Gwen
November 1st 9:34 a.m
Surry Hills, Sydney
Alguém bate na porta. Abro os olhos de uma vez e me sento alerta na cama, pego o celular no criado-mudo e vejo as horas. Levanto resmungando e desço as escadas devagar. Abro a porta e vejo os rostos mal-humorados de Kendra e Ian na minha frente.
- O que querem? - minha voz é um grunhido; bocejo e os encaro.
- Viemos ver se tinha chegado em casa - Ian fala rispído e reviro os olhos.
- Cheguei. - digo e indico meu corpo com as mãos. - Inteira. Agora podem ir. - faço menção de fechar a porta, mas ele enfia o pé entre a soleira.
- Você está bem?
- Sim, Ian. Vocês podem ir. Vou ficar trancada nessa casa o dia todo, não pretendo sair.
- Só estávamos preocupados - Kendra diz séria.
- Eu sei - falo e me endireito - Mas não preciso de guardas, muito menos de babás. Vão embora, estou bem.
- Ótimo. - ela diz - Qualquer coisa nos ligue.
- Claro - sorrio e fecho a porta. Escuto uma breve discussão entre eles antes dos dois saírem e eu ouvir a porta do carro bater.
Vou para a cozinha e preparo um café forte, coloco numa xícara branca alta e vou pra sala. Ligo o notebook e me sento no sofá com ele no colo. Dou uma olhada nas redes sociais e olho algumas coisas inúteis até que escuto alguém entrando na casa.
Me levanto devagar do sofá e me esgueiro até a cozinha. Quem pode ser? Pego umas das facas de carne e ando até o hall. Minha irmã e um garoto se beijam na parede ao lado da porta.
- Oi - digo e cruzo os braços, ciente da faca na mão.
- Droga, Gwendolyn! - Gwyneth berra e se solta do garoto que estava agarrando.
- O que você está fazendo aqui?
- Da última vez que chequei a casa também era minha - ela chia e passa a mão no cabelo o jogando pro outro lado.
- Quem é ele? - aponto a faca pro garoto, nem me dando o trabalho de olhar pra ele.
- Bryan, meu namorado - ela responde e solto uma risada sem humor.
- Namorado?! - arqueio a sobrancelha e ela chia pra mim.
- Olá - o garoto abre a boca e pela primeira vez o encaro. Ele é bonito, não exageradamente bonito, mas bonito. Cabelos e olhos tão pretos que parecem petróleo, uma pele pálida demais para a Austrália e uns 10 centímetros mais alto que eu.
- Olá, sou Gwendolyn. Irmã da Gwyneth. - digo e o examino de cima a baixo.
- Já parou com o interrogatório? - Gwyneth bufa pra mim e sorrio preguiçosa.
- Claro - respondo e ela revira os olhos.
- Vá colocar uma calça e guardar essa faca - ela fala pra mim. Bryan está olhando pras minhas pernas e pisco pra ele.
- Você não manda em mim, Gwynnie. Aliás, devo dizer aos nossos pais sobre isso?
- Não - ela quase engasga. - Não faça isso.
- Tudo bem - sorrio devagar.
- Vamos logo, Bryan. - ela resmunga pro namorado e o puxa escada a cima, o garoto ainda se vira e resmunga um: "Tchau, Gwen" e leva um tapa da minha irmã. - Não dê tchau pra ela, idiota.
Gargalho e volto pro sofá. Após alguns minutos recebo uma ligação de Tamara.
"Oi, Tam"
"Oi, alguma notícia de Lotus?"
"Ela me ligou as duas da manhã e disse que volta daqui a três dias."
"Hm, ótimo. Você está bem?"
"Aham. Valeu por me salvar, aliás. Onde você está?"
"Na casa de uma amiga."
"Beleza. Vou ver se Lilliana pode me ajudar a achar as Sete Filhas."
"Ótimo."
"Tam, o que aconteceu? Você repetiu ótimo duas vezes."
