História Isso não é... - Isso não é indecisão.

You'll never enjoy your life, living inside the box

You're so afraid of taking chances,

How you gonna reach the top?

(Você nunca vai desfrutar de sua vida, vivendo dentro de uma caixa

Você está com tanto medo de correr riscos,

Como você vai chegar ao topo?)

25-Isso não é indecisão. (Ainda não, não quando você sabe o que quer.)

Julie sabia bem o que era ser “O Baterista”. Ela saiu muito com Ashton durante quatros anos para saber que essa era a desculpa dele para pegar quantas garotas quisessem. E eram muitas. Se, em seus dias normais, Ash ficava com muitas garotas; em baladas, a historia não era tão diferente... Novo lugar, novas pessoas, novos sabores... Novas cantadas...

Ver Ashton cantando alguém era algo bem normal – e Julie ate gostava desses momentos por ser sempre uma lição aprendida para o futuro – mas ela duvidava que conseguisse ficar, naquele momento, ao lado dele vendo isso... Julie não duvidava que... Talvez ela conseguisse... Definitivamente ela conseguiria, entretanto o fato não era ela conseguir ou não, era o que ela queria. Julie não queria ser o tipo de garota que ficava sentada, intercalando o olhar entre o garoto que gostava e que se agarrava com outra para o copo de bebida. Ela não seria aquela que ficaria bêbada, arrependendo-se a torto e a direito de tudo e todas as coisas. E Julie não era paga o suficiente para ver isso. Não hoje. Não amanhã. Talvez depois de amanhã.

A revolta de Julie também estava no fato de ter percebido e não gostado nenhum pouco da troca de olhares entre Ashton e seu irmão. Luke achava que ela estava melhor com Ash do que sozinha? Isso era serio? Ela era tão desorientada assim para estar melhor com Ashton? Julie não era mais uma criancinha para ter que ficar de mãos dadas com alguém para não se perder!

Levantando-se, saindo antes que fosse obrigada a ver Ashton dando em cima de alguém, Julie foi para o meio da pista mostrar como não sabia dançar e como não se importava com isso. E se surpreendeu.

Quando um garoto se aproximou dela, Ashton nem se preocupou em agir como seu irmão provisório, apenas esperou que ela fizesse algo, qualquer coisa – por menos ele já havia sido maltratado – mas Julie não fez nada. Aproximando-se mais ainda dele, Julie sorriu e começou a dançar bem... Sensualmente. E, para alguém que não sabia dançar, que não conseguia mexer-se no ritmo da musica, Ashton teve que lhe dar credito. Julie se saia muito bem na dança sensual.

E aquela não era a Julie que ele conhecia. A Julie, sua Julie, não dançava assim, não era amigável desse jeito com estranhos, não era sociável dessa maneira. Ashton não gostava dessa Julie. Como seu irmão provisório, Ashton decidiu que tinha que retirá-la dali imediatamente, antes que sua inocência evaporasse. Como ela tivesse alguma para começo de conversa, mas como um bom irmão, Ashton tinha que se fingir de ignorante a esse fato. Sua irmãzinha era uma boa e inocente garota, que não conhecia nada de ruim no mundo e ele não podia deixar que isso mudasse.

Embora, para Julie, aquilo não tinha nada de sensual, era apenas pornografia mesmo. Esfregar-se em alguém durante uma música podia ser chamada de dança? Porque era o que ela fazia. As regras eram ate fáceis quando se pegava o jeito. Fique bem próximo, desça, suba, sorria, mas não sorria... Julie ate que gostava da brincadeira. Ela estava divertindo-se muito fingindo toda essa sensualização, descobrindo a garota sexy que com certeza não era ela e querendo saber onde sua verdadeira eu estava, não que Julie quisesse vê-la nesse momento, mas ela estava preocupada pelo fato dela ter desaparecido sem ao menos ter bebido.

Ashton questionava o mesmo. Ele nem pode aproveitar o fato de está sendo cobiçado por um monte de garotas, pois Julie parecia drogada. Se ele não tivesse retirando os olhos dela em nenhum momento, diria que foi isso que aconteceu. Mas sempre existia a possibilidade dela ter sido drogada pelo barman...

-Vamos, Julie – disse Ash, surgindo do nada ao lado dela e puxando sua mão.

-Não, estou dançando – retrucou Julie.

Soltando-se dele, sem nem mesmo olhá-lo, Julie ignorou Ashton e deu um sorriso de desculpa ao estranho com que dançava e nem sabia o nome. Ele – o estranho – tinha chegado quando ela jogou o cabelo para o lado e começou a dançar com ela, sem ao menos perguntar o seu nome, e Julie estava muito ocupada tentando tirar o cabelo do rosto de forma sexy, sem parecer atrapalhada, para se importar com isso. E, de qualquer jeito, Julie não se importava com quem dançava, ela não estava dançando com queria mesmo...

-Quem é esse, seu irmão? – sussurrou o estranho. Julie concordou rindo, Ash era bem isso. E completou para o irmão, com um sorriso que dizia... Julie não se importava com aquele sorriso:  – Cara, deixe ela. Estamos só dançando, eu não fiz nada com ela. Ainda.

