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História Ivy e Percy Jackson e o ladrão de raios - Desculpe interromper essa possível terceira guerra mundial


Escrita por: Ivy_Jackson

Notas do Autor


Eu fiz esse capítulo apenas na perspectiva da Ivy

Capítulo 16 - Desculpe interromper essa possível terceira guerra mundial


POV Ivy

 

É estranho como os seres humanos são capazes de enrolar a sua mente em volta das coisas e encaixá-las na sua versão de realidade. De acordo com as notícias de Los Angeles, a explosão na praia de Santa Monica tinha sido causada quando um sequestrador enlouquecido disparou uma espingarda contra uma viatura da polícia. Ele acidentalmente atingiu um tubo principal de gás que se rompera durante o terremoto. Esse sequestrador enlouquecido (também conhecido como Ares) era o mesmo homem que nos abduzira com três outros adolescentes em New York e nos trouxera até o outro lado do país em uma odisseia de terror que durara dez dias. Os pobrezinho Percy e Ivy Jackson, afinal, não eram criminosos internacionais. Eles causaram uma comoção naquele ônibus da Greyhound em New Jersey tentando escapar do seu sequestrador (e depois, testemunhas chegaram a jurar que tinham visto o homem de roupa de couro no ônibus – "Por que não me lembrei dele antes?"). O homem enlouquecido causara a explosão no Arco de St. Louis. Afinal, nenhuns garotinhos poderiam ter feito aquilo. Uma garçonete preocupada de Denver vira o homem ameaçar seus sequestrados do lado de fora do seu restaurante, chamara um amigo para tirar uma foto, e notificara a polícia. Finalmente, os bravos Percy e Ivy Jackson (eu estava começando a gostar desses meninos) subtraíram espingardas do seu sequestrador em Los Angeles e lutaram contra ele, espingarda contra rifles, na praia. A polícia chegara bem a tempo. Mas, na espetacular explosão, cinco viaturas da polícia foram destruídas e o sequestrador fugira. Não houve mortes. Percy e Ivy Jackson e seus Três amigos estavam em segurança, sob custódia da polícia. Os repórteres nos forneceram essa história inteira. Nós apenas assentimos e nos fizemos de chorosos e exaustos (o que não foi difícil), e representamos o papel de crianças vitimizadas para as câmeras.

– Tudo o que eu quero – disse Percy, contendo as lágrimas – é ver o meu adorado padrasto de novo. Toda vez que o via na tevê nos  chamando de punks delinquentes, eu sabia... de algum modo... que tudo ia dar certo. E eu sei que ele vai querer recompensar uma por uma todas as pessoas desta linda cidade de Los Angeles com um eletrodoméstico grátis, dos grandes, da sua loja. Aqui está o número do telefone.

Eu concordei passando a mão nos olhos como as tivesse limpando o meu choro.

 A polícia e os repórteres ficaram tão comovidos que passaram o chapéu e levantaram dinheiro para cinco passagens no próximo avião para Nova York. Eu sabia que não havia escolha senão voar. Esperava que Zeus nos desse algum tempo, consideradas as circunstâncias. Mas ainda assim foi difícil me forçar a embarcar no voo. A decolagem foi um pesadelo. Cada momento era mais assustador que um monstro grego. Eu não larguei dos braços da poltrona até pousarmos em segurança no aeroporto de La Guardia, detalhe é possível (não à nada confirmado) que eu tenha quebrado o braço da poltrona mas como eu disse nada confirmado.

(Percy: eu sou testemunha de que ela quebrou)

(Ivy: traidor)

A imprensa local aguardava por nós do lado de fora da segurança, mas conseguimos escapar graças a Annabeth e Austin, que atraíram para longe com o seus boné dos Yankees e pulseira invisível, gritando:

– Eles estão lá, perto da sorveteria! Venham! e depois juntaram a nós na área de retirada de bagagem. Separamo-nos no ponto de táxi. Percy disse a Annabeth, Grover e Austin para voltar à Colina Meio-Sangue e contar a Quíron o que acontecera. Eles protestaram, e era difícil deixá-los partir depois de tudo que passamos juntos, mas nós sabíamos que tínhamos de cumprir essa última parte da missão sozinhos. Se as coisas dessem errado, se os deuses não acreditassem em nós... ele queria que Annabeth, Grover e Austin sobrevivessem para contar a verdade a Quíron. Embarcamos em um táxi e seguimos para Manhattan.