"Nada, está tudo ótimo." "Tchau, tenho que ir."
"Tam..." começo, mas ela já desligou.
Solto um resmungo e levo a xícara, agora vazia, para a cozinha. Lembro que tenho que pedir a ajuda de Lilliana para achar as outras Filhas e me ensinar todo esse lance.
Pego o celular e busco o nome dela na lista de contatos, ligo pra ela e espero.
"Olá, pequena banshee" ela cantarola.
"Oi, você disse para te procurar se precisasse de ajuda"
"Chego aí em alguns minutos" Lilliana fala e desliga sem nem mesmo me deixar responder.
Subo as escadas e entro no meu quarto, troco de roupa e me olho no espelho; o short jeans cai bem junto com a camiseta branca leve. Amarro o cabelo num coque grande e firme no meio da cabeça.
Meu celular vibra e é uma mensagem de Ash.
"Sinto sua falta"
Sorrio ao ler e respondo:
"Também sinto a sua"
Desço as escadas e Fluffy vem atrás de mim, coloco ração pra ele e volto pra sala. Antes que eu me sente no sofá, a campainha toca.
Vou até a porta e a abro.
- Oi, Gwendolyn - Lilliana sorri e pisca os olhos de cristal pra mim.
- Oi, Lilliana. Entre.
- Obrigada - ela passa por mim e fecho a porta.
- Como está desde...? - não consigo terminar a frase.
- Desde a morte de minha irmã gêmea? Ótima - ela diz e o sarcasmo é quase palpável.
- Sinto muito.
- Eu também. - ela responde e olho pras roupas dela. Shorts jeans claros e uma larga regata preta. - O que você precisa?
- De ajuda. Estou no escuro, sozinha, como vou achar as outras Filhas?! - desabafo
- Você não está sozinha, Gwen - ela suspira.
- Obrigada - falo. - Por onde vamos começar?
- Me diga você - Lilliana abre um sorriso sinistro, coloca a ponta do dedo indicador no meio da minha testa e tudo se torna preto no meio instante.
Estou em uma sala de estar, decorada em tons de preto e dourado, o sofá em que estou sentada com as pernas cruzadas é macio e me sinto aconchegada. Há pessoas ao meu redor, mas seus rostos estão enevoados. Alguém diz algo e não faço ideia nem do porquê de rir, mas dou risada e outros se juntam a mim.
Desisto de tentar identificar as pessoas e desvio o olhar para a mesa de centro que está uma bagunça, há papéis, mapas, pedras brilhantes e canetas.
- O que acha, Gwen? - uma voz melodiosa pergunta.
- Oi?
- Preste atenção - a pessoa que falou comigo revira os olhos, seu cabelo é comprido, mas o rosto continua borrado.
- Estou prestando - sorrio e nem sei porquê.
- Ótimo - a garota fala e sorri também. Logo, tudo desaparece em outro redemoinho preto.
- Gwendolyn? - Lilliana me chama e abro os olhos.
- O-o q-que foi isso? - gaguejo e me sento, trêmula, na cadeira da bancada da cozinha.
- Uma visão que tive. A transmiti pra você e como está nela, bem sua experiência é real.
- Podia ter me avisado - digo incrédula.
- Não funcionaria, sua mente ia bloquear a visão do futuro quase que de imediato e...
- Hm - a interrompo com um resmungo.
- Me diga o que viu.
- Se você já viu por que quer que eu di...
- Porque do seu ponto de vista pode ter alguns detalhes que não entendi - é a vez dela de me interromper.
- Ugh - falo - tudo bem.
- Comece do começo. - Lilliana diz e suspiro.
- Era uma sala, aconchegante, com pessoas ao meu redor, estava me sentindo segura e no lugar certo, não consegui ver o rosto das pessoas...
- Isso se dá ao fato de que seu cérebro não consegue produzir imagens de pessoas que ainda não conheceu. - ela me interrompe e a olho torto.
