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História Isabella - Doce esperança


Escrita por: Estherzinha13

Capítulo 21 - Doce esperança


POV. Davi

- NÃÃÃÃOOOOO!!!!! - escutei Isabella gritar.

Em reação rápida de autodefesa, ergui o punho no ar e agarrei o pulso de alguém que segurava uma faca, que caiu de sua mão e cortou meu braço. Abri os olhos e vi Isa assustada me encarando. Seu corpo começou a tremer, tal tremor estendendo-se até minha mão, quando notei que segurava seu pulso. Afrouxei o aperto, não mais machucando-a. Isa se encolheu e começou a chorar no chão. Desci de sua cama e abracei-a, chutando a faca para debaixo da cama. Seu corpo todo tremia e ela soluçava em meus braços. Acariciando seus cabelos lentamente, tentei acalmá-la:

- Bella, fique calma. Eu estou aqui, com você. Não vou deixá-la. Estamos bem...

- Eu te feri... - falou, entre soluços, procurando o corte em meu braço com seus dedos delicados.

- Eu estou bem, Bella. Venha, volte a dormir. 

- Mantenha-me segura... por favor... Não sei se suportaria te ferir novamente.

- Bella, não foi sua culpa. 

Ela negou, mostrando que discordava.

- Você leu a Rainha Vermelha, certo? - ela assentiu. - Lembra de quando Elara forçou Cal a matar o rei Tiberias? De quem foi a culpa? Cal ou Elara?

- Elara... - respondeu.

- Do mesmo jeito. Paulo te manipulou. Foi culpa dele. Você tem tanta culpa quanto Cal.

Ela assentiu e ajudei-a a se erguer até sua cama, onde abracei-a. Ela se aninhou em meu peito e voltou a dormir. Decidi ficar de vigília o resto da noite, velando por ela. Pela manhã, o sol nascia e ela começou a se contorcer. Prendi-a. 

- Da... vi... Fu... ja!

Ela me empurrou forte, caindo no chão. Pegou a faca sob a cama e apontou-a com expressão ameaçadora em minha direção. Lentamente, caminhei até a porta, a mira dela, nunca saindo de minha cabeça. Saí do quarto e escutei a faca fincar-se na porta. Corri até meu quarto e pus a farda. Lavei o rosto, tentando ocultar as marcas da noite sem descanso que eu passara. 

Desci as escadas, encontrando tia Elker, tio Eduardo e Estela tomando café da manhã. Cumprimentei-os e sentei na cabeceira da mesa. Pouco depois, Isa desce as escadas, mostrando que Paulo ainda estava no controle. Ela cumprimentou-nos e sentou ao lado de Estela, de frente para seu pai. Logo depois, este nos deixou na escola. Durante o trajeto, rabisquei algumas palavras em um papelzinho. Um pequeno poema. Caminhei de mãos dadas com Isa até a sala, onde deixei-a em seu lugar no mapa com um beijo que ela não correspondeu. Deixei o papel com o poema sob sua mão direita e fui para meu lugar. Logo depois do início da aula, vi que Isa lia o poema. Lágrimas brotaram em seus olhos e a mão esquerda pousou em seu peito, como ela fazia quando algo tocava-a profundamente. Contraditoriamente, a mão direita amassou o papel, fazendo o mesmo com meu coração. Mais lágrimas brotaram em seus olhos. Desviei o olhar para a aula de Walclei. Revolução Russa. Mas apenas o olhar estava lá, pois meus pensamentos estavam longe, num passado não muito distante, num tempo feliz.

***

POV. Isabella

Naquela manhã, Davi me dera um poeminha que dizia:
 

"Não há mais bela

Ou mais singela

Do que aquela

Que Isabella

~ DSLC"
 

Emocionada, levei a mão ao peito. Mas minha mão fechou-se em torno do papel, amassando-o e trazendo lágrimas a meus olhos, esmagando meu coração. 

Após as aulas, Davi saiu rápido. Como Paulo parecera ter largado meu cérebro, tropecei até a saída. Meu pai não viria. Segui o máximo possível na calçada, evitando atravessar ruas. Mas, depois de muito andar, minhas pernas fraquejaram e caí de joelhos no chão, chorando alto. Pedestres ao meu redor me lançavam olhares cheios de desprezo. 

