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História Isolados - O jantar


Escrita por: ariesoul

Capítulo 6 - O jantar


Eu fui bom... um dia.

Porém, não sei descrever o que já fiz de bom para mim ou para alguém. O meu único problema, é que eu sempre quis tudo, tudo no mesmo instante. Nunca tive planos... pareço alguém que tem planos? Acredito que meu impulso e ganância me trouxe para aonde estou agora. Queria ter o que meus pais não puderam me dar, só que fui longe demais.

Muitos admiram o futuro, romantizam o futuro, como se fosse uma fase boa, a famosa esperança de que tudo vai ficar tudo bem. Não! Nossa melhor fase é o agora; devíamos pensar menos no amanhã e viver mais o presente. O futuro não é agora, mas o presente é o que vai fazer de um possível futuro. O pior disto, é que eu não estava com este pensamento quando fugi da casa do meu pai aos 13 anos.

Fui criado em uma fazenda em Moooresville, Indiana. Minha mãe morreu quando eu tinha três anos de idade e por frustração, meu pai me espancava por não saber uma melhor maneira de me educar. Consegue ver? Eu não sou ruim e sanguinário por diversão, as pessoas ao meu redor que me fizeram assim. Não encontrei o caminho digno de um homem por simplesmente ter recebido apenas discursos de reprovação e ódio durante toda a minha vida. Quero dizer, não me faço de vítima, mas, se a sociedade pudesse encontrar o futuro nas crianças ou que violência não é resposta, não haveria guerras mundiais e talvez eu não teria raptado Claire.

- Eu vou precisar anotar isso, eu não vou lembrar. ─ disse Claire, se levantando do sofá e indo procurar por algum bloco de notas.

Eu estava sentado no carpete da sala enquanto a TV estava ligada passando algum programa fútil. Anteriormente, havia dado a ideia de nos passarmos por um casal que acabara de noivar para não trazer desconfianças para a vizinha ao lado. Não tinha ideia de como iria interpretar uma vida e sentimentos, mas essa era a única maneira de convencer a vizinha e talvez afastá-la daqui. Notei que ela se preocupava com Claire e isso certamente me traria problemas no futuro.

Ela voltou e sentou-se à minha frente, cruzando suas pernas uma embaixo da outra. Afastou algumas mechas de seu cabelo negro com um lápis em sua mão, colocando o mesmo em sua orelha e segurando seu cabelo parcialmente.

Desde que dei início a este plano de última hora e mantendo Claire prisioneira, tento até agora não notar muito seu rosto e suas feições, tento não olhar muito para ela. Somente a voz dela me deixa curioso sobre quem é ela, de onde ela vem e... Bem, tudo o que não pude deixar de notar foram seus olhos azuis que me lembravam os mosaicos da janela de uma igreja que meu pai me levava todos os domingos, era o único lugar em que eu podia ficar quieto e ter a breve sensação de paz. Ela era pálida, mas saudável. Tudo o que sei até agora, seria um grande erro se me atraísse por ela.

- Vai lembrar de tudo o que eu disser? ─ Claire me perguntou em um tom duvidoso.

- Não se preocupe. ─ assenti com a cabeça, afirmando.

Ela me olhou por baixo de seus cílios, sempre desconfiada. Abaixou seus olhos e fitou a página do pequeno bloco de notas, retirando o lápis de trás de sua orelha, deixando seu cabelo cair à frente de seu rosto.

- E por onde começamos? ─ perguntou, sem desviar os olhos do bloco de notas.

Dei de ombros e me apoiei com meus braços atrás do meu corpo, sustentando-o. Já estava escuro lá fora, somente a luz da sala acessa e o brilho azulado da TV refletia no canto do rosto de Claire.

- Tudo o que um casal sabe do outro, oras.

Claire me encarou, como se eu não tivesse ajudando. Rolei os olhos brevemente, e me inclinei para frente.

- Eu sei lá... cor favorita, comida favorita, signo, o que quer do futuro, se querem ter filhos, onde trabalha, com o que trabalha, no que se formou, filme favorito...

