Devia haver algum manual de instrução dizendo como iniciar uma conversa como aquela. Ao menos havia alguma maneira correta? Algum jeito mais fácil?
Foi apenas um beijo, Sherlock. Nada demais. Não entendo sua reação. Não, péssima ideia. Definitivamente era uma péssima ideia.
Mesmo não compreendendo a mágoa que fazia os olhos do amigo brilharem, John também não era cego quanto a dor que a acompanhava. Por que aqueles sentimentos estavam estampados no rosto anguloso? Sherlock gostava dele, era isso?
Sentiu seu coração apertar ainda mais e seus olhos arderem. O pensamento o fez se sentir ainda pior. Você merece, repetiu para si mesmo enquanto absorvia a tensão que inundava o 221 B. E engoliu com dificuldade vendo Sherlock desabar em sua poltrona escura, o olhar perdido e cristalino.
― Sherlock...
O olhar imediato em sua direção fez sua garganta travar.
― Des-desculpa.
― Pelo o quê? ― Sherlock rebateu secamente. ― A língua é sua, John, pode enfiá-la onde quiser.
― Sherlock, por favor, deixe-me explicar ― John pediu se aproximando, mas mantendo uma distância segura.
― Você não me deve explicações, não somos nada além de amigos. Percebe que é ilógico insistir nisso?
― Eu sei, eu sei. Mas notei o quanto ficou magoado-
― Fiquei chateado, Watson. Apenas ― Sherlock corrigiu, levantando-se em um ímpeto irritado e se aproximando da mesa da cozinha em passos largos e firmes. ― Você podia ter me contado que estava envolvido com Mycroft, eu não sou mais criança.
― Não estamos envolvidos! ― John interviu imediatamente.
― Ora, você deve me achar um idiota ― Sherlock revirou os olhos, mexendo em seus experimentos de forma aleatória. ― O envolvimento entre vocês é muito obvio!
― Pode apenas me escutar?
Sherlock bufou, sentou diante de seu microscópio e focou nas lentes.
― Não quero escutar, quero esquecer que senti seu cheiro impregnado em Mycroft e que notei o desalinhamento na gravata ridícula dele, assim como a maldita boca inchada pelo ato.
John respirou fundo sem se surpreender com as observações. Precisava ter paciência ou acabaria estragando tudo, permanentemente.
― Sim, eu o beijei ― enunciou com calma. ― Mas não é o que está pensando, eu não gosto dele dessa forma.
― Oh não? Que interessante você mostrar isso trocando saliva e carícias com ele no meio da sala ― Sherlock retorquiu esboçando um sorriso sarcástico.
Impulsiva e repentinamente John se aproximou e o segurou pelos ombros, forçando-o a encará-lo. Porque mesmo que fossem apenas amigos, precisava fazê-lo entender.
― Não foi nada sério, ok? ― insistiu com urgência. ― Realmente, não gosto dele dessa maneira, foi apenas um...
Calou-se notando o que estava prestes a falar. Sherlock franziu o cenho em confusão ao deduzir o que seria dito, ainda assim John não conseguiu completar, porque parecia absurdo demais até mesmo para ele que havia cometido a ação.
― Um experimento? ― Sherlock questionou atônito. ― O beijo fazia parte de um experimento?
John maneou a cabeça, concordando constrangido. Definitivamente parecia um absurdo agora que estava tão distante de Mycroft.
― Contou a ele? ― Sherlock questionou ainda sentado, mas se virando completamente para encará-lo de frente.
― É claro que eu contei... ― John respondeu um pouco aéreo.
Ficou tentado a se afastar, notando que agora estava próximo demais do detetive, ficando entre suas pernas e com uma das mãos em seu ombro. Mas antes que o fizesse sentiu a mão do parceiro chegar em sua cintura e apertar levemente o lugar, sem firmeza, como se fosse apenas um aviso para que a aproximação não fosse desfeita. John tremeu com o toque, mesmo leve, e sentiu o rosto esquentar. Naquele momento soube a resposta para uma das perguntas de Mycroft e compreendeu a ausência de reações e constrangimento com o mesmo. Porque com Sherlock era diferente, estar com Sherlock era completamente diferente e inovador se comparado a qualquer outra pessoa. Apenas a presença dele o deixava nervoso e o olhar, sempre intenso, era o bastante para fazê-lo corar nos momentos mais inoportunos.
