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História Isabella - Curando a cura


Escrita por: Estherzinha13

Capítulo 22 - Curando a cura


Naquela noite, cheguei animada à festa de Larissa. Como eu já voltara a andar relativamente bem, não levei minha velha cadeira. Eu já me considerava bastante independente dela em comparação a antes. Cheguei na enorme casa dela às 19, como ela pedira. Talvez cinco minutos atrasada. E fui a primeira.

- Isa! Você chegou! - falou Larissa, me dando um abraço. - E a cadeira?

Sorri para ela.

- Não preciso tanto dela mais.

Ela começou dar pulinhos.

- Isa? É você mesmo? - perguntou alguém atrás de mim.

Virei-me para a pessoa.

- Pessoa! - falei, dando um abraço nela.

- Pessoa! O que aconteceu com suas pernas?

(Antes que você se perca no meio de tanta "pessoa", vou te situar: costumo chamar Mari e Cecy de Pessoa. Neste caso, foi Cecy. A questão vem: por quê? Descobrimos que era uma amizade mais antiga do que pensávamos. Eu e Cecy estudamos juntas no Brasil. Eu vim para a França e ela veio dois anos depois. Mari era amiga por causa do meu pai, que trabalhou com o pai dela. Éramos bem amigas. Ela veio depois para a França, voltando um ano para lá. Quando descobrimos, passei a chamar ambas de "pessoa", como eu costumava fazer antes.)

Sorri maliciosamente para Cecy.

- Vou esperar as outras chegarem para contar tudo.

- Não! Crueldade! - falou Cecy, notando que não havia ninguém.

Larissa apenas riu, e mandei-lhe um olhar interrogador. Ela foi até seu quarto e Cecy foi atrás. Na retaguarda, abri os braços para me equilibrar mais facilmente em meus pés. Quando entramos, o quarto estava silenciando. Quase que aproveitando o momento, meu telefone começou a tocar o toque "sinistro", fazendo gritos ecoarem no quarto escuro, sinalizando que eu e Cecy éramos, na realidade, as últimas e provocando um ataque de risos em mim. Atendi o telefone. Era um número anônimo. Mas a reconfortante voz do outro lado valeu a pena:

"Bella."

- Oi...

"Tenho a solução do seu problema. Passe o endereço da casa de Larissa para este número. Você vai ser livre. Livre de Paulo.", e desligou.

***

POV. Davi

Naquela noite devastadora, fui forçado a abandonar e fugir de Isa. Meu coração sentia falta de uma metade dele. Mas fiz aquilo por ela. Por mim. Por nós.

Sem ter muito aonde ir, me escondi em um parque que ficava perto da escola. Embrenhado no meio das árvores. Foi como passei a noite. Não fui pego por ninguém. Fiz como Katniss em Jogos Vorazes: deitei em um galho e amarrei-me a ele com um cinto. Na manhã seguinte, dia do aniversário de Larissa, uma mensagem de um número anônimo piscava em minha tela. Dizia:

"Davi!!

Me encontre no portão 3 da escola

Às três da tarde!

Tenho algo que pode ajudá-lo!

JB"

Confuso e um pouco grogue pelo pouco tempo de sono, pisquei e reli a mensagem. Naquele momento, o vento fica mais forte, trazendo um avião de papel. Um belo desenho, certamente feito por Isa. "Queria que estivéssemos aí, juntos...", dizia o papel. Triste, mas com um pouco de esperança por causa da mensagem de JB, escrevi um poema na folha. O vento mudou, passando a ventar na direção de onde o papel viera. Joguei alto o papel, torcendo para que Isa o recebesse. Olhei a hora: 7:00. Ainda faltavam algumas horas, então comi algo que achei em minha mochila. Depois, descansei mais um pouco. Era cedo. Mas fui acordado com algo que passou zunindo ao lado de minha orelha:

Uma flecha.

Franzi as sobrancelhas e vi uma mensagem ali:

"Desça."

Não dizia de quem era. Procurei na flecha inteira. Nem sinal. Desconfiado, soltei-me do galho e peguei minhas coisas, que eu escondera em um buraco na árvore. Desci, como me fora ordenado. Ao longe, vi uma mulher correndo com o arco. Fui atrás dela. Ela parou perto do portão principal. De costas para mim, colocou o capuz sobre a cabeça e virou, ocultando o rosto. Suas bochechas e mãos morenas estavam à mostra, além de seus lábios vermelhos. Pude ver marcas de lágrimas em sua face.

- O que você quer? - perguntei à estranha.