 

Trinta minutos depois, entramos no saguão do Edifício Empire State. Devíamos parecer crianças abandonadas, com roupas esfarrapadas e nossas caras toda  arranhadas. Fui até o guarda na mesa da recepção e disse:

– Seiscentésimo andar.

Ele estava lendo um livro enorme com a figura de um feiticeiro na capa. Eu acho que o livro era bom, porque o guarda levou algum tempo para erguer os olhos.

– Esse andar não existe, garota.

– Nós precisamos de uma audiência com Zeus. – Ele me deu um sorriso vago.

 – O quê?

– Você me ouviu.

Eu já estava quase concluindo que aquele cara era apenas um mortal comum, e era melhor eu correr antes que ele chamasse a patrulha da camisa de força, quando ele disse:

– Sem hora marcada, nada de audiência, garota. O Senhor Zeus não atende ninguém sem aviso prévio.

– Ah, eu acho que ele vai abrir uma exceção. –disse Percy 

Ele tirou a mochila das costas e abriu o zíper. O guarda olhou para o cilindro metálico lá dentro sem entender o que era por alguns segundos. Então seu rosto empalideceu.

– Isto não é...

– Sim, é – garanti. – Você quer que ele o tire e...

– Não! Não!

Ele se ergueu atabalhoadamente da sua cadeira, tateou em volta da mesa procurando um cartão-chave, e o entregou para mim.

– Insira na fenda de segurança. Certifique-se de que ninguém mais esteja no elevador com vocês.

Fiz o que ele me disse. Assim que as portas do elevador se fecharam, enfiei o cartão na fenda. O cartão desapareceu e um novo botão apareceu no quadro, um botão vermelho que dizia 600. Apertei e esperamos, e esperamos. Havia música tocando. "Raindrops keepfalling on my head..." Finalmente, plim. As portas se abriram. Saí e quase tive um ataque do coração. Eu estava em um estreito caminho de pedra no meio do ar. Abaixo de mim se encontrava Manhattan, da altura de um avião.

Diante de mim, degraus de mármore branco subiam em espiral pelo meio de uma nuvem até o céu. Meus olhos seguiram a escada até o fim, onde meu cérebro simplesmente não pôde aceitar o que vi. Está realmente lá, no Olimpo, eu estava no Olimpo (eu estava surtando). Do topo das nuvens se erguia o pico decapitado de uma montanha, o cume coberto de neve. Na encosta da montanha havia dúzias de palácios com vários níveis todos com pórticos de colunas brancas, terraços dourados e braseiros de bronze brilhando com mil fogos. Estradas se enroscavam até o pico, onde o maior dos palácios resplandecia contra a neve. Jardins precariamente encarapitados floresciam com oliveiras e roseiras. Pude distinguir um mercado a céu aberto cheio de tendas coloridas, um anfiteatro de pedra construído em um lado da montanha, um hipódromo e um coliseu do outro. Era uma cidade grega antiga. Nova, limpa e colorida, como Atenas deve ter sido há dois mil e quinhentos anos. E aqui estava eu. Minha viagem pelo Olimpo foi deslumbrante. Passei por algumas ninfas das florestas que deram risadinhas e me atiraram azeitonas do seu pomar. No mercado, mascates se ofereceram para vender ambrosia-no-palito, um escudo novo e uma réplica genuína do Velocino de Ouro em tecido cintilante, conforme anunciado na tevê Hefesto. As nove musas afinavam seus instrumentos para um concerto no parque enquanto uma pequena multidão se reunia – sátiros, náiades e um bando de adolescentes de boa aparência que talvez fossem deuses e deusas menores.

