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História It's all about magic - Chapter 6


Escrita por: velarisbrdgrton

Capítulo 7 - Chapter 6


Lotus

October, 31                       9:54 p.m.

Karisma's home               London

Karisma e mamãe pareciam estar congeladas enquanto minha tia, por Deus, minha tia me analisava como um animal ao redor da presa.

- Achei que você seria mais cheinha. Você não come? - ela franziu o nariz. Do mesmo jeito que eu sempre fiz.

Estou chocada demais para falar qualquer coisa que seja.

- Pare de olhar a pobre garota como se fosse um pobre coelho, Adelina - uma voz diferente se manifesta ao mesmo tempo que escuto o barulho da porta se abrindo.

- Paola - mamãe sorri.

Os cabelos dela parecem chocolate derretido e caem em ondas até os ombros, olhos escuros como a noite e uma pele cor de canela que parece brilhar. Ela aparenta ter a idade das outras três mulheres na sala, mas ultimamente não faço ideia da idade das pessoas. Paola me é familiar e sei porque.

- Você é a mãe de Felix - solto sem pensar.

- E você é a filha de Louisa, suponho - seu olhar zombeteiro me irrita e sinto meu sangue ferver.

- Quanto tempo, hein, Finch. - Adelina provoca a velha amiga.

- Estava ocupada - Paola dá de ombros e se serve de uma xícara de chocolate.

- Todos nós estivemos nos últimos dezenove anos. Mas parece que Louisa esteve mais - Karisma fala e me encara.

- Titus quer conhecê-la - minha tia diz para ninguém em particular, enquanto olha as unhas compridas - cortadas nas formas de garras - pintadas de preto.

- Não agora. - mamãe fala rígida.

- Quando vocês pisaram nessa cidade ele sentiu a sua presença. E uma nova. Ele soube na hora que Lotus estava aqui. Entrou no meu escritório berrando com os olhos flamejantes e pediu para eu averiguar tudo. A última coisa que ele disse foi: "Traga a minha pequena flor." - Adelina responde e vejo minha mãe engolir em seco.

- Foi ele quem escolheu meu nome, certo? - me dirijo a minha mãe - Você queria Caroline, mas ele quis Lotus.

- Combina com nossos olhos - o sorriso de minha tia é tão escarnioso quanto os meus.

- Você está certa, querida - mamãe responde sustentando meu olhar.

- Quero conhecê-lo.

- Lotus - ela diz num tom cauteloso e se aproxima. - Ainda não é a hora.

- Ele é meu pai - chio e seu rosto se transforma em algo frio.

- Quem te criou fui eu. - seu tom agora é carregado de raiva.

Levo um susto quando Adelina coloca um dos braços sobre meus ombros num quase abraço de lado.

- Louisa, por favor - minha tia fala e minha mãe a encara irredutível. - Madison apareceu pro jantar, vai ser ótimo ter uma reunião em família.

- Ela não vai pisar naquela mansão - minha mãe rosna e Adelina sorri.

- É um legado dela.

- Ela não vai lá. - minha mãe repete.

- Ah, ela vai - com isso, desaparecemos num redemoinho escuro e grito.

...

- Se acalme, querida - minha tia sussurra quando há chão sólido abaixo de nós. Eu ainda estou berrando à plenos pulmões.

- Você é maluca?! - grito enquanto me afasto dela.

- Pela Mãe, Lotus. Não aconteceu nada - ela ri e me dá as costas, indo em direção às enormes portas de carvalho na lateral da sala em que estamos.

Olho para o chão de pedra cinza-escuro e para as paredes feitas do mesmo material. Há uma abóbada de vidro imensa no teto, cheia de neve.

- O que é este lugar?

- Um hall para podermos atravessar. Às vezes treinam aqui - ela diz.

- Quem? - pergunto.

- Você vai ver. - ela dá de ombros e continua seu caminho, a sigo, mas antes de chegarmos nas portas, elas se abrem.

- O que é essa gritaria toda? - o garoto que entra é bonito demais e fico sem ar.

Sua pele é bronzeada, os cabelos são escuros, mas não chegam a ser pretos como os meus e de Adelina. Ele usa uma camiseta branca e um casaco preto, mesmo por baixo consigo ver seus músculos. Ao me ver ele fecha sua mandíbula, deixando ainda mais a mostra o maxilar reto e definido. Seus olhos são da cor de mel como os de Gwen.

- Oi, Jake - Adelina cumprimenta e passa por ele. Me deixando sozinha sob o olhar do garoto.

- Quem é você? - ele me pergunta e fico confusa.

Tento sentir meus olhos e vejo que voltaram a cor que eu estava acostumada. Tenho a sensação de que minha mãe escondia a cor verdadeira deles com um feitiço. Ao ver que não vou responder, o garoto pergunta novamente:

- Quem é você, garota? - finjo não perceber sua mão, casualmente, descansando sobre a adaga presa no seu cinto.

- Ela não responde à você, Jacob. - uma voz masculina diz e olho além do garoto.

- Senhor - Jacob parece congelado e se vira para encarar o homem atrás dele.

O homem usa uma roupa parecida com a de Jacob, mas é mais elegante e se porta mais rigidamente. Aparenta uns quarenta anos, porém, sei que não é só isso. Minha tia está do lado dele e os olhos do homem são idênticos ao dela. Idênticos aos meus.

- Lotus! - alguém grita e sou arrebatada num abraço. Madison me segura pelos ombros e me balança. Ela está na forma real, quase idêntica a mim - Deus, o que faz aqui?

- Oi, Maddie - gargalho e ela me abraça novamente.

- Juro que tentei segurá-la - uma voz que eu nunca ouvi, fala e consigo identificar a diversão em sua voz.

- Ninguém consegue, Kai - Adelina fala agora.

Quando Madison me solta e olho para todos, vejo o homem sorrindo.

- Pelo amor, Titus - minha tia reclama numa voz arrastada exagerada - Fale alguma coisa logo.

- Addie - ele fala e ela revira os olhos. Resolvo falar algo logo.

- Oi - sussurro e ele me olha.

- Lotus - ele diz e vem até mim. - Você cresceu.

- Fiz dezoito anos há alguns dias - falo dando de ombros e ele sorri.

- Eu sei, querida, não esqueci nem um momento. - meu pai passa a mão em meu rosto e sorri, sorrio junto.

- Está com fome? - Madison me agarra pelo braço me tirando de perto de Titus.

- Aham - digo e ela sorri me puxando em direção as portas onde Jacob, Adelina e um garoto desconhecido - ele é loiro e os olhos são verdes de vários tons como se uma floresta habitasse ali - nos esperam.

- Lotus - Jacob e o loiro fazem um tipo de reverência com a cabeça.

- Oi - minha voz sai mais hesitante do que pretendia. Maddie me para na frente deles e sorri.

- Conheça Jacob e Kai, nossos cães de guarda - minha irmã fala sorrindo e os dois reviram os olhos.

- Não mordemos. - Jacob sorri para mim.

- Apenas se você pedir - Kai abre um sorriso gêmeo ao do amigo.

- Agora que faz parte da família eles vão te proteger - Adelina diz.

- Ela sempre foi parte da família, tia Lina. - Madison fala e me abraça de lado.

- Por que você é a única Phantom que não tem olhos roxos? - Jacob indaga encarando cada detalhe do meu rosto.

- Oh - exclamo e tiro qualquer que seja a coisa que os encobre. - Eu os tenho.

- Vocês são parecidas demais - Kai fala olhando para mim, Adelina e Maddie.

- Quando a genética é boa - Maddie gargalha e Kai sorri pra ela. - Vamos, irmãzinha. Deixa eu te apresentar a nossa mansão. - ela me puxa pelo outro cômodo até chegarmos num corredor imenso.

As paredes são pretas, o chão de uma madeira escura está coberto por um tapete vermelho cheio de detalhes dourados e há inúmeras pinturas e quadros.

Escuto passos atrás de nós e vejo que Jacob e Kai nos seguem.

- Eu disse que eles são cães de guarda. - ela fala pra mim e sorrio.

- Isso é um termo que ofenderia a maioria dos lobisomens, Maddie - o apelido soa tão íntimo na boca de Jacob.

- Vocês sabem que eu amo vocês - minha irmã ri e continua me guiando.

- Onde estão os meninos? - pergunto e na hora sei que fiz a pergunta errada, pois os garotos param e Maddie também.

- Em alguma reunião chata.

- Junto com Lorelai?

- Sim - ela responde e morde o lábio. - O que você quer comer?

E sei que tem alguma coisa errada pra ela ter mudado de assunto tão rápido.

Passamos por portas enormes e salas abertas, mas seguimos em frente. Vejo algumas pessoas passando rápido pelos corredores, mas nenhuma nos encara ou para.

Quando chegamos na cozinha me assusto com a imensidão do cômodo. Há bancadas e fogões prateados espalhados de maneira organizada pela cozinha. Os azulejos brancos tanto nas paredes quanto no chão me dão a sensação de limpeza.

- Essa é a cozinha principal - Madison fala e desliza até um dos armários. - A nossa cozinha particular é mais adiante, mas estou com preguiça de ir lá.

Jacob e Kai se sentam nos bancos de uma das bancadas e fico parada no meio da cozinha.

- Venha, Lotus - Kai bate no banco a seu lado e começo a ir até lá, porém me assusto quando escuto um latido e um cachorro imenso entra na cozinha e Madison começa a gritar.

