História Já Era Bem Óbvio - Argolas Prateadas

Park Jimin sempre fora um ser humano cordial, mesmo que reservado e tímido desde seu nascimento chamava bastante atenção. O ruivo sempre gostou de ter seu cantinho, seu espaço pessoal para que pudesse desenvolver suas habilidades. Desde muito cedo se interessou pela pintura, seus traços eram suaves, sempre prezando pela delicadeza e perfeição. Pinturas de aquarela eram as preferidas do jovem ruivo, sempre carregando pincéis para lá e para cá. Enquanto seu irmão mais velho gostava de bola e correr sobre a grama molhada, Jimin apreciava um bom livro e chá quente. Era observador, gostava de apreciar as coisas discretas que o resto do mundo não se interessava. Além de tudo, Jimin sempre fora bom com números, tinha raciocínio voraz e sua inteligência era em abundância, acarretando assim várias medalhas que ganhou pelas notas absurdamente altas. Mas isso tudo não chegava aos pés do principal, a beleza avassaladora do jovem Park. Por onde passava causava espanto, deixando todos inebriados pela sua aparência. Seria blasfêmia dizer que aquele homem não era tudo isso, porque Jimin era tudo aquilo e muito mais.

 Estive deprimido nos últimos dias, não foi nada fácil deixar tudo para trás. Meus amigos, minha escola, minha antiga casa, minha antiga vida. Eu não queria ir embora, não queria ter de vir junto, mas mamãe esteve muito nervosa pela separação e eu preferi me calar para deixar ela fazer o que achasse ser o melhor para nós. Não que eu já não estivesse ciente do divórcio, mas é sempre difícil lidar com essas coisas. Ela quis recomeçar do zero, formar uma nova vida, esquecer das coisas ruins do passado. Preferi não contestar em suas escolhas, sabia o quanto ela estava abatida. Quando coisas assim acontecem eu aprendo cada vez mais que não importa o quão perfeita uma pessoa pareça ser, ela sempre tem um caos para lidar, sempre terá um demônio interno para controlar.

— Jimin, já terminou de se arrumar? vou te levar de carro na escola. — Entrou apressada em meu quarto. 

— Estou sim, mamãe. Vou apenas pegar minha mochila e desço. — Desviei meu olhar da janela, caminhando em sua direção. 

— Ótimo. Por favor não demore, te espero lá no carro. — Saiu sem esperar resposta. — Ela não costumava ser uma pessoa amarga, mas as bordoadas da vida te fazem mudar. Mas eu sabia que nada daquilo era proposital, ela só estava cansada.

— Vamos lá Jimin, hoje é um novo dia. — Suspirei profundamente. 

                                              ☆♡☆ 

Jimin se surpreendeu com a nova escola, era até mais vistosa do que tinha visto pelas fotos. Sua mãe optou por colocá-lo em uma particular pois em sua concepção, deveria ter acesso aos melhores ensinamentos possíveis. Não que fosse orgulhosa, mas era direito de uma mãe querer o melhor para seu filho. Fez uma árdua vistoria pela cidade, escolhendo assim a escola com maior influência.

— Woah. Aqui é realmente grande, espero não ter dificuldade em achar minha sala. — Olhei admirado. Vários estudantes andavam pelo pátio, me sentia no meio de um formigueiro. 

Com a ajuda de um dos funcionários consegui achar minha respectiva sala sem maiores problemas, chegando junto ao professor. Tive de me apresentar para todos, algo que não me agradava muito mas enfim, era necessário. A sala era aconchegante e todos pareciam ser bem receptivos me fazendo ficar mais à vontade. Escolhi um lugar do lado da janela, para que pudesse olhar a vista e as árvores recheadas de flores. Era bom poder sentir a brisa meio as aulas, deixava a manhã de certa forma mais agradável. Sentia que alguém me observava me fazendo procurar pelo dono do olhar que queimava sobre mim. Seu olhar era intenso me fazendo ruborizar, era um de meus colegas, preferi não manter aquele contato visual por muito tempo. Não podia negar o quão bonito ele era, mas não era hora de me deixar levar pro coisas tão fúteis.

O tempo passou rapidamente e quando percebi o sinal já tocava, anunciando o intervalo. Iria usar esse tempo para explorar outros lugares da escola, estava muito interessado em descobrir onde ficava a biblioteca.

Não tive dificuldade para chegar o local, mesmo que para isto tenha sido necessário subir algumas escadas. Ao entrar no local deixei meu queixo cair, estava maravilhado. Deveria haver milhares de livros ali, nunca tinha visto uma biblioteca tão grande. Livros, eu sempre fui apaixonado por livros, desde pequeno. A forma como a literatura nos tira da realidade e é capaz de nos fazer trabalhar nossa criatividade é fantástico. Certa vez, me arrisquei em escrever uma história amadora mas acabei não dando continuidade. Enfim, eu planejava explorar o máximo que conseguisse pelo curto espaço de tempo do intervalo. 