Exceto um deles.

De algum lugar no meio da multidão, um bondoso pedestre me levantou e abraçou, apertando-me contra seu peito. Eu sabia quem era e não ofereci resistência.

- Shh, Bella... Estou aqui... Venha, vou ajudá-la.

Ele, ainda com o braço em minha cintura, deu um passo à frente. Imitei-o. A cada novo passo dele, mais um meu. Acompanhei-o facilmente, atravessando a rua normalmente. Seu braço continuava ali, me ajudando. Ele me guiou até minha casa. Mas, no meio do caminho, Paulo retomou o controle de meu cérebro. Levando-me por ruas desconhecidas, fugi dos gritos atordoados de Davi, que chamava meu nome. Cheguei a um velho prédio em um canto isolado e passei pelo porteiro, que não me barrou. Segui até um porão vazio e empoeirado. Lá, duas pessoas me aguardavam. Paulo estava de braços abertos, um deles sobre os ombros de uma garota cabisbaixa, que parecia se arrepender de algo, esfregando o braço esquerdo. 

- Querida Isabella, eu e Carol te esperávamos há tempos!

- Não sou sua querida. - resmunguei por entre meus dentes.

- Carol, por favor, vá até o QG. Tenho assuntos privados a resolver com Isabella.

Obediente, ela foi, lançando um olhar quase arrependido, como que pedindo o meu perdão, por cima do ombro. Logo em seguida, Paulo pegou meu rosto entre suas mãos, ainda me prendendo por dentro.

- Por que mesmo quando você está presente, você me mantém presa em mim? Você é cruel a esse ponto? Agora não posso sequer sofrer em paz?

Ignorando-me, ele se inclinou e beijou meus lábios. Lutei contra ele por dentro e por fora, mas meu corpo não mais obedecia às minhas vontades. Acabei por correspondê-lo, sangrando por dentro. Meu coração estava partido, queimado, destroçado. E a única coisa que podia restaurá-lo me fora tirada.

Ele me soltou, um sorriso maligno em seus lábios. Caí de joelhos no chão. Solucei alto, abraçando-me, os olhos fechados.

- Davi... - murmurava comigo mesma. - o que eu fiz...?

Notei que Paulo e Carol haviam deixado o aposento, mas eu não tinha forças para levantar.

Senti duas mãos fortes apertarem meus braços e me levarem para fora do prédio, e não relutei. Ele me jogou na calçada e apoiei a cabeça no muro. Pouco depois, sinto um par de braços me envolver. Ele me segurou contra seu peito e murmurou palavras de amor para mim, que aos poucos acalmaram meu coração machucado. 

- Bella, aqui está você. - sussurrou em meu ouvido. - Onde esteve?

- Paulo... Ele me prendeu... Me machucou...

Fez-se um segundo de silêncio antes de Davi ficar de pé e me levar em seus braços até minha casa. Chegando lá, ele me pôs de volta no chão e me ajudou a subir até meu quarto, onde caí em minha cama, encolhendo-me dentro da colcha. Eu não me sentia bem. Davi colocou sua mão em minha bochecha e fez uma expressão surpresa. Passou-a da bochecha para a testa, e sua expressão ficou preocupada. Ele saiu do quarto, que pareceu esfriar até -2°C. Pouco depois, voltou com um termômetro, um cronômetro e minha mãe. Ela mediu minha temperatura e falou alguma coisa para Davi. Ele assentiu e saiu do quarto, voltando com uma bacia de água fria. Minha mãe pegou o pano que estava ali e colocou-o em minha testa, molhando minha pele. Logo em seguida, ajudou-me a tirar o casaco, o tênis e as meias da escola, deixando-me apenas com a farda. 

- Você vai ficar bem, minha filha... - sussurrou pouco antes de minha consciência perder-se.

***

Quando acordei, me sentia um pouco melhor. Não havia mais pano em minha testa e o sol já se pusera, indicando que já era madrugada em Paris. Davi estava em meu quarto, a expressão preocupada ainda ali. Ele segurava a minha mão com a dele. 

- Davi...? - falei, a voz rouca.

