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História It's all about magic - Chapter 5


Escrita por: velarisbrdgrton

Notas do Autor


Desculpa a demora. Não percebi que já fazia dois meses, o capítulo está pronto há alguns dias, mas como eu o reescrevi umas três vezes estava com medo de postar. Obrigada pelo apoio.

Capítulo 6 - Chapter 5


Lotus

October, 30                    9:17 a.m

Acordei com a luz batendo no meu rosto e rolei para o lado, assustei ao encontrar o corpo quente de Rodrick contra o meu; levantei o olhar e encarei os olhos castanhos que me olhavam profundamente.

- Bom dia, flor - sussurrou e a voz ainda mais rouca de sono me deu arrepios.

- Bom dia - sorri e ele beijou minha testa.

- Quer tomar café aqui ou quer sair?

- Aqui está ótimo - me aninhei em seu peito musculoso e ele riu baixinho.

- Preguiçosa - resmunga e mexe em meus cabelos - Estou morrendo de fome, Lottie.

- Também estou, mas não quero sair daqui - o som sai abafado já que encostei meu rosto nele.

- Temos que sair, flor. Ou não faremos nada. - diz baixinho e o encaro.

- Você podia trazer a comida pra mim aqui, pra eu ficar quentinha no cobertor... - antes que eu continue uma batida alta na porta me interrompe.

- Rodrick! - a voz cantarolada de Nina ecoa.

- Merda - ele xinga e pula da cama.

- O que eu faço?

- Se esconda - chia e quero estapeá-lo.

- Não - digo enquanto passo a camiseta por cima da cabeça

- Hein?

- Não, diga a ela que está comigo agora.

- Lotus, por favor - ele fala e reviro os olhos.

- Não vou me esconder.

- Ótimo. - responde irritado e veste um short.

- Bebê? - Nina choraminga pela demora.

Rodrick abre a porta e a expressão da garota muda de alegria pra raiva.

- O que ela está fazendo no seu quarto a essa hora? Sua mãe disse que estava sozinho! - ela berra e bufo.

- Cale a boca, Nina - chio e ela me fuzila.

- Quem é você, hein, Clines? Pra mandar eu calar a boca assim? - rebate.

- A garota que tomou seu lugar, sua ridícula - falei baixo e contida.

- Rodrick? - ela olha enraivecida para ele.

- Desculpe - foi a única coisa que ele disse.

- Você me trocou por essa feia?! - Nina começa a gritar.

- Nina... - ele dá um passo em sua direção e ela recua.

- Não me toque - fala enojada - Eu amava você, Rodrick. Ainda amo, mas não entendo como pôde trocar anos do nosso relacionamento por causa dessa sem sal da Lotus.

- Ainda estou aqui - murmuro.

- Eu sei, sua bruxa - ela atira e me assusto com a palavra. Ao perceber que ela disse como xingamento e não por saber meu segredo me recomponho.

- Saia daqui - chio e ela parece prestes a me bater.

- Pense bem, vadia. Você destruiu um relacionamento e a outra sempre foi você. Amante não tem lar, piranha. - ela fala com um sorriso de escárnio e desce as escadas, o som das sapatilhas finas de grife sumindo.

- Eu a odeio - arfei e sentei pesadamente na cama, Rodrick olhou minhas pernas desnudas por tempo demais e grunho pra ele.

- Desculpe - ele sorriu e sentou ao meu lado me abraçando de lado - Vai ficar tudo bem, flor.

- Tomara - falei e olhei para o teto em uma súplica silenciosa a qualquer um que me ouvisse.

...

1:25 p.m

Eu estava cansada, sem motivo aparente, estirada em uma esteira no meio da areia. Rodrick havia saído para buscar limonadas num quiosque próximo. Fazia algumas horas que estávamos ali, sem fazer nada, apenas conversando e nos beijando.

Ouvi passos na areia e me levantei, sorrindo, pronta pra receber meu suposto namorado e tentar esconder meu cansaço, mas me assustei quando me deparei com Kendra.

- Oi, Lotus - ela disparou e tentei responder, mas parecia que eu estava paralisada.

- Oi, Kendra. O que faz aqui?

- Procurando você, oras - responde como se fosse óbvio.

- Hein?

- Os meninos foram viajar.

- Quê?

- Ai, Lotus - ela revirou os olhos verde-claros - Dormir com Rodrick te deixou burra?

- Oi?

- Pela Mãe Loba! - ela exclama irritada. - Lorelai exigiu que os garotos fossem como sua guarda pessoal até Londres para uma reunião dos dois Clãs dela. Luke mandou eu ficar de olho em você e Ashton disse pra eu manter Gwendolyn longe de encrenca.

- Ah - consigo dizer - estou bem, não precisa cuidar de mim.

- Sabemos muito bem - ela pisca e sorri - mas devo minha vida a eles e não desejo desonrar qualquer coisa que prometi.

- Como assim deve sua vida? - solto e seu sorriso se desfaz.

- História para outra hora - ela diz após alguns segundos.

- É, Rodrick já deve estar voltando - olhei para trás, mas não o vi.

- Você sabe que Luke vai querer arrancar a cabeça de alguém quando sentir o cheiro de Rodrick em você. - ela fala com um sorriso de canto.

- Por quê?

- Porque ele é apaixonado por você e não pode nem mesmo fazer algo.

- Por quê? - repito.

- Não te contaram? - ela pergunta espantada - Lorelai só nos ajudou a procurar você porque fez ele jurar que não teria nenhum envolvimento amoroso entre vocês.

- Ele não pode ter feito isso, aceitado isso - exclamo exaltada demais.

- Ei, calma - ela fala olhando ao nosso redor e as pessoas nos olhando - e ele fez em vão porque sua mãe podia fazer o mesmo feitiço e muito mais rápido. Se tivéssemos esperado cinco minutos.

- Ele é um idiota - chiei e Kendra sorri ainda mais.

- Rodrick é um idiota - ela rebate e a fuzilo com os olhos - É verdade, oras.

- Meninas - Rodrick aparece com os copos de suco na mão.

- Falando no diabo - Kendra murmura e ele a encara.

- O quê?

- Nada, Rodrick. - ela diz sorrindo perversa.

- Quem é você? - ele pergunta e me espanto.

- Você já a conheceu, eu acho. - falei e ele nega.

- Sou Kendra - ela se apresenta e olha pra mim como se dissesse: "deixa comigo".

- Por que eu a conheceria? - ele indaga transtornado.

- Porque sou amiga de Luke - ela responde e ele fecha ainda mais a cara.

- O que ela faz aqui?

- Nada - Kendra cantarola e pisca pra mim - Apareço na sua casa de noite.

- Mas...

- Vou levar Gwen - ela diz e depois franze a testa - se ela quiser claro.

- Tudo bem - respondo e ela se afasta rapidamente.

- Quem é ela? - ele chia pra mim e o olho irritada.

- Uma amiga - rebato e me sento pesadamente.

- Tome - ele me entrega o copo e se senta na minha frente de costas para o mar.

Bebemos em silêncio e o encaro.

- Você realmente me ama? - perguntei e sua expressão irritada se vai.

- Mas é claro - responde e sorri. O sorriso dele desarma minha raiva e sorrio de volta.

...

3:54 p.m.

- Tio Rodrick! - Thomas grita assim que abro a porta e ele vê Rodrick.

- Oi, pirralho - Rodrick responde e o pega no colo.

- Oi pra você também, sobrinho - finjo estar brava e ambos me mostram as línguas - Idiotas.

