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História It's all about magic - Chapter 2


Escrita por: velarisbrdgrton

Notas do Autor


Desculpa a demora.

Capítulo 3 - Chapter 2


Fanfic / Fanfiction It's all about magic - Chapter 2

Sydney, Surry Hills, 22 de outubro, sábado, 9:13 a.m

 

Acordei com Thomas pulando em cima de mim e gritando algo que identifiquei após alguns segundos.

 

- Feliz aniversário, tia Lottie! - o pequeno gritou quando me sentei na cama e se jogou em cima de mim.

 

- Oi, Tom - falei gargalhando e o abraçando.

 

- Feliz aniversário, querida. - minha mãe disse sorrindo da porta do quarto.

 

- Parabéns, maninha! - Lydia falou entrando no quarto com um bolo nas mãos.

 

- Feliz aniversário, filha - disse meu pai, abraçado com minha mãe.

 

- Oi gente, bom dia. - falei esfregando os olhos e sorrindo.

 

- Você está fazendo quantos anos, tia Lotus? - Thomas perguntou sentando com as pernas cruzadas de frente para mim.

 

- 18 - falei e belisquei seu nariz.

 

- Tudo isso? - falou fazendo uma cara de espanto.

 

- Sim, senhor. Por quê?

 

- Porque você tem cara de criança. - falou rindo, joguei um dos travesseiros nele e ele riu mais.

 

- Como foi a festa ontem? - minha mãe perguntou

 

- Horrível. Tamara me deu um negócio azul pra beber e não me lembro de nada, me perdi deles e tive que vir a pé.

 

- Negócio azul? - ela perguntou assustada.

 

- Sim.

 

- Onde vocês foram? - perguntou séria.

 

- Numa boate chamada Royal. Por quê?

 

- Nada, querida - respondeu calma, mas seu rosto parecia ter empalidecido.

 

- Enfim, onde quer comemorar seu aniversário, Lotus? - Lydia perguntou.

 

- Single O Surry Hills? - sugiro me referindo ao nosso café favorito.

 

- CAFÉ! - Thomas gritou e todos rimos.

 

- Mas antes vamos comer esse bolo que parece estar delicioso. - meu pai disse e eles saíram do quarto.

 

- Não demora, tia Lottie - Thomas disse antes de Lydia fechar a porta atrás deles.

 

Com um suspiro levanto da cama e me dirijo ao guarda-roupa. Pego um short jeans de lavagem clara e uma regata preta com um lobo branco e prata estampado, assim que os visto calço os tênis iates brancos e pego o celular.

 

O espelho do meu quarto está sujo e é a primeira coisa em que reparo ao parar em frente à ele para arrumar o cabelo. As mechas estão grudadas por causa dos nós, então a única alternativa é fazer o melhor coque que consigo. Aplico rímel rapidamente e desço as escadas indo diretamente para a cozinha.

 

- O bolo está delicioso - Thomas fala e boca cheia e Lydia dá uma bronca nele.

 

- Está mesmo - meu pai concorda.

 

Vejo que minha mãe não está na sala.

 

- Onde a mamãe está?

 

- No escritório falando com alguém - meu pai dá de ombros e volta a focar sua atenção ao bolo.

 

Me viro e ando pelo corredor estreito, passo pela porta do banheiro á direita e paro na frente da segunda porta á esquerda, a do escritório, que está entreaberta. Consigo escutar minha mãe falando o telefone e me aproximo da fresta para vê-la; ela passa a mão livre pelo cabelo a cada segundo - algo que faz apenas quando está nervosa e me preocupo -, fala em um tom contido com a pessoa do outro lado da linha mas percebo a urgência e o desespero em sua voz.

 

Tento distinguir o que fala mas capto apenas pedaços:"azul", "dezoito", "Londres", "Titus", "desastre". Sem entender, dou um passo para ficar mais próxima e ouvir e piso em uma tábua solta do assoalhe que range alto e faz com que minha mãe se vire para investigar.

 

- Paola, depois eu te ligo. - ela fala e desliga rapidamente o telefone. Assim que abre a porta, eu sorrio e digo:

 

- Vim chamá-la para comermos o bolo. - o sorriso que coloquei em meu rosto dói por ser forçado demais.

 

- Ah, Lotus. Estava apenas falando com Paola.

 

- Quem é? - pergunto a encarando.

 

- Uma amiga minha de Londres, da última vez que ela veio para cá você era pequena demais para se lembrar - diz e passa a mão por meus cabelos com uma expressão melancólica.

 

- O que aconteceu, mãe? - pergunto e soei mais fria do que pretendia.

 

- Nada, querida - respondeu e a expressão melancólica desapareceu de seu rosto, substituída por um sorriso.

 

Antes que eu dissesse algo mais, ela passou por mim e me deu as costas saindo do corredor e indo para a cozinha.

 

...

10:30 a.m

O café estava cheio, mas tranquilo. As primaveras costumavam ser assim. Pedi um copo de chocolate e um muffin de banana com chocolate.

Enquanto esperava os pedidos me entreti com Thomas pintando alguns desenhos impressos que estavam sobre a mesa para as crianças.

Olho pela janela e vejo o dia maravilhoso que se forma lá fora. É meu aniversário e nenhum de meus amigos está aqui. Recebi uma ligação de Rodrick e nem me dei ao trabalho de atender, não sabia como organizar os fatos da noite anterior e como mentiria para ele a respeito.

Resolvi não confrontar meus pais a respeito de não ser inteira humana, provavelmente eles sabiam tanto quanto eu. Ou já teriam me contado algo sobre. Enquanto observo uma borboleta pousar no vidro da cafeteria me pergunto; eles teriam mesmo me contado?

Sou tirada de meus devaneios quando o garçom chega com nossos pedidos. Thomas vibra ao pegar o bolinho de maçã e o suco de laranja,a combinação me é estranha.

Agradeço quando pego o meu pedido e mordo o bolinho.

 

- Rodrick não vem te ver? - minha mãe pergunta e a encaro terminando de mastigar.

 

- Não sei.

 

- Manda uma mensagem pra ele. Quero ver o tio. - Thomas fala e sorrio tirando o celular do bolso.

 

"Estou aqui no Single O Surry Hills, você vem?" mando a mensagem e antes de guarda-lo o aparelho vibra.

 

" A caminho" responde e abro um sorriso que logo some quando lembro da noite passada. Rodrick e Tam se lembram de quais partes e acontecimentos da festa?

 

- Rodrick ainda está com Nina? - Lydia pergunta e assinto - Não faça careta, deixa seu nariz amassado.

