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História It's about love - Capítulo Único


Escrita por: gaia_secundus

Notas do Autor


Isso ia ser um jornal, mas acabou ficando grande demais, então resolvi fazer como OS mesmo. Não é o que eu costumo escrever, mas como eu considero o Spirit uma espécie de diário pra minha mente conturbada eu resolvi postar. A quem lê qualquer outra fic minha, eu vou continuar pedindo mais um cadim de paciência.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Quando comecei a lutar ouvi muita gente dizer que não entendia como eu podia gostar de algo que me machucava tanto. Eu realmente me machuquei mais vezes que posso contar. Hematomas que mais pareciam deformações, lábio inchado, nariz sangrando, socos no estômago que faziam vomitar, luxações. A pessoa que me fazia essa pergunta já começava errada. Eu não gostava de lutar, eu amava. Eu amo. Não sei como é pra cada lutador, mas eu tô aqui pra explicar como é pra mim. 
Quando eu pisei no tatame pela primeira vez eu não tinha idéia da proporção que tudo tomaria. Eu tenho uma ansiedade horrível e também personalidade depressiva. No primeiro dia que eu havia resolvido ir pra aula de muay thai eu fui até a academia, subi e desci as escadas no mínimo cinco vezes e tinha desistido de entrar, até que um cara que eu conhecia lá me levou até o tatame, falou com o mestre, disse que eu era nova e tava nervosa e ele sorriu e mandou eu entrar. Logo na primeira aula, encontrei um cara que estudava comigo. Ver ele ali me trouxe diversas memórias ruins e quanto a aula, eu era totalmente leiga em luta, não sabia fazer nada. Até mesmo os exercícios pra quem levava uma vida sedentária eram surpreendentes. Eu me senti uma inútil de não saber fazer nada. Mas era minha primeira aula. Algo fez com que eu desse a mim mesma uma segunda chance e voltasse lá. Era uma sexta-feira, dia de sparring. Eu era marrenta, como ainda sou e sempre fui e mesmo sem luvas ou protetor bucal, lutei com gente muito mais experiente que eu. Eu apanhei feito uma condenada naquela sexta-feira. Cheguei em casa mancando, por que minha coxa tava tão roxa que por no chão doía. Na segunda-feira seguinte, quando eu ignorei aquele roxo, eu soube que era amor. Era um estranho tipo de amor que nascia em mim e não deixava que eu fosse embora. Meu mestre costumava me incentivar muito no começo. Dizia que eu tinha talento, me chamava de bruta. Eu criei um apego emocional a aquele lugar e todas aquelas pessoas de um jeito que nunca tinha criado. O cheiro do tatame me fazia sentir em casa, mesmo quando eu caía sobre ele. Saber o nome de todas aquelas pessoas, gostar delas e saber que de alguma estranha forma, eles também gostavam de mim, me fez enxergá-los como uma nova família, família essa que me acolheu. Mesmo quando o movimento das aulas começou a fraquejar e só tinha eu de aluna, eu ia com o maior sorriso do mundo, treinar com meu mestre a quem eu tanto admirei. Se não fosse por você, mestre, eu ainda seria "a ostra" como você disse um dia. Fechada, reclusa e sempre com uma cara que fazia você me perguntar se eu tava brava. Você perguntou tantas vezes que eu passei a sorrir. Com seis meses de muay thai, eu decidi me graduar. Eu quase tive um ataque de pânico entrando num lugar lotado com quase 200 pessoas que eu não conhecia. Novamente, de uma estranha forma, o brasão da equipe em comum que todos carregavam me tranqüilizava. Como se todos nós fizéssemos parte de algo maior. Eu criei também um apego a equipe e o abraço que o mestre da equipe me deu, me marcou de uma forma que eu não vou poder esquecer. Eu lembro dele dizendo: "Você tem talento menina, não