Seu olhar voltou-se para mim e um sorriso abriu-se em seus lábios. Sentindo-me melhor, tentei sentar-me, mas uma forte dor de cabeça abateu-se sobre mim. Esfreguei-a.

Davi abraçou-me, apoiando-me.

- Bella... - falou. - Você está bem... Estou aqui...

- Eu não consigo... Não consigo passar por isso... Paulo está me matando...

- Bella, você consegue. Eu vou te ajudar, nós vamos te livrar disso em breve. O mais cedo possível...

- Obrigada, mas... por favor... fique longe de mim... - falei, chorando. Não era Paulo, era eu, e aquilo partia meu coração. - Enquanto você estiver perto de mim, eu vou feri-lo... e eu não suportaria saber que lhe infligi qualquer dor que fosse...

- A dor de me separar de você seria ainda maior do que qualquer dor física.

- Davi... Por favor... Eu não posso... - chorei, soluçando alto. - Eu ainda te amo, e por isso devemos nos afastar...

- Priya. - chamou-me em híndi, como Dhiren ensinara. - Se eu não estivesse aqui, contigo, para apoiá-la e protegê-la, como poderia dizer que a amo? - ele negou com a cabeça. - Bella, eu sempre vou estar aqui. Eu não vou embora. Não vou deixá-la.

Senti um aperto na cabeça e comecei a estremecer, contorcendo-me para não perder o controle de mim. 

- Fu... ja! - falei, debatendo-me contra a cama enquanto Paulo empurrava minha presença para o fundo de minha mente.

Vi que Davi relutou, mas acabou pulando janela afora, distanciando-se. Forcei meus olhos para longe dele, impedindo Paulo de ter qualquer informação sobre a direção para a qual ele seguira. Tentei voltar a dormir, mas Paulo não deixava, atormentando-me com pensamentos que eu não queria. Fiquei tentando evitá-los, mas eles sempre voltavam, esgotando minha energia até o sol nascer. Estela veio bater em minha porta logo cedo. Cansada, atendi-lhe, que me mostrou um calendário alegremente:

26/05, quinta-feira.

Feriado de Corpus Christe.

Aniversário de Larissa.

Desde que começáramos a organizar os casais, não vi como  o tempo havia passado. Larissa estava fazendo dezesseis anos hoje, e eu sequer lembrara. 

Ao menos, era feriado.

Em seguida, mostrou meu telefone trincado, o velho e resistente Windows Phone que eu já não aguentava mais. Ele tilintava Summer Love, One Direction, diversas vezes, cada uma indicando uma nova mensagem no WhatsApp. Ele vibrava intensamente, mensagens no grupo de nós oito. Seria uma festa do pijama, apenas conosco. Deveríamos chegar no final daquela tarde para ir embora na noite seguinte. Eu não sabia se iria mais, depois de todo aquela coisa de Paulo. Mas, ainda em meu controle, agradeceu Estela e pegou o telefone. Ele digitou com minhas mãos:

"Estarei lá, podem contar comigo!"

"Oba! Valeu, Isa!", respondeu a aniversariante.

"Vai sair do ninho, Isa?", perguntou a sádica Gigi.                        

"Giovana, pare de reclamar! Se ela estava reclusa, deve ter um motivo!", falou a compreensiva Dani.

"Giovana, pelo amor de Deus, ela tá mal, dá pra notar! E você fala uma coisa dessas?!", respondeu a irritadiça Cecy.

"Aaaaaai, Giovana, cansei! Você só sabe reclamar!", comentou a impaciente Liv.

"Giovana, você podia começar a tentar ser um pouco mais otimista?", interrogou a imprevisível Larissa.

"Gente, calma, ela só perguntou se Isa ia mesmo!", respondeu a defensiva Rafhaela.

"Gente, por favor, vamos parar de brigar?", continuou a "pacifista" Mari, pacífica em tudo menos no jogo War. 

Com minhas mãos sob meu controle, digitei:

"Calmaaaa! Não sou Jean Valjean, mas vou repetir o que ele disse: a ofensa foi a mim, e entendo que queiram bronqueá-la, até porque foi um comentário maldoso; mas eu reconheço estar reclusa demais, decidi que vou sair um pouco do ninho, como você falou. Mas eu estava precisando desse tempo só. Hoje à noite, vou tentar esclarecer tudo. Mas, por favor, parem de brigar!"