- Rex! Não! Pra fora! - ela berra com o cachorro preto de olhos dourados, mas ele não a escuta e pula em cima de mim me derrubando no chão.

- Oi, garoto - dou risada e ele lambe minhas mãos.

- Rex! - Maddie grita e ele a olha - Sai de cima dela agora!

O cachorro obedece e se senta a meu lado, arfando e abanando o rabo. Jacob e Kai estão rindo.

- Deixe os outros te verem, Rex é o mais comportado - Jacob fala e fico confusa.

- Outros?

- Escute - Kai fala e ficamos em silêncio.

Ouço o barulho de algo arranhando o chão, como patas. Muitas patas. Logo latidos mais finos começam e cinco cachorrinhos aparecem na porta da cozinha e vêm correndo em minha direção.

Os cinco me rodeiam e pulam em mim.

- Do, Re, Mi, Fa, So! - Maddie grita e os filhotes se sentam ao lado de Rex - eles são todos pretos de olhos dourados como uma réplica dele.

- São os filhotes de Rex? - pergunto e Jacob assente. Ele senta no chão ao meu lado e bate em seu colo, os cachorrinhos pulam em cima dele, felizes da vida.

- Esses carinhas aqui vão ser tão grandes e fortes quanto o pai deles. - Jacob fala e sorrio.

Rex se aproxima de mim e faço carinho nele. Sem querer, penso em Aurea. E quero voltar para casa.

- Eles têm quantos meses, Jacob? - pergunto e o garoto me encara sorrindo.

- Três. E aliás pode me chamar de Jake.

- Tudo bem - gaguejo. Mesmo namorando, ele é muito bonito pra não ter nenhum efeito.

- Sai fora, Jake! - Madison grita rindo - Lotus namora um idiota e Luke gosta dela.

- O Hemmings? - Kai gargalha junto com ela.

- E ela namora o primo dele. - Maddie acrescenta e quero mandá-la calar a boca.

- Parece que você é bem disputada, hein - Jake zoa comigo e reviro os olhos.

- Madison é exagerada.

- Sabemos - os dois falam e dou risada. Me levanto do chão e os cachorrinhos mordem meus calcanhares.

Madison colocou alguns cookies com gotas de chocolate na mesa e pego um. Assim que mordo um pedaço, Kai e Jacob se levantam de repente e me assusto.

- O que foi? - Maddie pergunta séria.

- Há algo no portão principal. - é a única coisa que Jake diz antes de sair correndo, Kai sai logo atrás dele. Os filhotes devem achar que é um tipo de brincadeira, pois os seguem, apenas Rex fica sentado entre mim e Madison, como se nos guardasse.

- Vamos - minha irmã fala e saímos correndo.

...

Estou congelando assim que passamos pelas portas da frente e saímos no jardim frio. Flocos de neve logo enchem meus cabelos e meu nariz está frio. Jacob e Kai estão muito a nossa frente no meio do pátio, quase no portão já. Prendemos os filhotes para dentro, apenas Rex está conosco.

Madison está ofegante a meu lado, assim como eu, mas não paramos e corremos noite adentro. Tropeço em uma pedra e arrebentaria a cara no chão se Maddie não me segurasse com uma corrente de ar. Cada vez que chegamos mais perto do portão consigo sentir uma onda forte de poder vindo até mim. E o poder é familiar como se me chamasse. Quando chego, quero gritar de raiva.

Minha mãe está berrando com Adelina e Titus, enquanto todos arremessam magia pra lá e pra cá. Cada um está de um lado do portão.

Jacob e Kai começam a gritar, Madison se aproxima devagar junto comigo. Vejo Karisma e Paola atrás de minha mãe.

- Eu quero minha filha! - minha mãe berrou e jogou uma bola de fogo verde, verde, em meu pai - que se defende com um escudo.

- Ela está bem, sua maluca! - Kai grita e os olhos de minha mãe se voltam para ele.

- Não se intrometa, filhote - ela fala e volta seu olhar para minha tia. - Você não tinha o direito de tirar ela de lá assim, Adelina!

- Ela é minha sobrinha - minha tia dá de ombros e sorri.

Vou até eles e todos param.

- Querida - minha mãe fala.

- Estou bem - falo e ela para no portão. Estou do lado de dentro e por isso ela não consegue chegar até mim.

Meu pai, com um gesto de mão, faz os portões se abrirem e minha mãe me abraça forte.

- Adelina - ele fala e minha tia dá de ombros.

- Me desculpe, mas Louisa não ia deixá-la vir.

- Ainda sim, não tinha o direito de atravessá-la - minha mãe me solta e encara minha tia.

- Karisma, Paola - meu pai as cumprimenta e elas devolvem com um aceno de cabeça.

- Pai, Lotus pode ficar conosco? - Madison pergunta dando pulinhos.

- Maddie, você não é uma criança - Kai dá um soquinho nela e ela faz o mesmo.

- Claro, a casa é tão dela quanto nossa - meu pai responde e sorri pra mim.

- Lotus não vai ficar aqui - a voz de minha mãe é fria e irredutível.

- Mãe... - começo e ela levanta a mão como se dissesse para eu ficar calada.

- Você vai embora comigo. Viemos para que treine com Karisma.

- Podemos treiná-la - Titus, Adelina, Jake, Kai e Maddie falam ao mesmo tempo.

- Não, Titus - minha mãe fala olhando profundamente para ele.

- Ele é meu pai, ele também tem o direito de ficar comigo.

- Seu pai é Paul. Foi ele quem te criou.

- Porque você fugiu com ela! - Adelina grita e uma onda de poder me atinge, sinto que vou cair, mas Jake me segura.

- Obrigada - sussurro e ele aperta meu braço uma vez antes de me soltar.

- Ela não fugiu comigo - falo e minha tia me encara.

- Quem te disse? - ela pergunta com escárnio.

- Maddie. - falo e minha irmã olha pra baixo, culpada.

- Desculpe, Lotus. Não queria que ficasse brava com sua mãe. - ela encolhe os ombros e não me encara.

- Mãe - digo e ela me encara.

- Quando descobri que estava grávida de você, sua avó queria matá-la. Titus disse que ia me esconder para eu tê-la, mas resolvi fugir e voltei para a Austrália. Sua avó achou que eu não tinha tido outro bebê.

- Sua mãe foi ridícula o suficiente pra não contar para mim ou para Karisma - Adelina fala - Apenas Paola ficou sabendo.

- Vocês duas eram parte do Conselho! - minha mãe berra - Não sabia o que poderiam ou iam querer fazer.

- Pela Mãe, Louisa - minha tia está fazendo gestos com as mãos agora - É sua filha. Nós éramos melhores amigas, eu nunca ia dizer nada!

- Digo o mesmo - Karisma fala - Sem contar, que apoio totalmente o nascimento de feiticeiras. A magia está se perdendo.

- Feiticeira? - Maddie gagueja e assinto. - Sou sua fã número 1!

- Madison - meu pai fala e ela sossega.

- Vamos embora agora - minha mãe diz e me segura pelo ombro.

- Volto amanhã - é a última coisa que digo para minha irmã, minha tia e meu pai antes de desaparecer junto com mamãe.

...

Gwendolyn                11:23 a.m.

October 31                 Australia

A primeira coisa que sinto ao despertar são as mãos fortes que me balançam e a voz masculina que chama meu nome.

- Gwen! - é Ian. Abro os olhos devagar e tento focar em seu rosto.

Estou com a cabeça em seu colo e estamos no chão.

- O que aconteceu?

- Você apagou por alguns segundos. - ele responde aliviado e beija minha testa.

Resmungo ao tentar me levantar. Escuto Kendra discutindo com Lilliana e perguntando o que ela fez comigo.

- Espera - falo e ele me olha. Os olhos turquesa brilham na luz do sol. - Foram só alguns segundos?

- Aham. Por quê?

- Nada - murmuro e ele me ajuda a levantar.

Meus pais perguntam se estou bem e voltam a seu café. Nem ligo pela falta de sensibilidade eles sabem tanto quanto eu que sei me cuidar.

- Kendra - falo colocando a mão em seu ombro - Ela não fez nada.

- Mas... - ela parece prestes a rasgar a cara de Lilliana em tiras e a garota não ajuda em nada exibindo um sorriso de escárnio.

- Está tudo bem - sussurro e ela sai de perto da garota vindo pra trás de mim, ao lado de Ian.

- Se precisar de ajuda estou aqui - Lilliana pisca e nos dá as costas.

- Já a odeio - Kendra fala e dou risada.

- Todos nós a odiamos desde pequenos. - digo e Ian concorda comigo. - Precisamos ir para a minha outra casa.

- Sua verdadeira, você quis dizer - Kendra diz piscando e sorrio.

- Ainda bem que você sabe.

...

Fecho a porta atrás de mim e encaro os dois lobisomens parados a minha frente. Fluffy está rosnando para os dois.

- Tenho uma pergunta.

- Faça - Kendra dá de ombros.

- Vocês só podem se transformar completamente em lobos? Ou tem como se transformar parcialmente? - perguntei e eles sorriram.

- Assim? - Kendra pergunta e sua voz é mais um rosnado. Seus dentes estão afiados como os de um lobo, os olhos verdes brilham como se houvessem luzes de natal atrás e suas orelhas se tornaram ligeiramente pontiagudas. Suas unhas se tornaram garras curvas e de aparência letal. Ian não estava muito diferente.