- Lotus! - Logan grita e vem correndo saindo da cozinha.

- O que foi?! - pergunto meio assustada.

- Preciso de convites. Pra uma festa de Halloween. - ele diz abrindo um sorriso gatuno idêntico ao que eu exibo muitas vezes.

- E o que eu tenho com isso? - pergunto revirando os olhos. Aurea morde meu calcanhar porque não lhe dei atenção e dou um chutinho nela.

- A festa é de uma de suas queridas amigas - ele pisca afetadamente.

- Pelo que sei nenhuma de minhas amigas vai dar uma festa.

- Ramona - ele diz uma única palavra e congelo.

- Não. De jeito nenhum, nem pensar. - digo e lhe dou as costas. Aurea continua perto dos meus pés e Rodrick me segue com Thomas no colo.

- Por favor - Logan implora e o encaro furiosa.

- Não irei pedir convites a Ramona de jeito nenhum - chio e ele abre outro daqueles sorrisos. - O que foi?

- Não precisa pedir, irmãzinha - ele fala e tira um envelope preto de trás das costas.

Desço as escadas e arranco o envelope da mão dele. O papel é preto e há um brasão prata na frente, retiro o convite de dentro e leio em voz alta as palavras escritas em prata.

- "Você foi convidada para minha festa particular de Halloween. Pode levar até três acompanhantes desde que não estejam na Lista Negra que está anexada no convite." - logo após vinha o endereço e hora.

- Leve eu e Joana, por favor - Logan implora e um sorriso gêmeo daquele que ele tinha exibido aparece em meu rosto.

- Apenas se ficar me devendo uma.

- Ridícula - ele chia. - Te devo uma.

- Obrigada. Leve Joana e Gwen e Tamara.

- Por quê? - indaga e bufo.

- Vou viajar com mamãe amanhã.

- Mas amanhã é Halloween. - Rodrick se intromete e o encaro.

- E daí?

- Achei que íamos a alguma festa juntos.

- Ai, por favor, né - reclamo e reviro os olhos.

- Obrigado, pirralha! - Logan berra e beija minha bochecha enquanto sai correndo com os dois convites individuais na mão.

Subo as escadas com Rodrick, Thomas e Aurea em meu encalço.

- Podem entrar, ó fiéis súditos - dou risada quando os três entram em meu quarto.

- Lotus - Rodrick chama e me viro. - Pra onde você vai viajar?

- Não sei. Mamãe falou que é surpresa - digo dando de ombros.

- Você ficou doente e nem nos vimos. Queria passar mais tempo com você. - ele fala e pega minhas mãos. Doente? Ele sabia que eu tinha sido pega pelos vampiros.

- Rodrick, eu sou uma...- deixo a frase no ar.

- Excelente namorada. - diz e dou uma risada nervosa.

- Luke é...

- Um babaca - completa imediatamente.

- Lorelai é...

- Quem é Lorelai? - ele pergunta confuso.

- Ninguém importante. Esqueça. - mas ele já tinha esquecido de tudo. Que eu era uma bruxa e que todos nós éramos seres sobrenaturais. Agora só me restava descobrir quem o tinha feito esquecer.

...


Gwendolyn

October, 30                                7:27 p.m

O vestido era lindo. E terrível. O tecido era fluído na saia e ia até acima dos joelhos, a divisão de corpete e saia era bem na cintura emoldurando minha cintura. O verde água ressaltou a cor da minha pele e as pedras transparentes que estavam espalhadas pelo corpete pareciam brilhar como meus olhos. Mas o decote em coração assentuava meus seios e mesmo sendo deslumbrante eu sabia que algumas pessoas focariam ali e não em mim.

- Gwen? - ouvi a voz de Ian e logo depois a campainha.

- Estou indo! - minha voz saiu meio cantarolada. Desci as escadas tomando cuidado com os saltos imensos de pedrinhas pratas. Abri a porta e sorri, Ian estava lindo. De terno preto com a camisa branca e uma gravata da cor do meu vestido. O cabelo estava penteado com gel e senti falta das mechas que lhe caíam sobre a testa. - Minha mãe te enviou a gravata? - indaguei com uma das sobrancelhas levantada.

- Sim - falou sorrindo e entrando - e com uma nota dizendo "Magoe Gwen e mato você."

Gargalhei e o abracei.

- Como já está toda maquiada e com o cabelo arrumado? - perguntou e puxou um dos cachinhos do penteado.

- Minha mãe enviou Jasmine e Warren. - eles eram os maquiadores e cabeleleiros dela.

- Vou fingir que sei quem são - ele dá risada e eu também. - Mas você está linda, então me lembre de agradecê-los caso os conheça.

- Pode deixar - pisquei e o sorriso dele se abriu.

- Estava com tanta saudade, gatinha - ele beija minha testa e agora eu estou sorrindo.

- Também estava - digo. Olho para o relógio, 7:35. - Estamos atrasados.

- Desculpe - ele fala e faz uma cara de triste.

- Tudo bem - dou risada e corro escada a cima pra pegar a bolsa e o celular. Quando volta ele está boquiaberto.

- Como você não caiu? - Ian está em choque ao me perguntar.

- Hein? - não entendo nada.

- Seu salto meio que virou em um dos degraus e você simplesmente continuou, eu jurei que você ia cair - sussurrou assombrado.

- Ah, nem senti, você viu errado - disse e coloquei a bolsa de pedrinhas pratas, iguais as dos saltos, no ombro.

- Aham - ele diz e pega minha mão. Saímos da casa e bato a porta. Olho o carro e suspiro.

- Não tinha algo menos chamativo? - franzi o nariz.

- Sua mãe mandou o nome da loja pra alugar e o modelo específico - ele responde e aponta pro Porsche 711 laranja.

- Ela tem que parar com isso - falo e ele assente.

- Vamos? - pergunta e engancho meu braço no dele.

...

Assim que passamos pela imensa porta de carvalho da entrada, Teresa vem correndo até nós.

- Senhorita Harrison e Sr.Brooks - cumprimentou e abaixou a cabeça. Sua pele era pálida demais, os cabelos lisos eram platinados demais, ela era magérrima e o vestido branco a fazia parecer uma garça.

- Estamos atrasados, desculpe - falei polida, mas queria revirar os olhos e entrar logo.

- A casa literalmente é sua, Senhorita Harrison - ela fala com um leve sorriso, o tablet fino e prateado que segura não deixa suas mãos nunca.

- Número da mesa? - pergunto.

- 47 - responde de prontidão - Deixamos Gwyneth separada da senhorita.

- Obrigada - pisco pra ela e puxo Ian - que não disse nada - até o salão principal na esquerda.

- Gwen! - alguém me chama e me viro rápido demais quase caindo.

- Cuidado - Ian chia e resisto ao impulso de querer socá-lo.

- Oi, mamãe - digo ao vê-la. Ela usa um vestido verde escuro com detalhes dourados que combina exatamente com as paredes do salão e o cabelo loiro está trançado com pedras negras e marfim como o mármore do chão. Minha mãe definitivamente estava parecendo a personificação divina do salão.

- Está deslumbrante, querida - ela diz me analisando - Você também, Ian.

- Obrigada, Sra.Harrison - ele agradece com um meneio de cabeça.

-Tenho que fazer outras coisas - ela fica na ponta dos pés e beija minha testa, antes de sair sorrindo e cumprimentando o resto dos convidados.

- Vamos - puxo Ian em direção à nossa mesa. Ninguém chegou ainda. Sentamos e esperamos conversando. Congelo ao ouvir o barulho de saltos perto de nós.

