- Puta que me pariu, você não consegue parar? – Kevin disse metralhando Danion com um olhar assassino. – Você me chamou para dormir aqui, o mínimo que deveria era tratar o seu hóspede com o mínimo de respeito, não?
O outro continuou com as batidas por mais algum tempo, logo encerrando sua “apresentação”.
Danion estava terrível. Estava na merda, para ser mais realista.
Desde sua conversa com Katherine, três dias atrás, ele não conseguia mais sair da foça.
Irritado com tudo, ele distribuía patadas para todos. Não queria saber de sair do quarto, apenas de ficar trancado ali espancando sua bateria com as baquetas de forma hostil. Para tentar estancar um pouco seu marasmo, convidou Kevin para dormir na casa dele, iria convidar Josh, mas este sequer atendia o celular.
- Cara, na verdade eu queria mesmo que nós dois passássemos a noite conversando, mas você se deitou. Então vou continuar tocando.
- Você queria fazer uma festinha do pijama? – Ergueu sua cabeça do meio das cobertas, deitado sobre o colchão estirado no piso do quarto. Quando o fez, olhou para Danion sentado sobre o banco da bateria.
Ele não estava bem.
- Danion. – O chamou, mas não obteve resposta. – Hey, Danion.
- Sim?
- Tá bem, eu entendi. Você realmente não está bem, não é?
Danion o fitou por alguns segundos, depois pendeu sua cabeça para frente, cedendo à gravidade. Riu fraco, irônico.
- É, eu não tô nada bem.
- É por causa dela, né? – Preferiu não citar o nome de Katherine, mesmo deixando explicito de quem se tratava.
Danion apenas acenou, confirmando.
- Desculpa, mas eu nunca te vi dessa maneira. Tipo, eu sabia que era forte o que você sentia, mas.... não a ponto de tudo isso.
- Sei lá, sabe.... as coisas simplesmente foram acontecendo. – Balançou a cabeça, remexendo seus fios negros, para desgruda-los de sua testa molhada de suor. – Eu odeio ele. Odeio, odeio, odeio, odeio. E me odeio ainda mais por me deixar envolver nessa merda toda, e por envolver ela, de certa forma.
Não era preciso dizer que se referia a Matthew.
- Não tem chance de ela mudar de ideia, cair na real? Velho, desculpa aí a sinceridade, mas ficar com ele é burrice.
- Não a culpo. Eu não posso julgar os outros pela imagem que eles têm de mim, se sou eu mesmo que passo isso.
- Isso não é motivo para continuar com aquele merda.
- De qualquer maneira, isso não é mais da minha conta.
Depois disso, Kevin mudou de assunto, ocasionando em uma noite mal dormida e diversas gargalhadas soltas no ar. Não que todas elas tenham sido verdadeiramente verdadeiras.
# * # * # * #
- Hey, garotas, o dia não está lindo hoje?
- Caralho, é a terceira vez que você pergunta isso, Jonathan Morgan. – Megan bateu com o suco na mesa – Eu não aguento mais. Todo mundo sabe que amanhã o Matt volta.
- Me deixa mulher!
- Ah, porra, calem a boca. – Katherine jogou os talheres na mesa e cravou seus dedos entre seus cabelos, com força. – Merda.
A garota arregalou os olhos, parecendo que iria explodir; se levantou, empurrando o banco para trás de maneira rude, logo saindo batendo os pés, completamente irritada.
- O que deu nela? – A loira indagou, acoada.
- Matthew.
- Mas hein?
- Ele traia ela com um garoto. E pela minha experiência e inteligência, isso já acontecia a bastante tempo.
- Ca-ra-lhow. – Megan disse isso de forma um tanto debochada, entretanto estava realmente preocupada com a outra. Bem no fundo, ela agradeceu que Katherine finalmente havia entendido que mentir para si mesmo não leva a nada. – Sara, voc... Sara?
A morena remexia o alimento de seu prato de maneira frenética e aleatória, sem interesse real na comida, ou nos assuntos alheios. Seus olhos vagavam opacos e sem foco pela extensão da mesa.
- Eh... Sara?
A garota parou seus movimentos, despertando dos devaneios. Olhou para a amiga, surpresa.
- S-Sim?
- O que houve?
