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História Isolados - Ervas e Estratégias


Escrita por: ariesoul

Capítulo 7 - Ervas e Estratégias


Acordei com o sino da igreja da cidade tocando, com longas vibrações, me despertando cautelosamente. Por um segundo, acreditei estar em casa com minha mãe, o que me fez  acomodar-se mais e ignorar o som, porém, ao ouvir uma tossida carregada, meus olhos rapidamente se abriram e lembrei do presente. Era Dean reclamando de dor pela milésima vez.

Eu havia dormido no sofá da sala com um livro sobre ervas medicinais que trouxera quando me mudei. Fiquei lendo a noite inteira e cochilando quando Dean não acordava no meio da noite para me chamar.

A cortina balançou com a leve brisa e um raio de luz ardente tocou meu rosto, me fazendo acordar de vez. Virei meu corpo e coloquei minha mão no chão, me apoiando para levantar-me de maneira desajeitada. O livro tombou no chão e se abriu. Quando fiquei em pé, passei minha mão esquerda pelo meu rosto e segui pelas escadas para ver Dean.

Meus olhos estavam pesados e podia sentir o cansaço embaixo dos meus olhos, mas ignorei isso ao chegar no quarto em que Dean passou a noite deitado.

- O que foi? ─ perguntei, sentindo minha voz sair falhada devido ao sono.

- Meu braço está piorando. ─ ele respondeu deitado na cama, com a cabeça virada para o outro lado do quarto.

- Deixe-me ver isto. ─ falei andando na direção do braço direito dele, que estava ligeiramente caído para fora da cama.

Agachei-me e notei que ele estava suado e a cor natural de sua pele havia ficado menos saturada. Estiquei minha mão e pousei em sua testa que queimava de febre. Suspirei e desviei meus olhos para o curativo que havia feito em seu braço ferido; cuidadosamente tirei a gaze envolta no topo de seu braço e ele murmurou de dor. Uma linha de sangue escorreu da ferida quando removi o curativo. A ferida ainda estava aberta e não havia cicatrizado nem um pouco, além de estar mais infectada do que antes, mas isso não era culpa minha. Durante a noite fiquei insistindo para levar Dean ao hospital para cuidar da ferida, porém ele rejeitava até perder a paciência e pedir para deixá-lo sozinho, só que desta vez a ferida estava pior e ele precisava da minha ajuda.

- Você precisa ir para o hospital, Dean. ─ falei pacientemente, pegando gaze limpas que deixei ao lado da cama.

- Não... ─ ele respondeu baixinho e ofegante.

Balancei minha cabeça e comecei a limpar o sangue e a secreção de sua ferida com um algodão molhado em álcool e água.

Ouvi ele suspirar e senti seus olhos pousarem em mim.

- O que pode acontecer? ─ ele perguntou se referindo à ferida, caso não cuidasse.

- A infecção pode invadir seu sistema nervoso e te matar. ─ falei desta vez impacientemente.

- Claire... ─ ouvi ele dizer e notei um pouco de medo em sua voz.

- Se você me deixasse ao menos sair da casa e procurar por algo que lhe ajude... ─ comecei a colocar força sem perceber em sua ferida enquanto a limpava.

- Claire! ─ sua voz falhou e notei que agora ele exclamou de dor.

Afastei o algodão de seu braço e olhei para ele, depois desviei minha visão para minha mão onde havia algumas manchas de sangue dele. Inspirei e coloquei o algodão de volta no topo do criado-mudo ao lado. Levei minhas mãos em direção ao seu braço ferido e segurei sua mão entre as minhas, apertando cuidadosamente. Voltei meus olhos para seu rosto cansado e ele me olhou de volta, franziu seu cenho e direcionou seus olhos para a mão dele sendo segurada pelas minhas mãos. Manteve seus dedos imóveis e se esforçou para me olhar novamente.

- Deixe-me averiguar se nos fundos da casa há ervas que eu possa usar para curá-lo. Eu não vou para lugar algum, não vou deixá-lo sozinho agora. ─ tentei manter minha voz de maneira que o sentisse confortável e seguro comigo.

Ele continuou me olhando com seus olhos quase fechados, mas sabia que prestava atenção.

- Olhe só para você, Dean. Você está sem forças, mal consegue levantar da cama e queimando de febre. É assim que vai querer terminar depois de tudo o que fez para se esconder daqueles que lhe perseguem?! ─ juntei minhas sobrancelhas em protesto a teimosia dele e deixei minha voz mais audível desta vez.