 

- Eu não estou fazendo careta - murmuro envergonhada, mas eu estava sim franzindo o nariz.

 

- Onde está Logan? - pergunto e minha mãe aperta os lábios nervosa.

 

- Saiu e não voltou desde ontem.

 

- Não sei porque você ainda se preocupa, mãe. Ele deve estar na casa da namorada dele ou de outra garota qualquer. - Lydia disse com crueldade.

 

- Lydia - meu pai advertiu e ela se concentrou no copo de café a sua frente.

 

- Bom, Rodrick está vindo. Irei espera-lo do lado de fora. - falei me levantando e deixando o copo de chocolate intocado na mesa.

 

...

10:50 a.m

- Até que enfim - resmungo ao ver o lindo garoto vindo em minha direção.

 

- Lottie! - grita e se joga em mim, me abraçando e me beijando no rosto. Reclamo e finjo não gostar, enquanto afasto as borboletas do estômago e acalmo o coração. - Feliz aniversário, melhor amiga!

 

- Obrigada, melhor amigo - digo sorrindo e tiro seus óculos de sol, encarando-o nos olhos.

 

- Devolva, Lotus - fala sorrindo e escondo os óculos atrás das costas.

 

- Não - respondo e dou alguns passos pra trás na calçada.

 

- Lotus - diz, ainda parado, em aviso. Recuo mais dois passos contendo uma gargalhada. - Você que quis assim.

 

- Me pegue então - grito gargalhando e corro pela rua. Rodrick já está perto por causa de suas pernas imensas. Penso que irei conseguir correr e cansá-lo antes que me pegue, mas quando olho para trás para ver onde está, bato em algo firme e alto.

 

- Opa, opa. Cuidado por onde anda, gatinha. - uma voz masculina fala e a acho familiar. Olho para cima e vejo Luke, o loiro misterioso que me salvou na boate. Ele é muito alto, como não percebi ontem?

 

Dou três passos para trás e me choco com Rodrick; congelo, presa entre os dois garotos mais bonitos que já vi na minha vida.

 

- Luke Hemmings. - Rodrick quase rosna ao dizer o nome e me segura pela cintura possessivamente. Me irrito um pouco com o ato, mas estou concentrada demais nos olhos cor de safira de Luke para me importar.

 

- Eu deveria saber quem é você? - Luke pergunta encarando Rodrick, parecendo não me notar.

 

- Rodrick Tantum, capitão do time de lacrosse do seu novo colégio.

 

- Ah, ótimo. Pena que eu não ligo mesmo. - diz exibindo um sorriso lupino que me dá calafrios. Onde está o garoto que conheci ontem?

 

- Quando as aulas começarem acho que você vai ligar sim - Rodrick disse e olho para cima horrorizada ao perceber que ele exibe um sorriso semelhante. Sua mão ainda repousa em minha cintura.

 

- Veremos - Luke diz e seus olhos se voltam para baixo, para mim. - Ora,ora, o que temos aqui? Sua namorada, capitão do time de lacrosse?

 

- Não - solto mais bruscamente do que pretendia, me desvencilho da mão de Rodrick e fico a um passo de distância de cada um deles.

 

- Qual seu nome, bonitinha? - pergunta como se nunca tivesse me visto ou falado comigo.

 

- Lotus - digo irritada o suficiente para fazê-lo sorrir novamente.

 

- Bonito nome. - fala estalando a língua. Quase consigo sentir a raiva de Rodrick emanando em ondas através de mim. - Até mais, vocês dois.

 

Ao dizer a última palavra, desviou de nós e continuou a andar. Rodrick e eu encaramos suas costas até que ele virasse a esquina.

 

- Esse era um dos bad boys novos na cidade, dos quais eu te avisei. - Rodrick disse me puxando pela mão, fazendo com que eu ficasse próxima dele.

 

- Pra quê todo esse ódio? - me viro cuspindo as palavras para Rodrick. Luke é talvez a única pessoa que pode me ajudar quando eu descobrir o que sou.

 

- Calma, Lottie - fala e respiro fundo entregando os óculos para ele. - Vamos entrar, falar com seus pais, pegar uma bebida e sair pra conversar. Depois almoçamos juntos e vamos para a praia.

 

- Não estou com roupa de praia - falo baixinho.

 

- Passamos na sua casa, Lottie. - fala e me puxa para perto me abraçando e beijando minha testa.

 

- Tudo bem - sussurro.

 

Ficamos ali no meio da rua por alguns segundos sem dizer nada. Até que ele me solta e me puxa até o café.

 

...

11:15 a.m

A praça está tão cheia quanto ontem. Nos sentamos embaixo de uma árvore e uma brisa fria sopra sobre nós.

 

- Me explique o lance do ódio com o Hemmings. - falo direta e sugo o suco de laranja pelo canudo vermelho, o copo transparente não está cheio como antes já que Rodrick fez o favor de não encaixar a tampa direito e derramar um pouco do líquido assim que pisamos para fora do café.

 

- Ele é meu primo - fala e engasgo com o suco, começando a tossir. Ele dá uns tapinhas em minhas costas e puxo o ar para falar.

 

- Por que ele fingiu que não te conhecia? - minha voz sai mais estridente do que eu pretendia.

 

- Não sei - diz e passa a mão pelo cabelo. Evito sorrir, mas ele fica tão lindo assim.

 

- Ele é tão dissimulado. Jurei que não te conhecia.

 

- Luke sempre foi assim. Da última vez que nos encontramos, ambos saímos com hematomas e ossos quebrados.

 

- Vocês se socaram até um de vocês se quebrar? - falo assustada tomando mais suco.

 

- Ele saiu com o nariz quebrado, eu com o braço.

 

- Rodrick isso é absurdo - digo encostando minha cabeça em seu ombro olhando para as crianças na praça. A garotinha ruiva está novamente ali, ela me olha e sorri.

 

- O idiota ainda conseguiu ficar com o nariz perfeito, queria que tivesse ficado torto, mas não, Hemmings continua com sua beleza perturbadora. - fala amargo e solto uma risada.

 

- Ele nem é tão bonito - digo, suprimindo a vozinha em minha cabeça que grita "mentira".

 

- Lotus, por favor, diga a verdade - diz virando a cabeça para me olhar. Os olhos castanhos me encaram com divertimento.

 

- Estou falando sério.

 

- Mentirosa - sussurra abrindo um sorriso. Estamos perto o suficiente para que se qualquer um de nós se inclinar apenas um pouco para a frente nossos narizes se encostarão.