- Enfim, havia uma mesa de centro cheia de coisas. Papel, pedras, mapas...
- Continue.
- Uma das pessoas, uma garota, falou comigo como se fossemos amigas. - falo.
- Só isso?
- Sim - dou de ombros.
- Não viu mais nada? Algum endereço, nome de lugar, elas não falaram nada?
- Não.
- Droga - Lilliana chia e passa a mão nos cabelos.
- Por que está tão preocupada com essa visão?
- Tenho certeza que é uma visão das Sete Filhas.
- Seis - corrijo. - Não me reuni a elas.
- Na visão você já está reunida e sendo amiga delas. - abro a boca pra negar, mas logo a fecho pois sei que é verdade. Senti que é verdade.
- O que vamos fazer?
- O que vamos fazer, eu não sei. Agora, o que você vai fazer é encontrá-las.
- Como? - suspiro irritada.
- Lembre da cena novamente, tente ver algo que nos dê uma localização, como um endereço, ponto turístico, tudo que conseguir identificar.
- Ok - digo e fecho os olhos, mas nada me vem a cabeça. - Preciso de ajuda.
- Claro - Lilliana fala e pega minha mão. - Agora você vai conseguir falar comigo aqui fora.
- Tudo bem - respondo.
De repente, a escuridão por detrás das pálpebras fechadas se transforma na cena. A sala se abre em minha volta, as pessoas de rostos borrados e os detalhes novamente me arrastam.
- Olhe na mesinha, procure por um endereço. - a voz de Lilliana está baixa, como se ela estivesse longe.
Foco na mesinha e vejo um dos mapas, tento ler o título: Londres. Abro os olhos de súbito.
- Londres. Estamos em Londres - digo meio ofegante.
- Ótimo - Lilliana fala e solta minha mão.
- Só isso?! - pergunto meio surpresa.
- Se chegarmos em Londres, as encontraremos ou elas nos encontrarão.
- Chegarmos? Agora você vai junto?!
- Você sabe que precisa de mim, Gwendolyn - ela sorri e assinto.
- Quer comer alguma coisa? - pergunto.
- Podemos sair pra almoçar - ela dá de ombros. Percebo que quem está ali agora não é a Lilliana vidente, mas sim a Lilliana humana.
- Claro - concordo. Coloco o celular no bolso do short e dou um berro avisando Gwyneth que vou sair.
Lilliana sai primeiro e sigo ela, batendo a porta atrás de mim.
- Tem um restaurante aqui perto, onde costumo almoçar quando estou com muita pressa ou muita preguiça. - falo e ela assente.
Andamos lado a lado na calçada, em silêncio, até que ela fala primeiro.
- Sabe, não foi sua culpa Anya ter sido morta. Sei que teve a visão, mas não sabia como agir ou se era verdade. Te devo desculpas. - ela olha pra mim de relance.
- Eu devia ter feito algo. Avisado alguém, poderia ter evitado que vocês fossem pro jardim. - digo em voz baixa, com medo de falar alto e começar a chorar.
- Gwen - Lilliana fala e agarra meus pulsos, paramos frente a frente na calçada - Não foi sua culpa. A culpa foi daquele maldito lobo.
- Era um lobisomem? - pergunto e a raiva parece fazer com que seus olhos brilhem.
- Suspeito que sim. Nenhum lobo teria olhos azuis tão brilhantes que pareciam luzes de led. - ela fala e me solta.
Continuamos a andar.
- Ele merece pagar - sussurro.
- Concordo, mas por enquanto precisamos fazer com que você encontre as outras Filhas e salve o mundo dessa porcaria de guerra. - Lilliana solta de uma vez.
- Que guerra?! - exclamo, alto o suficiente para algumas pessoas me ouvirem e me olharem torto.
- Você não sabe?! - Lilliana fecha e abre a boca e me lembra tanto um peixe que quase rio.
- Não. - digo e ela suspira.