- Nada, só estou distraída. – Sorriu para disfarçar. – Essa história do Matthew, que merda. Na verdade, eu também me preocupo com o Danion nisso tudo. No dia da internação do Matt, a Katherine deu um chute nele, que... sinceramente... foi desnecessário, mas eu entendo ela, sabe... Katherine deve estar assustada com tudo isso também. É difícil ter essas mudanças drásticas de uma hora para outra, e é pior ainda ter de se acostumar com elas.
A morena pegou seu copo d’água e foi levando até sua boca.
- Você deveria gozar mais. – Megan disse, com o queixo repousando na mão do braço apoiado na mesa, com usa melhor cara de paisagem.
Sara cuspiu ar no copo.
- Quê?!
- Gozar, sabe, gozar? Então.
- HEY, HEY, HEY. – Jonathan exclamou – Que papo é esse? Como assim?
- Ah, – Megan riu – é que...
- Merda, ele tá vindo. – Sara disse em meio a sua levantada extraordinariamente rápida, saindo andando furtivamente em uma fuga covarde.
- O que está acontecendo com o povo hoje? – Jonathan deixou a pergunta no ar, indignado.
Sem nem dar dez segundos, Josh passou pela mesa onde os dois estavam. O garoto deu uma conferida no local, passando minuciosamente seus olhos pelo lugar onde os loiros residiam, e, não satisfeito, soltou uma bufada descontente, saindo andando cabisbaixo do lugar.
- O que foi aquilo? Por que a Sara fugiu? – Jonathan logo perguntou quando viu Josh se distanciar.
- Acho que não tem problema falar. Bem... – Megan iniciou uma narrativa detalhada sobre tudo o que Sara foi obrigada a contar para a amiga – pois a loira se encarregou de fazê-lo – depois do momento intimo que a morena teve com seu namorado.
A loira não poupava palavras para demonstrar sua insatisfação com a não realização do ato. Ela desejava que Sara se permitisse viver um pouco mais, e que parasse de fugir um pouco de seus próprios sentimentos e vontades. Ela entendia que a situação com a mãe dela não ajudava nem um pouco na situação, mas a loira ansiava pela superação da amiga.
- Megan, eu você poderia me poupar dos detalhes mais concretos, sabe. – Jonathan falou se abanando com a mão. – Assim eu preciso de um banho frio. IUH. – Balançou a cabeça, tentando se controlar. – Mas enfim, por que ela correu do Josh?
- Ela não sabe como agir na frente dele agora. Tímida.
- É, tímida. Depois do que você me falou amor, não sei se é tão tímida assim. Mas espero que continue nesse novo jeitinho. Cara... desculpe a sinceridade.... mas ela deve ser um furacão na cama.
Megan riu, tapando a boca com a mão. Realmente, ela estava de certa forma orgulho pela amiga. Era um progresso.
De repente seus olhos foram atraídos por um certo ruivo que vagava sozinho até a porta do refeitório. Mordeu o lábio. A quanto tempo não se viam? Não conseguiu evitar. A loira se levantou em meio a um furacão momentâneo que nasceu em seu peito. Em passadas largas e rápidas ela andou até onde o ruivo se dirigia.
- Ah, porra. Sério? Deu pra todo mundo hoje me deixar sozinho? E ainda levantam sem dizer nada. Vadias. – Jonathan ficou sentado tomando o suco que antes era de Megan (que fez agora de sua propriedade) soltando insultos no ar.
(~~)
- Kevin! – Megan chamou o ruivo que andava a sua frente, porém este não escutou.
Ela o seguia no corredor lotado de pessoas, tentando dribla-las de maneira rápida para logo alcança-lo, mas isso não estava se mostrado uma tarefa fácil. Ela até tentou chama-lo mais uma vez, mas o murmurinho incessante e relativamente alto do local não permitia que ele conseguisse distinguir a voz da garota ali no meio.
Quando finalmente a loira pode alcança-lo em uma parte mais distanciada de pessoas, não foi exatamente o que ela pensou que seria.
Grudado em uma garota do segundo ano, Kevin beijava os lábios da mesma com veemência.
Megan não queria e não iria admitir, mas ela sentiu. Seus olhos marejaram, mas não se permitiu derramar lágrimas que julgava ridículas. Por que fazer isso? Eles nem mesmo tinham alguma coisa duradoura.
Mas essa porra de motivo não dizia nada. Ela estava gostando daquele ruivo cabeça dura, mesmo que não quisesse envolvimento. Na verdade verdadeira, desde o primeiro momento ela assumiu uma pequena e mínima possibilidade de ter uma maior atração por ele.