Ninguém parecia preocupado com uma guerra civil iminente. De fato, todo mundo parecia estar num estado de ânimo festivo. Vários se voltaram para nos ver passar e cochicharam entre si. Subimos pela estrada principal rumo ao grande palácio no pico. Era uma cópia invertida do palácio do tio Hades. Lá, tudo era preto e bronze. Aqui, tudo rebrilhava em branco e prata. Dei-me conta de que Hades deve ter construído o seu palácio para se parecer com este. Ele não era bem-vindo no Olimpo, exceto no solstício de inverno, então construiu seu próprio Olimpo embaixo da terra. A despeito da minha má experiência com ele, senti pena do meu tio. Ser banido deste palácio parecia realmente injusto. Degraus levavam a um pátio central. Além dele, a sala do trono. Colunas maciças se erguiam até um teto abobadado, que era decorado com constelações que se moviam. Doze tronos, construídos para seres do tamanho de Hades, estavam arrumados em um Ω, exatamente como os chalés do Acampamento Meio-Sangue. Uma enorme fogueira crepitava no braseiro central. Os tronos estavam vazios com exceção de dois no fim: o trono principal à direita e um imediatamente à sua esquerda.

Ninguém precisou me dizer quem eram os dois deuses que estavam sentados lá, esperando que eu me aproximasse. Cheguei à frente deles. Os deuses estavam em forma humana gigante, como Hades. Zeus, o Senhor dos Deuses, usava um terno risca-de-giz azul-escuro. Estava sentado em um trono simples de platina maciça. Tinha uma barba bem aparada, cinza-mármore e preta, como uma nuvem de tempestade. Seu rosto era orgulhoso belo e severo, os olhos tinham o tom cinzento da chuva.

Quando me aproximei dele, o ar estralou e senti cheiro de ozônio. O deus sentado ao lado dele era seu irmão e meu pai, mas estava vestido de modo muito diferente. Usava sandálias de couro, bermudas caqui e uma camisa marca Tommy Bahama toda estampada de coqueiros e papagaios. Sua pele tinha um bronzeado escuro e as mãos eram marcadas de cicatrizes como as de um velho pescador. O cabelo era preto, como o meu. Seu rosto tinha o mesmo ar taciturno que o de Percy. Mas os olhos, verde-mar como os meus, eram rodeados de rugas que diziam que ele sorria muito. Os deuses não estavam se movendo nem falando, mas havia tensão no ar, como se tivessem acabado de discutir. Aproximei-me do trono de meu pai e me ajoelhei aos seus pés.

– Pai.

Percy seguiu meu exemplo.

Não ousei olhar para cima. Se eu ou Percy disséssemos alguma  coisa errada, não havia dúvida de que Zeus poderia nós reduzir a pó. A minha esquerda, Zeus falou:

– Vocês não deveriam se dirigir primeiro ao senhor desta casa?

Nós mantivemos a cabeça baixa e esperamos.

– Paz, irmão – disse por fim meu pai. – Os meninos submetem-se ao seu pai. Está certo.

– Então você ainda o reclamam como seu? – perguntou Zeus, ameaçadoramente. – Você reclama estas crianças que procriou contrariando o nosso sagrado juramento?

– Eu admiti a minha transgressão – disse Poseidon. – E agora vou ouvi-los falar.

Transgressão. Senti um nó na garganta. Era isso tudo o que eu era? Uma transgressão? O resultado do erro de um deus? 

Não Ivy você sabe o que você é então não ligue, você ainda será a heroína do Olimpo.

– Eu já os poupei uma vez – resmungou Zeus. – Eles ousaram voar através dos meus domínios... bah! Eu devia tê-los mandado pelos ares, para fora do céu pelo seu atrevimento.

– E correr o risco de destruir seu próprio raio-mestre? – perguntou Poseidon calmamente. – Vamos ouvi-los, irmão.

Zeus resmungou mais um pouco.

– Ouvirei – resolveu. – E então decidirei se atirarei ou não estes meninos para fora do Olimpo.