- O mundo mágico está em guerra. Metade quer dominar os humanos e a outra metade quer continuar neutra ou escondida como as coisas estão. Os Dominadores e os Aliados.
- Somos de qual lado? - arrisco e ela me olha como se eu fosse louca.
- Dos Aliados, obviamente. Não quero mesmo viver em comunidade com outros seres mágicos, estou ótima sozinha com a pouca magia que tenho.
- E o que quer dizer com salvar o mundo?
- Todos os poderosos estão ajudando, vocês devem ser importantes nisso também - ela dá de ombros, tentando parecer convencida e relaxada, mas sei que há algo mais; porém, desisto de perguntar quando vejo uma coisa muito interessante.
Estamos paradas em frente ao restaurante agora e Rodrick e Nina estão lá dentro, visíveis pela ampla janela de vidro, sentados em uma mesa.
- Ridículo - sussurro e dou a volta na esquina, entrando no restaurante. O sino toca sobre minha cabeça e Lilliana entra atrás de mim.
- O que foi? - ela sussurra pra mim.
- O namorado de Lotus.
- Quem é Lotus?! - ela pergunta meio irritada.
- Minha melhor amiga.
- E o que temos a ver com o namorado dela? - pergunta devagar.
- Ele está com a ex - digo e sua expressão muda de confusão pra raiva.
- Oh! - ela exclama - Que ridículo!
Rodrick e Nina ainda não nos viram.
- Eu sei. Vamos lá falar com eles. - digo e ela me segue. Paramos na mesa deles, onde cada um está sentado de um lado e os dois levantam o olhar.
- Olá - Lilliana diz numa voz de veludo, sensual o suficiente para que Rodrick prenda sua atenção dela.
- Gwendolyn Harrison - o sorriso de Nina é mais um mostrar de dentes - Cadê o resto da matilha de lobas?!
- Se está se referindo a Lotus e Tamara, o paradeiro delas não é da sua conta, Cantieri - cuspo as palavras e seus olhos brilham com ódio.
- O que faz aqui, Gwen? - a pergunta de Rodrick é quase um sussurro cansado.
- O que você faz aqui? - rebato com raiva - Com sua ex, ainda por cima.
- Estávamos só conversando - ele se defende e se endireita na cadeira.
- E Lotus sabe?!
- Lotus viajou e está ocupada demais pra me dar atenção.
- Então veio procurar a atenção dela? - faço um gesto com a mão indicando Nina.
- Sai fora, Harrison. - Nina fala e suas bochechas estão vermelhas de raiva.
- Quietinha, fofa - Lilliana fala na voz de veludo e coloca o dedo indicador sobre os lábios da garota, Nina afasta sua mão com um tapa e Lilliana sorri.
- Me ligue quando as psicóticas das amigas da sua namorada ou ela em pessoa deixarem de nos perseguir - Nina diz namorada com nojo, pega a bolsa e sai do restaurante num furacão.
- Você é uma vaca - Rodrick me xinga e o encaro.
- Lotus devia esquecer você e deixar Luke arrebentar essa sua cara de moleque mimado. - xingo no mesmo tom e ele recua, parecendo assustado com minhas palavras - Todos sabemos que você só quis namorar com Lotus porque viu que ia perdê-la para Luke, seu covarde.
- Você se acha a sabe-tudo, mesmo, né garota?! - ele chia, se levanta inclinando-se e seu rosto fica tão perto do meu que engulo em seco. - Você não sabe de nada, Harrison.
Há tanta raiva em suas palavras e em seu rosto que fico quieta com medo de ele explodir.
- Ei, ei - Lilliana diz numa voz calma, passa um dos braços entre nós dois e entra no meio nos afastando.
- Quando Lotus te dispensar, vou garantir que eu mesma te dê uma surra por qualquer que seja a merda que fizer pra ela - digo e ele respira fundo.
- Você é maluca - Rodrick diz e passa a mão nos cabelos.