Estamos perto demais. Demais.

 

Desvio o olhar e viro o rosto, focando nas crianças novamente.

 

- Não sou mentirosa, você é muito mais bonito, Ro.

 

- Uhum - diz rindo e faço a mesma coisa. - Quando aprender a mentir me procure, senhorita Lotus.

 

- Amo você - falo baixinho.

 

- Também te amo, melhor amiga - ele fala. Sei que quis ser carinhoso ao declarar que sou sua melhor amiga, mas as palavras me magoaram. Até mais do que deveriam.

 

...

11:39 a.m

Passamos em casa para pegarmos tudo que precisávamos para ir á praia. Coloquei um biquíni tangerina com detalhes dourados e calcei os chinelos pretos. Peguei a bolsa de praia em cima da cama

 

- Lotus!

 

- Estou indo, Rodrick! - grito e bufo, descendo as escadas.

 

- Tamara virá? - pergunta de costas para mim.

 

- Não e nem irei chama-la, já que a ruiva deve estar de ressaca e com um humor daqueles. Não quero ninguém gritando comigo á toa.

 

- Ótimo, Lottie. Então somos apenas nós - falou e sorriu. Também sorri e o segui porta afora entrando no carro.

 

Fez-se um silêncio incômodo entre nós dois, o que era raro. Rodrick dirigia olhando fixamente para a frente.

 

- Você não vai me dar nenhum presente de aniversário? - perguntei quando paramos em um semáforo. Ele se virou e sorriu lentamente.

 

- Deixe de ser apressada, Lottie. - o sorriso era irritante...e lindo.

 

- Idiota.

 

- Não resmungue assim, você fica parecendo uma criança birrenta. - ele falou e colocou a mão na parte de cima do joelho perto da coxa. Um calafrio percorreu meu corpo e meu coração acelerou, parecendo um pequeno beija-flor preso e frenético para sair.

 

- Idiota. - falei tentando esconder o pequeno sorriso que ameaçava se formar.

 

- É você. - falou gargalhando e acelerou o carro.

 

Chegamos na praia em poucos minutos e tiramos tudo do carro. Arranquei a camiseta branca e me sentei na areia ainda com o short jeans.

 

- Cara, você é folgada demais. - resmungou colocando as coisas na areia perto de mim.

 

- Não me chame de "cara". - rebati sorrindo

 

- Chamo a senhorita do que eu quiser, só porque tem dezoito agora não quer dizer que possa mandar em mim. - disse se sentando ao meu lado. Quando percebeu que o sorriso havia desaparecido de meu rosto ele pegou minha mão, mas não encarei. - O que foi, Lottie?

 

- Nada - respondi afastando o nó em minha garganta - É que sei lá, sei que eu fiz dezoito, mas achei que seria mais empolgante, mais divertido. Só que agora sinto apenas um vazio, como se faltasse algo aqui dentro, sabe?

 

- Sei - respondeu, ambos olhávamos fixamente para o mar agora. - Eu me sentia do mesmo jeito até encontrar Nina.

 

Meu coração pareceu murchar ainda mais. Ele não conseguia passar dez minutos sem falar o nome da beldade ou dizer o quanto amava ela?

 

- Que ótimo, Rodrick - eu disse, tomando fôlego para não desabar e chorar - Pelo menos um de nós está feliz e completo.

 

- Sim - falou e esfregou o polegar sobre minha mão, tentei ignorar o gesto e falhei - Mas quando encontrar seu verdadeiro amor ou algo para que queira viver, seremos ambos felizes e completos.

 

- Talvez - sussurrei, ele pegou meu rosto entre as mãos, delicadamente, me fazendo olhar para ele.

 

- E eu prometo, pequena flor. Que farei de tudo para que você o encontre. - disse e beijou minha testa. Uma lágrima solitária desceu por minha bochecha e ele a limpou. - Não chora, vai. Ou eu vou chorar também.

 

Ri ou tentei, já que saiu como um barulho estranho entre choro, riso e engasgo.

 

Após uns minutos em total quietude, ouvindo apenas o vento assoviando e as ondas quebrando, um grito agudo de diversão cortou o ar.

 

Me virei para trás e vi um conversível vermelho, o qual nunca me dei o trabalho de saber o nome, com três garotas lindas saindo dele. Quase gritei, ao vê-las; Nina Cantieri, conhecida como a capitã das líderes de torcida e namorada de Rodrick; Ashley West, vice-capitã e a vadia de East High; e por final, vinha Yolanda Kenera, líder de torcida, a garota com os maiores seios do colégio, burra como uma porta.

 

- O que elas estão fazendo aqui? - rosnei para Rodrick que se encolheu.

 

- Tive que chamá-las, Nina estava brava porque não a vi ou liguei para ela. - respondeu dando de ombros. Se as três não estivessem perto o suficiente agora eu teria pulado no pescoço dele.

 

- Lotus! - Nina gritou correndo até nós, ela segurava uma caixa dourada grande de presente.

 

- Nina! - exclamei sorrindo e me levantei para abraça-la. Ashley e Yolanda sorriram como bonecas. Não sabia quem era mais falsa entre nós quatro.

 

- Feliz aniversário! - gritaram todas as três e sorri mais uma vez.

 

- Obrigada, meninas - minhas bochechas já doíam.

 

- Rodrick e eu queríamos te dar o presente juntos - Nina disse dando a volta em mim e parando ao lado de Rodrick o beijando antes de voltar a falar. - Aqui tome.

 

Peguei a caixa meio desajeitada e me ajoelhei na areia colocando-a no chão. A tampa escorregou e um pequeno focinho se esgueirou para fora.

 

- Não acredito - exclamei e abri a caixa, tirando o cachorrinho.O filhote branco de akita era lindo. - Sempre foi meu sonho ter um cachorrinho desses.

 

- Eu sabia - Rodrick disse segurando Nina pela cintura. Ignorei-o e me concentrei na pequena coisinha branca que me cheirava e lambia.

 

- Você poderia colocar o nome dele de Neve. - Yolanda abriu a boca.

 

- Não seria muito óbvio? Um cachorro branco chamado Neve? - cuspi de volta e quase ri quando ela fez um ruído de choro.

 

- Qual será o nome? E aliás é fêmea - Rodrick falou mas nem me virei ao pegar a cadela no colo e colocá-la diante de meu rosto encarando seus olhinhos dourados. Deus, seus olhos eram dourados e lindos.