- Pelo amor de Deus - digo - Voltem ao normal.

Kendra ri e passo por eles indo até as escadas.

- Vou pegar um negócio no meu quarto - dou de ombros - Vocês vêm?

Eles assentem e me seguem até o andar de cima. Meu quarto é o segundo e abro a porta com um empurrão. Está todo no lugar e suspiro de alívio ao ver minha estante de livros, minha cama com a colcha de estrelas e a cômoda preta. Fluffy está em cima da cama e nos olha com a cabeça inclinada.

- Desça, Fluffy - digo e ele chora, mas obedece.

- Ele costumava ficar na sua cama. - Ian fala, estranhando a mudança.

- Costumava - digo - Descobri que tenho alergia há uns anos. Muito forte.

- Hm - é a única coisa que ele diz.

Kendra se joga na minha cama e Ian se senta na cadeira giratória da escrivaninha.

- O que viemos pegar? - ela pergunta e faz carinho em Fluffy que apoia as duas patas na beirada da cama.

- Um livro.

- Para o quê exatamente? - Ian pergunta enquanto joga um lápis pra cima e o pega.

- Vocês vão ver - falo e vou até a estante de livros. Ele vem atrás de mim e para ao meu lado, me sinto minúscula perto dele.

- Como é?

- Marrom, arabescos de folhas na lombada, grande. - falo e ele procura.

- Não vejo nada.

- Não está aqui - dou uma risadinha e Ian olha em volta do quarto.

- Cadê então?

Tiro alguns livros da estante e pressiono a madeira lisa do fundo, a placa se deslocou e um compartimento apareceu. Peguei o livro pesado e fechei a estante. Coloquei os livros no lugar e me virei a eles.

- A cada dia que penso que você é a mais normal de todos, vejo que você é a mais louca. - Kendra gargalha.

- Me respeita - dou risada e sento na cama a seu lado.

- O que é isso?

- Chegou um carregamento novo na bibiloteca, na verdade, são livros antigos, mas chegaram agora. Vi esse livro, achei que era bobeira, então todos vocês se revelaram e eu o trouxe pra cá.

- Qual é o título? - Ian pergunta e aponto para a capa.

- Não consigo ler essas letras - Kendra diz e me encara como se fosse louca.

- Gente - digo e passo a mão no título - Aqui ó, "Seres Mágicos".

- Gwen, isso aqui está em letras élficas. - Ian fala.

- Oi?

- Gwen - Kendra está quase em cima de mim agora.

- Vocês dois tão me zoando, né? Eu não tô ficando louca. - falei os encarando e os dois negaram.

- Amiga, está em letras élficas - Kendra repete o que Ian disse.

- Mas eu vejo normal, em letras normais, na nossa língua.

- Deve ser algum lance de banshee né. - Ian fala e concordo.

Abro o livro no meu colo e procuro no Índice a página que preciso. Folheio até o capítulo e mostro pra eles.

- Eu vi essa mulher no sonho - aponto para a figura no meio da página. Em cima, está escrito "A Rainha Fantasma"

- E daí? - Ian pergunta e o encaro. Está tão nítido para mim que esqueço que eles não conseguem ler.

- Ela é a Rainha Fantasma, Mãe e Rainha das Banshees. A mais poderosa também - respondo me voltando ao desenho antigo. É real o suficiente para me assustar, o rosto dela é idêntico e ela está sentada em um trono diferente do que eu vi. Esse trono é sólido e...Arfo quando vejo do que é feito. Ossos humanos. Perçebo que há um crânio sob seu pé esquerdo

- Ela é assustadora - Kendra fala.

- Acho que o autor, quem quer que ele seja, estudava os seres mágicos. Achei que era ficção no começo. - digo e viro para a próxima página. Há uma gravura de sete pessoas encapuzadas, ao olhar melhor reconheço seios sob os pesados mantos...Sete mulheres. As Sete Filhas.

A página está cheia de anotações. Todas desconexas e espalhadas aleatoriamente, algumas estão escritas com cores diferentes como se o autor as tivesse escrito em tempos diferentes com diversas canetas. Ao decorrer dos capítulos percebi que as de tinta vermelha são as últimas, pois são as mais incoerentes e rabiscadas.

Passo os olhos por todas, mas me fixo em uma grande no rodapé:

"A Rainha me mostrou uma visão. É uma garota no chão, de joelhos; há terra sujando seu manto vermelho e o capuz cai em seu rosto. Alguém diz algo para ela, e quando a jovem retira o capuz vejo seu rosto. É deslumbrante, ainda que esteja machucado. Seus olhos brilham como âmbar, a pele está arranhada e há um ferimento em sua testa que sangra, os lábios estão tremendo e os cachos escuros caem pelos ombros. Não sei o que significa, mas antes da visão acabar vi corpos atrás dela. Seis corpos em mantos vermelhos, idênticos ao da garota."

Desvio o olhar da nota e engulo em seco. Sem dúvidas a garota sou eu e as outras Filhas mortas...nem mesmo as conheço ou sei se a visão do autor é real, mas me sinto pesada pela morte delas.

- O que foi? - Ian pergunta ao ver minha cara

- Acho que ele estava louco no final. As inscrições em vermelho são rabiscos desconexos. Alguns são incoerentes. Como esse aqui. - aponto para algumas letras sem sentido algum.

"GGH" "PY" "AF" "MM" "GP" "LK" "LW"

- Essas eu consigo ler. Aposto que são iniciais - Kendra fala. - A primeira é seu nome. Gwendolyn Grace Harrison. As outras? Não faço ideia.

- São as outras seis Filhas. - digo e eles me olham confusos.

- Hein? - ela indaga. Suspiro e conto o sonho todo para eles.

- Meu Deus, Gwen - é a única coisa que Ian diz depois do relato.

- Sou a Sétima. Olhe - aponto para as figuras encapuzadas na página.

- Você precisa achar as outras. E tomar cuidado hoje, é Halloween.

- Eu sei - dou de ombros.

- A Rainha disse para tomar cuidado. Vamos proteger você - Kendra fala e assinto, mesmo incomodada com a super-proteção.

- Há mais livros na biblioteca do mesmo carregamento. Queria dar uma olhada pra ver se tem outro assim. - digo e eles entendem o que quero dizer.

- Vamos, então. - Ian diz, coloco o livro no compartimento e saio do quarto. Estou nas escadas e Kendra vai na frente, mas quando ela encosta na maçaneta da porta solta um grito e pula pra trás.

- O que foi? - dou um grito e corro nos últimos degraus. Ian vem correndo do quarto.

- A maçaneta - ela fala e olha pra mão dela. A palma está cheia de bolhas e vermelha onde ela encostou na maçaneta.

- Que droga! - falo e tento ver o que posso fazer.

- Já vai curar, gatinha. Calma - Ian fala e esfrega minhas costas em um gesto tranquilizador.

- A maçaneta é de prata - Kendra fala abaixando a mão. - Vai demorar um pouco.

- Por que diabos a maçaneta seria de prata?! - minha voz sai aguda e parece ecoar. Ambos colocam as mãos instintivamente nos ouvidos.

- Por que talvez seus pais saibam algo sobre sua descendência. - Kendra me analisa. Ian vai direto para a janela e vê que os batentes tem chapas de ferro que eu nunca havia reparado.

- Impossível eu nunca ter percebido essas chapas - falo frenética.

- Foi colocado de ontem pra hoje? - Ian pergunta.

- Provavelmente - digo.

- Nenhum lobisomem conseguiria entrar aqui sem permissão. Só entramos porque você abriu a porta. - Kendra conclui.

Estou assustada demais pra falar.

- Vamos pra biblioteca - Ian fala e pega minha mão. Abro a porta após alguns segundos para processar que só eu consigo abrir.

...

Chegamos na biblioteca e cumprimento Wendy, a outra garota que trabalha aqui, somos voluntárias desde pequenas e ela é uma espécie de amiga secreta que não mostro pra ninguém porque é fofa demais e preciso protegê-la.

- Gwen! - ela exclama e vem até mim. Os cabelos lisos tingidos de um ruivo alaranjado na altura do queixo, os óculos de grau redondos de armação dourada e o nariz arrebitado dão a ela um ar meigo e meio geek ao mesmo tempo.

Seus olhos castanhos escuros perscrutam os dois atrás de mim e se arregalam um pouco ao perceber o quanto são bonitos.

- Oi, Wendy!

- Quem são eles? - ela se inclina pra frente e sussurra.

- Ian é meu amigo de infância e Kendra surgiu no meu círculo de amigos próximos.

- Confiáveis?

- Muito.

- Muito quanto, Gwen? - suas sobrancelhas se levantam em indagação.

- De 0 a 10, 9. - respondo e sorrio, Wendy sorri e se vira pra eles.

- Olá! - cantarola e dou risada.

- Oi - Ian sorri pra ela e acho que Wendy vai desmaiar.

- Você é fofinha - Kendra diz e a ruiva sorri.

- O que veio fazer aqui? Achei que estava de folga - ela fala pra mim.

- Estou, mas preciso dar uma olhada nos livros do carregamento que eu estava catalogando. Os que vieram naquela grande caixa empoeirada.

- Está no lugar em que você deixou - ela pisca e vai atender algum cliente querendo levar um livro.

Subo as escadas e vou até os fundos de um corredor de estantes, os únicos sons são os de meus sapatos e os dos sapatos de Kendra e Ian. Os livros estão na caixa ainda e suspiro de alívio.