Claire deu um grande suspiro e olhou para cima como se estivesse buscando palavras e soltou seu fôlego quando deu início.

- Eu gosto da cor azul, gosto de torta de maçã, acho que sou sagitariana – não me lembro muito bem, tenho que conferir o jornal -, no futuro eu quero... ─ fez uma pausa para pensar ─ quero ter mestrado em alguma área da medicina. Uh, filhos... talvez um, para não morrer sozinha. E antes de você chegar, eu deveria estar trabalhando voluntariamente no hospital desta cidade. ─ me lançou um olhar me culpando ─, então considere que estou desempregada. Me formei em enfermagem e não sou muito fã de filmes. Talvez estes animados que passam na TV. – ela ficou com o olhar parado sobre o carpete, como se estivesse lembrando de algo, um olhar melancólico. Rapidamente se recuperou e apontou com o queixo em minha direção. – Sua vez.

- Eu gosto de baseball, filmes bons, carros rápidos, whiskey... não gosto de nenhuma cor. Gosto de pizza. Me lembro de um parceiro de trabalho ter me dito que meu signo era Áries; não me interesso sobre meu futuro. Se pudesse, teria muitos filhos; Você sabe que sou um agente secreto, então para outras pessoas eu posso ser apenas um soldado dispensado mesmo. ─ falei abanando a mão em direção as anotações dela. - Não tive tempo de me formar, mas queria ter feito História. ─ tentei ser o mais breve possível, até porque eu não tinha uma vida interessante.

- Você fuma? ─ ela me perguntou, ainda fazendo suas anotações sobre mim.

- Às vezes.

- A partir de agora, você não fuma mais. ─ disse secamente.

Não questionei. Ela tinha cara de quem odiava fumaça de cigarro.

- Alguma observação? ─ ela me perguntou clinicamente, ainda fazendo anotações.

- Está me avaliando? ─ perguntei, entre um riso. Ela me encarou séria, não vendo graça. Torci meus lábios para cima e desviei meus olhos. – Você se sente solitária? Não digo exatamente agora, mas... durante sua vida. ─ indaguei.

- Sim. ─ respondeu, sem adicionar comentários, mas ainda podia sentir ela me olhando.

Claire largou as anotações ao lado dela e colocou suas mãos dobradas em cima de suas pernas.

- Você também parece ter tido uma vida solitária.

Dei um riso em um murmuro. Ela estava certa, sei muito pouco do que a vida tem de bom para me oferecer. Arrisquei em dizer que esses dias que estou passando nesta casas é o momento mais tranquilo e sem ameaças da minha vida, mas isso era irrelevante.

Claire não parecia transtornada com a situação em que a coloquei e isso me deixava cauteloso, não sabia o que ela podia ter em mente. Em momento algum pretendi machucá-la intencionalmente. Mesmo não sabendo de seus pensamentos sobre mim ou talvez o quanto me odiasse, não podia de deixar de admirá-la, por sua personalidade... e beleza também.

Ela resolver assistir TV comigo, mas sentou-se do outro lado do sofá afastada de mim. Assistimos alguns seriados de comédia, mas ela não riu em momento algum. Claire sempre parecia cansada e desgastada, não demorou para que ela pegasse no sono no canto do sofá com seu braço apoiando sua cabeça. Ela estava encolhida quando resolvi colocá-la em um lugar melhor para dormir. Me levantei do sofá e com muito cuidado, envolvi suas pernas ligeiramente dobradas em meu braço e apoiei sua cabeça em meu outro braço, deixando espaço para sua cabeça pousar brandamente na curva do meu braço.

Dei a volta no sofá e subi as escadas descalço para não emitir nenhum barulho que pudesse acordá-la. Ao chegar no corredor, coloquei-a em uma cama de dois espaços sem ser o quarto que ela estava acostumada a dormir. Deixei seu corpo repousando sobre a cama e ajeitei o travesseiro atrás de sua cabeça para que ficasse confortável. Notei que um dos braços de Claire estava envolvido em meu braço e pude sentir seus dedos deslizarem suavemente pelos fios da minha nuca até seu braço cair do outro lado da cama. Ela dormia profundamente enquanto retirei seus sapatos e voltei para cobri-la. Claire se aninhou embaixo da coberta e deu um longo suspiro.