 

- E aí gracinha, qual será seu nome, hein? - sussurrei e ela soltou um ruído que parecia a tentativa de um latido, gargalhei e pensei. - Acho que irei te chamar de Aurea.

 

- Por que Aurea? - Ashley perguntou.

 

- É a tradução mais próxima de "Dourada" no latim. - expliquei e aninhei Aurea em meus braços,me virando a Rodrick e Nina - Obrigada, pessoal. Significa muito pra mim.

 

- Ah, de nada. Ficamos felizes em realizar sonhos de crianças - os olhos azuis de Nina brilharam com a malícia velada na frase. Aurea esfregou o focinho na mão que descansava em sua pequena cabeça e recomecei o carinho.

 

As garotas se sentaram perto de nós, estendendo esteiras e cadeiras. Frescas.

 

- Está tudo bem, Lottie? - Rodrick perguntou e abri um sorriso forçado.

 

- Claro - respondi e olhei para Aurea que havia dormido em meu colo - Obrigada mesmo pelo presente.

 

- Você merece - falou e se afastou, seguindo a sereia de olhos azuis que o havia roubado de mim. Afastei a amargura em meu peito e peguei meu celular na bolsa.

 

Mandei uma mensagem para Tamara e para Gwen, perguntando se podiam me buscar na praia para sairmos depois e elas responderam que já estavam à caminho. Graças a Deus.

 

- Lotus, você pode por favor passar o protetor solar em mim? - Yolanda perguntou se aproximando. Tentei não olhar aos enormes seios que mal eram contidos no minúsculo biquíni branco que contrastava com a pele cor de canela e os cabelos extremamente pretos da garota.

 

- Claro - respondi meio sem jeito e ela virou de costas para mim. Espalhei o creme direito para não causar problemas e ela agradeceu voltando a deitar de bruços na esteira.

 

Logo Ashley veio também e fiz a mesma coisa. A pele rosada, os cabelos loiros e compridos em cachos soltos e abertos, o corpo magro mas curvilíneo a deixava parecendo um anjo. Pelo menos da primeira vez que ela me olhou era o que eu achava; olhos verdes, nariz pequeno e delicado, maçãs do rosto altas e lábios cheios. Até que ela se mostrou um demônio disfarçado quando estudamos juntas.

 

- Obrigada, Lottie - falou como um gatinho manhoso. Sorri amarelo e coloquei os óculos de sol, Aurea ainda estava enroladinha em meu colo.

 

Rodrick e Nina estavam na água, Yolanda e Ashley estavam deitadas nas esteiras - pretendendo fritar acho eu - e a aniversariante aqui estava sentada na areia olhando para a praia.

 

Não era como eu imaginava passar meu aniversário com Rodrick. Antes que pudesse fazer ou dizer algo do que me arrependeria depois, uma buzina soou atrás de nós. Aurea se levantou e latiu, fiz carinho nela e a peguei no colo andando até o carro onde Tamara e Gwen sorriam.

 

- Feliz aniversário! - gritaram saindo da Range Rover de Tam.

 

- Obrigada, meninas! - falei sorrindo, Aurea lambeu as duas e estava abanando o rabinho.

 

- Quem é essa fofura? - Gwen perguntou se debruçando sobre Aurea que lambeu seu nariz. Os cachos escuros caíram sobre o rosto da cadela que tentou morde-los.

 

- Aurea, minha nova mascote. - falei entregando a cadelinha á ela.

 

- Cortesia de Rodrick, imagino - Tamara falou séria e olhou para o mar onde Nina e ele gargalhavam.

 

- Sim.

 

- Se for muito difícil de cuidar dela, pode dar pra mim - Gwen falou rindo enquanto Aurea a lambia.

 

- Gwendolyn, nem comece - falei rindo também.

 

- Não me chame de Gwendolyn - disse colocando Aurea no chão, ela ficou cheirando nossas pernas e farejando ao redor, mas não correu para longe.

 

- Por que quer ir embora? - Tam perguntou ainda séria, o que eu não estava entendendo.

 

- Rodrick me trouxe aqui, achei que íamos ficar sozinhos, ele chamou o Trio Angelical aí. - resmunguei.

 

- Babaca - Gwen resmungou e tirou os óculos escuros, seus olhos eram ainda mais claros que os meus como se mel tivesse sido derramado neles.

 

- Sim. Vou pegar minhas coisas e podemos ir?

 

- Claro, Lottie - Tamara disse sorrindo terna e amarrou o cabelo laranja em um rabo de cavalo.

 

- Vou te ajudar - Gwen disse e me seguiu. Yolanda e Ashley nos encararam e sorri.

 

- Vou embora, meninas. Avisem Nina e Rodrick para mim, ok?

 

- Ok, Lottie. Feliz aniversário! - Yolanda disse e sorriu.

 

- Obrigada, Yo - falei com a voz mais doce possível pegando as bolsas e indo em direção ao carro. Aurea já estava no banco de trás e quando entrei ela veio e deitou colocando a cabeça em minha coxa. Tamara foi dirigindo e Gwen estava do seu lado.

 

- Vocês ficaram sabendo algo sobre Cleo? - perguntei e elas negaram. - Parece que o acampamento está sendo bom, não é mesmo, meninas - gargalhei ao dizer, elas se juntaram a mim.

 

- Sinto falta dela, não tem como sermos o Quarteto Cruel sem a quarta de nós - Gwen disse e concordamos.

 

- Onde vocês querem ir?

 

- Shopping? Ainda preciso comprar um presente para você. - Tamara disse e assenti.

 

- Surry Hills Shopping Village, aqui vamos nós - Gwen disse e gargalhou.

 

...

12:30 p.m

- Esse vestido ficou horroroso - resmunguei ao sair da loja. Gwen segurava Aurea no colo e a cadela já estava impaciente por não poder ir no chão.

 

- Ficou lindo, Lottie - Tamara disse e revirei os olhos. O vestido era dourado e grudou no meu corpo como uma segunda pele.

 

- Eu estou parecendo uma cobra dourada - resmunguei me virando.

 

- Está lindo - Gwendolyn resmungou.

 

- Ficou perfeito, senhorita - a atendente disse e sorri.

 

- É, talvez.

 

- Vou levar para você - Tam disse e dei de ombros. - Um dia você vai usar e vai deixar muitos garotos de queixo caído.

 

- Tudo bem, galera. - disse sorrindo e voltei ao provador para tirar o vestido.

 

Ao voltar para a loja, Tamara já estava pagando o vestido e Gwen estava do lado de fora com Aurea no colo.