Escolho alguns exemplares e os coloco em cima de uma mesa próxima.

- Consigo ler esse aqui - Kendra pega um e vira-o em suas mãos. Na capa há uma inscrição dourada que constrasta com a capa verde musgo estampada de folhas mais claras. Diz: Compêndio feérico. Ela o folheia e há gravuras parecidas com as do livro maior.

- Veja se há um autor - falo enquanto pego outro livro. O couro da capa é vinho e não há nada escrito, folheio e vejo que não há gravuras, apenas coisas parecidas com poemas.

- Não - Kendra responde após procurar.

- Nenhum tem - Ian diz ao verificar todos os livros.

- Mas parecem ser todos do mesmo autor - digo ao abrir alguns e comparar as letras e desenhos.

- Gwen - levanto o olhar dos livros e encaro Wendy que surgiu de trás de uma estante.

- Oi.

- Chegou uma mensagem da Central. Os livros vão ser descartados, pois são ilegíveis e foram considerados bobeira. Pode me ajudar a tirá-los do sistema e depois jogar fora? - ela pergunta olhando os exemplares em nossas mãos.

- Posso tirá-los do sistema pra você, mas gostaria de levá-los - digo cautelosa e ela faz uma cara desconfiada, porém concorda e se despede voltando ao andar de baixo.

- Coloquem dentro da caixa e depois no carro. Vou ajudar Wendy - me viro a Kendra e a Ian. - Tentem não se matar sem mim por perto.

- Claro, chefe - Kendra pisca enquanto coloca os livros na caixa.

Desço as escadas e levo um susto com a ruiva furiosa que surge em minha frente.

- Faz horas que eu estou te procurando - Tamara chia e fico confusa.

- Hein?

- Fui na sua casa cedo e nenhum sinal seu, depois apareci na mansão e seus pais disseram que você tinha saído com uma garota e Ian, a última opção era aqui. - ela diz.

- Aconteceu tanta coisa desde ontem.

- Hanna me contou. - ela fala e mordo o lábio. - Não foi culpa sua, amiga.

Balanço a cabeça em afirmação e seguro o choro, Tam percebe e me abraça forte.

- Não foi culpa sua, Gwen - ela fala mais uma vez e agora estou chorando.

- Eu a vi morrendo, eu tive uma visão. Podia ter avisado ou feito qualquer coisa, mas agora ela está morta. - solto entre soluços.

- Como assim teve uma visão?

- Sou uma banshee - falo e ela fica pálida.

- O quê?

- Sou uma banshee, Lilliana e sua irmã eram videntes e ela me contou.

- Oh, Deus! - Tamara exclama e olha pro teto como se Ele fosse respondê-la.- Mesmo assim não foi sua culpa.

- Um lobo matou Anya. Eu devia ter impedido - sussurro e ela me abraça mais forte.

- Vai ficar tudo bem - ela diz e passa a mão nas minhas costas. Me solto dela e limpo o rosto, como odeio rímel à prova d'água por não sair, o que eu estou não é e agora escorre pelo meu rosto. Tam me ajuda a limpar e tento abrir um sorriso.

- Preciso ajudar Wendy.

- Você está de folga - ela franze o cenho.

- Eu sei, mas quero ajudá-la - falo e ela assente.

- Logan me ligou. - solta e inclino a cabeça.

- Por que o irmão de Lotus te ligou se ela nem mesmo está aqui?

- Lotus foi convidada para uma festa de Halloween, mas como teve que viajar deixou os convites para Logan.

- E?

- Só tinha uma exceção.

- Estou escutando, Tam.

- Nos levar. Ele tem que nos levar pra poder ir com Joanna.

- Lotus inventa cada coisa! - exclamo e reviro os olhos.

- Arranje uma fantasia. Será na casa de Ramona. - ela fala o nome da garota devagar.

- Não, não e não. - nego mexendo a cabeça.

- Gwen, já está na hora de perdoarmos ela - diz e pega minha mão. - Por favor, vamos.

- Você sabe o que ela fez - grunho e seus olhos mudam, parecendo se lembrar.

- Todas nós nos lembramos, Gwendolyn - ela rebate. - Mas, por favor, finja que é de outra pessoa.

Seus olhos estão tão suplicantes que acabo cedendo.

- Vamos fantasiadas de quê? Pode escolher. - Tam fala.

- A coisa mais normal possível, nada mágico. Nenhum ser mágico - falo firme e ela concorda.

- O que acha de irmos de policiais? - ela pergunta.

- Pode ser - dou de ombros.

- Ele vai me buscar primeiro e depois passamos na sua casa às nove - Tamara fala e assinto - Prometo que vai ser legal.

- Não prometa algo que não pode cumprir.

- Ai, Gwen - ela revira os olhos - Te vejo de noite. Vou arrumar as fantasias.

- Tudo bem. - digo e a observo sair da livraria e atravessar a rua. Me viro com um suspiro pesado e tento não pensar em Ramona.

Vejo Wendy atrás do balcão e vou atrás dela.

- Obrigada, Gwen! - ela exclama, sai de lá passando quase correndo e indo atender algum cliente.

Me sento na cadeira giratória e foco na tela do computador. Excluo os livros rapidamente do registro, quase três anos na biblioteca me acostumou.

- Oi - alguém diz e levanto os olhos da tela. Olhos escuros e pequenos como os de um corvo perscrutam meu rosto. Ramona.

- Oi - demoro mais do que o necessário para responder.

- Procuro alguns livros antigos pra decoração. Se caso tiver alguns eu gostaria de levá-los. - ela sorri, os dentes brancos demais chegavam a ser assustadores. Ela não me reconheceu e tenho vontade rir.

- Infelizmente, os livros antigos não podem deixar a biblioteca, deve-se ter uma autorização da prefeitura - respondo na maior calma.

- Desculpe, qual seu nome? Não vejo crachá - ela disse.

- Gwendolyn - respondo.

- Então, Gwendolyn... - ela começa e de repente para encarando meus rostos. - Gwen?!

- Oi, Ramona - digo e aperto os lábios desconfortável.

- Você está...diferente - ela pausa antes de dizer.

- É, né. Dois anos mudam as pessoas - falo.

Ela arruma a alça da blusa regata preta. Continua pálida como giz e sua pele é imaculada.

- Bom te ver - ela está sem graça o suficiente pra não me encarar. - Sabe se Lotus vai aparecer na minha festa?

- Ela foi viajar. Mas eu, Tamara, Logan e Joanna vamos com o convite dela.

- Ah, ótimo - até hoje nunca tinha visto Ramona surpresa.

- Gwen... - Kendra chega do lado de Ramona sorrindo, mas logo se vira pra garota e o sorriso some.

- K-Kendra - Ramona gagueja e fico confusa. Elas se conhecem?

- O que faz aqui, garota?! - Kendra rosna e depois se vira pra mim - Ela está te pertubando?

- Não, Ken... - começo e Ramona me interrompe.

- Você conhece ela?!

- Ela me conhece sim, agora quero saber o que está fazendo aqui perto dela - Kendra exige e percebo que Ramona está com uma cara de enjoada.

- Nada - ela fala rápido - Vim procurar livros. E estávamos conversando.

- Fique longe de Gwendolyn - Kendra mostra os dentes pra Ramona, que por sua vez parece encolher.

- Meninas - a voz grave de Ian me faz sair do transe e me levanto, ele se coloca entre as duas.

- Kendra - digo e ela me encara tirando os olhos da outra garota.

- Quem é você? - Ian pergunta pra Ramona.

- Ramona Richards - ela responde devagar, meio hipnotizada com os olhos dele.

- E por que Kendra te odeia? - Ian pergunta e ela engole em seco, vejo um sorriso de escárnio surgir no rosto de Kendra.

- Roubei o namorado dela uma vez - a garota diz, provavelmente com medo demais pra mentir.

- Dois! - Kendra exclama furiosa e contenho a vontade de rir. Ramona fez o mesmo com Tamara, namorou Rodrick pra provocar Lotus e me bateu uma vez.

- Desculpe - Ramona sussurra.

- Sua vagabunda - Kendra rosna pra ela.

- Kendra - Ian avisa e coloca a mão em seu ombro. Ao toque ela parece ter levado um choque e sai de perto dele.

- Ótimo te ver, Gwen. - ela fala e tenho vontade de rosnar pra ela - Te vejo hoje a noite. Mande um oi pra Lotus.

Comprimo os lábios num sorriso meio falso.

- Pode deixar - respondo e ela sai de perto de nós o mais rápido possível.

- O que foi isso? - Ian pergunta para nós duas. A caixa em suas mãos está cheia com os livros.

- Ramona é uma vaca - respondemos juntas e logo damos um sorriso cúmplice.

- Já percebi - ele dá risada e nos encara. - Podemos ir, senhoritas?

- Mas é claro - Kendra pisca pra ele e sorrio em confirmação.

Me despeço de Wendy e saímos da biblioteca, indo direto pra minha casa.

...

- Faz duas horas que você está aí e nada - Ian diz atrás de mim e me assusto. Ele coloca as mãos na parte de trás no meu pescoço e faz movimentos circulares com os polegares. Um gemido sai de minha boca assim que a tensão ali se desfaz.

- Deus, você é bom nisso - suspiro enquanto ele continua com a massagem.

- Obrigado - sua resposta sai carregada de diversão.