Com a voz embargada, falou:

- Quero pedir desculpas. - e tirou o capuz. - Por tudo o que eu fiz.

Olhei em seus olhos castanhos e identifiquei-a.

- Se tem algo que eu possa fazer para pagar o que eu fiz, por favor, me diga o que é!

- Carol. Você está verdadeiramente arrependida?

Ela assentiu freneticamente.

- Então eu te perdôo.

Ela alegremente me abraçou e, desconcertado, abracei-a de leve, afastando-a depois.

- Obrigada... Eu sei que errei demais, mas vou tentar ser melhor.

Assenti para ela, que olhou o relógio e disse para mim:

- Preciso ir! - e, acenando, foi.

Comecei a me perguntar o que estava acontecendo. Então, recostei-me sob a sombra de uma árvore e tirei um cochilo.

***

POV. Isabella

-...e foi isso que aconteceu. - terminei de contar as meninas tudo o que acontecera desde que Paulo aplicara a cura em mim.

Eu havia mandado o endereço para Davi e as meninas me pediram para contar como eu estava andando, mesmo que mais ou menos. Eu não sabia muito bem o que estava acontecendo por fora da casa de Larissa, mas era alguma coisa importante.

Logo depois, as meninas decidiram jogar "casa, mata ou beija?", cujos papéis havíamos escrito e cortado um a um.  Só então notei que faltava alguém.

- Onde está Gigi?

- Você não viu as últimas mensagens do grupo?! - falou Cecy.

- Não... Eu não costumo olhar o whatsapp frequentemente.

- Ela não vem. - Larissa revirou os olhos ao falar. - ficou chateada com a discussão e desistiu de ir.

- Ela tem mania de se fazer de vítima... - falou Dani.

- Ei! Eu perguntei! Não era pra acabar com o clima de festa!

- Está bem! - Rafhinha respondeu, tirando seus primeiros papéis.

Logo depois do jogo, a mãe de Larissa nos chamou para os parabéns. Notei a grande mesa no centro com um bolo e docinhos. Cantamos os parabéns, com um detalhe... Jogamos bolo no cabelo da aniversariante ("minha escova!!") e pusemos os pijamas, indo para a varanda em seguida. O vento balançou mes cabelos para trás e fechei os olhos, inalando a suave brisa. Escutei as meninas chegando com doces e mais doces na mão (coloquei os meus em minha inseparável bolsa) e sentei no chão, sobre as pernas. Enquanto esperei-as, prendi meu cabelo em uma trança. Continuei a fazê-la quando elas chegaram e sentaram em seus respectivos lugares. Já eram nove da noite e o sol descia, rumo ao fim do dia. A primavera francesa era iluminada pelos raios dourados do sol poente. A paisagem colorida era bela, admirável.

- ...Isa? Alôô!! Isa! Terra para Isa! - falou Mari.

-...Hm? - perguntei, piscando e voltando de meu devaneio.

- Estava pensando em quê? - interrogou Larissa.

- Na primavera... Ela é bonita... Eu me lembro que no Brasil era menos evidente... E que meu aniversário era na primavera. Aqui, é no outono. Sinto um pouco de falta de lá... Minhas avós moram lá, faz tempo que eu não as vejo.

- É mesmo, é bonito lá... - comentou Mari.

- Mas era un verdadeiro fim do mundo, onde morávamos! - falou Cecy, rindo.

Rimos juntas, falando de Brasil, estações, etc. Olhei novamente para a cidade da luz e, baixinho, comecei a cantar City of Stars, de La La Land.

"City of stars

Are you shining just for me?

City of stars

There's so much that I can't see


Who knows

I felt it from the first embrace

I shared with you


That now our dreams

They've finally come true


A rush

A glance

A touch

A dance


To look into somebody's eyes

To light up the skies

To open the world and send me reeling

A voice that says I'll be here and you'll be alright


I think I want it to stay


City of stars

Are you shining just for me?

City of stars

Never shined so brightly"


(Cidade das estrelas

Brilhas só pra mim?

Cidade das estrelas

Há tanto que não posso ver


Quem sabe

Senti isso no primeiro abraço

Que dividi com você


Que, hoje, nossos sonhos

Eles finalmente se realizaram


Um esbarro

Um olhar

Um toque

Uma dança


Para olhar nos olhos de alguém

Iluminar os céus

Abrir o mundo e me devolver cambaleando

Uma voz que diz "estou aqui e estarás bem"


Acho que quero que isso fique


Cidade das estrelas

Brilhas só pra mim?