- Harrison, Brooks - a voz gélida nos cumprimenta. Não enxergo a dona da voz até que a linda garota dá a volta.

- Lilliana - digo polida e sorrio.

- Olá, Gwendolyn - diz antes de se sentar de frente para nós.

A divindade da primavera encarnada, Lilliana Heart. A garota mais bonita que eu já conhecera; os olhos grandes emoldurados por longos cílios mudavam de azuis para verde dependendo da luz, a pele clara e imaculada parecia uma jóia brilhante, sua boca como pétalas delicadas e avermelhadas, o nariz parecia ter sido esculpido pelo melhor artista de todos e o cabelo sedoso batendo até na cintura era lindo demais para ser real.

- Acabei de ver sua irmã - ela fala baixo; a voz é linda, mas envolta em frieza e apatia. - Diferente de você, ela parece um furacão naquele vestido vermelho berrante.

- Considerarei como um elogio - minha voz sai no mesmo tom da dela. Levo a enorme taça de vinho a boca e bebo apenas um pouco.

Lilliana me analisa inteira, desde o vestido até o rosto e faço o mesmo com ela. O vestido dela é verde claro, tão claro que na luz parece um branco manchado, há flores douradas bordadas no decote quadrado e na bainha da saia, que desce até os tornozelos pelo que vi quando ela estava de pé. O cabelo dela estava trançado e havia presilhas de flores minúsculas presas na trança. Os olhos pintados com uma leve sombra rosé e os lábios cor de rosa como uma pétala. A primavera encarnada. Pena que a primavera era tão amarga quanto o outono.

- Está deslumbrante, devo dizer - ela diz e sorrio.

- Devo dizer o mesmo.

- Oi, oi - Anya nos interrompe e nos viramos para ela.

- Anya - cumprimento sorrindo.

- Que saudades, Gwen! - ela exclama e me abraça apertado.

- Realmente faz tempo que não a vemos por aqui - Lilliana diz sorrindo para a irmã. Anya e Lilliana eram as gêmeas mais incomum de todas.

Anya era a encarnação do outono com a personalidade da primavera. Olhos castanhos avermelhados, cabelos da mesma cor, uma pele cheia de sardas e uma boca cheia e vermelha. Se ela ficasse séria por um minuto era um milagre. Gêmeas fraternas, ambas lindas do seu jeito.

- Por que deixou de aparecer? - pergunta ao se sentar ao lado da irmã.

- Odeio ficar sorrindo e fingindo que sou perfeita - solto de uma vez e Lilliana gargalha alto.

- Lily! - Anya repreende a irmã.

- Desculpe - ela volta com o tom frio - Mas Gwen apenas disse o que todas nós queremos dizer há anos.

Ian aperta minha mão e o encaro.

- Estou com fome - murmura e digo o mesmo.

- Faz horas que eu não como - Anya entra no meio. O vestido dela é branco e justo, indo até um pouco acima dos joelhos; é frente única e preso a seu pescoço por uma fina corrente de ouro, as costas estão expostas. Enquanto Anya é toda voluptosa, Lilliana é magérrima.

- Como conseguem ser tão diferentes? - Ian pergunta antes que eu o faça.

- Ninguém sabe - Anya dá de ombros e sorri para nós. Ainda faltam duas pessoas para completar a nossa mesa.

- Meninas - escuto a voz de Hanna - Ian.

- Olá, Hanna - Ian é o primeiro a dizer.

- Olá, Hanna - eu e as gêmeas dizemos juntas. A loira entra em meu campo de visão e me seguro para não mostrar os dentes para ela.

- Quanto tempo, Gwendolyn - ela solta em minha direção e sorrio em escárnio.

- Pelo que lembro, da última vez que estive em um dos eventos, você me disse para tirar a cara dos livros e parar de fingir que era uma santa.

- Eu estava bêbada - ela se defende e reviro os olhos.

- Dizemos a verdade quando estamos bêbados - Lilliana complementa e Hanna a encara.

- Lilliana Heart, faz tempo que não te vejo também.

- Estava evitando certos eventos.

- Principalmente os que você foi - Anya diz com um sorrisinho e dou uma risadinha enquanto olho Hanna.

O cabelo dela é loiro natural - daquela cor que parece trigo misturado com mel - e os grandes olhos são azuis como safiras. Ela é magra, seios e bumbum pequenos, mas o vestido vinho aveludado de alças finas a deixa maravilhosa.

- Voltou correndo para os braços de Gwen, Brooks? - Hanna indaga para Ian e vejo que ele se retesa na cadeira.

- Deixe de ser insuportável por um minuto - comento e ela me encara um pouco furiosa.

- Diz a garota com a voz mais fina e chata de todas.

- Ai, Hanna. Cale a boca - Anya chia e Hanna bufa. Encaro Anya e sorrio, mas quando ela sorri de volta é como se um filme passasse em minha cabeça e eu fosse arrancada do momento.

"Anya está deitada na grama, está escuro, seus olhos estão arregalados. Lilliana berra por ajuda enquanto pressiona as mãos pelo pescoço da irmã e corro em direção a elas. Gritos. Gritos. Os dela, os meus. Sangue maculando o vestido branco de Anya, sangue nas mãos finas de Lily, sangue nas minhas mãos assim que me ajoelho para ajudar. Lilliana berra e chora, estou chorando também. Anya está morta."

Quando volto em mim, ainda estou encarando Anya e não há sangue nem gritos.

- O que foi? - Lilliana é quem pergunta.

- Nada - respondo simplesmente. Não faço ideia do que aconteceu e pretendo não fazer, mas a sensação amarga no fundo da garganta continua, como se algo ruim fosse acontecer.

...

9:27 p.m

O jantar foi servido as oito e depois os jovens foram aconselhados a ir para um lugar reservado no jardim. O lugar reservado em questão era uma tenda gigante no meio do jardim com vários puffs e mesas baixas cheias de doce e salgadinhos.

Estou jogada em um dos puffs com Ian deitado em um dos tapetes de pele no chão.

- Esses tapetes são realmente macios. - ele diz com os olhos turquesa brilhando sob a luz amarela das lanternas penduradas no "teto".

- Acho errado matarem animais para isso - Kale diz. Ele foi o último a chegar em nossa mesa; os cabelos castanhos, o maxilar quadrado e o corpo perfeito rendiam no mínimo uma boa visão.

- Esses são sintéticos - Ian diz antes que eu o faça - Gwen odeia crueldade aos animais e exigiu aos pais que fosse tudo sintético quando tínhamos onze anos.

- Muito ecológica você, Gwen – Hanna provoca e reviro os olhos.

- Muito chata você, Han - Kale diz e ela joga uma almofada nele.

- Alguém quer mais trufas? - Anya pergunta se levantando do tapete. Não consigo olhá-la sem sentir um calafrio na espinha.

- Eu quero - Lilliana se levanta e segue a irmã até a mesa de doces mais próxima.

- Escolha Ian, Anya ou Lily? Eu pego uma, você a outra - Kale provoca Ian e ele bufa. - Pode escolher Gwen também e eu fico com ambas as gêmeas.

- Vá pro inferno - resmungo e Kale sorri.

- Vamos, leoazinha. Brinque comigo - ele pede numa voz manhosa e faço cara de nojo.

- Me chame de leoazinha mais uma vez e arranco sua língua - chio e o sorriso dele se alarga - Porco.

- Leoazinha - ele diz pausadamente e um rosnado sai de Ian.