- O que veio fazer aqui? - pergunto. Já são quase três horas; almoçamos uma lasanha pronta que descongelei e depois os dois se acomodaram na sala enquanto eu subi para o quarto e comecei a estudar os livros procurando algo relacionado a banshees.

- Kendra dormiu, vim te chamar pra sairmos um pouco. Você não achou nada.

- Na verdade, achei - falo e giro na cadeira. Levanto o rosto para olhar o seu e ele está com uma cara confusa.

- Por que não nos chamou? - ele pergunta.

- Não queria perturbar vocês.

- Gwen - ele suspira e senta na cama. - Você não perturba ninguém.

- Enfim - falo com um gesto da mão como se estivesse espantando algo - achei que as outras Filhas são quase todas da minha idade. A mais nova tem 17 e a mais velha 25. São todas de diferentes nacionalidades e nenhuma é uma filha real da Rainha, sempre são descendentes de alguma filha legítima, como eu.

Prefiro não dizer nada sobre a visão maluca do Autor.

- Você quer ir atrás delas né? - ele pergunta sério e relutante. Vejo que há preocupação estampada em seus olhos.

- A Rainha me disse para fazê-lo, Ian - digo irredutível e comprimo os lábios.

- Sabe que Kendra não vai te deixar ir sozinha, certo?

- Aham - suspiro.

- Nem eu.

- Ian... - começo, mas ele me interrompe.

- Eu não vou sair do seu lado, Gwendolyn - ele fala e pega minhas mãos.

- Vocês sabem que eu não preciso de proteção. Kendra, Ashton, você, Tamara, Lotus e todo mundo querem me proteger. Não sou mais criança - reclamo e tenho certeza que estou fazendo um bico ridículo com a boca.

- Sabemos, amiga - Kendra entra no quarto - Mas você é a mais nova e a única humana.

- Banshee - Ian corrige e Kendra revira os olhos.

- Aliás, quais são os poderes de uma banshee? - ela pergunta e se estica na cama.

- Prever a morte de alguém, soltar um grito alto o suficiente pra estourar a cabeça de alguém e ter uma vida longa, porém mortal.

- Estourar a cabeça de alguém com um grito? - Kendra pergunta incrédula e dou risada.

- Não sei se é possível.

- É possível sim - Ian diz - Quando você se altera e eleva o volume da voz, meus ouvidos doem muito.

- Os meus também - Kendra considera e os dois me encaram.

- Desculpa - digo sincera.

- Ramona disse que te vê de noite - Kendra começa e já me preparo pra bronca - O que tem hoje?

- Ela vai dar uma festa de Halloween.

- Não - Ian e Kendra dizem juntos.

- Não o quê?

- Você não vai. - Ian fala.

- Não estou pedindo permissão pra nenhum dos dois lobinhos - falo e minha voz sai fria.

- Gwen, é muito perigoso - Kendra fala - Ramona é uma fada da inveja.

- Ahn? - eu e Ian perguntamos confusos.

- Por que vocês acham que ela fez tudo que fez? É da natureza dela. Cada fada corresponde a um sentimento. Ela é uma das fadas da inveja.

- Mas eu li que fadas são sempre boas - falo.

- Algumas - Kendra dá de ombros.

- Você não pode ir de jeito nenhum na festa. - Ian fala e reviro os olhos.

- Eu vou sim e não preciso da permissão de nenhum de vocês.

- O que Ashton acha?

- E o que ele tem a ver com isso, Kendra? - pisco enquanto pergunto incrédula.

- Agora que vocês namor...

- Nem mesmo termine. Não importa se namoramos ou não, ele não manda em mim - digo levantando a mão.

- Gwen - Ian começa e me viro furiosa.

- Por que todos vocês acham que podem me superproteger?! Eu não sou criança e nem indefesa! - minha voz sai num grito, ambos fecham os olhos e colocam as mãos nas orelhas.

- Droga, Gwen - Ian chia e tira as mãos cheias de sangue da orelha.

Do ouvido de Kendra também escorre sangue e ela tenta limpar.

- Oh, Deus! - murmuro e pego toalhas no banheiro do meu quarto, molho-as e dou pra eles - Desculpa, desculpa.

- Tudo bem - os dois falam juntos enquanto limpam.

- Já está curando!? - engulo em seco.

- Aham - Kendra responde enquanto termina de limpar o sangue.

Estou tremendo, apenas de lembrar da visão de Anya ensanguentada morrendo na grama fria .

- Não foi sua culpa - Ian diz e pega minhas mãos. Não sei se ele falou de Anya ou deles.

Não respondo e me solto das mãos dele.

- Preciso achar as outras Filhas, mas nem sei por onde começar - digo por fim e os dois me encaram.

- Há alguém que pode te ajudar - Kendra diz e comprime os lábios.

- Não. Aquela garota é maluca demais. - Ian fala.

- Chame Lilliana - Kendra solta e Ian rosna.

- Não - é a única coisa que ele disse.

- Ian, ela é a única que pode ajudar Gwen agora - Kendra fala.

- Por mim ainda é não - ele continua e a morena revira os olhos.

- Vamos, Gwen? O que você acha? - ela pergunta pra mim.

- Precisamos de ajuda de qualquer jeito - falo sorrindo. O sorriso sai mais forçado do que eu pretendia.

...

8:47 p.m.

- Vamos, levanta! - acordo com um grito e um travesseiro sendo atirado na minha cabeça.

Levanto assustada e Tamara está tomando conta do quarto com sua presença. Ela veste um short curto de um azul muito escuro e uma blusa com um decote imenso. Sua barriga está a mostra e há um distintivo falso colado sobre o seio direito.

- Mas que droga?!

- Já está na hora da festa e não faço ideia do porquê de você estar dormindo a essa hora - ela diz e joga uma roupa envolvida em um saco transparente na cama.

- Essa é a fantasia? - pergunto horrorizada. A diferença para a minha é que é preta.

- É, o que foi?

- Tamara, cadê o resto da roupa? - meu olhar oscila entre a roupa e o rosto dela.

- Ah, pelo amor. Vai se vestir logo - ela arranca meu cobertor e grito de frio.

- Mano, tá muito frio! - berro com a ruiva e ela dá de ombros. Me levanto da cama tremendo - Não vou usar essa blusa que parece um sutiã e esse short minúsculo.

- Ótimo! - ela berra e escancara as portas do meu ármario. Faz uma bagunça - ignorando meus berros de protesto - e tira uma calça preta de couro de lá. - Coloque isso aqui!

- A blusa continua cobrindo um terço do corpo e eu vou pegar um resfriado. - falo ao olhar para fora e ver o vento que balança as árvores.

- Gwendolyn, é primavera! O vento é uma brisa, você não vai morrer.

- Odeio você.

- Também te amo - ela responde e joga a calça pra mim. - Vai rápido pra eu fazer sua maquiagem.

- Como quiser - resmungo e entro no banheiro. Visto a calça e a blusa em poucos minutos.

- Tá linda demais - ela pisca e me manda um beijinho - Agora senta aqui pra eu arrumar sua cara.

Me sento na cadeira da escrivaninha e ela começa a fazer minha maquiagem.

- Cadê Ian e Kendra?

- Foram embora antes de eu cair no sono - respondo.

- Eles vão na festa?

- Acho que não têm convite.

- Ah - ela fala e termina minha maquiagem. - Pronto, pronto. Faça o que quiser no cabelo e coloque aquela bota ali.

- Pode deixar - falo e vou pra frente do espelho. Prendo a parte de cima do cabelo e coloco brincos grandes e dourados. Tamara sentou na minha cama e está digitando algo no celular. - Tá falando com quem?

- É Luke. - responde e me viro pra ela.

- O que ele quer com você? - indago. Ambas sabemos que Tam está desenvolvendo uma quedinha por ele.

- Veio me perguntar de Lotus - ela revira os olhos e o canto dos meus lábios sobe.

- Você gosta dele né.

- E ele gosta dela - ela suspira e joga o celular na cama.

- Ah, Tamara - reviro os olhos e sento ao seu lado, calço as botas e volto pra frente do armário. Enquanto procuro minha jaqueta de couro, continuo: - Há trezentos caras querendo ficar com você.

- Mas Gwen... - ela bufa e encara o teto.

- Mas Gwen nada. Levanta daí! - dou um tapa em sua coxa e ela se senta - Vamos, antes que eu desista!

A puxo escada a baixo, depois de pegar meu celular e enfiar no bolso da calça e saímos da casa até o carro de Logan.

- Oi, Gwen! - ele cumprimenta do banco da frente e Joanna sorri do seu lado. Ambos estão vestidos de piratas.

- Entra aí! - a loira pisca pra mim e sorrio pra ela.

Tamara entra primeiro e sento a seu lado.

- Animadas?! - Joanna pergunta se virando para nós.

- Claro - minha voz sai meio debochada e recebo um chute de Tam. - Ai!

- O que Gwendolyn quis dizer é que ela está animada assim como nós! - Tamara fala e Joanna sorri, logo se virando.

O resto do trajeto é em silêncio e chegamos rápido na casa de Ramona. Logan entrega os convites individuais pra gente e saímos do carro.

A casa é enorme. Mesmo de noite o amarelo das paredes é forte e a grama é baixa e verde. Há pessoas em fila pra fora da casa, tentando entrar. Sigo em direção a fila mas Tam me puxa.