Por que fazer aquilo? Ficar com outra garota assim, sem mais nem menos? Ele não era esse tipo de garoto.
Ou na verdade era?
- Ruivo idiota.
(~~)
- Katherine? – Sara indagou, ou ver a morena curvada sobre o banco do jardim nos fundos da escola, aparentemente chorando.
- Ah, Sara. – Ela limpou os rastros de lágrimas do rosto, tentando disfarçar seu choro. – O que faz aqui?
- Fugindo do Josh.
- Eh?
- Aconteceram algumas coisas, e eu não sei ao certo como olhar na cara dele.
- Eu posso ter certeza de como é. – Ela sorriu fraco, debochando mentalmente de si mesma por ser tão idiota.
Sara odiou aquela expressão; não desejava aquilo para ela, mesmo que concordasse no ponto em que Katherine estivesse errada em agir daquela maneira com Danion.
- Sabe, você deveria falar com ele. – A morena disse, depois de refletir um pouco. Mesmo que tudo estivesse desmoronando, ela havia prometido a Danion que o ajudaria. E mesmo que parecesse que nada daria certo, ela sabia e tinha fé que agora anda poderia impedi-los, apenas eles mesmos.
- Como eu faço isso? Ele deve estar me odiando.
- Ele deve estar odiando a si mesmo.
- O quê?
- Ele gosta muito de você, sabe. – Sara não olhava diretamente nos olhos de Katherine, mas suas palavras fluíam de maneira calorosa. – Ele deve estar de culpando por fazer você odiá-lo.
- O quê? M-Mas... isso não faz sentido.
- E amar faz sentido? – Ela sorriu. – Sabe Katherine, ele sempre odiou o lado mais despojado dele. Pelo que eu consegui entender, ele odeia qualquer parte dele que te faça odiá-lo. Mas a questão é: você o odeia?
Katherine olhou para baixo.
- Nunca odiei.
- Então você precisa dizer isso para ele. E não importa se ele não quiser te escutar no primeiro momento. Até por que eu acho que ele nunca vai fazer isso. Quando nós gostamos de alguém, mesmo que essa pessoa nos tenha feito chorar e sofrer muito, na qualquer ocasião que se tenha de poder simplesmente degustar a voz dela, acho que já é o suficiente.
Katherine deixou uma lágrima escapar. Como ela amava Sara. Ela só precisava desse empurrão. E ela tinha certeza que não exista pessoas melhor para fazer isso sem ser Sara.
- Você me ajuda? – Perguntou manhosa. – Pelo menos a começar.
- Com o maior prazer.
Sem delongas, Katherine abraçou fortemente Sara.
# * # * # * #
A aula havia terminado. O sinal estridente e irritante soou pelos corredores e salas, pondo como veredito o final do expediente. As pessoas andavam rumo a sua liberdade repentina, como se um peso estivesse sendo retirado de suas costas.
Josh, com suas mãos nos bolsos, andava não tão diferente dos demais. Seu peito estava doendo ao ver Sara a tão pouca distância, mas ao mesmo.... fria? Não sabia ao certo como descrever o que era aquilo. Ela não o olhava nos olhos, trocava poucas palavras, e ele tinha certeza de que ela fugia.
Seus olhos baixos acompanhavam o chão à medida que dava seus paços até seu carro. Quando finalmente fixou sua visão no automóvel, vislumbrou Sara apoiada nele, mordendo o lábio inferior, com os braços cruzados.
Ele se sentiu um cachorrinho vendo o dono, mesmo sendo uma comparação banal. Era tão idiota e tão maravilhosamente maravilhoso sentir seu coração bater mais rápido ao vê-la.
- Sara?
Os olhos castanhos se cravaram nele, mas não esboçaram nada.
Pelo menos até ela sorrir.
- O qu...
- Não fala nada.
Ela andou até ele, roubando seus lábios em uma necessidade necessitada. Suas mãos espalmaram as bochechas frias do garoto, enquanto despejava sentimentos na troca de caricias.
Ah, como ela era doce.
E rude.
e... o que mais mesmo?
Cinco segundos. Ele se manteve cinco segundos estático, sem entender aquilo. Mas não era preciso entender nada. Não queria entender nada, só precisava que ela dissesse, que ele faria, só precisava que ela fizesse que ele faria. Merda, era tão bom.
