História It is just a little - "Você quase morreu"

 Minhas pernas pareciam serem feitas de geléia ou algo parecido, meus preços pesavam mais que chumbo, meus olhos não abriam por mais que eu ordenasse, com toda força que possuía consegui me virar ficando de lado na cama, a única certeza que tinha era que aquele era meu quarto pelo simples fato de poder sentir o cheiro de cigarro de menta entranhado na minha coberta.
- Por favor, se ele acordar como da última vez gritando, por favor nos avise. - Disse uma voz masculina que eu seria capaz de reconhecer há quilômetros, era o meu pai, mas sua voz estava longe - Deixarei o celular ligado.
Houve um silêncio que me pareceu eterno, eu havia acordado gritando? Não lembrava nem se quer de ter acordado e ainda mais gritando. Ouvi alguém abrir a porta e sentar na poltrona, ela sempre estralava quando alguém sentava, mas eu não podia dizer quem era, não estava sentindo cheiro, mas só podia ser Martha. Queria levantar, mas meu corpo não deixava, tudo doía, cada músculo, cada célula, cada vértebra, até que meus sentidos apagaram me arrastando junto.
Não houve sonhos, nunca pensei que poderia ficar tão feliz com a escuridão, estava agradável e confortável, apenas dormi como nunca mais havia dormido desde que Bianca mudou-se, abri os olhos, Luz, era tudo luz, ofuscante e desnorteante, puxei o cobertor para me cobrir e logo tudo doeu novamente.
- Pensei que Bianca havia mudado você.- A voz suave e sem expressão do meu melhor amigo me atingiu como pedras - No entanto, temo que agora possa VOCÊ levá-la ao seu mundo…
Tirei lentamente o cobertor, tanto para não me causar mais dor, se bem que não sabia se algo poderia causar mais dor que as palavras dele, olhei para ele lendo um livro como se nada tivesse acontecido, mas estava claro a raiva mal disfarçada em seu rosto.
- Bianca só me faz bem! - Minha voz estava rouca e pesada.- Você não contou nada a ela ou contou?
Ele sorriu baixo e me olhou nos olhos.
- Não, Bianca acha que você e eu estamos viajando, sobre quem faz mal a quem, não tenho dúvidas que ela só o faz bem, já você!
- O que está insinuando?
Me sentei apoiando a coluna que ardia sobre os travesseiros.
- Você voltou com essa merda! - Ele jogou um saco pequenininho com um pó branco - Você quer voltar pra aquela clínica em Gramados? Você dormiu por dois dias!
Meu coração martelava a todo vapor no meu peito e eu não podia encarar seus olhos bicolores.
- Descu...
- Não! Não me venha com pedidos de desculpas! Você ousou quase morrer!
Ergui os olhos assustado, não lembrava da missa o terço!
- Você teve duas paradas cardíacas divido a overdose! - Disse gesticulando respectivamente. - Seu pai me ligou desesperado do Hospital… - Ele fez uma pausa Olhando para o chão e disse sem me olhar - Você prometeu...
Eu podia ver a cena, eu sendo internado pela primeira vez, havia conhecido ha uns três ou quatro meses o Lysandre e ele foi todos os dias possíveis me visitar, me fez prometer que não faria novamente e prometi, nunca entendi essa devoção a mim, era meu único amigo e eu o dele, senti meu peito, abdômen e costas queimarem.
- Eu estava cego de raiva e perdi o bom senso...
- Você é um idiota!
- Um grande idiota! - Falei sorrindo, ele retribuiu me deixando um pouco mais aliviado.
Fechei os olhos sentido uma dor peculiar e irritante percorrer meu corpo, passei a mão pelo peito e senti algo como plástico ali, tirei rapidamente a camisa assustado olhando para o Lysandre.
- O Quê?
Uma coruja de asas abertas podia ser vista através do plástico, detalhada e enorme, devia ter demorado horas fazendo isso, só que eu não lembrava.
- Tem mais duas, a das costas não está terminada.- Disse com certa diversão.
- Mais duas? - Sim, uma ali, bem ali, rodeando meu umbigo podia se ler "Viva, apenas viva " Em francês.
- É igual a isso atrás.- Disse mostrando uma folha amassada.
Era um desenho feito por Bianca, ali estava eu com asas negras saindo de mim.
- Onde está Martha? - Perguntei guardando o papel.
Ele suspirou e sentou ao meu lado fazendo meu coração saltar.
- Não estava aqui quando cheguei.
- Nyck?
- Com Gabrielli na casa de Lucy.- Ele ergueu uma sobrancelha.
- Meus pais? - Falei pesadamente.
- Com o Sr. Thompson.
Droga! Me afundei na cama.
- Bem feito! No mínimo ele irá tirar sua moto!
Resmungando me coloquei em pé, minhas pernas tremeram, vi as marcas roxas no meu braço e lancei um olhar interrogativo para o Lys.
- Soro, muito soro.- Disse com sua habitual voz mansa e cautelosa. - Você não parava de vomitar.
- Lysandre.- Falei quando o notei cabisbaixo.- Vem cá, um abraço?
Ele me olhou por um bom tempo para mim com os braços abertos, Lysandre estava mais zangado do que se ousava transparecer, mas cedeu e caminhou até mim, me abraçando apertado.
- Você é meu único amigo.- Falei durante o abraço.
- Não faça mais isso.- Me disse.
- É sério, não vou mais!
- Mas - Ele me soltou e deu um murro no meu ombro de leve.- Para pagar seus pecados… Vamos tocar em um evento para arrecadar fundos para a escola.
- Como é? - falei abismado.
- Isso mesmo, para uma expedição fora!
- Na escola? Com a diretora me odiando? Nem pensar. - Prendi meus cabelos e olhei para ele com raiva.
- Não estava pedindo, nós vamos.
Lysandre se afastou de mim e mandou uma mensagem, provavelmente para meus pais e depois olhou para janela.
- Vamos fazer esse show assim que arrumamos outro baterista, Dan torceu a mão.