- Aqueles são os que não foram convidados, Gwen. Nosso caminho é por aqui - ela me diz e sai na minha frente. Sigo o brilho de seus cabelos ruivos até a porta de entrada.

Uma garota esguia vestida toda de preto e de cabelos tingidos de um azul, agora desbotado, é quem guarda a porta. Seus dentes são meio pontiagudos e tento não encará-los muito.

- Convites - ela pergunta num tom que é um misto de indiferença e tédio.

- Aqui - Tamara entregua na mão dela.

- Podem entrar - ela fala e desvia os olhos escuros de nós.

Entramos na casa que parece ainda maior por dentro. Há sofás de couro espalhados pela sala e pessoas fantasiadas em todos os cantos. Tamara me puxa pela multidão e sua roupa curta e chamativa atrai olhares demais para que eu fique confortável.

- Eu não devia estar aqui - sussurro nervosamente enquanto esperamos em pé na fila do bar.

- Ah, Gwen! - Tam exclama e sorri pra mim.

- Vamos! Tente se divertir um pouco.

- Tamara, a Rainha me disse para ter cuidado.

- Estamos tendo cuidado, Gwendolyn - ela revira os olhos.

- Aham - falo sarcástica e ela me fuzila com o olhar. Chega nossa vez na fila e o barman é esquisito. Seu cabelo é azul e tem um topete exótico, os olhos são laranjas - e rezo para que sejam lentes - a boca está pintada de um vermelho brilhante e a pele morena parece brilhar com glitter.

- Olá, senhoritas - ele sorri e seus dentes são pontiagudos como os da garota da porta. Tento não ficar nervosa.

- Oi - a ruiva diz indiferente - Dois Perro-Loco, por favor.

- Não vou beber - aviso e ela bufa.

- Um Perro-Loco e uma Coca gelada.

- Como quiser, senhorita - ele pisca para nós e nos dá as costas para trazer as bebibas.

Olho em volta e vejo uma aberração atrás da outra. Algumas são claramente fantasias, mas outras são reais o suficiente para eu começar a desconfiar se Ramona não trouxe companhia mágica.

Um garoto pálido e de olhos vermelhos me encara e o encaro de volta. Ele sorri e pisca pra mim, não devolvo o sorriso, pois estou petrificada com seus caninos afiados e pontiagudos.

- Vamos, Gwen! - a voz de Tamara me tira do transe, ela coloca a lata de Coca na minha mão e me puxa pelo meio das pessoas.

Avisto uma cabeleira ruiva familiar no meio de algumas pessoas e puxo Tam.

- O que foi? - ela suspira me encarando.

- Aquela dali não é sua irmã? - pergunto e aponto para um dos sofás no canto da sala.

- É - Tamara diz furiosa e segue até lá.

Vou atrás dela, murmurando pedidos de desculpas às pessoas que ela empurrou e paro logo a seu lado encarando o grupo de pessoas em cima de Priscila.

A irmã de dezesseis anos de Tam está sentada no meio do sofá com três pessoas a seu redor - uma garota e dois garotos - e os três a beijam, lambem seu pescoço e passam a mão nela.

Tenho certeza que estou vermelha de vergonha, mas Tamara já está arrancando os garotos de cima da irmã. Encaro os três, desafiando-os a dizer algo; apenas a garota me olha nos olhos e sorri lasciva.

- Priscila! - ela grita e a garota abre os olhos verdes como os de Tam.

- Oi, Tam - ela abre um sorriso preguiçoso.

- Que pouca vergonha é essa? - a ruiva grita para a outra ruiva.

- Tamara - a menina se levanta e me assusto com o tanto de pele exposta. Ela está numa fantasia dourada que cobre apenas os seios e as partes íntimas. - Você não é minha mãe.

- Droga, Priscila - Tamara reclama e massageia as têmporas - Que droga de fantasia é essa?

- Ginnie me emprestou.

- Vocês duas só me dão dor de cabeça.

- E aí, tia - um dos garotos abre a boca e Tamara o olha mortalmente - Vai deixar a gente se divertir ou vai continuar gritando?

- Tia? - a voz de Tamara é um rosnado.

- Tamara, esta é a nossa natureza. Estou me divertindo, não vou me machucar, sei me cuidar. - Priscila tenta acalmar tudo ao ver o temperamento da irmã.

- Se algo acontecer com você - Tam começa e aponta um dedo ameaçador pra irmã - Não diga que não avisei.

- Pode deixar - a ruiva pisca e chama os três novamente. A garota é a primeira a avançar e vejo que ela usa tão pouca roupa quanto Priscila.

- Venha - Tam me chama e a sigo. Vamos para fora da casa, na parte dos fundos. Há um deck de madeira e uma piscina com luzes, que pulsam ao som da música alta.

- Meninas! - Ramona grita ao nos ver e vem correndo até nós.

- Oi - falamos e ela sorri. Ramona usa uma saia preta curta, um corpete de couro preto e asas falsas presas ao corpo. Seu cabelo está preso em dois coques, um de cada lado da cabeça, e sua maquiagem é escura. Observando bem não sei se as asas são tão falsas assim.

- Sua fantasia é linda - Tam diz à ela.

- Ah, obrigada - a garota agradece e me encara. - Você está com frio mesmo, Gwen?

- Aham - respondo sem muita enrolação.

- Hm, ótimo - ela fala meio sem graça, mas logo sorri - Aproveitem a festa.

É apenas quando ela está longe de nos escutar que falo com Tam.

- Mais falsa não tem.

Tamara gargalha e concorda. Encostamos na parede e bebemos. Não se passam dez minutos e dois garotos andam em nossa direção. Os dois são altos e lindos. Um deles parece ter origens orientais, esguio, com os olhos puxados e um cabelo tão preto que quase chega a ser azul; o outro era loiro dos olhos castanhos e forte.

- Oi, garotas - o asiático cumprimenta e sorrio. O loiro está sorrindo pra mim.

- Olá - a voz de Tamara mudou do tom indiferente de sempre pra um tom aveludado e sensual.

- Querem dançar? - ele pergunta sem tirar os olhos da ruiva.

- Claro! - Tam diz empolgada e sorri pra ele. Um sorriso tão sedutor que desvio o olhar. - Vamos, Gwen.

Tento não parecer chata e por isso vou. O loiro está ao meu lado enquanto seguimos o amigo dele e Tamara pra pista de dança.

- Qual seu nome? - ele pergunta.

- Gwen. E o seu?

- Samuel. Mas me chame de Sammy. - ele diz e assinto.

- Meu nome na verdade é Gwendolyn, Gwen é apelido - digo e ele sorri.

- Ótimo conhecê-la, senhorita Gwendolyn.

- Qual o nome do seu amigo ali?

- Daniel, Dan - Sammy responde. - E a ruiva?

- Tamara, Tam - falo igual ele e Sammy ri.

- Você é engraçada - fala e me encara.

- Não, eu não sou - dou risada.

Paramos na pista de dança e Tam está colada em Daniel dançando como se o conhecesse a anos. Samuel e eu estamos de frente um para o outro, se balançando e conversando

- Se não quiser... - Sammy começa ao ver meu rosto.

- Não, até aparece - finjo ser a mais descolada possível e sorrio pra ele.

- Seu sorriso é lindo - ele diz e eu gargalho - O que foi?

- Você é um péssimo conquistador - dou uma piscadinha pra ele. Outra música começa e tenho vontade de gritar.

- É a sua música, certo? - ele pergunta ao me ver sussurrando a letra.

- Aham.

- Vamos então, Gwendolyn - ele fala e me puxa pra perto. - Dance a sua música. Na verdade, quero que me ensine a coreografia.

- Ah, não - dou risada e ele insiste - Ótimo.

Shape of You está tocando e começo a mostrar a ele os passos que eu inventei.

- Você é uma terrível dançarina, Gwen. - ele gargalha.

- Babaca - dou risada.

- Vem - ele diz e começa a fazer movimentos piores que o meu. Ignoramos as pessoas dançando sensualmente e fazemos gestos de acordo com a música. Quando a música acaba estamos ofegantes, suados e sorrindo.

- Foi um prazer te conhecer, Samuel - falo e faço uma revêrencia debochada com a cabeça

- Igualmente, senhorita Gwendolyn - ele me imita e gargalho.

Procuro Tamara e a vejo subindo as escdas da festa de Tamara com Daniel.

- Ah, Deus - bufo e Sammy olha pra onde estou olhando

- Eles vão ficar bem - fala e me puxa - Vamos pegar algo pra beber.

Ficamos na fila pelo que parece uma eternidade e conversamos um pouco. Chega a nossa vez e Samuel pede.

- Duas cervejas - ele diz.

- Eu não bebo - falo e ele me olha engraçado, mas se vira pro garçom e pede uma Coca pra mim.

- Obrigada - agradeço quando ele me entrega a lata.

Vamos para os fundos novamente e sentamos em duas poltronas desocupadas no deck.

- Então, você não bebe? - indaga com uma sobrancelha levantada e dá um gole em sua cerveja.

- Não - digo e nego com a cabeça - Meus pais odeiam alcoól.

- E eles mandam em você? - ele pergunta debochado.

- É óbvio que sim! - rebato - Tenho dezessete anos, pretendo ir pra uma boa faculdade e dependo deles.

- Dezessete? - ele parece surpreso e seus olhos caem sobre meu decote.

- É, oras - digo e cruzo os braços na frente do peito.

- Você depende deles pra tudo? - pergunta e dou de ombros.