Cidade das estrelas

Nunca brilhou tanto)


Aquilo era tudo em que eu poderia pensar e refletir a mim ali. Apesar de me sentir um pouco curiosa, como Luce em Fallen. As horas correram, e logo o sono abateu-se sobre mim. Elas falavam e riam alto, mas meus olhos fecharam-se e acabei por cochilar, acordando uma vez ou outra. Por fim, entre um acordar e outro, elas haviam saído. Ainda grogue, tentei abrir mais olhos, mas meus corpo estava demasiadamente cansado. Continuei sentada sobre minhas pernas e escutei um barulho vindo da janela. Cansada demais, apenas sucumbi ao sono que me invadia, sentindo meu corpo ser calorosamente abraçado por alguém que sussurrou algo para mim, mas sequer pude compreender...

***

POV. Davi

Naquela tarde, eu estava pronto.

Com meus poucos pertences, parti para a entrada da escola, onde uma pessoa me aguardava. Me aproximei dela cautelosamente, sem saber exatamente suas intenções. Ela me notou e acenou, vindo em minha direção.

- Oi, Davi! Eu sou Júlia Bezerra do 1°CM. - ela sorriu, parecendo animada. - Acho que Isa falou de mim para você, ou pelo menos as informações que eu dei do dispositivo. Sou amiga de Carol... Acredite, ela está mesmo arrependida do que fez. E, para provar... - ela puxou um frasco com um líquido roxo de dentro da bolsa. -...ela fez isso.

- O que é? - perguntei, tentando omitir minha curiosidade interior.

Sorrindo mais, ela respondeu:

- Carol, como a real criadora da cura, repetiu a cura, mas com uma coisa que vai desativar e anular totalmente o dispositivo. Ela não pôde vir ou Paulo descobriria.

Era a melhor notícia que eu tivera há dias. Logo depois, me explicou todo o procedimento para aplicar a cura. Agradeci-a pela cura e tudo o mais. Alegre, pedi que me emprestasse seu celular (o meu descarregara) e liguei para Isa, cujo número eu sabia de cor.

- Bella. - falei, assim que ela atendeu.

Ouvi o barulho de risos ao fundo e lembrei que Isa estava na festa de Larissa. Eu teria que invadir a festa do pijama.

Parecendo surpresa, ela respondeu:

"Oi..."

- Tenho a solução do seu problema. Passe o endereço da casa de Larissa para este número. Você vai ser livre. Livre de Paulo. - e desliguei.

Pouco depois, o endereço chegou. Procurei em um mapa. Agradeci a Júlia pela ajuda e me preparei para partir. Fiz o caminho uma, duas, três vezes. Fui comprar algumas coisas com o pouco dinheiro que me restava e esperei a noite cair. Pela janela de sua casa, entrei. Já era tarde da madrugada em Paris, o Sol havia se posto. Na varanda pela qual entrei, encontrei Isa sozinha, quase dormindo. Peguei-a em meu colo. Não queria encontrar as outras dormindo ou acordá-las. A sala estava vazia exceto por colchões. Coloquei Isa sobre o sofá e apliquei nela a cura, como me fora ensinado beijai sua testa. Ela, provavelmente sonhando, segurou minha mão fracamente e sussurrou meu nome, entreabrindo os olhos e boca.

- Durma bem, Bella.

Beijei sua testa e me soltei de sua mão.

Escutei risos vindos da cozinha se aproximarem da sala e fugi pela janela novamente.

Estava feito.

Isa estaria finalmente curada.

Em breve, estaríamos juntos.

Para sempre.


***


POV. Isabella

Pela manhã, fui a primeira a acordar. Me sentia... diferente. Uma constante dor de cabeça me atormentava. Mais forte do que antes. O sol já havia nascido. As outras pareciam dormir como pedras.

Tentando não causar um caos, fui pegar minha bolsa, tentando usar as pontas dos pés, mas ainda não conseguia.  Então, a passos normais e apoiando-me em tudo, alcancei-a e fui para o banheiro, colocando uma roupa normal. Um short, uma blusa. Peguei dois lápis (não saio de casa sem dois lápis) e prendi meu cabelo. Procurei alguma coisa para amenizar a dor de cabeça, mas não achei.

Do meio da sala, escutei um murmúrio indistinguível, seguido de um grito irritadiço.

- A poção do fogão, mãe! Tá no lixão, logo ali!

Surpreendi-me ao ver Cecy ao falar no sono e divertidamente lembrei da época em que meus pais falavam que nós conversávamos durante o sono. Ela dormia lá em casa e vice-versa. E conversamos sobre um carrossel durante o sono.

Logo depois, um "miado" saiu dos lábios de Mari:

- Nháaáaáaá!

