já de pijama, quando eu o parei.

- Davi... Por favor, não fique só. Fique comigo.

Ele piscou para mim.

- Tudo bem. - e seguiu até meu quarto. 

Ele sentou-se em minha cama, aconchegando-se sob a densa colcha. Rodei para perto e abracei-o. Ele passou um braço por minha cintura e me puxou para perto, de modo que minha cabeça repousava em seu peito. Envolvida em um sono sem sonhos, dormi feliz, nos braços daquele a quem eu mais amava. Mal poderia prever o que aconteceria...

Na fatídica manhã seguinte, acordei com uma sensação levemente estranha. Um estranho... familiar. Lentamente, abri os olhos, e vi Davi adormecido. Quase que num impulso, mexi a perna direita na direção dele, me aproximando mais. Espere... Mexi a perna?! Quando me dei conta do que havia feito, em choque, levantei-me. Balancei as pernas. Como...? Encontrei um bilhete em minha boneca, que repousava na cômoda. 

"Eu te conheço. Você não aceitaria. Por isso, tive que tomar minhas próprias medidas.

PK"

Assustada, senti a cor esvair de meu rosto. Olhando para trás, vi que Davi parecia estar acordando.

- Bella? Tudo bem? Você está pálida...

- Sim... - menti. 

- Parece cansada. Volte a dormir... 

Tentando obedecê-lo, voltei a deitar em seus braços. Encolhi as pernas. Rezei para que não tivesse notado. Mas eu estava errada. Uma exclamação brotou em seu olhar.

- Suas pernas.

Assenti, sentando-me novamente. Ele sentou-se também. Minha camisola longa desenrolou-se até meus tornozelos. Senti o tecido caindo. Ele delicadamente pousou a mão em minha coxa esquerda, e senti seu toque vivo como fogo.

- Você pode sentir?

Assenti para ele, sentindo minha palidez se intensificar. Peguei o bilhete e mostrei-lhe. Ele arregalou os olhos e pegou um que estava sob seu celular. 

"Você falou para ela. Agora, sofra as consequências de não me ter obedecido.

PK"

Outro bilhete dele. PK. Paulo Keenan. Paulo.

Olhei para Davi, totalmente perdida.

- Ele me disse para não te contar. Pensei que ele não saberia, mas...

- Isa! Isa! Isa, levanta! Já está de manhã, e está nevando! Quer brincar comigo?

Olhei para fora. Eu estava tão inerte por causa de minhas pernas que não vira a neve.

- Estou indo, Estela!

Sabendo que eu não precisava mais da minha cadeira, tentei ficar de pé, mas perdi o equilíbrio,quase caindo de cara no chão. Fui amparada por Davi, que se pusera de pé e me segurara pela cintura.

- Vá com calma, Bella. Faz anos que você não anda, suas pernas não se lembram de como fazê-lo. 

Acalmando meu corpo cheio de adrenalina, tentei dar um passo à frente, mas acabei arrastando meu pé no chão. Davi, então, me pôs na cadeira de novo. 

- Por hora, o melhor é você continuar a usá-la até você conseguir andar como antes. 

Assenti, concordando. Fazia sentido. Com essas palavras, ele saiu de meu quarto e foi para o de hóspedes. Peguei então duas calças jeans, um suéter rosa e um casaco da Finlândia vermelho que meu pai me dera. Pus uma luva branca, botas de borracha rosa e um gorro vermelho. Em seguida, desci. Ainda no elevador, tive vontade de ir de escadas, mas decidi que seria arriscado. Cheguei à mesa e vi que um leve ar de alegria tomava conta do lugar.

- Isaaaaaaaaa!!!!!!! - exclamou Estela, pulando em meu colo.

- Oi, Estela!

- Vamos brincar lá fora?

- Eu, você, Davi, Mamy e Papi!

- Ebaaaa!!!

- Isa, minha filha! Tudo bem? - falou minha mãe.