— Então gosta de ler?. — Ouvi uma voz rente ao meu ouvido, me fazendo assustar.

— Meu Deus. Você me assustou!. — Respondi colocando a mão no peito. Era o menino que me encarava pela manhã, seu olhar queimava sobre meu corpo.

— Desculpe. É que vi você sozinho e não contive a vontade de vir até aqui. — Confessou rindo sem jeito.

— Desculpas aceitas. — Ri enquanto me escorava em uma das prateleiras. — Você é o menino que estava me observando hoje na sala de aula. Porém, ainda não sei teu nome. — Suas bochechas ganharam um tom róseo, eu o tinha deixado sem graça. 

— Então você percebeu? me desculpe por aquilo, é que não tinha como não encarar, você é realmente muito bonito. — Explicou sem jeito, se aproximando mais.  — E se me permite falar, é ainda mais bonito de perto. — Sua voz saiu de forma rouca, fazendo meus pelos arrepiarem. Senti minhas bochechas queimarem pela aproximação repentina e ele pareceu perceber, soltando uma risada divertida.

— Você ainda não me disse seu nome. — Ele pareceu acordar do transe, ficando novamente sem jeito.

— Me chamo Jeon Jungkook, mas pode me chamar como preferir. — Abriu um grande sorriso me cativando a sorrir também.

— Você tem um belo nome, Jungkookie. — Elogiei aproveitando para repará-lo com mais atenção. Claramente não era só o nome que era bonito, o dono era infinitamente mais. O moreno era bem maior do que eu, tinha ombros largos e músculos visíveis, pelo físico deveria praticar esportes com frequência. Tinha a boca fina e seus dentes da frente eram avantajados, seu sorriso lembravá-me um coelho. Tinha olhinhos redondos como duas jabuticabas e seu maxilar era bem marcado dando-lhe assim um ar másculo. Seus cabelos lisos eram negros, raspados nas laterais, tinha inúmeras argolas nas orelhas que me chamaram muito a atenção.

– Suas argolas, que lindas. — Passei minha mão sobre uma de suas orelhas, brincando com as argolas.

— Você gosta?. — Perguntou de forma suave. 

— Sim. Combinam bastante com você e.. — Deixei minha voz morrer quando percebi o quão próximo nossos rostos estavam. O silêncio entre nós era avassalador, ele parecia estar perdido em meus olhos.

— Jungkook? Ô Jungkook? Cadê você cara? Filha da puta, você me deixou sozinho nesse lugar horrível. — Uma voz alta desviou o clima que pairava sobre nós, fazendo o moreno respirar fundo. 

— Estou aqui Taehyung. Estou aqui!. — Respondeu impaciente passando a mão pelos cabelos negros. 

— Pare de paquerar o novato e me ajude a achar o livro, esse lugar não me agrada e não quero ficar aqui por muito tempo. — O loiro agarrou-se em Jungkook enquanto olhava desconfiado para os lados, me fazendo soltar uma risada. Ele era cômico. Mas para Jeon não parecia estar nada agradável, já que o mesmo tinha uma carranca.

— Pare de drama Kim, é só uma biblioteca. Não é possível que você não consiga ficar sozinho por um segundo. Você é um homem ou um saco de batatas?. — Perguntou impaciente.

— Que pergunta é essa? é CLARO que sou um saco de batatas. — Disse abrindo um sorriso quadrado. Não me aguentei, caindo na gargalhada, ele era muito engraçado. — Viu? Ele ri das minhas piadas, só você que é um sem senso de humor e não sabe aprecisar um bom comediante. — Cruzou os braços mostrando a língua infantilmente para Jungkook.

— Só finja que não está vendo que ele vai embora, ruivinho. — O jeon segredou rindo de forma cínica. 

— Escuta aqui Jungkook, eu ouvi isso e..  — Um barulho estranhamente alto veio dos fundos da biblioteca. Taehyung soltou um berro nada másculo, pulando no colo de Jungkook que revirou os olhos preguiçosamente. 

Não consegui me conter, acabei tendo uma crise de risos pelo desespero exagerado do loiro. Ele era realmente cômico. Eu teria continuado a rir se um novo barulho não tivesse chegado ao meus ouvidos. Parecia que alguma coisa se rastejava.

— Podemos sair daqui? Acho que estou com um pouco de medo. — Uma má sensação se apossou do meu corpo. Não queria ficar mais nem um segundo naquele local. Talvez Taehyung não fosse tão exagerado assim.

— Vamos logo, esse lugar me dá calafrios.— O loiro nem se importou em pegar o livro que precisava, saindo como um relâmpago. 

Jeon e eu caminhávamos lado à lado um pouco distantes de Taehyung, que estava mais preocupado em se distanciar da biblioteca o mais rápido possível. O silêncio entre nós era confortável, mas descidi quebrá-lo soltando uma risada. 

— O que? Está rindo do que ruivinho?. — Fez um careta confusa.  

— Seu amigo é engraçado. — O moreno parou de andar, ficando na minha frente. 