Porém eram momentos cada vez mais raros e por isso temia interromper aquele com qualquer movimento errado. Não queria desviar o olhar e muito menos falar, mas Sherlock queria.
― Você tem razão ― o detetive comentou quase em um sussurro. ― O beijo me afetou mais do que imaginei.
― E por que chegou a imaginar algo assim? ― John questionou no mesmo tom.
Houve o silêncio. A respiração do médico estava tão rasa que quase não podia ser ouvida, diferente do seu coração que batia célere sob seu peito. E como se tivesse vida própria, sua mão se arrastou do ombro do detetive para se firmar no rosto quente, fazendo-o fechar os olhos como um ato involuntário.
Quando voltou a abri-los o detetive parecia determinado, então subitamente se levantou e o colocou contra a borda da mesa, apertando sua cintura com força. John arfou com a atitude, sentindo sua boca secar e seu corpo se arrepiar.
― O que está fazendo? ― sussurrou surpreso.
― Estou tentando entender.
John não conseguiu manter a normalidade na respiração e, denunciando sua total falta de controle, suas mãos se fecharam em torno da lapela do paletó e seus olhos se desviaram para encarar a boca desenhada e entreaberta de Sherlock. O próprio detetive aparentava desequilíbrio, a respiração desregulada e as mãos dele que ainda estavam firmes na cintura, faziam o médico travar uma grande batalha interna entre a culpa, o sentimento e a realidade.
― Posso interromper esse momento adorável?
John arregalou os olhos, sem acreditar no que ouvia, e observou com certo desespero os olhos de Sherlock escurecerem de raiva.
― Isso só pode ser brincadeira... ― comentou se virando para encarar Mycroft, ficando propositalmente a frente do detetive, segurando seu pulso.
O Holmes mais velho sorria de modo cínico apoiado em seu guarda-chuva e com uma das mãos no bolso da calça. John engoliu em seco, tinha como piorar?
Em um único movimento Sherlock escapou das mãos do médico, alcançou o livro que estava sobre a mesa e lançou na direção do irmão.
Mycroft desviou sem dificuldade e riu debochadamente.
― Isso tudo é por causa do beijo, irmão?
― Não, é pela terceira vez que se intromete no momento que lhe é conveniente ― Sherlock rosnou avançando contra ele.
― Sherlock, não ― John o segurou novamente. ― Vai se arrepender se o machucar seriamente dessa vez.
― Na verdade, não vou.
― Acalme-se, por favor.
Ambos se prenderam em uma troca de olhares significativa até Sherlock revirar os olhos e voltar para a mesa bufando. John se limitou em respirar aliviado e finalmente encarar o outro.
― O que quer, Mycroft? Acabamos de sair da sua casa.
― Sherlock esqueceu a pasta sobre o novo caso ― Holmes ergueu a pasta com um olhar indiferente. ― Apenas vim trazer. Parece importante.
― Tudo bem, é melhor eu entregar a ele ― John se aproximou para pegar a pasta, mas Mycroft não a soltou, em vez disso a puxou para que o médico ficasse mais perto. ― O que está fazendo?
― Não tente isso novamente ― Mycroft sussurrou entre dentes.
― Isso o quê? ― John sussurrou confuso.
― Beijá-lo. Não tente e não permita.
― Mycroft... ― John alertou sem saber onde aquilo iria terminar.
― Se o fizer, Moriarty verá como uma aceitação do convite de trabalho.
― E como ele descobriria?
Mycroft franziu o cenho, desafiando-o:
― Está pronto para arriscar?
John engoliu em seco. É claro que não estava pronto. Abriu a boca em busca de alguma resposta coerente, mas voltou a fechá-la quando viu algo pastoso e cinza na cabeça de Mycroft, descendo pelo rosto. Rapidamente se afastou com a pasta, vendo Sherlock ao lado do irmão, sorrindo ampla e maliciosamente com um pote vazio em mãos.
― Sherlock! ― ele gritou enfurecido.
― Não é nenhuma doença perigosa ― Sherlock esclareceu orgulhoso. ― Mas não espere por misericórdia na próxima vez.
― O que é isso? ― John perguntou ficando preocupado.
― É melhor não saber ― Sherlock deu de ombros e pegou os papeis das mãos de John ― Pasta entregue. Pode ir, Mycroft.