- Se ela não arrancar, eu arranco - há fúria real nos olhos turquesa e Kale se acalma.

- Onde estão as garotas? - Hanna pergunta e me seguro para não mandá-la calar a boca. As gêmeas sumiram.

- Estão... - antes que eu termine alguém grita. E o desespero me atinge, me levanto em um pulo e corro em direção ao som; Ian grita meu nome e o sinto atrás de mim. Está escuro e ele pode ser um lobisomem, mas conheço o jardim melhor que ele e chego antes. A visão está acontecendo.

Anya está deitada na grama com os olhos arregalados e afogando no próprio sangue, sua garganta tem um corte irregular. Lilliana berra por ajuda enquanto pressiona as mãos pelo pescoço da irmã e corro em direção a elas. Gritos. Os dela, os meus. Os de Ian atrás de mim nos procurando. Sangue macula o vestido branco de Anya, Lilliana berra e chora.

- Gwen, por favor, me ajuda! - ela grita e me ajoelho ao lado de Anya, tento ignorar a sensação pesada que toma conta do meu vestido assim que encosta no sangue, pressiono as mãos em um dos ferimentos da barriga dela tentando conter o sangue. - Alguém chame uma ambulância!

- Ian! - berro várias vezes até que os olhos azuis brilham no escuro e ele vem até mim - Chame ajuda, por favor.

- Gwen... - ele começa ao olhar para a garota vestida de branco e a irmã ajoelhada sobre ela.

- Por favor - suplico tremendo. Ela não pode morrer como na visão, não pode.

- Anya, Anya - Lilliana sussurra repetidas vezes como uma oração. O peito de Anya sobe e desce irregularmente até que para de vez. Lilliana solta um urro de dor ao céu como se estivesse sendo apunhalada e depois começa a chorar. Estou chorando também. Anya está morta.

- Vamos, Gwen - Ian me puxa para longe do corpo. O que aconteceu com ela? Quem a atacou dentro dos portões?

- Não, preciso ajudar Lilliana - me desvencilho dele e limpo as mãos no vestido. Há tanto sangue. Chego perto da garota e envolvo seus ombros. - Vamos, Lily. Anya ia querer que você a deixasse descansar em paz. Vamos.

Ela se levanta vagarosamente, ainda em choque e antes que me dê conta, Lilliana coloca as mãos - ainda sujas de sangue - no rosto como se não pudesse acreditar. Ao sentir o líquido pegajoso no rosto ela tira as mãos e tenta analisá-las no escuro.

- O que aconteceu? - ela fica se perguntando. Há uma mancha de sangue no meio do vestido, onde ela envolveu Anya.

- Shhh - a abraço tentando fazê-la se acalmar.

- Galera! - Kale e Hanna aparecem com as lanternas dos celulares ligadas.

- Mas que merda é essa? - ele grita ao ver eu e Lilliana sujas de sangue.

- Chame meu pai - ordeno a Ian e ele não questiona antes de sair correndo.

- Sem piadas, sem gracinhas - aviso aos dois e eles assentem assombrados.

Lilliana sentou-se na grama e está se balançando envolvendo os joelhos como uma criança.

- O que aconteceu? - Hanna sussurra ao olhar o corpo.

- Não sabemos. Vim correndo até aqui e já encontrei tudo assim.

- Ele pulou do meio do arbusto, como se tivesse surgido ali. Foi direto no pescoço dela e depois rasgou sua barriga - Lilliana sussurra e engasgo.

- Quem, Lily?

- O lobo - ela fala e começa a chorar de novo.

Começo a tremer e sento no chão, passo a mão no cabelo sem querer e quase grito ao vê-los grudentos.

...

Não dá pra saber se passaram cinco segundos, cinco minutos ou cinco horas, mas meus pais chegam e chamam a polícia. Estou agora enrolada em um daqueles cobertores térmicos dentro de uma ambulância e com uma xícara de chocolate quente na mão. Ian está me abraçando e me esquentando ao mesmo tempo.

- Como ela morreu assim?

- Um lobo a atacou, Gwen - ele sussurra de volta.

- Como sabemos se foi um lobo normal ou um de vocês? - minha voz sai trêmula.

- Não é lugar nem hora para discutirmos isso - ele fala baixo apenas para que eu escute.

- Ela está morta. - minha voz sai raivosa - E você, a porcaria de um lobisomem não pôde fazer nada. E eu que tenho trilhões de amigos com poderes não pude fazer nada.

- Você não tem poderes, não poderia fazer nada sem seus amigos. - fala e fico quieta.

- Gwen - meu pai chama e Ian se afasta.

- Oi

- Como está?

- Bem, eu acho - falo baixinho. Ele me encara impassível; sua pele negra parece estar pálida e os olhos escuros como café estão frios.

- Não quero uma palavra disso para a imprensa. Entenderam? - ele olha para mim e para Ian.

- Claro, senhor - ele gagueja.

- Como quiser, papai - digo e ele sorri caloroso. Sua expressão muda muito fácil.

- Ian pode dormir aqui hoje, vão para dentro, Gwyneth e sua mãe estão na sala de estar - ele diz e sorrio. Ian coloca o braço sobre meus ombros e meio que me guia até a casa.

Enquanto entramos sinto vontade de chorar, mas me seguro e vamos até a sala. A primeira coisa que vejo é o vestido vermelho de Gwyneth e me lembra tanto ao sangue que tenho ânsia.

- Parece que o Halloween chegou mais cedo - ela diz com um sorriso de escárnio ao olhar meu vestido e a camiseta branca de Ian com sangue seco.

- Cale a boca - chio e sento pesadamente no sofá marrom de veludo.

- Oh, querida - minha mãe corre e me abraça. Ian senta-se ao meu lado e encara Gwyneth mortalmente.

- Vocês precisam de um banho - minha irmã fala e tenho vontade de estapeá-la. Um rosnado baixinho sai de Ian e seguro sua mão firme.

- Gwyneth, suba para o seu quarto e não ouse sair de lá até eu te chamar amanhã cedo. - minha mãe diz.

- Mas...

- Nada de mais, Gwyneth.

Ela sai irritada e bate a porta.

- Essa menina está querendo levar uma surra - minha mãe diz nervosa saindo atrás dela.

- Como deixaram Gwyneth se tornar uma megera? - Ian pergunta me encarando.

- Não sei. Não sei. - digo baixinho e encosto em seu ombro.

- Acho melhor você tomar um banho ou vai dormir suja de sangue, gatinha - ele sussurra baixinho e acaricia minha mão com o polegar.

- Também acho - me levanto devagar e me despeço dele. Saio da sala e dou de cara com Lilliana e uma empregada no corredor.

- Senhorita Lilliana - a mulher diz e tenta fazer com que ela ande. -Senhorita, por favor, preciso levá-la ao seu quarto.

Tento lembrar o nome dela e assim que me vem a mente vou até elas.

- Obrigada, Marta - digo e a mulher se assusta - Mas pode deixar que eu a levo até lá.

- Mas a Sra. Harrison disse para que eu leve a Senhorita Lilliana, Senhorita Gwendolyn.

- Mamãe não vai se importar, Marta.

- Tem certeza?

- Claro. Obrigada. - digo e ela sai apressada. Engancho meu braço no de Lily e começo a guiá-la pelas escadas. Chegamos em um dos quartos de hóspedes e abro a porta deixando que ela entre primeiro.

A garota tão bela de algumas horas atrás parece ter desaparecido. Sentada na cama olhando pro nada, Lilliana parece um fantasma. A pele antes com uma cor saudável está pálida, os olhos tão lindos estão agora vazios e perdidos e aquele vestido magnífico, todo amassado e sujo de sangue e terra.