Forcei um sorriso e balancei a cabeça de cima a baixo. Ela empurrou minha cadeira até a mesa para comermos o café da manhã. Davi descera. Ele estava com uma calça escura e botas pretas, um suéter preto e um gorro cinzento. Um cachecol envolvia seu pescoço. Droga. Eu esqueci o meu. Pela primeira vez, notei que ele tinha uma cruz de prata presa em um cordão da mesma cor em seu pescoço. 

- Vamos comer? - perguntou a impaciente Estela.

- Vamos, filha. - respondeu meu paciente pai.

Logo depois de tomarmos um generoso café da manhã (com Papi praticamente entupindo Davi de comida, como ele costuma fazer com convidados), saímos para brincar na neve com Estela. Ela foi a primeira a sair e jogou uma bom de neve em mim. Com a minha sorte incrível, Estela acertou meu pescoço nu, que eu esquecera de cobrir com o cachecol. Esfreguei-o com a mão. Ele ficara gelado.

- Aqui, Bella. - Davi tirou seu próprio cachecol e enrolou em meu pescoço, que ficou quente rapidamente.

- Obrigada... - senti que o calor se estendeu do pescoço para a face, fazendo-me corar. 

Rodei para perto de Estela, fazendo uma bola com as mãos. Quando ela parecia desprevenida, atirei-lhe a bola, que acertou-a em cheio, e ela caiu na neve. Ela bateu palmas e começou a rir, jogando bolas nos outros. Davi defendeu-se com o braço, minha mãe atrás de meu pai. Mas este foi atingido no peito pela bolinha de Estela. Ele correu até onde Estela estava e derrubou-a de costas na neve, fazendo-lhe cócegas. Depois, começaram a fazer bolas de neve. Numa tentativa insistente de andar, tentei me levantar da cadeira.

Um.

Dois.

Tr...

Paf!

Caí de cara na neve. Consegui ficar dois segundos e meio de pé. Chamei alguma atenção para mim, e Davi correu em minha direção. Virando-me para si, vi seu rosto próximo ao meu, analisando se eu tinha ferimentos ou não.

- Você está bem, Bella?

Assenti lentamente, meus pensamentos nebulosos por causa de sua proximidade. Sua expressão relaxou um pouco, e ele me ajudou a levantar. Segurando-me pelos cotovelos, ele deu um passo para trás, instigando-me a andar. Com algum esforço, consegui mexer o pé, dando um passo à frente. Olhando para meus pés, dei outro passo, fazendo Davi recuar outro passo. Pé ante pé, consegui seguir seus passos. Olhei para ele, os olhos cheios de lágrimas, um sorriso crescente em meus lábios. Sem pensar duas vezes, consegui dar impulso com os pés e pulei, abraçando-o pelo pescoço.

- Obrigada, obrigada, obrigada... - não parava de repetir, emocionada.

Davi apertou minha cintura, dando-me um beijo demorado no pescoço.

- Sua felicidade é mais do que o suficiente para me deixar feliz. - sussurrou em meu ouvido. 

Distanciando-me um pouco, beijei-o nos lábios, tentando expressar de alguma maneira a minha gratidão por ele ter me ajudado a andar, alguns míseros passos que fossem. Aquilo significava muito para mim. Estiquei as pernas, sentindo a neve sob a bota que eu usava. Ele me pôs no chão, virando-me. Dei mais alguns passos, segurada por ele, que me acompanhava. Estela e meus pais notaram o que estava acontecendo e correram para me abraçar, perguntar como eu estava andando. Expliquei que não sabia exatamente, mas que aquilo significava muito, incluindo o apoio de Davi. Se eu parecia uma criança de um ano que começava a andar? Claro. Se eu ligava? Nem um pouco! Eu não andava havia três longos e nebulosos anos, eu tinha que me alegrar por qualquer movimento que fosse. Se eu ficara feliz quando Davi me ajudara a subir uma escada para o trabalho de música, agora eu era a alegria em pessoa! Se tivesse total controle dos movimentos, estaria rodopiando. Já disse Petrus Logus: As flores nascem no inverno, mas florescem na primavera. A flor da minha alegria havia muito adormecera, mas sobreviveu ao longo inverno de tristeza e solidão pelo qual eu passara, e agora florescia novamente, cativada pelo Sol da felicidade. Davi me ajudou a caminhar naquela manhã de inverno, indo pé ante pé, cada passo uma vitória conquistada. Mas tive que voltar para a cadeira, afinal, ainda não dava para subir uma escadaria. Mas quase desmoronei ao ver a mensagem em meu celular:

"Aproveite enquanto pode.