- Acho que só não dependo deles no meu trabalho na biblioteca.

- Você trabalha na biblioteca?

- Aham, por que a surpresa?

- Desculpe, mas assim que te vi achei que seria uma garota fútil.

- Só porque sou bonita não quer dizer que sou fútil.

- Humildade sempre - ele ri e me encara. Reviro os olhos e digo:

- Estou mentindo?

- Claro que não, Gwendolyn - ele pisca e estampa um sorriso galanteador. Quase tenho vontade de beijá-lo, mas Ashton aparece em minha mente.

- Está sendo realmente ótimo flertar e brincar com você, mas eu tenho um rolo com esse cara e... - ele não me deixa terminar e começa a rir.

- Sabia que no momento em que você me olhou que a senhorita tinha zero interesse em alguém.

- Sério?

- Aham - ele diz e toma cerveja - Onde seu cara está?

- Londres - respondo e ele se vira pra mim.

- O que ele faz tão longe?

- Coisas do trabalho.

- Ele já te assumiu?

- Quem disse que é ele que não quer assumir? - provoco com a sobrancelha levantada.

- Desculpa aí, senhorita. - ele ri e rio junto. - Você tem muitos amigos?

- Amigos e amigos de amigos que se juntaram ao grupo do nada e bagunçaram minha vida toda. - suspiro e ele me encara.

- Você parece o tipo de garota que prefere ficar sozinha do que ter muita gente ao redor. O que está fazendo aqui?

- Um favor pro irmão da minha amiga e um favor pra ruiva - falo com um sorriso meio de escárnio.

- Você também me parece o tipo de garota que tem a língua muito afiada, mas fica quieta por medo dos outros não gostarem de você. - ele fala e fico muda - Sabe, às vezes, dizer o que está pensando é bom.

- Estou pensando que o senhor me decifrou muito bem e que seria ótimo te beijar, porém tem Ashton... - quando falo o nome dele, Samuel parece congelar.

- Ashton? Ashton Irwin?

- Aham - concordo devagar e ele parece nervoso - O que foi, Sammy?

- Desculpa, Gwen - ele diz se levanta e some no meio da multidão de pessoas.

Fico parada, espantada demais pra fazer algo. Tiro o celular do bolso e mando uma mensagem pra Ash.

Quem é Samuel?

O coloco de volta no bolso e me assusto quando alguém se senta no lugar ao meu lado.

- Oi, gata - o garoto fala e me viro com uma expressão de tédio pra ele. Pra minha surpresa ele é maravilhoso; pele meio bronzeada, olhos escuros, maxilar quadrado e uma boca sensual.

- Oi - digo meio sem interesse.

- Eu estava te olhando de longe e...

- Desculpa - o interrompo e ele parece irritado - Eu namoro e não estou interessada.

- Ah, claro - ele sorri e se levanta. Acho que ele vai embora, mas ele agarra meu pulso e me encara nos olhos - Se não vai vir por bem, vai vir por mal.

É a última coisa que me lembro.

...

Tamara

Saio do quarto arrumando os botões da blusa e ajeitando a saia, olho uma última vez para Dan deitado na cama e vou pro corredor. Apesar de já ter passado uma hora, ainda há muita gente na festa e o barulho não diminuiu. Empurro um casal que bloqueia a passagem no corredor e pulo por cima de uma garota desmaiada no começo da escada. Desço os degraus devagar, ocasionalmente desviando de alguém no chão ou de casais subindo às cegas.

Preciso achar Gwen. Do contrário, Kendra, Ian, Ashton e Lotus vão me matar. Procuro por ela entre a multidão espalhada pela sala, mas não a vejo. Tento ver se Samuel ainda está por aqui, mas também não o encontro. Murmuro um xingamento pra ninguém em especial e vou pros fundos. A área da piscina também não está muito melhor; garotas gritando, gargalhadas bêbadas de estranhos e mais barulho. Gwen e Sammy não estão em nenhum lugar.

- Droga, droga, droga - resmundo pra mim mesma e passo a mão pelos cabelos.

Cinco minutos que eu viro as costas e eles somem. Olho ao redor e procuro alguém que possa me ajudar. Vejo cinco garotas esparramadas em um dos sofás no meio do deck e vou até lá.

- Olá - começo e as cinco se viram imediatamente para mim, como tubarões farejando sangue.

- Oi - elas dizem juntas, o som é arrastado e sensual. Todas são extremamente bonitas, de etnias variadas, mas reconheço uma das minhas de longe. E cinco andando juntas só fortalece minha opinião.

- Deixem de joguinhos, garotas - chio e elas se sentam, todas de uma vez. Até acharia estranho se não soubesse com o que estou lidando.

- Quem é você? - a loira dos olhos cristalinos pergunta me analisando e abro um sorriso que é mais um mostrar de dentes.

- Sou uma de vocês - falo. A loira me olha desconfiada e a morena voluptosa a seu lado sussura algo em seu ouvido.

- E o que quer conosco?

- Minha melhor amiga estava aqui na área da piscina e não a achei mais. Vocês poderiam tê-la visto.

- Como ela é? - uma asiática de olhos verdes me pergunta, sua voz é rouca e sensual e por um momento esqueço o que ia falar.

- Pele da cor de canela, olhos tão claros que chegam a ser cor de mel, cabelos realmente cacheados e compridos. Seios imensos, fantasia de policial. - dou detalhes o suficiente para que pelo menos alguma delas tenha visto Gwen.

- Eu vi, eu vi! - uma delas, de cabelo castanho comprido e olhos da mesma cor, exclama empolgada e levanta a mão como se estivesse em uma sala de aula.

- Diga logo, Clarice - a asiática chia pra ela e a garota faz uma careta.

- Calma, Naomi. - ela diz e se vira pra mim - Ela estava com um loirinho bonitinho, aí ela disse algo e ele saiu vazado, depois um garoto maravilhoso chegou nela, ela pareceu meio resignada no começo, aí ele disse algo e ela ficou meio hipnotizada e eles saíram de mãos dadas pra dentro da casa.

- Como assim meio hipnotizada, Clarice? - Naomi indaga, percebo então, que a loira do meio é só uma distração. Ela não é a líder, Naomi é.

- Acho que ele era um tritão - Clarice dá de ombros e encara as unhas pintadas de um rosa brilhante.

- E por que não nos avisou que havia uma humana em perigo? - Naomi chia e Clarice encolhe os ombros.

- Esqueci que mudamos de lado.

- Do que diabos estão falando? - eu chio e Naomi me encara. Ela é mais pálida que eu, tem olhos verdes puxados e uma boca carnuda e vermelha.

- A guerra - Naomi responde normalmente - Parece que não está sabendo então.

- Hm - resmungo em sua direção, nos encaramos por alguns segundos e desvio o olhar. Eu nunca desvio o olhar. - Podem me ajudar a achá-la?

- Claro - Clarice e a loira falam.

A morena, Naomi e a outra garota de cabelos castanhos não dizem nada.

- Por favor - quando uma sereia suplica é sinal de fraqueza, minha voz fraqueja ao pensar nisso e em como minha mãe estaria envergonhada de ver uma de suas filhas implorar.

- Vamos te ajudar - Naomi diz por fim e vejo divertimento em seus olhos quando olha pra minha expressão de súplica.

Murmuro um obrigado abafado e elas se levantam. Naomi manda cada garota pra um lado.

- Vou com você - Naomi diz pra mim e assinto. Entramos de novo e tento sentir o cheiro do sangue de Gwen. Sereias, assim como tubarões sentem o cheiro de sangue muito aguçadamente.

- Vamos dar uma olhada lá em cima - subimos as escadas e abrimos a porta do primeiro quarto.

Há um casal enrolado nos lençois, dormindo. Naomi abre um sorrisinho malicioso e fecha a porta. Ela segue na minha frente e tento não prestar atenção no movimento de seus quadris.

O segundo quarto está trancado, mas não ouvimos nada, então seguimos pro próximo. Está aberto e vazio. Ando até a janela e suspiro.

- Vamos encontrá-la, ruiva - Naomi fala e assinto passando a mão pelos cabelos. - Por que é tão importante encontrá-la?

Comprimo os lábios sem saber ao certo o que dizer e após alguns segundos abro a boca, ainda de costas pra ela.

- Gwen descobriu recentemente que é uma banshee e que tem um propósito especial. Ela namora um lobisomem, que no caso é guarda da princesa dos Clãs. E eu tô muito ferrada, porque uma das minhas outras melhores amigas é bruxa e a outra uma vampira, se não achar Gwendolyn vou morrer pela mão de qualquer um deles - falo num turbilhão e me viro.

A garota abre um sorriso de compreensão e anda até meu lado, olhando a janela. Olho também e fico observando os jovens lá embaixo. A janela dá pro quintal dos fundos e para as árvores além. Foco em um grupo de três garotos gargalhando que saem correndo do quintal e vão em direção à mata, cada um está de mãos dadas com uma garota, e todas as três parecem zumbis. O que lidera o grupo está com uma garota de cabelos compridos e cacheados.

- Merda! - chio e saio correndo do quarto. Naomi me acompanha e empurramos os convidados pra chegar até a porta. Saímos correndo até a floresta, vejo que duas das sereias nos acompanham agora. No escuro enxergamos bem o suficiente para irmos rápido e logo chegamos à clareira.

