Jaejoong acha que é porque suas mãos são grandes demais. Ele até perguntou, é porque minhas mãos são grandes demais, não?
E ele carrega Yunho para um lugar que, segundo ele, ninguém conhece, mas que na verdade é o terraço do prédio onde Yunho mora, o que deixa óbvio que era só um pretexto para conversar, esclarecer alguma coisa, pedir desculpas ou surtar.
Jaejoong tem uma jaqueta de couro no corpo e um papel de doce entre os dedos. E ele senta em algum lugar do chão sujo sem olhar para Yunho, mas ainda assim...
Parece uma fotografia, porque ele é bonito e também porque parece algo transitório demais para deixar de ser registrado pela câmera vagabunda de Yunho.
Você já está velho demais para isso.
Ele resmunga enquanto gesticula com as mãos um desdém bobo.
Mas Yunho se sente sufocado pela primeira vez.
Ou segunda.
Ou terceira.
Tem a família na Coreia e o emprego garantido por lá e, talvez, só talvez Jaejoong parecesse tão bonito porque as luzes japonesas o transformavam em colorido e bagunça, em poesia triste na qual não se encontra dor mas sim beleza. Engraçado, mas também confuso.
Jaejoong o beijou havia uma semana.
Foi no escuro de um fim de tarde, na sala da casa de Yunho. Eles bebiam saquê e Jaejoong parecia um gato preguiçoso esticado no sofá pequeno. E seus olhos, eles faíscavam ou derretiam, coisa assim, Yunho percebeu meio que tarde demais, Jaejoong já não era mais um gato preguiçoso, mas um carente, talvez.
E Yunho achava que já estava crescido demais para começar questionar a sexualidade, ou algo do tipo. Tinha uma noiva na terra natal e, sim, as mãos de Jaejoong eram meio que grandes demais para fingir que era uma mulher que o abraçava com certo desespero e paixão, para fingir que não havia problema em sentir formigamento nas pontas dos dedos e um coração agitado contra as costelas. Por um homem, afinal.
E Jaejoong pediu desculpas, isso porque Yunho segurou seus braços com força e o afastou. Eu não vou mais te tocar, eu não vou, por favor não me odeie, eu não vou. E Yunho desculpou, uns três dias depois, pois na segunda-feira Jaejoong fez falta. Jaejoong, o seu bom amigo conterrâneo.
E lá estavam, naquele terraço.
Se continuar a me olhar desse jeito, eu juro, não existirá motivos para você me dizer que estou sendo precipitado em fazer coisas meio... homossexuais.
Ele disse isso com naturalidade demais, e Yunho captou a distração tão palpável com que Jaejoong havia dito aquilo, o sono, afinal.
Eu acho que não tem problema, Jaejoong-ssi.
E quem olhou de um jeito afetado e pouco distraído foi Jaejoong, as pálpebras tremendo enquanto ele tentava entender se era brincadeira ou alucinação ou
Cala a boca, às vezes você não sabe o que fala.
Você é homem, Yunho havia dito para ele na noite do beijo. Então, Jaejoong, já em casa, olhou para as mãos ásperas e para os ombros largos refletidos no espelho, e a barba que começava a nascer rala e para o peito liso que estava molhado de chuva. E vomitou, tão logo que soluçou. Pois Yunho nunca saberia o quanto Jaejoong desejou ser uma mulher desde que o conhecera, discreto e auto-oprimido. Mais conformado do que realmente triste.
Yunho tão cuidadoso quanto um gato que cerca uma presa deixa a câmera em algum canto do terraço e se aproxima agitado.
Jaejoong se encolhe sem entender muito bem.
Já é meia-noite, Jaejoong-ssi.
Dois ou três passos.
E daí?
A respiração sai ruidosa pelo nariz.
E seu cabelo cheira a chocolate.
O céu é escuro e nublado.
Por quê...?
Mas existe um outro céu, um céu vermelho e azul nas ruas abaixo daquele terraço.
Você ainda não é uma mulher.
E Tóquio está silenciosa.
Que droga Yunho, e daí?
Ou será que é porque dentro de dois homens tudo está meio que barulhento demais?
É meia-noite, Jaejoong-ssi.
Yunho abaixa na frente de Jaejoong, em um chão sujo e feio. Alcança os dedos frios. Parece que o céu agora tem cor de coragem, coisa parecida.
A palma de uma das mãos é beijada. E reciprocidade tem meio que cheiro de medo também.
É meia-noite. Suas mãos ainda são grandes e você ainda é um homem. E quer saber, Jaejoong?
E esse mesmo Jaejoong, imponente mas derretido consente com a cabeça. Perdido demais nas luzes de Tóquio sobre o rosto de Yunho.
Pois bem, eu vou dizer: eu não ligo se você ainda é você, para mim está tudo bem justamente por isso. E para você?
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