Fiquei por um momento assistindo-a dormir, parecia tranquila, assim como a luz lunar que refletia em seu pescoço exposto. Desta vez observei o quanto realmente era pálida... conseguia ver pequenas linhas violetas se desenharem em seu pescoço, que eram suas veias. Seu cabelo era volumoso e levemente ondulado, deixando sua cor menos negra na luz que havia sob ela.

Quando me peguei olhando-a por tempo demais, me virei em meus calcanhares, franzindo meu cenho e olhando-a pelo canto dos meus olhos. Pisquei algumas vezes e suspirei, deixando o quarto onde Claire dormia.

No dia seguinte.

- Deixe-me fazer isto claro para você. ─ Claire disse descendo as escadas amarrando um lenço em sua cabeça que segurava seu cabelo para trás. – Eu não quero saber de você me colocando para dormir sem meu consentimento. Não quero você tocando um dedo sequer em mim.

Claire terminou de arrumar seu cabelo e ao chegar ao fim da escada, olhou para os lados procurando por Dean, mas não houve resposta. Esticou o pescoço para ver a sala e a cozinha, mas não havia nenhum sinal dele. Claire andou para os fundos da casa e foi até varanda que dava de frente para uma estrada estreita e do outro lado havia uma mata consideravelmente cheia de vegetação. Ela cobriu o sol com sua mão em sua testa e forçou as vistas vendo algo se mexer entre as folhas e galhos da mata logo à frente.

Era Dean tentando sair daquele lugar verde carregando consigo algo em sua camisa dobrada. Ele tropeçou pela última vez quando finalmente conseguiu sair e foi parar no meio da estrada.

- O que você está fazendo?! ─ Claire perguntou sem entender aquela cena.

Dean abanou com sua mão livre em direção à casa, indicando que Claire fosse para dentro. Claire pensou em hesitar e confrontá-lo, mas lembrou das ameaças que ele vinha fazendo desde o dia em que apareceu.

Quando ele voltou para dentro da casa, Claire estava como os braços cruzados no meio da sala de jantar onde ficava de frente para a varanda onde Dean acabara de entrar. Claire não questionou, seus olhos já faziam a pergunta por ela mesma.

Dean andou até a mesa comprida e estreita e despejou pêssegos de dentro de sua camiseta.

- Eu não quero vê-la fora da casa outra vez. Entendeu? ─ Dean disse seriamente, encarando Claire, mas ela não o olhou.

Dean bateu sua mão na mesa, fazendo Claire saltar de susto. Ele levou sua mão para o rosto de Claire e envolveu com força, obrigando-a olhar para ele. Afundou seus dedos no rosto pálido e agora assustado de Claire.

- Quando eu estiver falando com você, quero que me olhe e me responda imediatamente. Seu comportamento rebelde não vai me causar nenhuma pena ou colaboração. ─ ele moveu o rosto de Claire para o lado, levando suas palavras para mais próximo da orelha dela. – Gentileza não significa simpatia. ─ cuspiu as palavras e soltou o rosto de Claire violentamente, fazendo-a dar um passo para trás.

Claire não tinha o que dizer, apenas lamentar e desejar que tudo isso acabasse logo.

- Agora... ─ ele se recompôs e disse como se nada tivesse acontecido. – Leve estes pêssegos para a cozinha, depois pegue minhas roupas e ajeite-as no mesmo quarto onde você dorme. Se vamos ser um casal, ao menos faça algo convincente. ─ ele deixou a sala de jantar e subiu as escadas.

Algumas horas depois.

Claire se olhava no espelho do banheiro e virou seu rosto em frente ao espelho, vendo um hematoma em seu maxilar, estava esverdeado e levemente lilás. Esticou sua mão para tocar e gemeu com a dor.