PK"

Era um número anônimo. E não era o único. Outros dois me enviaram mensagens. Era duas mulheres. A primeira disse:

"Guarde minhas palavras: elas explicam nossa lógica.

'Às vezes, para um bem maior, sacrifícios devem ser cometidos.'

CB"

CB...? Com certeza não era Conner Bailey. A foto de perfil mostrava uma moça de pele morena, cabelos negros cacheados e olhos apertados, bem escuros, além de dentes brancos perfeitos. 

A última mensagem era bem mais amigável:

"Oi, Isabella!

Espero que não se importe, consegui seu telefone com minha amiga...

Estou aqui para te prevenir. 

Minha amiga, Carol, te mandou uma mensagem. Ela me contou o que aconteceu, e achei que deveria saber o que estava acontecendo. 

Você amanheceu mexendo as pernas. Isso aconteceu porque Paulo foi aí durante a noite e aplicou a cura em você.

Mas não é só flores.

Sinto não poder falar mais agora, mas eles podem descobrir. Se quiser saber mais, amanhã, na hora do intervalo, vá na sala do 12CM.

Mas sozinha. Se Davi for junto, posso acabar chamando muita atenção.

JB"

JB... Não era Justin Bieber, com certeza. A foto de perfil mostrava uma menina da minha idade, pele branca, rosto redondo. Cabelo cheio de cachos, bem castanho. Olhos também escuros. 

Não sabia muito sobre o que eu poderia fazer, mas eu precisava de informações. Aquilo não deixava de ser um grande mistério. 

- Bella? Posso entrar? - escutei Davi perguntar.

- Um instante!

Troquei rapidamente as roupas de neve e teimosamente caminhei até a porta, apoiando-me nos móveis. Abri a porta apoiada no meu criado-mudo. Que tinha rodinhas. Assim que abri a porta, ele escorregou de minha mão e caí contra o peito de Davi, quase derrubando-o. Ele sorriu para mim e riu.

- Teimosa como Kelsey.

- Um pouco, sim...

Ele me firmou e me ajudou a andar até minha cama. Ele pegou o telefone dele. Duas mensagens não lidas. PK, CB. Como o meu. Mas nenhuma JB. Quando ele viu a assinatura CB, pareceu a ponto de cair. 

- Carol Brennand... - sussurrou consigo mesmo, atordoado. 

- E Paulo Keenan. 

- Problema.

Assenti. 

- Amanhã é dia de aula. E Cláudio não perdoa a falta de relatórios.

- Droga! - dei um tapa na minha própria testa. - Esqueci de fazer o último relatório!

- Eu te ajudo. Eu lembro que você estava cansada, tinha sido a festa de Lucas na véspera.

Lembrando-me o conteúdo da aula, ele me ajudou a fazer o relatório com sucesso. Mas terminamos bem tarde, Mamy levara almoço e lanche para nós no meu quarto.

- Ufa. Livre.

- Vamos? Sua mãe está chamando...

- Vamos. 

Com alguma insistência da parte dele, cedi em ir de elevador. Minha mãe preparara o jantar e convidara Davi para passar outra noite conosco, mas ele teve que recusar. Deixara a farda na casa dele, e seria mais proveitoso ficar por lá. Concordaram. Ele partiu logo depois do jantar. Trancando-me em meu quarto, pus o pijama. Decidi que JB merecia uma resposta e disse-lhe:

"JB, obrigada pelo aviso.

Amanhã eu passo, sem falta. 

IW"

Joguei-me na cama, apagando quase imediatamente. Mal sabia eu que o pior ainda estava por vir...
 



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