– Perseu, Idylla – disse Poseidon. – Olhem para mim.

Fiz isso, e não sei ao certo o que vi no seu rosto. Não havia sinal claro de amor ou aprovação. Nada. Tive a sensação de que Poseidon na verdade não sabia o que pensar de nós, mas era isso que ele queria quando me mandou para o acampamento não? Não sabia se estava feliz por te Percy como filho ou não.

– Dirijam-se ao Senhor Zeus, meninos – disse- nós papai. – Conte a ele a suas histórias.

Então nós contamos tudo a Zeus, exatamente como havia acontecido. Percy tirou da mochila o cilindro de metal, que começou a fagulhar na presença do Deus do Céu, e o pôs aos pés do deus. Houve um longo silêncio, quebrado apenas pelo crepitar do fogo no braseiro.

Zeus abriu a palma da sua mão. O raio voou para dentro dela. Quando ele fechou o punho, os pontos metálicos fulguraram com eletricidade, até ele ficar segurando o que parecia mais um relâmpago, um dardo de seis metros feito de energia com centelhas chiantes que fez os meus cabelos se eriçarem.

– Sinto que os meninos o dizem a verdade – murmurou Zeus. – Mas não é nada típico de Ares fazer uma coisa assim.

– Ele é orgulhoso e impulsivo – disse Poseidon. – É coisa de família.

– Senhor? – chamei. 

Ambos disseram: – Sim?

– Ares não agiu sozinho. Outra pessoa – ou outra coisa – teve a ideia.

Nós descrevemos os nossos sonhos e a sensação que tivemos na praia, o momentâneo hálito do mal que parecera parar o mundo e fizera Ares desistir de me matar.

– Nos sonhos – disse Percy – a voz nós disse para levar o raio ao Mundo Inferior. Ares insinuou que também estava tendo sonhos. Acho que ele estava sendo usado, assim como nós, para começar uma guerra.

– Você está acusando Hades, afinal? – perguntou Zeus.

– Não – disse eu. – Quer dizer, Senhor e tio Zeus, estivemos na presença de Hades. A sensação na praia foi diferente. Era a mesma coisa que senti quando cheguei perto da entrada para o Tártaro. Alguma coisa poderosa e maligna está se agitando lá embaixo…

Poseidon e Zeus se entreolharam. Eles tiveram uma rápida e intensa discussão em grego antigo. Wu entendi tudo. Eles estavam falando sobre Cronos. Meu pai fez uma sugestão, mas Zeus o cortou. Poseidon tentou discutir. Zeus ergueu a mão, zangado.

– Não vamos mais falar disso – disse Zeus. – Preciso ir pessoalmente purificar este raio nas águas de Lemnos, para remover a mácula humana do seu metal. – Ele se levantou e olhou para nós. Sua expressão se suavizou uma fração de um grau. – Vocês me prestaram um serviço, meninos. Poucos heróis poderiam ter conseguido tanto.

– Nós tivemos ajuda, senhor – disse Percy. – Grover Underwood,Annabeth Chase e Austin Solace...

– Para demonstrar minha gratidão, pouparei sua vida. Não confio em vocês, Perseu e Idylla Jackson. Não gosto do que a chegada de vocês significa para o futuro do Olimpo. Mas, em nome da paz na família, eu os deixarei viver.

– obrigado, senhor. – disse eu.

– Não ousem voar de novo. Não me deixe encontrá-los aqui quando eu voltar. Ou irám provar este raio. E serão as suas últimas sensações .

Um trovão sacudiu o palácio. Com um clarão ofuscante, Zeus se foi. Nós estávamos sozinhos na sala do trono com nosso pai.

– O tio de vocês – suspirou Poseidon – sempre teve um talento especial para saídas teatrais. Acho que ele teria se saído bem como o deus do teatro.

Eu ri

Um silêncio constrangedor.

– Senhor – disse Percy – o que havia naquele abismo?

Poseidon olhou atentamente para mim.