Estava perto de Elizabeth chegar com as crianças e ela não havia se arrumado apropriadamente ainda, estava sem vontade de socializar, muito menos comer. Fez um esforço e foi para o quarto escolher alguma roupa. Dean passou por ela assim que Claire saiu do banheiro, mas não trocaram nenhuma palavra. A porta do banheiro se fechou nas costas de Dean e Claire seguiu para o quarto, aproveitando a ausência dele para trocar suas roupas.

Escolheu uma saia longa e rodada na cor azul-escuro e uma blusa branca e meia manga e botões até o colarinho. Ao vestir, calçou seus sapatos pretos com um salto baixo e grosso, incluindo sua meia calça longa. Ajeitou o cabelo sem espelho mesmo, arrumando-o da maneira que acreditou estar bom, afastando seus cachos para os lados. Ao andar até penteadeira ─ que havia um espelho ─ Claire arrumou melhor seus cabelos e depois desviou seus olhos para a mesa da penteadeira onde havia uma caixinha de madeira clara. Ela abriu e se deparou com alguns elementos de maquiagem, algo que ela não usava há anos. Arriscou a usar um batom vermelho fosco, que na verdade, nem era seu, era de sua prima. 

Sua prima havia colocado em sua mala assim que soube da mudança de Claire, mesmo sabendo que ela não era muito fã de "colocar coisas na cara", assim como Claire costumava dizer à sua prima. Girou a embalagem cintilante e escura em sua mão e deslizou brandamente o bastão vermelho por seus lábios. Quando finalizou, devolveu a embalagem na caixinha e quando se virou, viu Dean parado na porta do quarto com uma toalha enrolada em seus quadris, seu cabelo louro estava ridiculamente bagunçado, espetado para cima e úmido, assim como o resto de seu corpo.

- Eu já estou descendo para receber Elizabeth. ─ Claire disse indo em direção da porta, com suas mãos na frente de seu corpo.

Dean a segurou pelo braço, sem machucá-la. Curvou seu pescoço em direção à Claire para fitar seu rosto.

- Me perdoe se a machuquei hoje de manhã. Está sendo difícil para mim, também. ─ Dean desviou seus olhos para o hematoma no maxilar de Claire e lamentou com seus olhos. – Dê um jeito de cobrir isto.

Claire assentiu com a cabeça e se esforçou para olhar Dean nos olhos, assim como ele havia mandado hoje mais cedo. Soltou-se gentilmente da mão de Dean e seguiu para a sala.

Enquanto Claire estava sentada no sofá com suas mãos pousadas em suas pernas, começou a tentar a formular algo sobre Dean. Ela notara que ele é frio, mas tenta ser amável algumas vezes. "Isso não é normal", pensou Claire consigo mesma. Ele ficava possessivo de repente, não tinha muito controle de suas ações e agia de modo rápido em circunstâncias de risco. Claire temeu que ele tivesse dupla personalidade ou algo parecido. Nunca encontrou armas na casa, algo que Claire sabia que Dean tinha, e não eram poucas. Se ele havia escondido, devia ter feito isso muito bem, pois Claire já havia revistado a casa inteira ─ discretamente ─ em busca de algo que pudesse ameaçar Dean.

- Pode me ajudar com isto? ─ a voz de Dean despertou Claire de seus pensamentos e ela olhou em direção a ele perto das escadas.

Ele tentava abotoar as mangas de sua camisa que também era branca. Claire se levantou do sofá e foi em sua direção, esticando seus braços.

- Me dê isso. ─ disse com paciência tocando os pulsos de Dean.

Ela virou o pulso dele em sua mão e ele o manteve erguido para auxiliar. Claire abotoou um por um, fechando no terceiro e repetiu o mesmo ato com sua outra manga. Notou que Dean usava alguma fragrância cítrica esta noite, e seus cabelos estavam mais comportados desde a última vez em que o viu. Seu cabelo estava levemente úmido e para trás, como sempre. Calças escuras e sapatos não muito novos.