Desligando o telefone logo em seguida, joguei-me na cama. Como a presença de Paulo parecia ter se retirado, decidi ir a um de meus lugares especiais que eu há muito não visitava: o sótão. Subi as escadas com mãos e pés, levando comigo meu caderninho. Sentei-me de frente para o sol nascente e respirei fundo, fechando os olhos por um breve momento. Assisti o sol nascendo com o início da manhã com meu lápis copiando rapidamente seu contorno. Deixando meus dedos trabalharem sós, observei o resultado final: o sol estava nascendo, tingindo o fundo ao seu redor de laranja. Ele nascia sobre o mar azul escuro, ladeado por duas colinas com prados verdes em sua encosta.

Isso em segundo plano.

À frente de tudo, Davi me abraçava nesse cenário belo. Seus olhos castanhos estavam me observando de dentro do papel, seu sorriso ainda derretendo meu coração. Seus cabelos negros caíam por sua testa em ondas, escorrendo também até o meio de sua nuca. Sua pele morena me era familiar como minha própria cor branca. Ao seu lado, meus olhos verdes com centro âmbar cintilavam de alegria. Meu sorriso ia de orelha a orelha. Meu cabelo castanho ondulava em cascata até minha cintura. Eu estava feliz ali...

Com o lápis grafite, escrevi sem pensar:

"Queria que estivéssemos aí, juntos..."

Sem pensar, deixei uma lágrima cair de meu nariz direto no papel e dobrei-o em um avião, jogando-o longe. Deixei que algumas lágrimas caíssem. Mas, imprevisivelmente, recebi-o de volta. Abri-o e encontrei algo a mais, uma letra caprichosa que eu conhecia bem:
 

"Teus belos olhos verdes

Como a grama dos prados

Quero que me leves

Para dentro de seus braços
 

Teus olhos dourados

Como ouro de Ofir

Tão belos e ousados

Como o bem há de vir

 

Teus cabelos castanhos

Como tronco de carvalho

O maior de meus ganhos

É poder tocá-lo
 

Teus lábios rosados

Mais doces que mel

Com os meus colados

Me sinto no Céu
 

Na dor do agora

Estamos separados

Mas o futuro revigora

E nos deixa apaixonados
 

Ainda vou achá-la

E vamos nos juntar

Vou poder beijá-la

Para sempre vou te amar
 

~ DSLC"
 

Meu coração batia forte, mais lágrimas caindo por meus olhos. Sem conseguir me conter muito, apertei o desenho contra meu peito, abraçando-o como se fosse o próprio Davi. Era dele, óbvio. Mesmo antes de lê-lo, sabia que era dele. 

Mas eu não podia ficar lá para sempre.

Depois de alguns minutos, desci do sótão, ainda com minhas pernas, sem a cadeira. Eu estava melhorando aos poucos. Entrei em meu quarto e troquei de roupa, rezando para que Paulo não voltasse. Em seguida, agarrada ao corrimão, desci as escadas. Estela, ao me ver, foi me ajudar. Ela que já estava na altura do meu peito, abraçou minha cintura e caminhou comigo, sendo meu apoio até a mesa de refeição. Beijei sua cabecinha e sentei em meu lugar, pronta para tomar café. Meus pais iriam à missa naquela manhã, mas eu ficaria com Estela. Pedi que colocassem Larissa nas intenções. Eles foram na missa às dez. Por algum motivo, Paulo pareceu me deixar em paz durante o resto do dia. Brinquei com Estela e contei-lhe as histórias de que ela tanto gostava. Quando meus pais chegaram, eles trouxeram uma torta alemã para nós, que devoramo-la impiedosamente. Minha mãe decidiu fazer minhas unhas e meu pai começou a brincar conosco. Começamos a cantar Adele bem alto, irritando Estela, que não gostava muito; mas, logo em seguida, cantamos também um álbum infantil antigo que eu sabia de cor do Cocoricó, do tempo do Brasil, e ela se animou para cantar junto. A noite estava próxima e eu arrumara tudo para a festa de Larissa. Eu sentia uma coisa que há muito não sentia.

Esperança. 

A única coisa mais forte do que o medo.
 



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