Senti seus dedos se moverem no meio das minhas mãos ─ que pareciam de criança tentando afagar a mão dele, que era equivalente do tamanho do meu rosto ─ e devagar apertou uma das costas da minha mão. Seus dedos largos tocaram minha pele como algo frágil; não pude deixar de notar que suas unhas estavam frias e o começo da raiz em tons de violeta e a ponta de suas unhas curtas e arredondadas terminavam em um branco fosco.

Dean fechou seus olhos e balançou sua cabeça positivamente para mim, permitindo que eu saísse da casa.

Antes de sair do quarto, peguei uma tesoura na penteadeira, vesti as botas marrom de cowboy que minha prima me dera como gozação ─ pensei que nunca usaria, mas... seria preciso se eu ia me meter em meio ao mato ─ e segui para cozinha apressadamente. Vasculhei por algum recipiente para carregar as ervas e encontrei uma pequena bacia azulada embaixo da pia. Não demorei para atravessar a sala e sair para os fundos; pensei na possibilidade de encontrar alguma luva de jardineiro por perto, mas não tive esta sorte. Em frente aos fundos e um pouco distante ─ questão de dez metros ─ havia uma estrada e logo atrás dela havia uma vegetação onde vi Dean saindo uma vez e pela área ser um pouco úmida, tinha quase a certeza de haver um rio, lago ou algo parecido por perto.

Andei com dificuldade quando adentrei a vegetação, havia muitas árvores próximas umas das outras dificultando minha visão. Podia ouvir os estalos que faziam embaixo das minhas botas enquanto andava; eram galhos secos, raízes e folhas. Conforme me afastava da cidade, os ruídos de carros passando pela estrada iam se diminuindo e o som de pássaros e o vento nas árvores ficavam mais aguçados. O ar era mais puro e menos pesados quando preenchiam meu pulmão, foi quando avistei um lago grande na minha frente, rodeado de vegetação baixa e logo atrás continuava a mata fechada. Ao sair da mata, o lago tinha poucas árvores por perto e um campo extenso com diversas espécies de flores. Foi logo ali que encontrei o que precisava, algumas ervas para ferida e cicatrização, para febre, e ervas calmantes...

Parei por um instante de colher as ervas e andei até as ervas calmantes segurando o recipiente embaixo de meu braço. Me abaixei próxima das plantas e fiquei olhando-as por um bom tempo. Haviam ervas sedativas, que ajudavam na insônia e algumas mais pesadas, que se alguém tomasse o chá dessas ervas mais fortes, ficariam dormindo por um dia inteiro, ou até pior, levando à morte.

Eu queria tanto me livrar dele. Eu queria tanto ser livre dele... poder voltar para minha casa e exercer minha profissão. Eu queria tanto sair desta cidade e nunca mais vê-lo, era sempre fora um peso em minhas cotas desde quando colocou os pés na casa. Dean era imprevisível, teimoso, violento e incrivelmente carinhoso. Essa personalidade, essa... coisa nele me irritava profundamente, me fazia sentir ódio, repulsa e nojo, coisas que nunca havia sentido antes por alguém. Eu poderia me livrar dele facilmente ─ já havia conquistado um pouco de sua confiança. Um gole de chá para ele seria inofensivo, mas mortal assim que engolisse.

Meu desespero era tão grande quando me lembrava que minha casa agora era minha própria prisão, que o fato de matar alguém não me era assustador, por mais que por outro lado, meu instinto generoso e como enfermeira lutava para encontrar outra maneira de se livrar de Dean.

Quando estava voltando para a casa e coloquei meus pés no gramado da parte dos fundos, notei o cabo de madeira de um rastelo caído na frente da casa e caminhei até a frente para colocá-lo em seu lugar. Quando cheguei perto, me abaixei para pegar e ao levantar meus olhos para frente, notei uma placa de maneira na horizontal coberta por folhas secas. Coloquei o rastelo em pé e usei uma das minhas mãos para afastar as folhas de cima da madeira; quando afastei boa parte das folhas, vi que era uma porta estreita com duas maçanetas, logo ela se abria em dois. Era uma espécie de porta no chão da casa e logo deduzi ser o porão. E estava coberta por folhas, como se alguém não quisesse que eu a visse...

- Dean... ─ murmurei comigo mesma.

Pensei em entrar imediatamente, mas não queria correr o risco de Dean ouvir perder a confiança em mim, mas já sabia o que deveria fazer para entrar no porão.