- Pronto. ─ Claire disse forçando um sorriso, e quando pensou em voltar para o sofá, ouviu baterem na porta.

Era Elizabeth.

Claire fechou os olhos brevemente e suspirou, mas antes de se virar, Dean colocou uma mão sobre o topo do ombro dela e a fitou nos olhos.

- Fique calma. Vai ficar tudo bem. ─ ele disse em um sussurro calmo.

Claire assentiu com a cabeça e foi abrir a porta.

- Oi, Claire! ─ Elizabeth disse empolgadamente quando a porta se abriu. – Trouxemos algumas coisas para acompanhar no jantar.

- Obrigada, Elizabeth. Entre.

- Onde está John, o seu filho caçula? ─ perguntou Claire, afagando o cabelo de Sam que havia passado por ela.

- Ah, ele está com a madrinha dele. Fazia tempo que não a via e insistiu para que eu o levasse lá; vai ficar alguns dias até o pai dele voltar.

Eles entraram e Dean não parecia nem um pouco inseguro, pelo contrário. Estava com um sorriso estampado no rosto e estava de pé perto de uma cadeira da mesa de jantar. Claire ajudou Elizabeth com as coisas para depois servir na mesa onde estava Dean e Sam, eles conversavam sobre baseball e carros.

Assim que servido, todos se sentaram na mesa, onde havia um lustre ao centro da mesa, deixando o ambiente bem iluminado. Com a permissão de Dean, Claire havia colhido algumas flores, colocado em um vaso e deixou no centro da mesa para a casa parecer mais "viva".

Dean sentou-se ao lado de Claire e do outro lado da mesa sentou-se Elizabeth e seu filho Sam. Todos se serviam da comida, menos Claire. Ela estava com o olhar perdido sem prestar atenção na conversa. Dean notou seu afastamento e pegou seu prato.

- Não vai comer?

Claire queria recusar, mas não queria deixar Elizabeth desconfortável, então assentiu com a cabeça. Dean colocou pequenas porções de cada comida que havia na mesa no prato de Claire e devolveu para ela na mesa.

Enquanto Elizabeth reprendia Sam por ter feito algo, Dean olhava para Claire.

- Coma um pouco. ─ disse baixinho enquanto mastigava sua comida.

Claire se esforçou, pegou seu garfo e espetou alguns pedaços de carne e começou a comer.

Sam não queria mais comer, então foi até o rádio perto da mesa de jantar e ficou mexendo ─ foi quando Elizabeth havia o repreendido ─, logo ele encontrou uma estação que tocava o famoso country da época. Era algo animado e harmonioso, o que deixou Claire mais relaxada.

- Há quanto tempo se conhecem? ─ perguntou Elizabeth.

- Quatro... ─ começou Claire.

- Dois anos. ─ Dean disse ao mesmo tempo.

Dean suspirou e pousou seus pulsos sobre a mesa, dando um sorriso sem graça.

- Nos conhecemos há quatro anos, mas estamos noivos oficialmente há dois anos... ─ disse corrigindo.

Elizabeth sorriu e se inclinou ligeiramente sobre a mesa.

- Como se conheceram? Não parecem ser do mesmo lugar... ─ Elizabeth estava curiosa em relação a ambos.

- Em Huston... ─ começou Claire. ─ Houve um ataque aéreo dos nazistas por lá e ele estava ferido... então foi levado para o hospital em que eu estava de residência.

- Quem diria que uma guerra poderia unir duas pessoas... ─ Elizabeth disse balançando a cabeça, reprovando o fato da guerra estar acontecendo.

- E o que você fazia em Huston, Dean? ─ perguntou Elizabeth.

Dean abriu um sorriso um tanto nervoso e pigarreou quando abriu sua boca para inventar alguma coisa, mas foi cortado por Sam debruçado na cômoda da sala de jantar ouvindo o rádio.

- Que tipo de música é essa? ─ fazia uma careta de reprovação. – Nunca ouvi antes.

Dean aproveitou a deixa e respondeu Sam, se livrando da pergunta de Elizabeth.