– Você ouviu toda a conversa não – Eu assenti – diga ao seu irmão quem era.

– Cronos – disse eu. – O rei dos Titãs.

Mesmo na sala do trono do Olimpo, longe do Tártaro, o nome Cronos escureceu o ambiente, e fez o fogo no braseiro não parecer mais tão quente nas minhas costas. Papai segurou o seu tridente.

– Na Primeira Guerra Mundial, Percy, Zeus cortou o nosso pai Cronos em mil pedaços, exatamente como Cronos fizera com seu próprio pai, Urano. Zeus lançou os restos de Cronos no mais escuro abismo do Tártaro. O exército dos Titãs foi dispersado, sua fortaleza na montanha sobre o Etna, destruída, seus monstruosos aliados foram expulsos para os cantos mais distantes da Terra. E, contudo, Titãs não podem morrer, não mais que nós, deuses. O que resta de Cronos ainda vive de algum modo hediondo, ainda consciente em seu sofrimento eterno, ainda com fome de poder.

– Ele está se curando – disse Percy. – Ele vai voltar.

Poseidon sacudiu a cabeça.

– De tempos em tempos, no decorrer das eras, Cronos se agita. Ele entra nos pesadelos dos homens e exala pensamentos malignos. Desperta monstros inquietos das profundezas. Mas sugerir que ele pode erguer-se do abismo é outra coisa.

– É o que ele pretende, pai. É o que ele disse. – dissemos eu e Percy ao mesmo tempo 

Poseidon ficou em silêncio por um bom tempo.

– O Senhor Zeus encerrou a discussão sobre o assunto. Ele não permitirá que se fale de Cronos. Vocês completaram a missão, criançaS. É tudo o que precisam fazer.

– Mas pai... – Percy se interrompeu. Discutir não iria adiantar nada.– Como... como queira, pai.

Um leve sorriso brincou nos lábios de nosso pai.

– A obediência não lhe vem naturalmente, não é?

– Não... senhor.– disse Percy 

– Não é pouco pai – disse eu

– Devo ter alguma culpa por isso, imagino. O mar não gosta de ser contido. – Ele se ergueu em toda a sua altura e pegou seu tridente. Então tremeluziu e ficou do tamanho de um homem normal, em pé diante de nós. – Vocês precisam ir, crianças. Mas primeiro saiba que sua mãe retornou.

Nós olhamos para ele, completamente perplexos.

– Nossa mãe?– Eu perguntei 

– Vocês a encontrarão em casa. Hades a enviou quando recuperou seu elmo. Até mesmo o Senhor da Morte paga as suas dívidas.

Meu coração disparou. Eu mal podia acreditar.

– Você... você vai... – Percy gaguejou 

Os olhos de Poseidon ficaram um pouco tristes.

– Quando vocês forem para casa, precisarão fazer uma escolha importante. Irão encontrar um pacote esperando por vocês no quarto de Percy.

– Um pacote? – Eu disse

– Vocês entenderão quando o vir. Ninguém pode escolher o caminho de vocês. Vocês terão de decidir.

Assentimos, embora sem saber o que ele queria dizer.

– Sua mãe é uma rainha entre as mulheres – disse Poseidon saudosamente. – Não conheci nenhuma mulher mortal como ela em mil anos. Ainda assim... sinto muito por vocês terem nascido, crianças. Eu trouxe para vocês um destino de herói, e um destino de herói nunca é feliz. Não passa de um destino trágico.

Ali estava o meu próprio pai, dizendo que sentia muito por eu ter nascido.

– Eu não me importo, pai, afinal você me criou para isso. – Eu disse 

– Ainda não, talvez – disse ele. – Ainda não. Mas foi um erro imperdoável da minha parte.

– Vamos deixá-lo, então. – Percy inclinou, desajeitado. – Não... não vamos incomodá-lo de novo.