- Quem vai ficar maluca é Lotus ao saber que você estava com Nina - Lilliana sorri devagar e ele a encara.
- Quem é você? Te conheço?
- Lilliana Heart, a seu dispor. - ela aperta a mão dele, sorrindo.
- Fuja de perto de Gwen e das amigas dela, todas malucas.
- Lotus é minha amiga e sua namorada - lembro meio cantarolando.
- Ela é a menos maluca, mas não quer dizer que não seja.
- Estou bem - Lilliana abre um sorriso preguiçoso e pisca pra ele.
- Se me dão licença tenho que ir - Rodrick fala e passa por nós, quando ele está perto da porta chamo por ele.
- Estou de olho em você - digo alto quando ele se vira e recebo um olhar raivoso da parte dele.
- Ótima conversa - Lilliana ri e rio junto, ocupamos os assentos que os dois desocuparam e pedimos o cardápio.
O garçom deixa os cardápios e sai rapidamente.
- O que recomendaria, Harrison?! - ela diz num tom brincalhão arqueando uma sobrancelha.
- Sempre peço a mesma coisa, nunca experimentei nada além do camarão daqui - dou de ombros. Ela ri e analisa o menu.
- Vou pedir o da casa. - Lilliana diz e levanta o braço fino para que o garçom anote nosso pedido.
- Um camarão especial e um prato da casa pra minha amiga, Juan - pisco pro garçom e ele sorri.
- Como quiser, senhorita Harrison - ele devolve a piscada e leva os cardápios com ele.
Jogamos conversa fora e sinto como se fossemos amigas há anos. Os pedidos chegam e comemos devagar.
- Me conte sobre esse lance de ver o futuro. - digo entre uma garfada e a outra.
- Eu sou a gêmea amarga que tem apenas visões felizes, Anya é a gêmea alegre que tem visões ruins. - noto que ela disse é e não era, como se Anya ainda estivesse aqui, viva.
- Como assim?
- Minhas visões são todas felizes, como a sua com as Seis Filhas. Anya provavelmente iria enxergar vocês brigando ou chorando em outra situação.
- Ela não ficava incomodada com isso? - pergunto mastigando um pedaço de camarão.
- Muito, às vezes via algo tão ruim que nem saía do quarto por dias - ela confessa e seus olhos ficam turvos à lembrança da irmã.
- Ela podia ver mortes?
- Não. Ou ela via a antecipação à morte ou depois do ocorrido, vendo o luto das pessoas. Apenas banshees sentem e veem a morte.
- Péssimo dia pra ser eu - digo com um sorriso de escárnio e ela ri.
- Péssimo dia pra estar no meio dessa droga de guerra - ela fala e come uma garfada da comida.
Terminamos de comer e nos levantamos pra pagar. O atendente do caixa sorri pra mim e pra Lilliana, quando olho em seus olhos, sou arrebatada dali.
O carro vem rápido demais. Ele está atravessando a calçada. Não há tempo de desviar. Depois, o corpo está esparramado no meio da avenida.
Cambaleio e Lilliana me firma pelos cotovelos.
- Está tudo bem, senhorita? - o garoto pergunta e forço um sorriso.
- Aham - minha voz sai trêmula.
- Aqui - Lilliana entrega o dinheiro e me segura.
- Obrigado. Boa tarde - ele sorri.
- Tenha cuidado ao atravessar a rua - digo como se fosse muito natural, mesmo quando o atendente me olha de um jeito estranho e saímos.
Assim que pisamos na calçada meu telefone toca.
"Alô?"
"Gwendolyn Grace" minha mãe está irritada o suficiente para me chamar pelos dois nomes.
"Oi, mãe" digo meio cautelosa.
"Cadê você?"
"Vim almoçar com uma amiga no Rita's, ué"
"Ué?" minha mãe sibila "Hoje é A Feira Beneficente para Adoção de Cães, Gwendolyn, você jurou me ajudar"
"Droga" quase dou um berro "Tô indo pra aí agora"
"Se apresse" diz antes de desligar e sei pelo seu tom que ela está muito brava pra dizer outra coisa.