Ninguém poderia dizer quem reagiu primeiro, Julie ou Ashton, apenas o que cada um fez. Ashton socou o “cara” no nariz e Julie chutou o estranho nas suas partes baixas, não que estivesse ofendida pelo “ainda”, ela estava ate lisonjeada, mas era sempre bom demarcar as linhas de ousadia para não ficar muito arisco. E “deixe ela” era errado, o certo seria “deixe-a”. Julie não podia deixar isso sair impune, se não daqui a pouco estaria falando errado também. Falar errado e gírias e palavrões era viciante.

Sem nem olhar para Ashton, Julie andou para saída sem dizer nada – jogando o cabelo para o lado, pois tinha que demonstrar o fato de ter dominado a técnica de jogá-lo para o lado – e, embora ele quisesse fazer algo mais, Ashton a seguiu logo depois de olhar o cara no chão com o nariz sangrando e as pernas dobradas, gemendo. Ash ate queria fazer mais, torturá-lo um pouco, mas ele era contra violência aos animais e aquele cara parecia um cachorro morto. E não se pode maltratar animais.

Do lado de fora, Julie esperava pacientemente encostada no carro, entrando logo depois nele quando Ashton o abriu e ficando calada durante todo o percurso ate sua casa, recusando-se a falar algo. Ash ate que tentou fazê-la falar algo, entretanto, sempre que ele começava uma pergunta, Julie o interrompia com uma resposta que não tinha relação. Se não o ignorasse.

-Ahn, Julie...?

-Não quero comer nada, pode me levar direto para casa – murmurou ela, olhando distraída pela janela.

-Eu iria perguntar se...

-Sim, sim – disse Julie, com um suspiro. Por que Ashton não podia calar a boca? – A morena que se jogou em cima de você é linda.

Ashton não se lembrava de nenhuma morena linda se jogando para cima dele, mas ele não estava exatamente prestando atenção as coisas que aconteciam ao seu redor... Ash tentou se comunicar com Julie novamente:

-Você vai me deixar...

-Quieta? – interrompeu ela, finalmente o olhando. – Sim, eu adoraria ficar quieta no meu canto ate você me levar para casa. E olha ela!

Revirando os olhos para tanta alegria, Ashton estacionou o carro e virou-se para Julie. Ele não estava disposto a deixar isso para lá. E agora ele não desistiria, não depois que Julie disse algo relacionado ao que ele falava e o olhava diretamente, e não pelo reflexo da janela, embora não pudesse fazer nada se ela abrisse a porta do carro e corresse para casa... Não que Julie fosse fazer isso, Ash sempre podia contar com ela para ter uma conversa que não queria. Que ninguém queria alias.

-Você está com raiva de mim? – perguntou ele.

-Sim. Não. Não, sim – disse Julie, voltando-se para ele, indecisa. E completou, dando de ombros: – Os dois?

Porque ela não sabia se estava ou não com raiva de Ashton. E, se estava, pelo que. Ele não fez nada a ela, apenas... Apenas foi ele.

-Quer explicar? Porque não estou entendendo nada.

-É claro que eu estou com raiva. Você pensou que eu fosse fazer o que? Te agradecer por se comportar como um babaca? Eu já te disse que não sou uma das suas vadias.

Julie também não entendia e conforme falava, apenas para preencher o silencio, ela percebeu o quanto suas palavras não eram verdadeiras. Ela não estava com raiva dele, não era culpa de Ashton se ela estava apaixonada por ele... Julie estava com raiva de si por ter se apaixonado por ele. Como ela podia ser tão idiota? Ela sabia que era uma idiota, mas mesmo assim, deveria ter um limite! E com raiva de si por não ter coragem de dizer isso a ele. Como ela podia ser tão medrosa? Por que dizer como se sentia não podia ser como dançar?

Julie sabia porquê. Porque ela não era boa em dançar e não se importava com isso. Porque ela gostava de Ashton e sabia que ele não iria querê-la da forma que ela o queria. E ela se importava com isso. Julie não queria dizer que gostava de Ashton e vê-lo evitando-o, era inevitável que ele a evitaria, porque Ash era assim. Ele acharia que a única forma de mantê-la bem seria ficando longe, Julie o conhecia, mas ela não queria isso. Ela já tinha poucos amigos para se dar ao luxo de perdê-los por capricho.

-Eu não tenho vadias – disse Ashton, retirando-a dos seus pensamentos. – E você nunca me disse algo assim.

-Não? – perguntou Julie. Ela podia apostar que já tinha dito algo assim, era o tipo de coisa que diria a Ashton. – Bem, isso não muda o fato que você me tratou como uma.

-Você não está facilitando as coisas.

-Eu não disse que eu iria.

-Me desculpe – tentou Ashton, levantando a sobrancelha.

-A maioria das garotas gostam disso – lembrou Julie, abrindo a porta do carro. – Eu não sou uma delas, principalmente quando é óbvio que você está mentindo. Mas obrigada.

Piscando os olhos, Ashton perguntava-se se ele mesmo não tinha sido drogado, porque a explicação de Julie o deixou mais confuso do que antes. Ela estava brigando com ele ou agradecendo-o?