Mycroft bufou com o rosto vermelho de raiva, fechando os olhos em busca de paciência enquanto a substância desconhecida começava a alcançar seu terno. Lançou um último olhar furioso para o irmão e se aproximou de John antes de sair.
― Lembre-se do que eu falei ― rosnou entre dentes ― Você sabe exatamente onde não é o seu lugar.
John piscou ainda atordoado, vendo-o sair e fechar a porta com força.
― O que ele quis dizer com isso? ― Sherlock questionou repentinamente sério.
John apenas pigarreou e balançou a cabeça, lembrando que aquelas últimas palavras de Mycroft eram as suas próprias, ditas meses antes quando o recebeu em seu consultório pela primeira vez.
― Nada importante. Preciso fazer as compras, conversamos sobre o caso mais tarde.
***
Poderia estar em qualquer lugar. Talvez em sua poltrona aproveitando o calor da lareira acesa, talvez em sua cama aproveitando o frio confortável para dormir e fingindo que não chegara muito perto de beijar Sherlock Holmes, poderia até mesmo estar em mais um plantão no hospital... mas estava correndo. John não se lembrava da última vez que correra tanto, talvez fosse aquele primeiro dia como morador do 221 B, onde tentara alcançar um táxi com as próprias pernas, pulando escadas e prédios, cortando ruas que sequer conhecia.
Não estava em uma situação muito diferente agora.
Minutos antes estavam sentados na mesa habitual no Angelo’s, John comia enquanto o amigo falava e falava sobre o caso, ou casos – se realmente eram interligados. Ambos estavam realmente tentando não mencionar o momento que Mycroft interrompeu. No entanto, quando o silêncio surgiu o médico o olhou confuso e segundos depois ambos estavam correndo. Agora suas pernas pesavam e logo seu pulmão, que já começava a arder, lutaria por um ar que ele não conseguiria enquanto corria determinado sob a chuva. Sherlock estava alguns metros a sua frente, como sempre, e ambos podiam ouvir a sirene policial que se aproximava. John tinha a impressão que a sirene tocava, se possível, de um modo irritado, quase como se quisesse expressar a irritação daquele que dirigia a viatura. Ora, não é como se fosse raro Sherlock não esperar pela polícia.
Tudo o que o loiro conseguira entender é que estavam correndo atrás de um suspeito, como Sherlock o classificara como tal ainda era um segredo.
Diferente da primeira vez, agora corriam atrás de uma moto e o médico ainda não compreendia a insistência de Sherlock em tentar ser mais rápido que um veículo, ou mais esperto enquanto cortava as ruas que conhecia tão bem. Não sem surpresa, não houve falhas e a busca não fora em vão. Quando John sentiu suas pernas começarem a falhar no meio de um beco completamente desconhecido, Sherlock saltou para o meio da rua no momento exato em que a moto do suspeito passava. Ambos rolaram pelo chão molhado enquanto a moto seguia descontrolada pela rua e com alguma dificuldade John ergueu a arma.
Inesperadamente tudo ao seu redor parecia mais lento e desfocado, mesmo assim lutou para mirar no estranho de capacete.
― Fique parado ― ordenou firme.
Quando o desconhecido paralisou, Sherlock se levantou ofegante e se virou para observar a viatura parando bruscamente. Lestrade imediatamente saiu sem se importar com a chuva e fitou o detetive, completamente irritado.
― O que eu disse sobre me esperar, Sherlock?
― Eu deveria lembrar? ― o outro retorquiu sorrindo cinicamente.
John continuou com a arma erguida, mesmo com a respiração ofegante e as mãos trêmulas. Esperava que Sherlock e Lestrade não começassem mais uma discussão desnecessária e que as explicações logo surgissem. Então poderia, finalmente, voltar para a sua cama e aproveitar sua folga.
Exceto que não era um estranho.
― Watson?
O médico quase deixou a arma ceder ao escutar a voz e seus olhos se arregalaram quando o homem retirou o capacete vermelho e confirmou sua identidade.
― Moran?
Recuou dois passos, reconhecendo os cabelos castanhos e o sorriso cínico. Moran se levantou lentamente, com as mãos erguidas e sob os olhares confusos.
― Ora se não é o meu Capitão preferido...