— Me desculpe por aquilo. Sério! O Kim só me faz passar vergonha. — Passou a mão nos cabelos, sem jeito. Ato que me fez sorrir, mesmo sem graça conseguia ser totalmente sedutor.

– Não, não! Foi divertido, eu gostei. Vocês são queridos. — Deixei uma de minhas mãos pousarem em seu ombro, passando conforto. 

— E eu gostei de você. — Voltou a se aproximar, exatamente como estávamos na biblioteca. 

Já não era capaz de desviar meu olhar, me sentia congelado. Jungkook novamente me encarava daquela forma intensa, que parecia queimar sobre mim e mais uma vez naquele dia eu senti ruborizar-me. 

— Jimin.... — O sinal ecoou de forma estridente, estávamos debaixo de uma das sirenes que eram espalhadas por toda escola. Tive de tampar meus ouvidos pelo som extremamente alto e irritante. — Argh! Que droga. — Bufou e se revirasse um pouco mais os olhos certamente veria o cérebro. Ri com o meu pensamento bobo.

Decidimos não perder tempo com conversas fiadas e ir direto para sala, não seria nada agradável ganhar sermão de um professor no meu primeiro dia de aula. 

O restante da manhã passou rapidamente, dei boas risadas com as graças de Taehyung e as caretas de Jungkook. Eles até me apresentaram á um amigo que por sinal, foi muito simpático e acabamos ficamos bem próximos. Seokjin além de atencioso sabia sobre várias histórias obscuras dos alunos e funcionários, e eu como um bom ouvinte escutei tudo de boa vontade. Quem não gosta de uma boa fofoca, não é mesmo?

Arrumava meus materiais pensando o quanto aquela manhã tinha sido realmente agradável, até mais do que eu imaginei que seria.

— Já guardou tudo Minnie?. — Me chamou pelo apelido. — Vou te esperar para sairmos juntos. — Jin sorriu, sentando na cadeira vazia ao lado. 

— Sim. Podemos ir!. — Avisei colocando minha mochila sobre meus ombros. Caminhamos de forma tranquila para saída da sala.

— Já vai?. — Ouvi a voz de Jungkook novamente rente ao meu ouvido e novamente me assustei.

— Você realmente gosta de me assustar, não é?. — Cruzei meus braços rindo de forma contida.

— É que você dá um pulinho quando se assusta, é muito fofo. — Colocou as mãos no bolso, abrindo um sorriso cativante.

— Já vi que estou sobrando. Tchau jimin, tchau jungkook, até amanhã!. — Jin se despediu me dando um abraço apertado. 

— Onde está Taehyung? Já foi embora?. — Perguntei procurando pelo loiro.

— Que nada! Só foi ali comprar umas coisas e eu fiquei aqui esperando. Queria te ver antes de ir embora. — Se aproximou passando a mão em minhas madeixas. — Seus cabelos são macios, tem uma cor bonita também. — Seu toque era extremamente bom, me fazia relaxar. Seus dedos deslizavam entre meus fios de forma satisfatória, fechei meus olhos para me aproveitar melhor aquela sensação.

— Você acha?. — Respondi arrastado, estava ficando sonolento com a carícia. 

— Você é bastante cheiroso também. — Ousou se aproximar de forma perigosa, cheirando minhas madeixas. Por impulso coloquei minhas mãos em seu peito, colocando meu peso sobre seu corpo.

— Você também é cheiroso. Muito cheiroso!. — Segredei baixinho. O maior tinha um cheiro forte, másculo, me passava segurança. O tipo de cheiro que fica na sua mente, que empregnega em suas roupas em um simples abraço, um cheiro gostoso.

— Jimin, me passa seu número? Quero muito conversar com você fora daqui, queria te convidar pra sair um dia desses. — Disse me fazendo levantar o olhar. Tinha parado com as carícias e isso me fez querer pedir para que continuasse, achei melhor me controlar.

— Claro! Passo sim. Eu adoraria sair com você um dia desses. — Peguei seu celular anotando meu número, entregando de volta logo em seguida.

— Park jimin, então é assim que se escreve seu nome. Que fofo!. — Sorriu enquanto encarava o celular, me fazendo rir junto.

Iria continuar o assunto se uma buzina famíliar não tivesse chegado aos meus ouvidos, era do carro da mamãe. Me despedi do maior dando-lhe um abraço apertado e um beijo demorado na bochecha, correndo em direção ao carro. 

Olhei pela janela e pude ler seus lábios, neles me diziam de forma silenciosa " até amanhã". 

Ao chegar em casa corri para meu quarto, me sentia cheio de inspiração. Não demorei para arrumar meus pincéis e materiais restantes para pintar, me borbulhar, fazia tempo que não me sentia inspirado assim. Ao olhar para tela branca só conseguia lembrar de um determinado moreno, do sorriso de coelho e das argolas prateadas.

— Já sei quem será minha arte hoje. — Sussurrei, deslizando o pincel banhado de tinta pela tela.