Nós estávamos a cinco passos de distância quando ele chamou:

– Perseu, Idylla. – Nós nos viramos. Havia uma luz diferente em seus olhos, um orgulho flamejante. – Vocês se saíram bem, Idylla, Perseu. Não me entendam mal. O que quer que ainda façam, saibam que vocês são meus. Vocês são verdadeiros filhos do Deus do Mar.

Eu corri e o abraçei, ele retribuiu o abraço 

– E Ivy, as nereidas vão entregar as suas coisas no acampamento Amanhã. – Papai me disse quando nos estávamos indo embora.

Enquanto eu caminhava de volta pela cidade dos deuses, as conversas se interromperam. As musas pararam seu concerto. Deuses, sátiros e náiades, todos se voltavam para nós, os rostos plenos de respeito e gratidão, e quando nós passávamos eles se ajoelhavam, como se nós fossemos  heróis.

 

Quinze minutos depois, eu estava indo conhecer minha mãe. Pegamos um táxi para o apartamento da nossa mãe, Percy tocou a campainha, e lá estava ela – minha mãe, cheirando a hortelã e alcaçuz, eu me escondi artes de Percy, e o cansaço e a preocupação se evaporaram do seu rosto assim que ela viu Percy. – Percy! Oh, graças a Deus! Oh, meu querido.

Ela o apertou até não poder mais. Até que ela me viu atrás de Percy. Ela começou a chorar e eu também (que fique claro que essa foi a única vez que eu chorei) ela me abraçou com tanta força, eu não achei possível ela ter tanta força assim.

– Idylla, minha garotinha você está viva – ela disse enquanto me abraçava.

Ficamos no vestíbulo enquanto ela chorava e passava as mãos pelos meus cabelos e os de Percy. Ela nos contou que simplesmente aparecera no apartamento naquela manhã, deixando Gabe meio fora de si de tão apavorado. Não se lembrava de nada desde o Minotauro, e não pôde acreditar quando Gabe lhe disse que nós eramos criminosos procurados, viajando pelo país e explodindo monumentos nacionais. Ela achou que ele estava louco mas depois da foto que gabe a mostrou ela viu eu e Percy junto chorou muito. Ficara louca de preocupação o dia inteiro porque não ouvira as notícias. Gabe a forçara a ir trabalhar, dizendo que ela precisava um mês de salário para compensar, e era melhor começar. Engoli a raiva e contei-lhe nossa história. Nós tentamos fazer que parecesse menos apavorante do que fora, mas não era fácil. Estávamos justamente chegando à luta com Ares quando a voz de Gabe irrompeu da sala de estar.

– Ei, Sally! Aquele bolo de carne já está pronto ou não?

Ela fechou os olhos.

– Ele não vai ficar muito feliz em vê-los. A loja recebeu um milhão de telefonemas de Los Angeles hoje... alguma coisa sobre eletrodomésticos grátis. 

– Ah, sim. Quanto a isso...

Ela conseguiu sorrir fracamente.

– Só não o deixem ainda mais zangado, certo? Venham.

Havia lixo no tapete até a altura dos tornozelos. O sofá tinha sido estofado de novo com latas de cerveja. Meias e roupas de baixo sujas estavam penduradas nos abajures. Gabe e três dos seus amigos cretinos estavam sentados à mesa jogando pôquer. Quando Gabe nos viu, o charuto caiu da boca. A cara dele ficou mais vermelha que a lava utilizada pelos ciclopes.

– Vocês são muito descarados de vir aqui, seus pequenos punks. Eu pensei que a polícia...

– Eles não são fugitivos, afinal – interrompeu minha mãe. – Não é maravilhoso, Gabe?

Gabe olhou para um lado e para o outro como se não achasse isso uma coisa maravilhosa.

– Já não basta ter de devolver o dinheiro do seu seguro de vida, Sally – rosnou ele. – Me dê o telefone. Vou chamar a polícia.

– Gabe, não!

Ele ergueu as sobrancelhas.

– Você disse não! Acha que eu vou ter de aguentar esses punks de novo? Ainda posso registrar queixa contra eles por destruirem o meu Camaro.