Os três garotos estão ajoelhados sobre as garotas, que estão deitadas na grama, e tentam tirar a roupa delas.

- Ei! - dou um berro e avanço. Sinto Naomi ao meu lado e as outras duas atrás de nós.

- Olá - o garoto que está em cima de Gwen cumprimenta numa voz sedosa e sensual que me faz querer socá-lo.

- Nem tente nada conosco, somos iguais a vocês - Naomi chia e ele sorri.

- Sabemos - um outro fala. Eles são todos iguais, trigêmeos então.

- Soltem elas - rujo e dou mais um passo.

- Por quê? - o líder me pergunta e mostro os dentes pra ele.

- Vocês não tem direito nenhum de fazer isso. - Naomi berra e o garoto sorri.

- Mas se fossem vocês hiptonizando caras, estaria certo?

- Não - as quatro gritamos juntas.

- Oh, parece que temos quatro sereias aqui que estão do lado dos Aliados. - ele se levanta e sai de perto de Gwen. O garoto é enorme, cheio de músculos e alto.

- Vocês sabem que vão morrer na primeira batalha que tiver dos Aliados e dos Dominadores, certo? - o que não havia falado ainda diz com um sorriso sarcástico.

- Pelo menos morreremos com honra - Naomi fala e o do meio sorri.

- Prefiro viver desonrado do que morrer, certo, rapazes? - ele fala e os outros concordam.

- Cansei dessa palhaçada - murmuro. Naomi se vira pra mim, sorrindo. Sob a luz da lua, ela é ainda mais linda.

- Eu também - murmura de volta e pisca pra mim.

Ambas mostramos a outra face e os dentes, os garotos fazem o mesmo. Posso sentir as duas sereias atrás de nós se preparando também.

Quando um deles salta no ar, nós também saltamos.

Vou em direção ao tritão que estava com Gwen e tento lhe dar um soco no rosto, ele desvia e me dá um chute na lateral do corpo.

- Vamos, peixinha. Você consegue mais do que isso. - provoca.

Com um grunhido lhe dou um chute no joelho e assim que ele se desequilibra desfiro um soco em seu estômago.

- Boa tentativa - ele murmura e vem pra cima de mim. Sou muito mais leve e fraca, por isso quando todo seu peso me atinge caio de costas no chão e ele me puxa pelas pernas. Estou presa e tento mordê-lo, mas ele não larga.

- Babaca! - dou um grito e esperneio. Parabéns, Tamara. Você luta muito mesmo.

- Parece que a peixinha foi presa na rede - ele cantarola e se senta, ainda prendendo minhas pernas. Grunho de ódio e tento chutá-lo. - Até mataria você, mas você é mais bonita que sua amiga.

Viro a cabeça e vejo uma das sereias no chão com um corte na cabeça, Naomi luta com outro deles e a outra sereia - a loira que achei ser a líder - luta ferozmente com o outro. Naomi solta um rugido de satisfação e dá um chute forte o suficiente no meio do rosto do tritão e ele desmaia. Mais uma vez tento me soltar, mas o garoto me prende.

- Quem é você?! - grito pra ele.

- Kaden, a seu dispor - ele sorri.

- Me solte!

- Garota, você acabou com a minha diversão - ele revira os olhos. Ele está tão distraído brincando comigo que não percebe Naomi atrás dele.

- Boo - ela sussura em seu ouvido e aperta um ponto em seu pescoço. Kaden desaba na hora e bate no chão. Me livro de seus braços e me levanto tirando a sujeira da roupa.

A loira derruba o último deles e vem até nós.

- Obrigada, Tânia - Naomi agradece - Vá dar uma olhada em Célia.

Tânia abaixa a cabeça em sinal de respeito e corre para ajudar a morena que está desmaiada.

- Obrigada - agradeço a Naomi e antes que ela responda corro na direção de Gwen, que está sentada e olhando confusa ao redor.

- Tam - ela fala ao focar o olhar em mim - O que aconteceu?

- Vamos pra casa e depois te explico, tá? - sussurro e a ajudo levantar.

- Aquele garoto - ela fala e olha Kaden desmaiado.

- É Kaden. Um tritão. Equivalentes masculinos das sereias.

- Ele fez alguma coisa comigo? Não consigo lembrar de nada.

- Não - Naomi fala surgindo em nossa frente - Chegamos a tempo.

- Obrigada - Gwen sussurra e sorri para Naomi.

Tânia aparece guiando Célia e as duas passam por nós indo em direção à casa de Ramona. Naomi segue ao nosso lado e vamos em silêncio. Quando é possível ver as luzes da casa, duas figuras aparecem em nossa frente bloqueando a passagem.

Naomi chia e fica em um posição de luta.

- Está tudo bem - Gwen fala pra ela e encara os dois.

- Avisamos que era perigoso - Ian fala, a voz grave e furiosa.

- Droga, Gwen. Ashton me mataria se você morresse. - Kendra reclama.

- Desculpe - Gwendolyn encolhe os ombros.

- Vocês são os pais dela? - Naomi pergunta. Ela está de braços cruzados, apoiando o peso do corpo em uma das pernas e parece analisar cada centímetro de Ian e Kendra.

- Não - Ian responde com frieza - E quem é você?

- Naomi. - é a única coisa que ela responde.

- Por que está se intrometendo, s? - Kendra chia em sua direção.

- Porque acho que Gwendolyn não deve pedir desculpas a nenhum de vocês.

- Naomi - sussurro e ela me ignora.

- Ela faz o que ela quiser. Como a mulher livre que é.

- Ela tem dezessete anos, não passa de uma criança. E ainda por cima é humana - Ian fala e sinto Gwen se endireitar a meu lado.

- Sim, tenho dezessete anos, mas sou a porcaria de uma banshee. E mesmo se fosse humana nenhum de vocês tem o direito de me dizer o que fazer! - ela berra e sai correndo. Kendra se prepara pra ir atrás dela, mas Naomi a segura pelo braço e estala a língua.

- Deixe a garota pensar.

- Tire as mãos de mim - Kendra rosna pra ela e seus olhos brilham na escuridão.

- Como quiser, mestiça - Naomi sai de perto dela e vem para meu lado. Kendra rosna pra ela e Ian tem que segura-la para que não avance em Naomi.

- Vamos, Kenna - Ian fala e ela se desvencilha dele e vai na frente.

- Tchau, Ian - reviro os olhos e ele nos dá as costas sem responder.

- Sinceramente, adoraria conhecer o resto dos seus amigos se são todos tão loucos assim - Naomi sorri de canto pra mim. Paro para reparar na sua roupa apenas agora. Ela usa uma legging preta e um top de renda verde musgo que combina com seus olhos.

- O que está olhando? - pergunta com diversão.

- O quanto você é bonita.

- Obrigada - ela diz com um sorriso sensual.

- De nada - digo meio sem graça e encaro a casa.

- Você já vai embora?

- Não sei - respondo e sou sincera. Estou preocupada com Gwen, porém ela precisa respirar sozinha.

- Quer se divertir um pouco mais? - ela morde o lábio e sinto algo formigar no meio das pernas.

- Claro - respondo e exibo o sorriso mais pervertido possível .

Naomi nem mesmo me dá tempo de pensar pois logo me pressiona em uma árvore e me beija com desejo. Um beijo tão voraz que penso que vou derreter.

Ela me guia as cegas - ainda me beijando - para dentro da floresta e paramos na mesma clareira.

- Parece que eles foram embora - ela separa o beijo e dá uma olhada ao redor.

- Aham - murmuro com o corpo ainda colado no dela. Ela vê o desejo em meu rosto e solta uma risada rouca que me faz arrepiar.

- Vamos, ruiva - Naomi diz arranca o top. Seus seios são tão fartos quanto os meus e brancos como a lua. Tiro a minha blusa também e a calça, logo estamos nós duas nuas.

Estendemos as roupas do melhor jeito possível no chão e ela me deita em cima.

- Esperei a noite inteira pra te ouvir gritar - ela fala em um fio de voz e se deita de frente pra mim com a cabeça perto da minha barriga. Quando ela beija meu ventre e vai descendo é tão gostoso que quero gritar.

- Puta merda, Naomi. Vai logo! - dou um berro estrangulado de súplica. Ela dá risada e abre minhas pernas, antes que eu me prepare Naomi está com a boca em meu clitóris e estou berrando. Ela continua e logo sinto dois de seus dedos dentro de mim. - Oh, isso é maravilhoso!

- Eu sei - ela levanta a cabeça pra dizer isso é insinuo meus quadris em sua direção. Naomi parece se divertir ao me ver tão exposta e volta ao trabalho. Em menos de cinco minutos gozo duas vezes e ela faz questão de lamber tudo.

- Minha vez - ela sussurra e se senta com as pernas abertas. Vou em sua direção e fico na mesma posição que ela estava. Começo e apenas senti-la se contorcer quase me faz gozar de novo.

Quando acabamos estamos ofegantes, Naomi dá um tapa na minha bunda e me deito exausta sobre as roupas.

- Você é a ruiva mais gostosa do mundo, ruiva - ela sussurra e se deita perto de mim. Há um sorriso em meu rosto antes de eu cair no sono.



Notas Finais


A continuação da treta de Lotus e da família dela vai ter que ficar pro próximo porque eu estendi muito a história de Gwen ahsushua. Espero que tenham gostado desse bônus da Tamara que eu morri de vergonha pra escrever e que nem sei se ficou tão bom assim. Até o próximo


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