Cravou suas mãos na nuca da garota, mordendo ambos os lábios dela em uma fome ridícula, querendo que aquilo nunca parasse. Ou que parasse. Para ter chance de fazer de novo. Beijou-a, e beijou de novo. Recuperou o folego, grudou-a no carro, e beijou-a mais uma vez, até o ar que estava em volta se assemelhar ao nada; até o frio que pairava na cidade se transformasse em fogo, que ardia sem arder, e queimava sem queimar.
Mas que fazia tudo ficar quente.
O ar faltou, separando os lábios de ambos, porém sem instaurar uma grande distância entre eles.
- Preciso perguntar: o que está acontecendo? – Josh disse, com os cabelos da garota ainda entrelaçados em seus dedos.
- Acho que puberdade.
- Ainda não superou? Atrasadinha.
- Achei que você quisesse me ajudar com isso. Me enganei?
- Ah, você quer ajuda?
- Não estou pedindo. Estou propondo. Se não quiser, há quem queira, sabe....
- Desculpe, mas... sou extremamente egoísta. Não iria gostar de pensar nisso.
Ela ficou por observar as duas belas perolas azuis do garoto a sua frente, sentindo sua respiração bater em seus lábios, desejando que aquilo não terminasse. Fechou os olhos e acariciou a bochecha dele com seu nariz. As mãos do moreno desceram pela silhueta da garota até sua cintura, circuncidando-a, deixando nenhum espaço entre os dois.
- Desculpe. Te magoei, não magoei? – A morena disse, apertando os beiços.
- Fiquei com medo. – Ela abriu os olhos. – Não te machuquei, não é?
Ela sorriu. O que era aquilo?
- Merda, Josh Stillan. Não faça isso...
- Fazer o quê?
- Essa cara... – Cerrou mais uma vez os olhos, passando os lábios sobre ele. – Eu só não... não... conseguia olhar para você direito. Eu estava com vergonha de encarar você.
- Sara.
- Hun?
- Olha pra mim.
Ela demorou um pouco, mas logo se permitiu encontra as belas e sedutoras orbes azuis e seu dono.
- Estou apaixonado por você.
O ar que entrava em seus pulmões pareceu sumir, deixando-a nervosa. Uma mão havia apertado seu coração, e agora bombeava sangue para todos os lugares, como se dissesse: acorde. Os orbes negras fitavam avidas as azuis a sua frente, mas nada delas saia. A boca ficou seca de palavras e de tudo mais no mundo, os dedos na nuca dele apertaram fios negros de cabelo, sem poder fazer muito mais do que isso.
Por que seus ouvidos careceram tanto com aquela frase?
- Repita.
- Eu estou apaixonado por você.
As letras estavam todas ali, sem tirar nem por. Seus devidos sons foram pronunciados corretamente, sem erros ou qualquer resquício de dúvida ou incerteza. A boca dele não tremia, seus olhos também não, nem meu corpo. Era como se aquelas palavras estivessem presas, e agora estavam aproveitando sua liberdade.
- Como tem certeza?
- Não tenho certeza.
- Então como sabe?
- Também não sei. Eu apenas sinto isso por você, Sara Christopher. Não sei explicar, nem sei dizer com certeza o que é, mas toda vez que você aparece na minha frente... é como se o mundo todo fizesse sentido, e também não, como se ele virasse de cabeça para baixo.
- Diz de novo?
- Estou apaixonado por você. Está duvidando?
Ela negou com cabeça.
- Está com medo?
Ela acenou.
- Eu também estou. Pode enfrentar isso comigo?
- Acho que não tem outra maneira. Não sei se estou apaixonada por você, mas as palavras que você disse antes, elas são perfeitas, eu também as sinto. Não tenho certeza, na verdade. Mas... mesmo assim, aceite essas palavras: Estou apaixonada por você, Josh Stillan.
Ele sorriu.
Josh se encarregou de colar sua testa a dela, deixando um ar quente escapar de seus lábios e ir até os dela.
- Tá frio. – Ela reclamou.
- Quer ir pra casa?
- Dorme lá hoje.
- Tudo bem. Pode deixar que eu te esquento a noite toda, Sara Christopher.
- Isso se o meu pai deixar.
- Eu desdobro o sogrão.
Ela riu.
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