- É uma música francesa, Sam. Se chama "La mer" de Charles Trenet. ─ respondeu Dean com um sorriso.

- Charles? ─ Sam retrucou em pergunta, corrigindo com seu sotaque do Texas.

- Não. É "Charles" mesmo. ─ Dean disse em sotaque francês, destacando o "Char".

- Acha estranho? ─ Dean perguntou.

Sam deu de ombros, indicando que sim.

- Bem, deixe-me lhe mostrar como é que se dança esta música. ─ Dean disse se levantando da cadeira.

- Ei, eu não vou dançar com você, cara. ─ Sam ergueu seu corpo e se encostou contra a cômoda.

Dean deu uma risada e esticou sua mão para Claire sentada ao seu lado.

- Com certeza não será com você. ─ ele respondeu sarcasticamente para Sam e olhou para Claire, com um sorriso no canto de seus lábios.

- Não fale assim com o senhor Blake, Sam. ─ disse Elizabeth.

Dean havia usado um nome falso; havia se nomeado de "Jaden Blake".

- Tudo bem. ─ ele esboçou um sorriso para Elizabeth e olhou de volta para Claire que estava sentada na mesa olhando a mão estendida de Dean.

- Eu acho melhor não. ─ Claire disse para Dean. – Acho que perdi o jeito. ─ disse em um risinho envergonhado.

- Ora, não se acanhe! Mostre-nos como se dança! ─ Elizabeth disse empolgada.

Sam olhou em um sorriso com expectativa de vê-los dançando, então Claire se rendeu e segurou a mão de Dean, se levantando.

Claire até sabia dançar um pouco, mas estava tão tensa que não conseguia tirar seus pés do lugar assim que Dean a levou para o meio da sala e envolveu sua cintura com firmeza.

- Esqueça disso por dois minutos. ─ Dean sussurrou para Claire.

Dean segurou a mão de Claire na altura de seus ombros e a aproximou mais de seu corpo, então começaram a se deslocar lentamente pela sala. A saia azul-escuro de Claire rodava em um floreio quando Dean a girava brandamente próximo de seu corpo. Eles se olhavam estranhamente por alguns momentos, mas Dean sorria para Claire cada vez que ela o encarava. Dean afastou seus corpos ligeiramente e levantou seu braço, fazendo Claire rodar graciosamente à sua frente e depois voltar para ele pousando uma mão no ombro dele. Quando a música estava no refrão, Dean inclinou seu corpo para frente fazendo Claire se curvar para trás e seus cabelos ficarem soltos no ar.

Sam soltou uma risada e aplaudiu junto a Elizabeth que também ria.

Claire havia feito uma careta quando se curvara pois não esperava por aquele movimento, causando risos nos três. Claire ficou séria, e quando Dean a puxou de volta, ela gargalhou olhando para Elizabeth.

- Meu noivo deve ter esquecido que não tenho mais 17 anos. ─ ela disse entre risos para Elizabeth.

Por um breve momento, Claire percebeu que algo verdadeiro estava acontecendo pela primeira vez que chegara ao Texas. Ela estava se divertindo e rindo com seus vizinhos e seu noivo postiço.

Claire e Dean se olharam e ambos sorriam, mas não tinham percebido que estavam se olhando, até Claire se dar conta que estava fitando Dean afetivamente obtendo retorno. Ela notou os olhos azuis de vidro no rosto de Dean imóveis, apreciando todo o rosto de Claire, deixando-a sem jeito; as maçãs de seu rosto queimaram e ela se afastou, soltando a mão de Dean.

Claire pigarreou e passou suas mãos em sua saia, ajeitando-a pelas laterais.

- Bem, podemos ir para a sobremesa agora! ─ disse tentando disfarçar.

- Vá ajudar Claire, Sam. ─ Elizabeth disse ainda sentada na mesa, dando um tapinha nas costas de Sam. Ele não questionou e foi para a cozinha com Claire.

Dean convidou Elizabeth para sentar-se no sofá enquanto esperava pela sobremesa. Elizabeth sentou no sofá maior de frente para a TV e Dean se ajeitou no sofá menor que ficava de lado.