 

- O que acham de passearmos um pouco e depois comermos fora? - perguntei e elas concordaram.

 

Por onde passávamos chamamos atenção das pessoas; talvez por causa de Aurea ou talvez por sermos um trio de uma ruiva perigosa, uma morena de cabelo cacheado com olhos quase dourados  e eu com os cabelos escuros lisos e olhos castanhos esverdeados.

 

Quando viramos em um corredor congelei ao ver quatro garotos, dos quais eu havia conhecido três na noite anterior, vindo em nossa direção.

 

- O que foi, Lottie? - Gwen perguntou ao ver que eu parei.

 

- Nada - falei sorrindo de leve mas ainda sem sair do lugar. Os meninos se aproximavam agora.

 

- Lotus? - Tamara perguntou e olhei para ela.

 

- Não é nada, bobeira minha, achei que tinha perdido meu celular, mas está aqui no meu bolso - falei mantendo a voz calma e voltei a andar. Antes de atravessarmos o corredor, os quatro pararam na nossa frente.

 

- Bom dia, garotas - o moreno dos olhos puxados disse. Calum.

 

- Bom dia - as meninas disseram sorrindo. Continuei quieta e olhei para Luke que mantinha um sorriso lupino no rosto.

 

- Achamos vocês bonitas e bem...

 

- Gostariam de almoçar conosco? - Luke perguntou e meu coração parou quando as meninas responderam.

 

- Sim.

 

- Não. - falei por cima, e o olhar dos seis se voltou para mim. Aurea soltou um ganido de choro.

 

- Lotus? - Tamara indagou e seu olhar dizia claramente "quatro garotos lindos nos chamaram para sair e você disse não, está maluca?".

 

A encarei novamente e meu olhar dizia "não, vocês estão".

 

- Meninas? - o de cabelo branco disse e me virei para ele. - Sim ou não?

 

- Sim, é que Lotus ás vezes gosta de nos contrariar - Gwen disse e apertou meu pulso, fiz um barulho semelhante ao o que Aurea tinha feito antes.

 

- Espera, Lotus é seu nome mesmo? - o garoto de cachos castanhos claro perguntou, era o único que eu não havia visto ontem.

 

- Sim, e qual é o seu? - rosnei de volta e peguei Aurea do colo de Gwen.

 

- Ashton Irwin, prazer em conhecê-la, Lotus... - falou sorrindo e fez uma pausa para que eu dissesse meu sobrenome.

 

- Clines, Lotus Clines - falei e virei a cara para eles. - Sinto muito, meninas. Tenho que voltar para a casa, almocem com os garotos sejam lá quem eles forem.

 

- Nem pensar, senhorita Caroline. Vai ficar aqui, almoçar conosco e comemorar seu aniversário dignamente. - Tamara falou e me segurou pelo braço. Aurea rosnou pra ela e Tam mostrou a língua para a cadela.

 

- Feliz aniversário, Lotus - Luke disse sorrindo e tentei desviar o olhar dos seus olhos impossivelmente azuis e da beleza sobrenatural, falhei terrivelmente. Ele era lindo demais.

 

- Obrigada - disse entredentes e fiz carinho em Aurea que tinha sua atenção nos meninos e rosnava.

 

- Ótimo, agora vamos todos almoçar - Tamara disse e ao perceber que eu abria a boca para protestar, continuou - Juntos, Lotus.

 

Soltei um suspiro em resposta.

 

- Acho que temos que deixar o garotinho ali em casa - Calum disse e apontou para Aurea.

 

- É garotinha; e não, ela vai conosco.

 

- Lottie, acho que não vão deixar Aurea entrar no restaurante - Gwen falou, piscando os grandes olhos da cor de mel. Grunhi e assenti.

 

- Eu levo você até sua casa - Luke se ofereceu e fiquei chocada demais para rebater.

 

- Ótimo - Tamara disse sorrindo e me empurrando pra cima dele, Aurea rosnou mais uma vez e a apertei mais contra meu corpo.

 

- Vejo vocês lá. - Gwen disse e seguiu Tamara e os meninos pelo lado oposto do corredor.

 

Eu e Luke ficamos nos encarando, em uma batalha ridícula de olhares, mas de qualquer jeito eu ganhei pois ele desviou primeiro.

 

- Onde está a porcaria do seu carro, Hemmings? - perguntei e ele sorriu. Toda vez que ele sorria eu tinha vontade de lhe socar os dentes. Parece que o ódio de Rodrick é contagioso.

 

- Calma, Lottie. - ele disse o apelido com mais deboche do que deveria. Me aproximei dele, fúria brilhando em meus olhos.

 

- Seja lá o que você e seus amigos forem, fique longe de mim e das meninas. - falei com a voz fria e me surpreendi pois nem mesmo parecia eu.

 

- Como quiser. - falou e os olhos ficaram frios - Mas lembre-se de que quando elas descobrirem a verdade sobre você, talvez te falarão a mesma coisa.

 

Assim, ele me deu as costas andando rapidamente pelo corredor. Minha única opção era segui-lo.

 

Fui bufando e batendo os pés atrás dele, chegamos ao carro.

 

- Cansou de fazer pirraça, mimada? - falou com um sorrisinho sarcástico e entrou no carro.

 

- Sorria para mim assim de novo e quebrarei seus dentes - falei ao me sentar no banco do passageiro e colocar Aurea no banco de trás.

 

- Você não parecia selvagem assim ontem na boate. - provocou e abri um sorriso semelhante ao dele.

 

- Eu não sou o que pareço, Hemmings.

 

- Então o que você é? - me perguntou como se eu soubesse qual tipo de ser mágico eu era. Se eu fosse um ser mágico; podia ser a porcaria de uma humana comum e todos erraram. Os gêmeos e eles.

 

- Não sei ainda - sussurrei e o peso daquilo me fez encolher. Eu tinha que descobrir logo.

 

- Quando descobrir, me avise. Estarei a prontidão para ajudá-la no que precisar. - falou e a proteção em sua voz fez meu coração palpitar.

 

- Obrigada - sussurrei e virei o rosto para a janela. Não falamos mais nada enquanto ele dava a partida no carro e dirigia em direção as ruas de Surry Hills.

 

- Onde fica sua casa? - me sobressaltei quando sua voz cortou o pesado silêncio. Falei o endereço e nos calamos de novo.

 

Era provavelmente a situação mais estranha de minha vida. O primo que Rodrick odeia me levando para a casa, o mesmo garoto que é algum ser mágico desconhecido, assim como eu. Mas pelo menos ele deve saber o que é.