- O que foi? - Lilliana me pergunta.
- Temos que correr, esqueci um evento em que prometi ajudar minha mãe.
- Vamos então. - ela concorda e começamos a correr. O evento vai ser na praça principal da cidade e não estamos tão longe assim, porém correr até lá demorará muito. Vejo um estande de bikes para aluguel cujo dono é um senhor de cabelos brancos.
- As bikes - falo pra ela e entregamos o dinheiro na mão dele. Ele sorri para nós e montamos nas bikes. Pedalamos rápido e chegamos na metade do tempo que levaria se fossemos a pé. Prendemos as bikes no lugar próprio e corremos até o lado da enorme praça onde o evento está acontecendo.
Avisto minha mãe e corro até ela, Lilliana vem atrás de mim.
- Gwendolyn - ela se espanta - Chegou rápido.
- Oi, mamãe.
- Oi, senhora Harrison.
- Lilliana! - ela exclama e abraça a garota.
- O que posso fazer?
- Os cachorrinhos estão ali - fala apontando para uma das tendas - A voluntária que estava ali pegando os cachorros dos cercados tem que ir embora. Lilliana, você pode ajudar Gwen anotando os dados das pessoas que adotaram.
Assentimos e nos dirigimos à tenda, a voluntária sorri, se despede e sai rapidamente. Nos sentamos e começamos a fazer o que minha mãe nos pediu.
...
Depois de uma hora entregando cachorros para novas famílias e torcendo para que sejam felizes, estou meio exausta de sorrir e explicar tudo sobre os cãozinhos, porém estou feliz que eles sejam adotados.
- Olha quem está vindo - Lilliana sussurra pra mim e levanto o olhar da folha da qual eu estava conferindo os dados.
Um garoto lindo anda na direção da nossa tenda e sorri, tenho certeza que ruborizei e por isso abaixei o olhar de vergonha.
- Oi - ele está na frente da mesa onde estou sentada. Ele é alto como Ashton e tenho que levantar o pescoço pra olhar em seu rosto.
- Oi - quase gaguejo. Seus olhos são tão azuis que parecem brilhar, seu cabelo é de um castanho escuro sedoso e liso que está arrumado impecavelmente em um topete.
- Meu nome é Gavriel - ele sorri.
- Prazer, Gwendolyn - sorrio de volta.
- O prazer é todo meu. - Gavriel pisca e sinto minhas bochechas esquentarem novamente.
- Então - Lilliana se intromete - você veio adotar um cachorro?
- Na verdade, eu estava passando por aqui, vi essa linda garota - ele aponta pra mim - e resolvi parar para pedir o número dela para que possamos sair um dia.
- Ótimo - Lilliana sorri e pisca pra mim, depois nos dá as costas.
- Qual seu número, linda Gwen? - ele pergunta e pega o celular do bolso. Ao ver que hesitei, seu sorriso diminui - O que foi?
- É que, é complicado. - digo meio sem graça - Tem esse cara e...
- Opa - ele diz e estende uma das mãos - Já entendi. Tem outro cara no jogo, deixe-me então apenas levá-la para tomar um café, Gwendolyn. Como amigos. Eu iria adorar ter uma garota linda como você me acompanhando.
- Tudo bem - dou risada e passo meu número.
- Até amanhã, querida - ele pisca, sorri e sai andando.
- Muito bem, Gwendolyn - Lilliana cutuca minhas costelas e reviro os olhos.
- Você não ouviu? Vamos sair como amigos.
- Ele é bonito demais pra ser só um amigo - ela gargalha.
- Deixa de ser ridícula - dou risada e me sento. Mordo os lábios nervosamente ao pensar em seus olhos brilhantes me fitando. Eu ia apenas tomar um café com ele. O que poderia dar errado?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.