Eu olhei para Percy perguntando o que era um Camaro

(Ivy:Por sinal você ainda não respondeu)

(Percy: é um carro)

– Mas...

Ele levantou a mão e minha mãe se encolheu. Me dei conta de uma coisa. Gabe já tinha batido na minha mãe. Não sei quando, nem quanto. Um balão de raiva começou a se expandir no meu peito. Avencei para Gabe, instintivamente com a mão no Pescoço e Percy com a contracorrente em formato de caneta na mão. Ele apenas riu.

– O que foi, punks? Vão escrever em mim? Encostem em mim, e irão para a cadeia para sempre, entenderam?

– Ei, Gabe – um dos caras interrompeu. – Eles são só crianças.

(Percy: como você não o matou ali?)

(Ivy: também não sei)

Gabe olhou para ele irritado e macaqueou em voz de falsete:

– Eles são só crianças! – Seus outros amigos riram como idiotas. – Eu vou ser bonzinho com vocês, punks. – Gabe mostrou os dentes manchados de tabaco. – Vou lhes dar cinco minutos para pegar suas coisas e dar o fora. Depois disso, chamo a polícia.

– Gabe! – implorou minha mãe.

– Eles fugiram – disse Gabe a ela. – Que continuem fugindo.

Eu estava sentindo uma enorme vontade de puxar Mandacorrente, Percy parecia estar com a mesma vontade, mas mesmo que fizéssemos isso, as lâminas não podiam ferir seres humanos. E Gabe, segundo a mais vaga das definições, era um ser humano. Nossa mãe segurou nossos braços.

– Por favor. Venha. Vamos para o quarto.

Deixei que ela me puxasse, as mãos ainda tremendo de raiva. O quarto de Percy havia sido abarrotado de pilhas de baterias velhas de carro, um buquê apodrecido de flores de solidariedade com um cartão de alguém que assistira sua entrevista com Barbara Walters.

– Gabe está apenas chateado, queridos – disse minha mãe. – Vou falar com ele mais tarde. Tenho certeza de que vai dar certo.

– Mamãe, nunca vai dar certo. Não enquanto Gabe estiver aqui.– Eu disse havia pouco tempo que eu a conhecia mas eu sei que se eu ficasse no mesmo teto que Gabe por mais de um dia eu não me responsabilizo por meus atos.

Ela torceu as mãos nervosamente.

– Eu posso... vou levar vocês comigo para o trabalho durante o resto do verão. No outono talvez haja algum outro internato...

– Mamãe.

Ela baixou os olhos.

– Estou tentando. Eu só... só preciso de algum tempo.

Um pacote apareceu em cima da cama. Pelo menos, eu poderia jurar que não estava lá um momento antes. Era uma caixa de papelão surrada mais ou menos do tamanho certo para conter uma bola de basquete. O endereço na etiqueta estava na própria de Percy caligrafia:

 

Aos deuses

Monte Olimpo, 600° andar

Edifício Empire State

Nova York, NY

Com os melhores votos, Percy Jackson

 

No topo da caixa, em marcador preto, na caligrafia clara e forte de nosso pai, estava o endereço do nosso apartamento, e as palavras: RETORNAR AO REMETENTE. De repente entendi o que Papai nos dissera no Olimpo. Um pacote. Uma decisão. O que quer que ainda façam, saibam que vocês são  meus. Vocês são verdadeiros filhos do Deus do Mar. Olhei para a minha mãe.

–  Mãe, você quer se livrar do Gabe? – perguntou Percy

– Percy, não é tão simples. Eu...

– Mãe, apenas me diga. Aquele cretino está batendo em você. Você quer que ele se vá ou não? – Eu disse a interrompendo 

Ela hesitou, depois assentiu quase imperceptivelmente.

– Sim. Eu quero. E estou tentando reunir coragem para dizer a ele. Mas vocês não podem fazer isso por mim. Vocês não podem resolver os meus problemas.