- Lilliana - chamo e ela foca os olhos lacrimejantes em mim. Seu nariz está escorrendo e o canto de sua boca treme.

- Lilliana. Lilliana. - ela repete cheia de mágoa. - Odeio esse nome horroroso, Anya era a única que sabia disso e por isso ela me chamava de Lily. Meu nome é Lily.

- Então, Lily... - assim que falo ela solta uma risada alta que parece um ganido de escárnio.

- Apenas ela podia me chamar assim. Apenas ela! - Lilliana está gritando agora e dou um passo para trás quando ela vem pra cima de mim.

- Por favor, Lily, me deixe ajudar - falo e ela parece olhar através de mim.

- Apenas Anya podia me ajudar. E agora ela está morta - com isso, ela se senta na cama e esquece que estou ali.

Saio do quarto antes que ela surte e vejo Marta tremendo no corredor.

- Se Lilliana quiser ajuda, pode ajudá-la - falo e dou as costas indo para o meu quarto.

...

Quando estou quase caindo no sono meu celular vibra. Resmungo e estendo a mão pegando ele no criado-mudo. Há uma nova mensagem.

"Oi, bebê. Como foi seu dia?"

"Puta merda, Ash. Estava quase dormindo." respondo com uns emojis bravinhos.

"Nossa. Por que todo esse stress?"

"Porque uma garota morreu nas minhas mãos e a irmã gêmea dela simplesmente surtou e parece um fantasma."

"Me atende no FaceTime agora."

"Não" respondi.

"Gwen" ele manda essa única mensagem antes de começar a ligar. Ignoro três vezes até ficar irritada demais.

- Oi - digo baixinho e me sento na cama, acendo o abajur e a luz amarela brilha.

- Oi, linda - ele sorri; ao ver os cachos castanhos minha vontade é abraça-lo e enfiar a mão ali.

- Estou com saudades. Achei que não sentiria tanta falta - falo e franzo o nariz.

- Você fica fofinha quando faz isso com o nariz - ele dá risada e sorrio. - O que aconteceu?

- Estávamos no jantar, saímos para a tenda no jardim, Anya saiu de perto de nós e depois ouvimos um grito. Quando cheguei lá a garganta dela estava destroçada. - sussurrei e ele fez uma cara de como se quisesse estar ali pra me abraçar.

- Oh, Gwen - ele diz baixinho e encaro a tela do celular.

- Queria que você estivesse aqui.

- Eu também queria estar aí. Ian está te tratando bem?

- Um amor - falo dando risada - Não precisa se preocupar.

- Kendra falou com você?

- Não, por quê?

- Ah, pedi pra ela dar uma olhada em você.

- Não preciso de babá, Ash - resmungo e ele sorri.

- Eu sei, bebê - ele sorri - Seus olhos estão maravilhosos. Sua boca também.

Minhas bochechas esquentam e agradeço aos céus por estar escuro.

- Estou exausta mentalmente. Preciso dormir - falo e ele assente.

- Volto daqui a cinco dias.

- Ficarei esperando - mando um beijo estalado e desligo.

Adormeço com um sorriso bobo no rosto, apesar de alguém ter morrido em minhas mãos.

...

10:43 a.m.

- Gwen - acordo com alguém dizendo meu nome. Abro os olhos devagar por causa da claridade que entra pela janela e grunho.

- Feche a cortina - chio e me sento.

- Vampira - a garota gargalha - Bom dia pra você também.

- Bom dia, Kendra. O que você tá fazendo aqui? - bocejo e me levanto da cama.

- Ashton pediu pra eu te vigiar - ela diz fazendo uma cara engraçada. - Pediu pra eu vigiar Lotus também, mas ela viajou com a mãe dela.

- Pra onde?

- Não sei - ela dá de ombros e se aproxima - Eu ia te levar na casa dela ontem a noite, mas não te achei na sua outra casa .Liguei pra ela hoje cedo pra perguntar seu outro endereço e ela apenas balbuciou que estava indo para o aeroporto e falou algo sobre alguém chamada Karisma.

- Quem é?

- Não faço ideia - Kendra deu risada e a acompanhei. - Aliás quem é o lobo bonitão que discutiu comigo por cinco minutos e não me deixou entrar?

- Se ele não te deixou entrar... - nem preciso fazer a pergunta porque ela já apontou pra janela com uma expressão sugestiva no rosto.

- Gwen - a voz de Ian é acompanhada de uma batida na porta, antes que eu responda ele já entrou.

- Se ia entrar assim porque diabos bateu? - digo irritada.

- Eu sempre fiz isso.

- Nós somos grandes agoras e se eu estivesse, sei lá, nua? - argumento e ele abre um sorriso lupino.

- Eu com certeza iria adorar.

- Babaca - chio e reviro os olhos.

- Se bem que entre estar nua e usar isso aí que você está usando é menos provocante - Kendra provoca me olhando. Olho para a minha camisola de renda e seda lilás que cobre muito pouco do corpo; há pedaços triangulares de tecidos grandes o bastante apenas para cobrir os seios, o tecido na barriga é transparente e vai até um pouco abaixo da bunda apenas.

- Eu uso isso aqui pra dormir porque geralmente lobos não invadem meu quarto logo cedo. - os encaro com as sobrancelhas arqueadas e eles fazem expressões gêmeas de tédio.

- Como a única humana entre nós, você deveria saber que é nosso bebê e vamos te proteger - Kendra diz e depois solta um grito, seguido de uma gargalhada quando atiro um travesseiro na sua cara.

- Achei que tinha dito para você não entrar - Ian fala e analisa Kendra de cima a baixo. Os cabelos castanhos escuros em ondas bagunçadas caindo nas laterais do rosto, os olhos verde-oliva , a pele tão lisinha e perfeita como caramelo e as pernas fortes e esguias. Ela era quase da altura dele. Me senti ainda menor com meus poucos 1,61metro de altura.

- Como se eu fosse te obedecer, lobinho - ela ri e me olha como se achasse um absurdo. Ele rosna pra ela e Kendra devolve o rosnado.

- Quem é você?

- Kendra - ela pisca os olhos se fazendo de burra. - E quem é você?

- Ian Brooks.

- Já ouvi falar de você - o rosto dela se transforma em algo lascivo e ela observa cada parte do corpo dele como se fosse um pedaço de carne. 

- Onde? - ele pergunta e ela sorri.

- Costumava ir ao Miranus e as lobas falavam muito de você por lá. Muito mesmo. - ela fala e olha pro corpo dele.

- Ia lembrar de uma garota tão bonita quanto você. - ainda não entendi o jogo deles - Quantos anos você tem?

- Dezessete.

- O Miranus só deixa maiores de 16 entrarem. Se você escutou de mim lá, tinha provavelmente uns 13 anos. Você não ia lá - ele desarma a mentira dela e assisto-os impotente sem saber se devo me meter.

- Pense o que quiser, bonitinho - ela fala e se vira, mas Ian agarra o braço dela e ela se vira mostrando os dentes.

- Seu rosto é familiar - ele sussurra e ela rosna.

- Me solte.

- Você é a irmã de Kiara, não é? - ele pergunta e a expressão dela desmorona. - A Wemmine que sobrou.

- Cale a boca - nunca vi Kendra falar tão baixo e desarmada.

- A lobinha mestiça dos olhos verde-claros que impressionava até os lobos mais antigos por ser tão bonita. - ele a vê diferente agora. Como uma assombração do passado. - Devo muito a sua irmã.