Juntei as folhas de volta em cima da porta de madeira, cobrindo-a novamente. Dei a volta na casa e entrei pelos fundos, indo em direção da cozinha. Coloquei o recipiente no balcão e me virei para a pia, passando minha mão em minha testa úmida. Suspirei enquanto abria a torneira para lavar minhas mãos e passar um punhado de água em minha nuca. Ao sentir a água fria aliviar o meu calor e me refrescar, fechei os olhos e apoiei a outra mão na beira da pia, soltando o ar pelas minhas narinas. Após isso, abri meus olhos e me virei rapidamente para o balcão, vasculhando as ervas que eu havia colhido. Camomila e babosa para cicatrização e inflamações; Gengibre e macela para febre; Lúpulo e valeriana para sedativo; E ageratina, teixo e cicuta para envenenar Dean... em casos de emergência.

Comecei a ferver a camomila e gengibre com água e de pé mesmo em frente ao balcão fiquei descascando a babosa para retirar somente o gel de dentro da mesma, para assim criar uma espécie de pomada gelatinosa para a ferida de Dean.

Despejei a água fervida da camomila em um recipiente de vidro mais comprido de altura, e quanto ao gengibre, fiz como chá e despejei em uma caneca, adoçando só um pouco.

Ao voltar para o quarto, deixei a raiva do lado de fora de entrei. Dean estava inconsciente e tinha a respiração fraca. Coloquei tudo em cima do criado-mudo ao lado junto com a gaze, álcool e um recipiente fundo com água que eu havia deixado ali em cima. Mesmo com os ruídos ele não acordou ou se mexeu, então eu mesma tive de acordá-lo.

- Dean, não durma agora. Fique acordado. ─ Me sentei na beira da cama e segurei seu rosto com minhas mãos e erguei levemente sua cabeça para cima. Dei algumas palmadas de leve em seu rosto até fazê-lo ficar totalmente consciente, mas não demorou para ele abrir os olhos.

Seus olhos estavam fundos e sem vida alguma. Ele balbuciou algo, mas não consegui entender.

- Sente-se na cama, eu lhe ajudo. Vamos. ─ falei enquanto segurava seu rosto para não adormecer.

Ele foi se levantando aos poucos, colocando força no outro braço para se sentar e encostar suas costas na cabeceira de madeira da cama.

- Está me ouvindo? ─ perguntei, analisando seus olhos.

Assentiu com a cabeça, seus olhos quase se fechando.

- Não durma. ─ falei mais perto dele para me ouvir melhor. – Mantenha sua cabeça erguida.

Ele relaxou seu corpo e pousou sua cabeça na parede que ficava atrás da cabeceira da cama.

Abri o curativo de seu braço e vi que estava pior do que antes. Antes desinfetei como sempre fazia, então em seguida peguei um chumaço generoso de algodão e molhei na água morna de camomila; comecei a apertar levemente, pousando suavemente de uma maneira que a camomila penetrasse na ferida.

- O que é isso? ─ Dean perguntou com a voz baixa, olhando para os movimentos das minhas mãos pelo canto de seus olhos.

- Camomila. ─ ergui meu rosto para fita-lo. ─ Vai ajudar a curar a inflamação. ─ voltei a prestar atenção no que fazia.

Depois da camomila, estiquei meu corpo para pegar um pires com o gel da babosa que deixei e apliquei por cima da ferida em abundância. Rapidamente vim com outra gaze limpa e enfaixei o braço dele, colocando um esparadrapo para segurar com firmeza.

Deixei minha mão pousada sobre seu antebraço e estiquei meu outro braço para pegar a caneca com chá de gengibre. Quando me virei para dar a ele o chá, senti sua mão esquerda pousar sobre a minha que estava em seu braço direito - o que estava ferido.

Coloquei a caneca de volta no criado-mudo e o olhei confusa... não sabia se seria um ataque nervoso dele ou algum ato afetuoso.

- Me desculpe por quem eu sou. ─ Dean me olhou fixamente em meus olhos e envolveu minha mão com a sua e depois desviou seus olhos para ver seus dedos em torno da minha mão. – Pelo o que eu fiz e tenho feito com você... Eu só... não encontrei... outra maneira de... sobreviver. ─ sua última frase soou apertada em sua garganta e sem fôlego.

Ouvi sinceridade em suas palavras, mas não vi sinceridade em seus olhos. Suspirei e olhei para sua mão segurando a minha. Não movi meus dedos e me virei para pegar a caneca de chá e erguei em direção aos lábios dele. Ele ficou me olhando por alguns segundos, esperando alguma resposta minha.

- Tome antes que esfrie. ─ falei com indiferença.

Dean abaixou seus olhos para a caneca e esticou um pouco seu pescoço para tomar do chá. Ele segurou a caneca com sua mão esquerda, tocando minha mão que segurava para ele; sua mão colocou mais firmeza sobre as minhas, virando aos poucos para tomar o chá com certa dificuldade, fazendo-o franzir seu cenho quando sentia o líquido atravessar sua garganta. Ao terminar, sua mão sobre a minha caiu ao lado de seu corpo e ele foi escorregando seu corpo de volta para cama.