 

Minha mente estava tão fora do mundo que nem mesmo percebi quando ele parou o carro, uma Range Rover preta idêntica a de Tamara, na frente da minha casa.

 

- Chegamos, Lotus - ele falou me encarando, os olhos da cor de safira pareciam saber em tudo o que pensei no caminho até ali.

 

- Obrigada. - falei sem graça e me virei pegando Aurea no banco de trás, que tinha ido até lá sem dar um pio como se entendesse a tensão. - De novo.

 

- Estou sempre á ordens - falou com um sorrisinho e retribui antes de descer do carro.

 

- Você não vem? - perguntei me virando e ele deu de ombros descendo do carro.

 

- Seus pais estão aí? - perguntou ao me seguir pelo pequeno jardim.

 

- Acho que sim. - falei e empurrei a porta, logo colocando Aurea no chão. A cadelinha foi como um borrão branco pela sala farejando as coisas de Thomas e tudo mais.

 

- Tia Lotus! - a voz de meu sobrinho ressoou pela casa.

 

- Thomas! - gritei de volta e ele desceu as escadas correndo, mas parou no pé da mesma ao ver Luke. Aurea correu até o garotinho e cheirou sua mão. - Quem é ele? Onde está tio Rodrick? E por que tem um cachorro branco aqui?

 

- Calma, Tom - falei chegando perto dele e o pegando no colo.- Luke é primo de Rodrick e essa é minha nova mascote, Aurea.

 

- Hm - ele disse e encarou Luke. - Por que está aqui com minha tia?

 

Luke estava petrificado no meio da sala olhando o garoto de cinco anos que o encarava com a fúria de um homem.

 

- As amigas dela pediram para que eu a trouxesse aqui, pois não poderíamos entrar com Aurea num restaurante. - o loiro respondeu engolindo em seco, quase ri ao ver que ele estava nervoso diante de um garotinho.

 

- Logan está aqui?

 

- Não, tia. Ele saiu falando que ia atrás de tia Joanna.

 

- Ela não é mais sua tia, pestinha. - falei apertando seu nariz e o colocando no chão, Aurea pulou em cima dele e lhe lambeu o rosto.

 

- Eca, Aurea! - ele exclamou e a cadelinha latiu.

 

Os dois ficaram brincando enquanto eu fui até o escritório esperando encontrar minha mãe ali, Luke seguia em meu encalço.

 

- Mãe? - perguntei batendo na porta.

 

- Entre, querida - ela respondeu e entrei com Luke atrás de mim.

 

- Rodrick me deu um cachorrinho de aniversário e tenho que deixá-lo aqui para podermos almoçar com as meninas em um restaurante. - falei, ela continuava com a cabeça baixa olhando os papéis. Quando levantou o olhar para nós se levantou rapidamente e deu um passo para trás.

 

- Quem é você? - cuspiu a frase em direção a Luke.

 

- É um amigo, mãe. Calma. - falei e ela o olhou estranho.

 

- Já falei que não gosto quando traz estranhos aqui, Lotus - ela falou ríspida ainda encarando Luke - Quanto ao cachorro está tudo bem, desde que limpe a sujeira dele. Agora, qual seu nome, rapaz?

 

- Luke Hemmings - falou com o rosto impassível. Minha mãe pareceu ter empalidecido.

 

- Bom te conhecer, Luke - disse ela, mas havia algo estranho em sua voz.

 

- Podemos ir?

 

- Claro, querida. Só não volte muito tarde seu pai quer jantar conosco - falou sorrindo levemente.

 

- Tudo bem - respondi e sai do escritório atrás de Luke que já estava na sala como se quisesse sair da casa o mais rápido possível.

 

- Você já vai, tia Lottie? - Thomas perguntou parando de frente para mim, Aurea balançava a cauda animada à seu lado.

 

- Sim, meu amor - falei lhe beijando a testa - Mas volto antes que sinta minha falta, e Aurea ficará para te fazer companhia.

 

Me virei e segui pela porta onde Luke já me esperava. Ele era tão mais alto que eu e era musculoso, mas não tanto ao ponto de ser feio ou estranho.

 

- Tchau, Luke - Thomas falou e o loiro se virou. Jurei que havia algo estranho na expressão de meu sobrinho quando ele se virou e voltou a brincar com Aurea.

 

Fechei a porta e fomos para o carro. Após alguns minutos de estranheza novamente, resolvi falar:

 

- Se você tem medo de Thomas, espere conhecer Lydia ou Logan ou meu pai.

 

- Não tenho medo dele. Tenho mais medo de sua mãe. - falou seco.

 

- Por que teria medo da bondosa Louisa Clines, Hemmings?

 

- Porque ela é uma bruxa - respondeu e uma raiva letal e gélida percorreu meu corpo.

 

- Chame minha mãe assim novamente e cortarei a porcaria da sua língua. - ele apenas soltou uma risada sem humor.

 

- Estou falando sério, Lotus. Ela é uma bruxa.

 

- Oi? Uma bruxa tipo "eu tenho poderes mágicos"? - perguntei rindo.

 

- Sim, Lotus. - respondeu me encarando intensamente - E você deveria parar de rir já que provavelmente é uma também.

 

Ele falou tão sério que meu ataque de riso aumentou e gargalhei mais.

 

- Bruxa, que piada. Eu, uma bruxa - falei quando recuperei o fôlego e soltei uma risadinha.

 

- É o que você é, Lotus. - respondeu sem me encarar agora.

 

- Eu nunca demonstrei uma gota de poder. Sou a mais fraca de meus irmãos. A caçula ridícula que obedece a tudo, eles são o fogo da família. Se alguém de minha casa é uma bruxa, então é Lydia, eu não sou nada.

 

- Por que você acha que estava tão ousada na Royal ontem a noite? O drink azul deles aguça o sentido dos seres mágicos, Lotus. - falou irritado ainda sem me olhar.

 

Me calei. Minha mãe havia ficado subitamente preocupada ao saber da boate e da bebida. Luke encostou o carro.

 

- Impossível - sussurrei mais para mim do que para ele - Sou apenas uma garota mimada e normal, sendo a vadia que é na escola.

 

- Pare com isso. - Luke falou e agarrou meu pulso fazendo-me olhá-lo. - Você é uma bruxa, porque os seus poderes não se manifestaram eu não faço ideia. Mas você é uma bruxa e é melhor aceitar isso.

 

- Não - respondi e me soltei de seu aperto. - Eu não sou nada.