- Devia - ela o empurra e sai de perto dele. - Ela está morta.

- Dívidas não acabam após a morte - ele fala. - Kiara era muito próxima de mim. Muito próxima de todos.

- E mesmo assim morreu sozinha. Agonizando no próprio sangue depois de me dizer para correr como se minha vida dependesse daquilo, porque dependia. - ela disse com mágoa nos olhos.

- Eu estava longe - ele se justifica baixinho e ela assente como se soubesse.

- Kiara chegou sorrindo naquele dia na nossa tenda. Disse que você a tinha pedido em namoro antes de ir resolver problemas na fronteira; horas depois o acampamento estava pegando fogo e Gavriel veio atrás de nós duas. As mestiças, filhas de Talret Wemmine com um humano qualquer - ela disse e sua voz estava embargada.

- Nunca me deixaram ver o corpo - ele sussurrou e pude jurar que havia lágrimas em seus olhos.

- Não iria querer ver. Depois que ela me disse para correr ao ver o caos, Gavriel abriu a garganta dela, logo após de atravessar uma das garras na barriga dela; nunca vou me esquecer do grito de súplica dela, pedindo que não matasse a criança. Observei tudo atrás de uma pedra enorme, o que me custou minutos preciosos, dando a chance de Gavriel fazer isso comigo, antes que uma bruxa chegasse e me atravessasse para um lugar seguro - ela falou e levantou a camiseta, a cicatriz era enorme e devia ter sido muito profunda para não cicatrizar com a magia.

Ian não disse nada, apenas se sentou na cama e ficou a encarando com lágrimas nos olhos. Ver as pessoas mais sarcásticas que eu conhecia chorando me fez chorar também. Kendra continuou e eu me derramava em lágrimas.

- Fui entender anos depois que a criança que Kiara pediu para que ele não matasse não era eu. Ela carregava um bebê. - ela falou chorando e se sentou no chão com as mãos no rosto e soluçando.

- Kiara estava grávida? - Ian estava chorando quanto tanto nós duas.

- Eu não havia percebido que ela havia engordado e começado a usar roupas mais largas. Quando voltei ao nosso acampamento anos depois com Luke e os meninos, Benji me contou tudo, Kiara tinha contado apenas para ela e tinha pedido um encantamento para encobrir o cheiro da criança de todo mundo.

- Pra ninguém descobrir. Inclusive eu.

- Porque a criança era sua, Ian. E ela não queria te prender a ela, antes mesmo de namorarem - Kendra chorava e comecei a soluçar. Corri até ela e a abracei.

- Gavriel vai pagar. Eu juro, Kenna - ele fala baixinho e ao ouvir o apelido ela se enrijece no abraço.

- Por favor, não vá atrás dele. É muito perigoso - ela suplica.

- Ele matou minha mulher e meu filho. - ao ouvir minha mulher estremeço, nunca o vi falar com tanta certeza.

- Por favor...faça isso por Kiara, fique vivo - ela diz trêmula e Ian a encara.

- Mas ele tem que pagar! - ele berra e fecho os olhos diante da raiva e dos seus olhos que brilhavam intensamente.

- Ian, por favor - digo baixinho como se pudesse acalmá-lo e ele respira fundo. - Vamos, os dois. Limpem os rostos, me esperem do lado de fora do quarto e depois vamos descer para tomar café. Não vou contar a história de vocês e de Kiara para ninguém dos nossos.

- Obrigado - eles agradecem e saem do quarto limpando o rosto.

Abro o armário e torço o nariz ao ver os trilhões de vestidos e nenhuma calça, solto um grunhido e pego o primeiro que vejo; ele é preto, de alças finas e decote reto, o tecido gruda no corpo e bate até um pouco acima do meio das coxas, é um pouco curto. Ao ver meu corpo delineado demais dou risada ao pensar no que Ash falaria.

Pego um par de tênis brancos novos que eu nunca tinha visto ali e os calço. Jogo o cabelo de lado e passo rímel, coloco brincos grandes e dourados. No fim passo um batom vermelho nos lábios e amarro uma jaqueta jeans clara na cintura. Fico satisfeita ao me olhar no espelho e abro a porta.

- Eu achei que eu estava arrasando com essa roupa, mas você me superou - Kendra fala e olha pra si mesma. Ela veste uma saia jeans clara de cintura alta com vários botões e um cropped de mangas listrado que não mostra a pele de sua barriga.

- Está linda, gatinha - Ian pisca pra mim e sorri, mas o sorriso não chega a seus olhos.

- Vamos, fiéis súditos - os dois soltam rosnadinhos de brincadeira - O mais legal disso daí de ser lobisomem é poder rosnar né.

- É - Kendra ri e fico feliz ao vê-la rir mesmo depois de tudo que passou.

- O mais legal é na verdade super audição - Ian diz e o olho de relance enquanto descemos as escadas.

- E super velocidade?

- É ótimo também - Kendra diz e logo está no fim da escada.

- Sua maluca! E se alguém ver?- cicio e ela gargalha.

- Falamos que eu sou maratonista - fala normal e nos dá as costas. Dessa vez, até Ian dá risada.

Abro as portas pesadas da sala de jantar e todos olham para nós. Alguns convidados que ficaram bêbados demais e incapazes de irem embora estão comendo. Vejo meus pais e Gwyneth na mesa redonda do centro. Vou até lá com Kendra e Ian atrás de mim.

- Bom dia - sorrio e beijo as bochechas dos meus pais.

- Bom dia - os dois lobisomens atrás de mim os cumprimentam e mamãe sorri.

- Mas que garota bonita! Quem é você, querida?

- Kendra Wemmine - ela responde e sorri.

- Vamos tomar café e depois sair, tudo bem? - digo a eles e eles assentem. Gwyneth não tira os olhos de Kendra e de Ian e quase pergunto o que ela está olhando.

Me viro e os dois me seguem, encho um prato com um muffin com gotas de chocolate, ovos mexidos com salsichas e uma panqueca cheia de calda de chocolate. Pego um copo de suco de laranja e me sento em uma das mesas da parede de vidro. A parede lateral da sala de jantar é toda de vidro, dando uma vista maravilhosa do jardim.

Kendra volta com um prato cheio de bolo, pão e ovos.

- Você vai comer tudo isso? - Ian pergunta assustado ao ver o tamanho do prato dela. Ela pisca e morde o primeiro pedaço de uma fatia gigantesca de bolo de chocolate.

Dou risada e começo a comer os ovos. Levanto os olhos do prato ao notar um silêncio súbito na sala, Lilliana está na porta. Séria, os olhos ainda mais frios que o normal e vestida inteira de preto. O vestido dela tem mangas compridas a partir da linha abaixo dos ombros deixando o colo a mostra, flui como um óleo negro até seus pés e deixa pouco para a imaginação.

- O que é aquilo? - Kendra indaga encarando Lilliana.

- Não o que, mas quem - Ian a corrige e ela rosna baixinho.

Lilliana entra no salão como uma rainha, o rosto impassível e neutro. Todos voltam a falar, mas em sussurros como se a garota pudesse surtar a qualquer momento. Voltei os olhos pra minha comida e levei um susto quando Kendra me chutou por debaixo da mesa.

- Ai! - soltei um grito abafado pela comida na boca, olhei para Kendra e ela indicava algo com os olhos. Me virei e vi Lilliana parada na nossa mesa.

- Oi - ela sussurrou.

- Oi - eu disse de volta.