- Quando foi que resolveu vir para o Texas? ─ Elizabeth perguntou. – Claire me disse que estava sozinha na casa...

- Eu fui dispensado de atuar na guerra. Tive um ferimento na perna e fiquei algum tempo na França me recuperando, não estava em condições de voltar. Claire havia me contato pelas cartas me enviava que em breve estaria no Texas atuando na sua profissão.

- Ah... Aliás, eu não vi Claire ainda no hospital como voluntária. ─ Elizabeth disse.

Dean suspirou e se concentrou, dando um riso breve entre um sorriso.

- Bem, ela quis aproveitar um pouco do noivo antes de voltar a trabalhar.

Elizabeth sorriu junto com Dean e concordou com a cabeça, juntando seus lábios.

- Sim, eu imagino...

- Bem, há torta de maçã e de pêssego. Fiquem à vontade. ─ Claire disse enquanto voltava com duas bandejas de tortas em suas mãos e as colocou na mesa de centro. Sam vinha logo atrás com talheres e pratinhos de sobremesa.

O aroma agradável das tortas se misturaram no ar e fez Dean suspirar, se sentindo acomodado e em casa outra vez. Enquanto isso, Claire partia pedaços das tortas para dar a Sam e Elizabeth.

- De qual você vai querer? ─ Claire perguntou para Dean. Ela pensou em chamá-lo pelo nome falso, mas não iria soar normal.

- Pêssego. ─ Dean respondeu sentado no sofá com um dos braços esticados no encosto.

Claire deu um pedaço de torta para cada, incluindo ela mesma com um pedaço da torta de maçã, sua favorita. Dean havia feito as duas tortas e a preferida de Claire na intenção de agradá-la e se desculpar pelo ocorrido mais cedo.

Claire se virou para sentar-se ao lado de Elizabeth, mas não seria muito convencional quando se tinha seu noivo junto no mesmo ambiente. Então ela sentou-se ao lado de Dean e ele envolveu seus ombros com o braço dele. Ela sentiu-se terrivelmente acomodada no braço dele, e passou a odiar este fato. Não fazia sentido.

Sam sentou-se no chão e ficou comendo sua torta enquanto assistia algo na TV. Elizabeth ficou sentada no outro sofá olhando para os dois como se fossem o casal mais belo que já havia visto. "Tão jovens...", pensou consigo mesma.

Passaram o resto da noite conversando sobre casamento, filhos; sobre Sam e John, o marido de Elizabeth, a vida de Claire em Huston enquanto Dean evitava falar qualquer coisa a respeito dele. As tortas acabaram rapidamente, pois são comeu quase metade da torta de pêssego e algumas sobras da torta de maçã. Sam também perguntou mais sobre como era a França para Dean e como eram as mulheres de lá, se havia bailes com o estilo de música que ele dançara com Claire.

A noite foi agradável e divertida, com todas as histórias de Elizabeth sobre de quando era solteira e de coisas engraçadas que seus filhos faziam quando eram bebês.

- Muito obrigada pelo jantar, foi maravilhoso. ─ disse Elizabeth se levantando do sofá junto com Sam ao seu lado.

- Eu quem agradeço, eu não dava boas gargalhadas há um bom tempo. ─ disse Claire.

Elizabeth sorriu para Claire no mesmo instante em que ouviram um barulho alto vindo da varanda. Dean olhou assustado para Claire e ela ficou sem o que dizer. Dean apontou para a sala, indicando para que Claire ficasse com Elizabeth e o garoto enquanto ele ia lá inspecionar.

Claire observou Dean caminhar cautelosamente para a varanda, e notou que ele estava desarmado. Ao abrir a porta de vidro da varanda, um homem entrou na cara e acertou o rosto de Dean em um soco. Dean desviou de outro soco do homem e o agarrou pela garganta jogando-o para fora da casa, foi quando Claire ouviu um disparo de revolver.

Elizabeth correu para fora e gritou:

- Jackson!