Eu olhei para a caixa. Nós podíamos resolver o problema dela. Queria abrir aquele pacote, botá-lo sobre a mesa de pôquer e tirar o que havia dentro. Podia começar o meu próprio jardim de estátuas bem ali na sala de estar. E o que um herói grego faria, pensei. É o que Gabe merece. Mas a história de um herói sempre termina em tragédia. Poseidon nos dissera isso. Lembrei-me do Mundo Inferior. Pensei no espírito de Gabe à deriva nos Campos de Asfódelos, ou condenado a alguma tortura horrível atrás do arame farpado dos Campos da Punição – sentado em um eterno jogo de pôquer, mergulhado até a cintura em óleo fervente ou ouvindo música de ópera. Será que eu tinha o direito de mandar alguém para lá? Mesmo Gabe? Até agora, eu não teria hesitado. Agora...

– Nós podemos fazer isso – disse Percy à nossa mãe. – Uma espiada para o que há dentro desta caixa, e ele nunca mais a incomodará de novo.

Ela deu uma olhada para o pacote e pareceu entender imediatamente.

– Não – disse ela afastando-se. – Vocês não podem.

– Papai chamou você de rainha – contei-lhe. – Ele disse que não conheceu nenhuma mulher como você em mil anos.

Suas faces coraram.

– Percy, Idylla...

– Só Ivy, por favor. Você merece coisa melhor do que isso, mãe.

– Você devia ir para a faculdade, tirar o seu diploma. Podia escrever o seu romance, conhecer um cara legal, quem sabe, e viver numa bela casa. Você não precisa mais me proteger ficando com Gabe, – disse Percy 

–Deixe que nós nos livramos dele.– disse eu disse 

Ela enxugou uma lágrima do rosto.

– Você se parece tanto com o seu pai – disse ela segurando o meu rosto. – Uma vez propôs parar a maré por mim. Propôs construir um palácio para mim no fundo do mar, achava que podia resolver todos os meus problemas com um aceno de mão.

– O que há de errado nisso?– Eu pergunto

Seus olhos multicoloridos pareceram investigar dentro de mim.

– Eu acho que você sabe. Percy, eu acho que você é parecido o bastante comigo para entender. Se é para a minha vida ter algum significado, tenho de vivê-la eu mesma. Não posso deixar que um deus cuide de mim... ou meus filhos, Eu preciso... encontrar a coragem sozinha, a missão de vocês me fez lembrar disso. – ela disse, eu percebi uma coisas que nós temos em comum, não deixamos ninguém fazer nada por nós.

Ouvimos o som das fichas de pôquer e pragas, e a televisão da sala de estar.

– Vamos deixar a caixa – disse eu – se ele a ameaçar...

Ela empalideceu, mas assentiu.

– Aonde vocês vão?

– Colina Meio-Sangue.

– Passar o verão... ou para sempre?

– Ainda não sabemos.

 Nossos olhos se encontraram, e eu senti que tínhamos um acordo. Veríamos como estariam as coisas no fim do verão. Ele beijou a minha testa e a de Percy.

– Vocês serão heróis, os maiores de todos. Passei os olhos pelo quarto pela última vez, tinha a sensação de que nunca mais o veria de novo. Então fui com minha mãe até a porta da frente.

– Indo embora tão cedo, punks? – gritou Gabe atrás de mim. – Já vão  tarde!

Senti uma última ponta de dúvida. Como eu estava indo embora daqui sem salvar a minha mãe.

– Ei, Sally! – berrou ele. – E aquele bolo de carne, hein? 

Uma expressão de raiva, dura como aço, brilhou nos olhos da minha mãe (eu reconheci essa expressão de mim mesma, se Gabe não fosse Gabe eu teria pena dele), e eu pensei, quem sabe, talvez eu a estivesse deixando em boas mãos afinal: as dela mesma.

– O bolo de carne já está saindo, meu bem – disse ela a Gabe. – Um bolo de carne surpresa.

Olhou para nós e piscou. A última coisa que vi quando a porta se fechou foi nossa mãe olhando para Gabe com jeito de quem imagina que ele daria uma ótima estátua de jardim.



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