para." Quando voltei a treinar, eu já me considerava muito boa no que fazia. Eu apanhei muito, mas também dei surra em muito marmanjo. Eu vivia em função disso. O muay thai era meu amor, meu único amor. E então, um dia eu fiquei muito doente. Tão doente que eu quase não respirava. Eu não sabia nem mesmo como tinha tido forças pra ir treinar. Mas o meu mestre não se importava realmente com isso. Ele queria que eu fosse perfeita. Os gritos de repreensão são outros que eu jamais poderei esquecer. Ainda assim, eu dava meu melhor, por que assim como ele queria que eu fosse perfeita, eu queria ser perfeita. Eu me recuperei, mas estava cada vez mais frustada com a minha incompetência. Então, voltou a se aproximar a data da graduação. Eu queria a verde. Eu estava obstinada por isso, por que eu não me sentiria uma boa lutadora se não tivesse a verde. Um cara que começou junto comigo, já ia pra azul (são duas acima). Eu sabia que o mestre tinha um favoritismo por ele, mas ainda assim, não queria ficar tão pra trás. Eu queria ser tão boa quanto o favorito dele. E foi um tapa na minha cara, o mais dolorido de todos, ouvi-lo dizer que eu não agüentaria. Que eu era menininha demais, muito nova e não agüentaria os minutos de calejamento. Eu chorei a noite inteira naquele dia. E no dia seguinte, já não tinha mais animo algum pra ir. O que era meu maior prazer, havia se tornado minha maior tortura. Mas, naquele dia, eu vi a oportunidade de provar a meu mestre que ele estava errado. Voltou a treinar naquele dia, um cara que era faixa amarela, assim como eu, que havia dado uma pausa por que numa luta justamente comigo ele torceu o pé e inflamou o tornozelo. Eu sabia que ele tinha muita moral. Ele tava destreinado, era presa fácil pra mim. Tão fácil, que eu não me dei o trabalho de por a guarda e levei um direto certeiro no nariz. Sangrou, como eu nunca tinha visto tanto sangue na vida. Eu pedi licença e sai da aula, chorando de dor e de frustração. Meu nariz sangrou de segunda a quinta-feira mas o que mais me doía é que eu sabia que o cara ia pegar a minha tão sonhada faixa verde e eu não. Tem uma frase da Tatiana Suarez (uma lutadora do peso galo de quem gosto muito) que diz: "Nós atletas nos achamos invencíveis. A gente costuma achar que nada no mundo pode nos derrotar." E bem, a vida não é assim. Nesse ponto eu já não tinha mais animo algum de treinar. Fiquei duas semanas sem ir e quando voltei tive um estiramento na coxa que foi minha desculpa por mais uma semana. Nesse ritmo, fiquei um mês fora. Nesse um mês, tudo que eu conseguia pensar era em desistir. Talvez, eu devesse parar de lutar e estudar mais como minha mãe sempre fez questão de dizer pra mim. E eu decidi sair daquela academia e daquela equipe. No último dia que eu fui só com a intenção de me despedir eu olhei pra todos os meus colegas, pro meu mestre e quando eu sai do tatame eu chorei como nunca. Talvez, essa tenha sido a decisão mais difícil da minha vida até agora. Eu me senti tão fraca por não ter tentado mais. Mas eu sabia que já não tinha como. Eu fiquei meio sem saber o que fazer. Meio perdida. E então, eu entrei em uma nova academia. Tudo aqui é diferente, as pessoas não me acolheram ou foram tão incríveis quanto minha primeira equipe, mas a força que eu tive de voltar a por os pés no tatame e voltar a lutar me deu a resposta que eu questionei esse tempo todo: "Por que eu faço isso? Por que eu amo isso?"
E todos os dias que eu vou treinar, eu me lembro da resposta.
Eu não poderia não amar a luta. É uma parte (enorme e indispensável) de quem eu sou.


Notas Finais


Obrigado a quem leu. 😘


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