- Posso sentar aqui?

- Aham - eu ainda estava chocada demais para reagir. Onde estava a Lilliana cheia de fogo que eu conhecia?

- Anya morreu - a garota fala em um choramingo e de alguma forma sei que não foi para nós, mas sim para ela mesma.

- Eu sei, Lily - falo e ela me encara com aqueles olhos bonitos demais.

- Por que você a deixou morrer? - ela sussurra e vejo que tanto Kendra quanto Ian se enrijeceram nas cadeiras, como se quisessem entrar no meio e me proteger.

- O quê? - pergunto e minha voz sai trêmula. De algum jeito, ela sabe que tive um visão da morte de sua irmã.

- Você a viu antes, o sangue em nossas mãos e achou que era brincadeira. - ela falou e um sorriso maníaco surgiu no seu rosto - A Rainha me contou.

- Qual rainha? - Kendra se intromete enquanto segura um garfo com força.

- Não qual, querida. A Rainha. A Rainha Fantasma, a banshee mais poderosa de todas - ela fala, Ian e Kendra exibem os dentes.

- O que é você? - Ian chia e a garota pisca os olhos inocentemente. Estou petrificada pelo rumo da conversa e não sei o que fazer.

- Vidente - ela pisca para mim e sorri. - Anya também era, mas apesar de ser a irmã alegre ela via apenas coisas ruins. Eu, a irmã amarga, enxergo apenas coisas boas. Duas caras da mesma moeda.

- Fique longe de Gwen - os dois avisam ao mesmo tempo.

- Acho que não é possível - ela estala a língua - A Rainha disse que meu dever agora é ensinar Gwen.

- Por quê? - pergunto e seu sorriso alarga.

- Porque como uma das Princesas você precisa ser ensinada a controlar seus poderes. - ela fala e engasgo com o ar.

- Oi?

- Você é uma Banshee, Gwendolyn. Uma das Últimas Filhas, por isso é considerada uma Princesa. Toda banshee é.

- Impossível. - estou ofegante.

- Seu pai é humano - ela diz e parece reconsiderar - pelo menos até onde eu sei...

- O que quer dizer... - Ian diz, mas  Lilliana levanta a mão indicando que pare.

- Sua mãe tem uma ancestral que era banshee. Por que manifestou em você? Não sei. - ela responde dando de ombros.

- É um engano - sussurrei e minhas mãos tremiam.

- Está tudo bem? - Kendra segura uma das minhas mãos e se espanta - Você está fria!

- Estou bem.

- Sua boca está ficando branca, te conheço desde sempre, Gwendolyn - Ian se levantou e ficou ao meu lado - Ela está passando mal sim.

- Não est... - nem mesmo terminei a frase antes de tudo escurecer e o esquecimento me reivindicar.

...

Escuridão. É tudo que enxergo ao meu redor. Grito ao olhar para minhas mãos e ver que estão espectrais, feitas de uma névoa que se desfaz e se reagrupa cada vez que me mexo.

- Olá, criança - uma voz doce, mas autoritária, me chama. Procuro às cegas e vejo uma luz à minha direita, ando em sua direção, mas não estou andando realmente, estou flutuando praticamente. - Venha. - a voz me encoraja.

O ponto de luz aumenta e entro em uma espécie de sala do trono. Há uma mulher bonita sentada a minha frente no trono feito de névoa. E a névoa estava sempre em mutação; rostos aterrorizados gritando, corpos que se desfaziam e eram substituídos por bestas horríveis. Ao ver para onde eu estava olhando ela gargalha, é uma gargalhada sincera e melodiosa.

- Oi - sussurro e ela foca o olhar em mim. Seus olhos são azuis, tão claros que parecem uma pedra de gelo, mas são calorosos e parecem sorrir.

- Gwendolyn Grace Harrison. - ela fala doce. - Esperei tanto tempo para vê-la.

- Quem é você?

- Acho que já sabe a resposta - responde rindo baixinho. E eu sabia; A Rainha Fantasma. A primeira banshee.

- O que Lilliana quis dizer com eu ser uma das Últimas Filhas? - indago e ela sorri.

Seus dentes são brancos demais como se ela não comesse nada, o cabelo escuro da cor de piche é sedoso e corre pelo seu peito; ela não veste muito mais do que duas faixas compridas de tecido que vão dos seios até os joelhos - onde se juntam em uma - e uma corrente dourada amarrando-as para que não soltem. Mas a corrente é ineficente já que o tecido escorrega cada vez que se ela move.

- Você é uma das Últimas Filhas, oras - afirma e bufo.

- E o que isso significa?

- Significa que é uma das últimas banshees do mundo. Há apenas sete agora. - ela fala com pesar.

- Sete? - arquejo e vejo que seus olhos estão tristes.

- Sim e você é uma delas. As outras seis estão reunidas, garota. Buscando um meio de conseguirem aumentar ou disseminar o poder de vocês.

- Por que não pode ajudá-las?

- Não posso ajudar vocês... - ela dá ênfase como se eu fosse parte e faz um gesto com a mão ao lugar a nosso redor - ...porque estou presa aqui nesse inferno.

Olho para as paredes brancas e para o mármore negro no chão. O lugar está vazio, sem nenhuma decoração e vida. Exílio.

- Você é obrigada a viver aqui? - minha voz sai baixa e trêmula - Sozinha?

- Sim, criança. - suspira - Pra toda a eterninade.

- Por quê?

- O Conselho me exilou, trancando-me numa caixa, pois disseram que eu não podia mais disseminar meus poderes. Pelo jeito, banshees dão trabalho demais - um brilho louco apareceu em seus olhos claros demais, como se a própria névoa do trono estivesse neles. Rodopiando, rodopiando, mas quando ela sorriu a névoa sumiu dos seus olhos e eles voltaram a ser calmos como uma lagoa intocada.

- Por que banshees são perigosas?

- Sem treino, podem ser instáveis. Machucar outros seres e humanos.

- Eu sou uma dessas coisas? - gaguejo aterrorizada.

- Por que acha que seus lobinhos se encolhem quando você grita? - ela dá risada e cerro os dentes.

- Você não tinha o direito de fazer isso comigo! - grito e ela revira os olhos.

- Não fiz nada, garota. Sua antepassada era uma das minhas filhas mais poderosas. Culpe-a por seu poder, quem quis deixar meu Santuário e casar-se com um mortal foi ela - a Rainha fala e pisca.

- Qual seu nome?

- Perséfone. - ela fala e dou um passo pra trás. - O que foi?

Quando não respondi ela percebeu a conexão que eu havia feito e sorriu.

- Todo mito tem sua ponta de verdade, certo?

- Aham.

- Vá, Gwen. Ache as outras Seis Filhas, torne-se a sétima Irmã e salve o mundo. Cuidado com a noite de Halloween hoje. - com um sopro dela tudo a meu redor se desvaneceu e voltei à escuridão.

...

Lotus 

October, 31                9:32 a.m

Bairro desconhecido, Londres


- O que é esse lugar? - perguntei tremendo, entredentes, à minha mãe, enquanto adentrávamos o grande portão de grades de ferro que foi aberto por dois guardas vestidos de preto da cabeça aos pés, com rostos impassíveis.

- O lar de Karisma.

- Já a odeio por nos fazer vir aqui nesse frio. - murmuro e recebo um olhar de reprovação. Londres era fria, muito fria. E eu havia passado o Halloween da Austrália dentro de um avião. Lá já era dia 1 de Novembro.