John engoliu em seco e sua garganta pareceu arranhar com o ato. De repente estava com medo. Sua relação com Moran era limitada, não se viram mais do que o necessário e sempre trocavam provocações que nunca eram levadas na brincadeira, mas a reputação do Coronel Sebastian Moran dispensava qualquer apresentação. O homem que destruiu um batalhão praticamente sozinho e estas eram as palavras mais simples para descrevê-lo.
― Pensei que estivesse morto ― conseguiu dizer.
O sorriso de Moran se tornou debochado e logo as mãos dele voltaram a ceder, displicentes, despreocupadas, assim como a expressão do ex-militar.
― Não vai abaixar a arma?
E sob o olhar incrédulo de Lestrade e Sherlock, John voltou a travar a arma e a deixou cair de sua mão, não porque era uma ordem, mas porque sabia com quem estava lidando. Moran sempre estava sozinho, preferia dessa forma, mas se agora estava associado a Moriarty, então sua arma não era a única de uso militar ali.
Precisou de um grande esforço para voltar a sua postura de militar, sentia-se como um coelho encurralado, cercado por homens armados, homens que podiam estar em qualquer janela escura daquela quadra, mirando na cabeça dos seus amigos e na sua própria.
― Diga para eles se afastarem e para o Inspetor deixar a arma no chão ― Moran ordenou letal.
― Sem chance ― Sherlock rebateu de imediato.
― Conseguiu um namorado desobediente, Watson ― Moran debochou se aproximando dele ― Que decepção.
Sherlock se adiantou para impedir a aproximação e Lestrade automaticamente ergueu a arma.
― Não! ― John impediu assustado, temendo ouvir um disparo a qualquer momento ― Façam o que ele disse.
― O quê? ― Lestrade questionou confuso.
― É uma armadilha, devemos estar na mira de armas nesse momento ― John esclareceu e insistiu entre dentes ― Obedeçam... agora.
Muito a contragosto ambos se afastaram e Lestrade jogou a arma no chão ruidosamente, odiando a situação.
― Estou orgulhoso Watson, está mais esperto ― Moran implicou voltando a se aproximar.
― Eu o conheço suficiente, Sebastian ― John ergueu um pouco a cabeça devido a aproximação e enunciou com seriedade ― Você jamais se deixaria ser pego com tanta facilidade e principalmente, jamais sairia desarmado.
― Então não preciso explicar nada?
― Precisa explicar o motivo de tanto trabalho. Moriarty pode entrar no apartamento de Sherlock quando quiser, já sabemos disso. Então por que colocar você correndo em cima de uma moto para nos encurralar no meio da cidade?
― Acontece... que não estou seguindo ordens.
Subitamente Moran engatou a perna no tornozelo do médico e o empurrou para o chão violentamente. John conseguiu se apoiar com os braços bem a tempo de impedir algum ferimento, mas Moran imediatamente se inclinou e o acertou com um soco no rosto.
Ótimo, John resmungou depois de cuspir sangue.
― Eu quero a chave.
― Que chave? ― o médico perguntou confuso, tentando limpar o sangue.
Moran rosnou entre dentes e o ergueu, puxando-o pela blusa.
― A chave que Moriarty deu a você! Eu escutei a conversa...
John sentiu seu coração falhar uma batida e imediatamente lançou um olhar nervoso a Sherlock. Não deveria, mas fora uma reação tão involuntária que era impossível não fazê-la. Só tinha conhecimento sobre uma chave que, por sorte, não fora um presente de Moriarty e desconhecia qualquer conversa especifica que envolvesse uma, mas Moran estar escutando o que não devia ou sem o conhecimento de Moriarty era o que o preocupava.
― Eu não sei de nenhuma chave.
Outro soco, mais forte e contra as costelas, fazendo-o recuar alguns passos enquanto gemia de dor.
― Não me deixe impaciente, Watson! Você sabe o que acontece quando fico impaciente.
― Não seja idiota ― John rebateu com dificuldade devido a dor. ― Não sei do que está falando, por que eu mentiria pra você?
― Eu posso pensar em tantos motivos... ― Moran sorriu com deboche e lançou um olhar significativo a Sherlock, antes de erguer a arma na direção dele.
O corpo de John paralisou enquanto seu coração batia célere dentro do peito, a adrenalina fez suas mãos tremerem, mas logo o medo o impulsionou a ficar entre Sherlock e a arma.