 

- Lotus, é tão difícil aceitar ser uma coisa sobrenatural?

 

- Eu não irei aceitar nada, pois eu não sou nada - minha voz saiu em um grito agora e Luke agarrou meus dois pulsos.

 

- Lotus, olhe para mim. Se acalme. - sussurrou e vi desespero em seus olhos.

 

- Eu não sou nada - sussurrei de volta e encarei aqueles poços azuis que brilhavam com algo poderoso.

 

- Sim, Lotus, você é. Mas,por favor, se acalme.

 

- Por que eu devia me acalmar? Você acabou de me contar que sou um ser sobrenatural, uma bruxa

 

- Porque você quase congelou o carro e a mim. - respondeu e apontou o carro com o queixo. Quando olhei para o painel do carro, prendi a respiração. Gelo cobria tudo e no volante cristais de gelo se penduravam. O ar estava impossivelmente frio e as mãos de Luke também.

 

- Ah Deus, desculpe. - falei. O gelo já derretia agora com o sol do meio-dia.

 

- Não se desculpe, Lotus. - falou sorrindo. - Você acabou de liberar seu poder. E sinto em dizer, é magia pura que pode se transformar em qualquer forma.

 

- O que quer dizer?

 

- Quer dizer que você é muito, mas muito poderosa - disse sorrindo maliciosamente e por um momento me vi sorrindo junto.

 

...

1:24 p.m

Entramos no restaurante e os cinco se viraram para nós.

 

- Que demora! - Gwen exclamou e colocou uma batata frita na boca.

 

- Por que demoraram tanto? - Tamara indagou quando me sentei ao seu lado direito com Luke do outro lado.

 

- Minha mãe embaçou pra me deixar sair - a mentira saiu mais rápida e firme do que eu pretendia. Peguei uma batata frita e a enfiei na boca.

 

- Só pedimos isso até agora. - Gwen falou e escrutinou o cardápio com os olhos mel - O que vocês vão querer?

 

- Peixe frito, risoto de camarão, e suco de laranja. Batatas rústicas talvez - falei e Ashton se virou para mim.

 

- Vocês três dividem pratos? - perguntou e eu e as meninas gargalhamos alto.

 

- Esse pedido é só para mim, Ash - ronronei o apelido e ele piscou diante da minha cara. As meninas gargalharam e ele as encarou.

 

- O que foi, palhaças?

 

- Todos eles caem. - Gwen falou rindo ainda e chamou um garçom educadamente para que anotasse nossos pedidos.

 

- O que ela quis dizer com isso? - Calum perguntou e dei de ombros.

 

Conversamos e conversamos e conversamos, mas parecia que apenas meu corpo estava ali, minha mente estava distante e pensando o quão estranho era aquilo.

 

Eu era possivelmente uma bruxa. Os garotos eram algum tipo de ser sobrenatural pela forma que foram rápidos demais na noite anterior e eu ainda não havia descoberto o que eles eram. Ah e o melhor...eu tinha quase congelado o carro e Luke.

 

- Lotus? - a voz de Tamara me tirou do devaneio.

 

- Hm? - perguntei a encarando. A regata preta decotada de alças finas que ela usava acentuava os seios e a cor de sua pele. Não entendia como morando na Austrália ela conseguia ser tão pálida.

 

- Seu pedido - falou e indicou o garçom ,que estava ao meu lado com uma expressão desconcertada, com o queixo.

 

- Oh! Obrigada! - falei sorrindo e agradeci.

 

- Você é sempre desligada assim? - Calum perguntou e dei de ombros.

 

- Sim, ela é - Gwen falou e revirei os olhos.

 

Foquei no meu prato e comi em silêncio.

 

- Rodrick não te ligou? - Tam perguntou e neguei.

 

- Ele é tão babaca - Gwen chiou e tomou um gole do refrigerante.

 

- É - respondi baixinho - Ele deve estar com Nina.

 

- Deixa de ser amarga é seu aniversário. Para de pensar naquele otário por quem você é apaixonada - Tamara falou e jogou uma batata frita em mim. A olhei irritada, ninguém precisava saber.

 

- Ah, quer dizer que Lotus é apaixonada pelo meu primo? - Luke provocou sorrindo de canto.

 

- Não sou não - minha voz saiu em um gincho estranho.

 

- Caroline - Gwen disse lentamente sorrindo.

 

- Gwendolyn - falei igual à ela e Gwen fechou a cara.

 

- Achei que era só Gwen - Ash falou franzindo a testa pra ela e Gwen o ignorou.

 

- Lotus, por favor, se você ficar triste por causa dele eu vou socar você e ele. - Tamara falou colocando o braço ao redor do meu ombro.

 

- Eu estou junto com Tam - Luke disse sorrindo e sorri de volta para ele.

 

- Ótimo, galera. Todos terminamos de comer. Querem ir pra casa ou sair?

 

- Casa - respondi.

 

- Sair - Tamara e Gwen falaram ao mesmo tempo.

 

- Casa - repeti e lancei um olhar cansado à elas. - Preciso cuidar de Thomas e de Aurea.

 

- Ah - Gwen falou compreendendo.

 

- Tudo bem, Lottie. Te deixamos em casa - falou e sorri.

 

- Ótimo, obrigada. - falei e me levantei. Todos se levantaram depois, os meninos pagaram a conta e fomos embora.

 

...

10:36 p.m

-Tia Lotus? - Thomas chamou e pulou no sofá pra cima de mim. Havia jantado com meus pais e Lydia, eles estavam no escritório e minha irmã trabalhando no quarto dela; como dona de uma mini-empresa ela não parava nunca.

 

- Oi, pequeno - falei quando ele deitou de bruços em cima da minha barriga e afastei uma mecha do cabelo castanho liso de seu rosto.

 

- Eu não gostei daquele seu amigo loiro. Ele fede. - falou e gargalhei.

 

- Como assim ele fede, Tom? - perguntei e ele sorriu um pouquinho.

 

- Tem um cheiro esquisito. De terra molhada e aquela plantinha que eu não gosto - respondeu franzindo o nariz. Aurea estava deitada em cima dos meus pés.

 

- Que plantinha, Thomas? Hortelã?

 

- Sim! - exclamou e gargalhei.

 

- Então, seu olfato está muito apurado. Passei um tempão com ele e não senti nada.

 

- Ah sei lá, tia. Não gosto dele perto de você ou aqui - falou fechando a cara.

 

- Senhor Thomas Clines, você tem quatro anos e quer decidir com quem eu ando ou quem vem aqui? Seu folgadinho - falei e me sentei o pegando no colo e fazendo cócegas nele. Ele começou a gritar e Aurea acordou subindo na gente e latindo.