- Lotus - ela chia e reviro os olhos. Odeio seu rosto, o rosto tão parecido com o meu. Não é justo ela permanecer jovem assim.

- Garotas - uma voz melodiosa e forte nos cumprimenta assim que pisamos na varanda de pedra. A casa é feita inteira da mesma pedra cinza e desgatada, com neve encrustada entre as fissuras.

- Karisma - minha mãe diz e sorri. Elas se abraçam e tento não ficar encarando a garota por muito tempo. Por Deus, eu estava esperando alguma anciã, velha e enrugada, mas Karisma aparenta ter a porcaria da minha idade.

- Esta deve ser a famosa Lotus. - fala sorrindo.

O cabelo dela é de um loiro iluminado totalmente uniforme que desce até sua cintura, o rosto é redondo mas os olhos grandes da cor de prata fazem com que não pareça uma bolacha. Seu corpo é magro, cintura fina demais, quadris apenas um pouco mais largos e seios do tamanho dos meus, consigo reparar em tudo isso porque ela usa uma roupa muito apertada de couro preto dos pés até o pescoço. Não há nenhum centímetro de pele a vista além de seu rosto e mãos.

- Lotus sim, famosa não - respondo com um sorriso torto. O mesmo que Lydia e Logan exibem quando encontram alguém que não gostam. Minha mãe me dá uma cotovelada nas costelas. Grunho, mas não a encaro.

- Selvagem - Karisma sorri e sorrio de volta. É mais uma exibição de dentes do que qualquer outra coisa.

- Preciso que a treine. - minha mãe fala e me assusto com a súplica em sua voz.

- Mas é claro - Karisma sorri e sai de frente da porta de madeira rústica para que entremos.

Assim que entramos a porta fecha atrás de nós, tento fingir que estou calma ao perceber que não há outra saída à vista, além das janelas cobertas por cortinas pesadas de veludo azul escuro. A sala é quente e aconchegante, tiro o grande casaco bege que usava e o coloco no cabide ao lado da porta, mamãe faz o mesmo.

- Ah, Louisa. Faz quanto tempo que não nos vemos? - Karisma pergunta e pega uma garrafa térmica na mesinha de centro.

- Uns cem anos. - mamãe gargalha e se senta em um dos sofás azul-claros, Karisma se junta a ela com duas xícaras na mão e a entrega uma. Sento no sofá oposto e uma xícara surge em frente a mim, na mesinha. Digo um agradecimento murmurado e bebo enquanto as observo, solto um gemido ao provar o chocolate. É delicioso.

- Ótimo sabe que sua filha reconhece chocolate mágico - Karisma ri ao me olhar.

- Quantos anos você tem? - pergunto e ela sorri, mamãe parece querer se afundar no sofá e sumir.

- 359 - ela fala - 360, no mês que vem.

Ao ver minha cara de assombro ela continua:

- Sua mãe tem 367, não sei porque você se assustaria.

- 367? - solto um gritinho e derrubo chocolate quente na minha mão, agora descoberta sem as luvas. Chio e coloco a xícara longe.

- Idêntica a você - Karisma gargalha e minha mãe manda que fique quieta, enquanto vem cuidar das minhas mãos, e pra minha surpresa a garota - que não é uma garota - obedece.

- Ah, querida... - mamãe murmura e quase choro de dor quando ela encosta na queimadura. Minha mão está vermelha e com bolhas feias.

- Como eu consegui beber essa porcaria se estava fervendo?

- A bebida é encantada pra não queimar sua boca - Karisma pisca e tenho vontade de rosnar ao ver sua diversão.

- Karis, por favor - mamãe fala e a garota sorri mais. - Karis.

- O que foi, Lou? - ela pergunta inocente e sorri.

- Eu sei que está sorrindo como um lobo pra minha filha. - minha mãe responde e Karisma ri.

Percebo que a relação entre elas é como a minha com as meninas. Amizade. Pura e genuína. Seriam só as duas ou teria alguém mais?

- Há mais duas se quer saber. - a voz de Karisma corta meus pensamentos.

- Ahn?

- No nosso grupo. Há mais duas. - ela responde. - Paola e Adelina.

- Você leu minha mente?

- Você estava projetando - ela dá de ombros quando minha mãe a encara - E seus escudos mentais simplesmente não existem, é como atravessar uma porta aberta.

- Kari...

- Não me venha com essa de Karis. Sua filha está desprotegida, porque você a escondeu de todos. A escondeu de nós. - ela chia. O nós que saiu da boca dela com certeza incluía um círculo muito íntimo de pessoas, tão íntimo que seria um absurdo minha mãe não ter contado.

- Titus escolheu assim...

- Desde quando você deixa ou deixou algum cara simplesmente escolher o que você faz?

- A filha também era dele! - minha mãe grita e as xícaras ao nosso redor tremem, a luz das luminárias na parede treme também.

- Contar não ia matar ninguém - Karisma argumenta mostrando os dentes. Ela está de pé agora. - Quase vinte anos! Sem ter notícias suas e uma carta chega pedindo ajuda. Pra ajudar sua filha que eu nem mesmo sabia que existia!

- Ia matar alguém sim! Minha mãe jurou que mataria qualquer feiticeira que nascesse. Bem, aqui está a verdade - mamãe está gritando muito agora. Me levanto também - Lotus é uma feiticeira!

Estou ofegante e Karisma está pálida como papel.

- Uma feiticeira? - a mulher gagueja. Seu rosto se transforma e ela tem a idade que minha minha mãe aparenta agora. Olho pra queimadura em minha mão quase curada pelo poder de minha mãe, há apenas um rosado dolorido agora.

- Sim. E se minha mãe descobrir vai matá-la.

- Ela já conheceu...? - Karisma arrisca uma pergunta.

- Titus? Não. - o rosto de minha mãe está tenso. - Madison? Sim.

- Já conheceu A Princesa dos Clãs? - ela pergunta novamente.

- Se está se referindo à aquela idiota da Lorelai, sim, já a conheci.

- Cuidado com a língua, querida. As paredes têm ouvido. - uma voz calma fala do canto do quarto e todas nos viramos. Uma mulher linda apareceu no canto do quarto.

- Adelina - Karisma e mamãe dizem ao mesmo tempo. Cautelosas, como se não soubessem as intenções da mulher que usa um rosto da idade delas. Ela tinha cabelos negros como carvão - da cor dos meus - que batiam no meio das costas, seu corpo era curvilíneo como o de uma Kardashian e era mais ou menos da minha altura. Os olhos rodopiavam como se houvesse uma tempestade ali. Olhos violetas como os meus.

- Lo Clines - ela me rodiou e mamãe e Karisma ficaram tensas.

- Suponho que você seja Adelina - sorri torto e ela parou a um passo de mim.

- Sou muito, muito mais velha que você, pirralha. Agora tire esse sorriso do rosto e aprenda a ser uma verdadeira bruxa.

- Eu não sou uma bruxa. Caso não tenha escutado, senhorita Adelina, eu sou uma feiticeira.

- Pouco me importa, criança - ela chia e sorri. Com um estalo dos seus dedos, sinto o controle dos meus olhos indo embora e quando começo a ver tudo um pouco mais brilhante percebo que ela revelou meus olhos. Meus verdadeiros olhos.

- Lotus, gostaria de apresentar você à sua tia, Adelina Phantom. - mamãe diz enquanto a mulher, minha tia, abre um sorriso. O mesmo sorriso que eu achava ter aprendido com Lydia, eu na verdade tinha herdado dela.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Tentarei postar o próximo o mais rápido possível.


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