― Sebastian, não.
― É melhor sair da frente, Watson, porque atirar em você não vai me impedir de atirar nele logo depois.
― Eu sei ― John respirou fundo, não podia falhar agora. ― Apenas quero que entenda que eu não sei nada sobre chave. Eu e Moriarty nunca conversamos sobre chave alguma, ok?
― E sobre o que conversaram, então? ― Moran perguntou maliciosamente curioso. ― Sobre os seus casos? É isso? Você quer um acordo?
John franziu o cenho, completamente confuso.
― Do que você-
― Oh, já sei! ― o ex-Coronel o interrompeu, ávido. ― Pediu para que Moriarty poupasse o seu querido Sherlock, não é? Ou pelo Ed? Ou será que você só lembrou do Philippe? Não... você sempre foi ousado salvando aqueles de quem gosta, deve ter feito um grande acordo pelos três. Realmente, Três Continentes Watson nunca combinou tanto quanto agora.
A garganta do médico travou e de repente foi difícil engolir em seco, respirar, pensar. Como Moran conhecia aqueles nomes e o que o fazia insinuar que ele faria um acordo com Moriarty sem o conhecimento de Sherlock?
― Nervoso, Capitão? ― Moran insinuou arteiro. ― Toquei nos seus pontos fracos? São tantos...
― Moran... eu não sei o que quer, mas garanto que não fiz nada a você. Absolutamente nada ― John tentou antes de engolir em seco.
― Tem certeza? Será que o seu envolvimento não é suficiente? ― Moran insistiu cínico.
― Pelo amor de Deus, não há envolvimento nenhum!
Sentiu o cano da arma acertar sua cabeça e mais uma vez foi ao chão. Sua cabeça latejou com a dor, mas não tentou levantar. Moran estava ali para obter respostas e não recuaria até consegui-las.
― Estou cansado de poupar sua vida, Watson! ― ele resmungou enfurecido. ― Nem consigo mais lembrar da quantidade de vezes em que esteve na mira da minha arma e não pude matá-lo. Tantas chances perdidas porque Jim não quis matá-lo, esperando por um momento certo que nunca chegou! Infelizmente pra você... não recebo mais ordens.
― Infelizmente? ― John questionou de imediato.
Franziu o cenho e voltou a ser erguer mesmo com dor. Com os olhos fixos em Moran e ainda entre a arma e Sherlock, um pensamento lhe surgiu e como consequência, um pequeno sorriso cresceu em seu rosto. Moran o olhou como se fosse louco e apertou a arma com mais força, mas pela primeira vez - e havia uma grande dose de ironia nisso - John não recuou.
― O que foi?
― Nada ― John deu de ombros e, despreocupadamente, avançou alguns passos na direção dele. Ainda continuaria entre a arma e Sherlock, por precaução. ― Apenas o obvio que você ignorou.
― Que obvio? ― Moran estreitou os olhos, desconfiado.
― Se você não está com Moriarty, então está contra ele. E isso, ironicamente, é ruim apenas pra você.
Moran não cedeu.
― Não acho que seja tão ruim, Watson. Moriarty está ocupado no momento, então é um concorrente a menos na corrida pela dupla mais irritante de Londres.
John sorriu novamente e sabia que aquele pequeno gesto estava começando a ganhar um significado diferente do habitual. Mas não podia evitar, não conseguia não sorrir daquele jeito quando percebia que o inimigo do momento estava cego por um sucesso que não existia mais. Era bom não o idiota da situação ao menos uma vez.
― John... ― Sherlock alertou atento.
O médico não se mexeu, mesmo sabendo que o detetive já vira o perigo e se preparava para o pior. Escutou passos se aproximarem, muitos, uma movimentação sutil e ainda assim compreensível o suficiente para que Moran arregalasse os olhos. Infelizmente John não reagiu ao ver o cano de uma arma ser colocada contra a cabeça de Moran e ser destravada. Deveria ter se mexido, reagido como normalmente reagiria.
Moriarty não sorriu, como normalmente faria, estava irritado demais por ter que lidar com alguém que deveria ser seu aliado mais leal. Em vez disso revirou os olhos e apertou mais a arma contra a cabeça do ex- Coronel.
― Você é entediante demais para ser meu concorrente, Moran.
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