Coloquei a caneca vazia sobre o criado-mudo e pousei minhas mãos sobre meu colo, vendo-o repousar sua cabeça nos travesseiros e me olhar com lamentação.

Virei meu rosto e encarei a parede atrás do criado-mudo, mantendo minha cabeça reta.

- Pretende me libertar? ─ perguntei friamente.

Virei meu rosto para ele após fazer a pergunta, e ele ainda estava me olhando. Seus olhos tomaram uma proporção ampla de mim e em seguida, Dean simplesmente se virou e fechou seus olhos. A luz que vinha da janela fez uma linha vertical pelo quarto e pousou em parte de seu rosto, dividindo em uma parte iluminada e a outra escura.

Ele não confiava em mim e nunca me libertaria.

Esperei a noite cair sentada no sofá comendo algumas cerejas que colhia hoje de manhã enquanto assistia um filme policial na TV. Certifiquei d deixar o som baixo para não acordar Dean. Quando o filme terminou, coloquei o pote de cerejas em cima do sofá e fui checar se Dean ainda dormia. Ao entrar no quarto silenciosamente, o vi na mesma posição em que o deixei; ele respirava normalmente e sua cor natural já havia voltado. Me aproximei da cama e estiquei meu corpo acima da mesma, pousando minha mão de leve em sua testa para sentir se ainda estava com febre, mas felizmente já havia passado e sua temperatura estava normal.

Aproveitei que Dean dormia profundamente para ir até o porão e investiga-lo. Hoje mais cedo eu havia pensado em sedá-lo com algumas das ervas, mas não foi necessário, ele dormia feito uma pedra, e mesmo que acordasse, não estaria com forças para se levantar da cama.

Chegando no porão, tirei as folhas rapidamente com minhas mãos e abri a porta devagar para não emitir nenhum som de rangido. Ao entrar, fechei a porta acima de mim e vi algumas escadas de pedra dando até a escuridão do fundo do porão. Olhei para os lados e vi um interruptor, o qual apertei e acendi a luz. A iluminação era fraca e em um tom amarelado, mas o suficiente para enxergar.

Desci as escadas e o porão não havia nenhuma janela e o teto era feito de concreto assim como todo o ambiente, não havia nenhuma pintura ou algo parecido. Era tudo cinzento e bastante pó por toda parte. Havia alguns materiais de jardinagem em um canto e no outro canto mais escuro, tinha uma mesa com algumas peças automobilísticas. Como essas peças vieram parar aqui?

Fui até a mesa e comecei analisar, procurar, vasculhar, mas não tinha nada que comprometia Dean. Olhei no canto da mesa e havia uma pequena gaveta, logo a puxei com dificuldade, estava um pouco emperrada. Me inclinei para olhar e não havia nada, além de pó e teias de aranha. Quando fui tentar fechar, a gaveta emperrou, então coloquei força para fechar; quando fechou foi com um impacto forte e no mesmo instante ouvi algo descolar em baixo da mesa, um barulho de fita isolante sendo puxada. Me afastei e me inclinei para olhar embaixo da mesa. Eram armas grudadas embaixo da mesa com fita isolante. Uma carabina, um revólver que não identifiquei e mais outras duas de tamanho médio.

Eu podia arrancar uma arma dali e dar um tiro na cabeça dele; eu podia envenena-lo e ir embora. Mas uma questão que nunca passou pela minha cabeça foi a seguinte: os vizinhos sabiam que eu morava nesta casa, então para não me denunciarem, eu teria de esconder o corpo dele... como? Eu não teria forças para carregá-lo para enterrá-lo em qualquer lugar por aí, eu precisaria de ajuda, e isso não era uma boa alternativa.

Todos estes pensamentos me deixaram confusa e me levantei, tentando afastá-los de mim. Ao sair do porão, deixando tudo intacto, coloquei minha mão no bolso da minha saia e senti os frutos de teixo que eu mesma colocara em meu bolso por precaução. Peguei em minha mão e tirei do bolso, erguendo da minha frente... e assim pude notar, que o veneno fatal para Dean não seria a morte, mas sim eu mesma.

Logo, decidi: Eu seria o veneno de Dean.

Todo esse tempo, fui reparando aos poucos como ele ficava indefeso e pacífico toda vez que eu era gentil. Esse era um dos pontos fracos de Dean... só restava descobrir como ele seria assim que eu fingisse amá-lo.



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