Claire foi atrás e Sam também. Quando Claire foi para a varanda, viu Dean caído sobre o gramado com seu braço ensanguentado.

- O que você está fazendo nesta casa, Elizabeth?! ─ o homem perguntou aos berros.

- Eles são nossos novos vizinhos, Jackson! O que achou que estava fazendo? –─Elizabeth estava em desespero.

- Eu vi este homem ─ apontou para Dean no chão ─ hoje à tarde e... eu nunca havia o visto antes, ainda mais que estamos em uma cidade pequena! Eu achei...

- Isto é motivo para atirar em qualquer um, Jackson? ─ Elizabeth estava de pé em frente ao homem.

Claire ajudou Dean se levantar e o colocou de pé com esforço, deixando seu braço que não estava ferido em torno de seus ombros.

- Tudo bem, eu faria o mesmo. ─ Dean disse na tentativa de acalmar todos.

Elizabeth ainda discutia com o homem. Sam estava na varanda, assustado.

- Elizabeth, está tudo bem. ─ Claire repetiu o que Dean havia falado. – Ele está bem.

Depois dos ânimos se acalmarem, Elizabeth explicou que o homem, Jackson, era seu marido e ele não era muito "amigável", que sempre andava desconfiado. Pediu desculpas pelo o ocorrido e se ofereceu para ajudar Dean.

- Está tudo bem, Elizabeth, não se preocupe. Ele vai ficar bem, posso cuidar disso. ─ disse Claire.

- Você tem certeza? Não quer nenhuma ajuda?

- Não, Elizabeth. Vai ficar tudo bem, vá para casa, é melhor. Já está tarde.

Elizabeth se lamentou e foi com sua família de volta para casa. Claire levou Dean para dentro que estava mancando.

- O que aconteceu? ─ perguntou Claire enquanto molhava uma toalha em uma bacia de alumínio no quarto. Sua voz era clínica e sem vida.

Dean estava sentado na cama com uma de suas pernas esticadas, apoiando-se em seus braços atrás de seu corpo. A luz do corredor estava acesa, iluminando foscamente o quarto.

- Houve uma luta corporal e depois ele atirou em mim. ─ Dean disse sem cerimônias.

- Ele não disse nada?

- Não.

Dean estava com uma bala alojada em seu braço e com sua perna, logo abaixo do joelho ferida. Cacos de vidro haviam entrado em sua perna depois que Dean arremessou Jackson contra um carro ─ provavelmente de Jackson ─ levando vidros ao chão, e quando levou um tiro, caiu em cima dos cacos de vidros sobre a grama.

- Deixe-me ver isto. ─ Claire sentou-se ao lado dele e analisou a ferida. Sem a camisa, Dean posicionou seu braço no meio dos dois para Claire olhar.

Claire havia levado consigo na mudança alguns materiais de kit médico por precaução, e agora estava usando quase metade deles.

Ela usou uma pinça para retirar a bala do braço de Dean; o qual não fazia nenhuma careta e nem reclamava de dor. Provavelmente estava segurando qualquer reação. Após isso, desinfetou a ferida e começou a costurar com cuidado; Dean mal podia sentir o toque de Claire de tão cautelosa que ela estava sendo.

Dean notou a expressão cansada de Claire, mas também notou que não era cansaço físico, mas sim psicológico. Ele olhou para as mãos dela trabalhando em seu braço, e suspirou.

- Vou tentar te ajudar. Não vou pedir nada em troca. ─ Dean disse em um tom baixo.

Claire estava calada, pareceu ignorar a frase de Dean. Ela mordia seus lábios enquanto costurava o braço dele, com a cabeça um pouco baixa. Dean assistiu lágrimas escorrerem do rosto dela, mesmo tendo a cabeça baixa.

- Claire... ─ Dean disse em um lamento.

- Sou mais forte do que pensa. ─ Claire disse com a voz firme, mesmo tendo seus olhos marejados.

Dean a olhava com pesar, sentindo-se culpado mais do que devia.

- Não duvido disso. ─ respondeu para Claire em quase um sussurro.



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