 

- Lotus? - a voz de Rodrick atravessou o barulho de nós três brincando e virei a cabeça na direção do som. Ele estava encostado no batente da porta da cozinha, olhando direto para nós na sala, sorrindo.

 

- Por que está sorrindo? - perguntei afastando uma mecha de cabelo do rosto. Aurea e Thomas pularam do sofá e se jogaram nele.

 

- Você fica linda quando está feliz - falou e pegou Thomas no colo vindo em direção a mim. Aurea os seguiu saltitando e deitou no tapete quando sentaram do meu lado no sofá.

 

- Hm - respondi sem graça e rezando para não ter corado.

 

- Você nem se despediu na praia hoje - falou baixinho.

 

- Você estava com Nina. Nem se eu tivesse gritado você prestaria atenção em mim. - rebati no mesmo tom.

 

- Lottie, nem começa - falou colocando Thomas no chão e pegando minha mão. Nos encaramos em silêncio. - Era seu aniversário eu teria prestado toda a atenção em você.

 

- Se a Nina não estivesse lá.

 

- Lotus, por favor. Eu amo você. - falou e me abraçou, aninhei a cabeça em seu peito e ficamos abraçados.

 

- Eu gosto muito mais de você do que do Luke - Thomas disparou olhando para Rodrick.

 

- Thomas! - ciciei e taquei uma almofada nele. Rodrick soltou do abraço e me virou, ainda sem soltar meus braços perguntou:

 

- Como Thomas conheceu Luke? - seu tom não era nada amigável. Quando não respondi; meu sobrinho resolveu abrir a pequena boca.

 

- Ah, ele veio trazer tia Lotus aqui. Ela entrou falou com a vovó e saiu com ele de novo. Mas eu juro, tio Rodrick, que eu briguei com ele e falei que a tia Lotus era sua.

 

- Mentiroso - falei pra ele e Thomas deu uma risadinha - Você não disse que eu era de Rodrick.

 

- Mas o resto eu disse, tia. - falou e passou a mão em Aurea.

 

- É verdade, Lotus? - ele perguntou e assenti. - Droga, eu te contei tudo o que ele fez e você o trouxe aqui na sua casa?

 

- Primeiro: ele me trouxe aqui. Segundo: você não me contou porcaria nenhuma, só disse que são primos e ele já quebrou seu braço. Terceiro: você não tem o direito de ficar bravo comigo porque estava beijando Nina no mar. E quarto: você me largou no dia do meu aniversário, os meninos encontraram eu e as meninas no shopping e não me deram escolha a não ser ir com eles almoçar. Então, não me venha dar sermão ou brigar comigo porque quem me abandonou foi você. - chiei e me desvencilhei de suas mãos.

 

- Lotus - ele me chamou mas eu já estava indo para a cozinha - Lotus!

 

Senti suas mãos me virando pela cintura e tentei me soltar mas ele segurava forte me fazendo encará-lo.

 

- Lottie, por favor. Desculpa. - falou e encostou a testa na minha.

 

Apenas assenti, estávamos perto demais e eu estava nervosa de mais para sequer fazer outra coisa ou falar.

 

- Luke não é uma boa pessoa. Eu sei que parece, mas ele não é. - sussurrou me encarando. Eu poderia me perder no universo de seus olhos castanhos por anos.

 

- Por que? - perguntei trêmula.

 

- Não sei se consigo falar agora - ele disse e levou a mão direita ao meu rosto traçando círculos na minha bochecha com o polegar.

 

- Eu também te amo, Rodrick. Promete que será meu melhor amigo pra toda eternidade? - falei o olhando nos olhos.

 

- Prometo, Lotus. Eu prometo. - sussurrou e eu sorri.

 

Antes que falássemos algo mais, Logan entrou pela porta da cozinha de mãos dadas com...Joanna.

 

- Vocês não tinham terminado? - eu e Rodrick perguntamos juntos.

 

- Eu percebi que Logan é o amor da minha vida, Lottie - Joanna disse sorrindo e o beijou. Os cabelos lisos e loiros escorreram pelos ombros.

 

- Boa noite pra vocês então. - falei quando eles passaram por nós e subiram as escadas.

 

- Acho que tenho que ir - Rodrick falou beijando minha testa e sorrindo antes de se virar para a porta dos fundos.

 

- Toma cuidado na rua a essa hora - falei sorrindo de leve.

 

- Eu sempre tomo cuidado - respondeu e balançou a cabeça em concordância. Quando achei que ele ia embora, Rodrick se virou e me encarou tão profundamente que achei que minhas pernas falhariam. - E Lotus...

 

- Fala - quase gaguejei.

 

- Eu não te abandonei ou esqueci, pelo menos não no pensamento; porque até mesmo enquanto estava com Nina não conseguia deixar de pensar em você. - antes que eu respondesse, ele se virou e saiu.

 

O peso da frase me atingiu tão fortemente que lágrimas desceram pelo meu rosto. Quem dera as coisas fossem mais fáceis. Peguei um copo d'água e me sentei em um dos bancos encostados na ilha cozinha. Antes de levá-lo a boca repassei as frases e o momento com Rodrick diversas vezes; o copo explodiu em minhas mãos e com o susto apertei um dos cacos grandes contra a palma fazendo um corte grande. Sangue vermelho vivo escorreu pela mão até o pulso. Meus poderes ativados, de novo.

 

Xinguei e enfiei a mão embaixo da torneira. Peguei uma atadura na última gaveta do armário e amarrei na mão. Ótimo, cortei a mão direita perto do amistoso de vôlei que as meninas organizaram. Parabéns, Lotus.

 

Suspirando, limpei os pingos de sangue na cozinha e voltei para a sala. Thomas não estava em lugar algum, provavelmente Lydia o havia colocado para dormir, e Aurea me esperava sentada com o rabinho balançando no pé da escada.

 

- Vamos, fofinha - falei e a peguei com o braço esquerdo subindo as escadas.

 

Quando deitei na cama com o montinho peludo branco ao meu lado e fechei os olhos, estava exausta demais para sequer pensar no lance de ser uma bruxa ou em Rodrick. Então, adormeci rapidamente.

 

 


Notas Finais


(Os lugares são estabelecimentos reais, existem sim o café e o shopping em Surry Hills)

Espero que tenham gostado.Comentem pra eu saber se devo continuar, divulguem, favoritem, etc.

Beijos e obrigada.


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