Respondido igualmente por Liv:

- Nháaáaáaá!

- Bom dia! - falei, segurando o riso.

- Bom dia... - responderam em uníssono.

Elas se arrastaram para fora dos colchões, trocando de roupa também.

Começamos a conversar coisas aleatórias e a jogar burro d'água à medida em que as outras acordavam. Quando Débora, a mãe de Larissa, acordou, ela preparou café da manhã para todos nós. Aos poucos, minha dor de cabeça pareceu se amenizar, até se extinguir totalmente. Mesmo a que estava antes, quando o dispositivo foi instalado e sua presença, como ser invasor, passou. Estranho...

Fui retirada de meus pensamentos por causa do cheiro de bolo de chocolate, que acabou por quase ser comido inteiro antes de chegar à mesa. Os ROs, ou restos de ontem. Hum...

Tivemos uma manhã divertida na qual eu praticamente desafiei os restos da paraplegia de diversas maneiras: amarelinha, esconde-esconde (com pique), ciranda cirandinha e, no grand finale, dancei de todos os Just Dances (já que Larissa tinha todos). Eu nunca ficara tão feliz por estar com elas.

Logo depois da manhã mais divertida da História, tivemos que ir, cada uma para sua respectiva casa. Aquilo havia dado um ar de alegria ao feriado emendado de Corpus Christe. Eu estava de carona com Cecy, como fazíamos pequenas com frequência (todas as quartas-feiras, íamos no meu carro, escutando Coração Bobo de Alceu Valença e fingindo tocar o violão no cinto de segurança), conversando coisas bem aleatórias. Seu pai, que aparentemente gostava também das músicas do One Direction, deixou Perfect tocando, seguindo a sequência do CD (sim, eles têm o Made in The AM). Ao chegar em casa, a primeira coisa que notei foram minhas flores: pareciam murchar. Espantada, toquei uma rosa. Parecia... seca. Eu havia esquecido totalmente do jardim que eu cultivara. Peguei um balde e comecei a regá-las. Quando não havia mais nada para fazer, notei que a casa estava fechada. Bati, mas ninguém veio. Olhei a hora: 13:00. Talvez tivessem saído para almoçar. Tentando me proteger do Sol, sentei-me sob a sombra de minha velha macieira e golpeei-lhe o tronco com o cotovelo, recebendo uma maçã na mão e outra na cabeça. Uma flor delicadamente caiu em meu colo e, sorrindo, coloquei-a no cabelo. Pus a segunda maçã no colo e me preparei para comer a que estava em minha cabeça. Ainda esfregando o local atingido, dei uma mordida na suculenta fruta vermelha.

- Isabella, é você? - escutei a voz antes de tudo.

Aquela voz que fazia meu coração acelerar. Um sorriso formou-se em meus lábio e respondi, ainda sem vê-lo:

- Sim! Venha cá! - e indiquei o lugar ao meu lado.

Davi sentou-se, passando o braço por meus ombros. Ele vestia uma blusa azul e um jeans escuro. Puxando-me para perto, beijou-me os lábios demoradamente. Eu correspondi-lhe alegremente, apesar de esperar um puxão em minha mente me levar para longe dele.

Mas ele não veio.

Com os olhos brilhantes, Davi se afastou um pouco, seu sorriso iluminado. Inclinando-se na direção de minha orelha, sussurrou:

- É você de novo...

Meus braços, agindo por vontade própria, envolveram seu pescoço em um abraço apertado e alegre.

De alguma maneira, eu estava livre de novo.

Livre.

De Paulo. Do mal que ele me infligiu. E eu era eu, finalmente.

Davi contou-me sobre a "cura" que ele aplicara em mim enquanto eu dormia e o que ela fez. Explicou o que ele fizera na véspera e todo o resto. Depois de algum tempo, escutamos passos vindos da rua e vimos meus pais e Estela voltarem com uma marmita. Levantamo-nos, ainda abraçados, e acenamos para eles. Estela, saltitando, veio em minha direção e apertou minha cintura com os bracinhos magros.

- Estava com saudades, Isa! - exclamou.

- Eu também, gatinha! - sacudi seus cabelos, como eu fazia para irritá-la.

Meus pais, sorridentes, nos abraçaram e abriram a casa.

A casa parecia cheia de cor e vida, como eu não via ao pouco tempo que parecia ter sido um século. Janelas entreabertas deixavam a luz entrar na casa, o verde e colorido das plantas visível de todas elas. Flores primaveris enfeitavam Paris inteira. Minha casa parecia alegre, renovada, aconchegante.

Exatamente como deveria ser.



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