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História Jantar Romântico - Capítulo único.


Escrita por: AliceDracno

Notas do Autor


Feita para o desafio terror. Também postada no Nyah!
Beijos, e obrigada desde já!

Capítulo 1 - Capítulo único.


Entrou no supermercado e foi até os carrinhos de compra. Pegou um e o empurrou a frente de seu corpo. Dentro dele, começou a colocar duas garrafas de vinho, carne, cogumelos e outras coisas. Ingredientes para um jantar romântico. Incluiu velas e fosforo.

Pegou flores, bombons, morangos e chocolates. Queria tudo perfeito, perfeito como Jeffrey gostaria. Tinha saído do salão de beleza antes de entrar ali, e por isso seus cabelos louros e lustrosos estavam impecáveis. Suas unhas, no tom carmim, tão bem cuidadas tocavam levemente cada alimento de modo sensual. Muitos homens a olhavam e desejavam. Bom, quem não iria desejar Lilian?

Ela passou tudo pelo caixa, sendo elogiada pela mesma:

—Algo especial? —Lilian riu e assentiu.

—Jantar romântico para meu marido — sorriu para a atendente, que correspondeu. Se havia uma coisa que todas as mulheres entendiam, era o significado de um jantar romântico para o marido. E mesmo aquela caixa tendo aproximadamente 18 anos, ela entendia completamente.

—Boa sorte —piscou para ela. Pagou com dinheiro e saiu, com a ajuda do entregador de compras. Ele estava hipnotizado pela beleza da mesma. Ele olhava para a jovem esposa com um olha analisador. Quem olhava para a mulher de 27, não pensava que ela já era casada e que tinha um filho de três anos. Ele fez o favor de ir com ela até o carro, colocando as sacolas em seu porta malas e se despedindo com um doce e gentil sorriso.

Antes de dar partida no carro, arrumou o espelho retrovisor e retocou o forte batom vermelho, que contrastava com os fios louros e os olhos celestes. A unha vermelha condizia com a personalidade quente dela, assim como o batom. Deu uma última arrumada nos fios louros, os cachos emolduraram melhor o rosto fino e livre de imperfeições.

Sorriu satisfeita. Ah, a beleza de sua jovialidade ainda brilhava naquele rosto, naquele corpo.

Seguiu para casa, o jardim verdejante, gritando naquela tarde morna de outono. Sorriu novamente para a casa amarela parda. Colocou o carro na entrada da garagem e desceu, com a bolsa preta da Gucci com uma das alças caídas.

Quando os sapatos Jimmy Cho de salto fino bateram contra o cascalho, fizeram um barulho alto, ela quase se desequilibrou. As crianças do vizinho não estavam no jardim, seu filho e os vizinhos (com seus filhos) deveriam estar no shopping. Festinha daquelas que levam horas no cinema do shopping e depois no boliche.

Abriu a porta da casa com dificuldade, as bolsas pesavam. Quando entrou, sentiu o frio dos cômodos. Foi até a mesa da sala, colocou as compras em cima dela e, por fim, seguiu até o termostato arrumando-o para aquecer levemente.

Voltou a mesa, levou as sacolas até a cozinha e começou a preparar o jantar. Cortou os cogumelos e a carne, temperando a última e a cobrindo dentro de um tabuleiro médio. Colocou as cenouras, batatas e outros legumes dentro de uma panela para cozinha. Ligou o forno em 180 graus.

Depois de cozidas, dispersou as batatas, a cenoura e os legumes ao redor da carne, jogou o molho, cortou as cebolas em rodelas e colocou por cima e, por último e não menos importante, apertou uma laranja e molhou a carne com o suco.

Suspirou e lavou as mãos.

—Agora, vamos trocar de roupa pra faxina! —Disse para si mesma. Andou até o banheiro e trocou de roupa, usando uma velha que ninguém mais lembrava que ela tinha, sequer ela lembrava. Devia ser de 2006, quando ainda estava no início da faculdade. Levou um susto quando a encontrou no fundo de seu guarda-roupas.

Seus seios ficavam apertados e o quadril aparecia naquele vestido curtíssimo, parecia costurado a pele dela. Voltou a cozinha, talvez seu marido gostasse do que visse se chegasse ali naquele instante: ela, de vestidinho mínimo, esfregando o chão com uma escova de roupas, limpando o sangue da vadia da amante dele. Que cena maravilhosamente bela. Quase riu disso.

Olhou para o rosto da mulher cortada debaixo da mesa. Suspirou e depois ficou analisando. O que ela tinha de especial? Cabelos e olhos castanhos, pele com sardas laranjas, nariz fino, boca miúda e sem cor... ela era comum e não eram o tipo de beleza extravagante. Nada de beleza delicada.        

Já conhecera mulheres de beleza simples, porém delicada. Sua mãe, por exemplo, era lindíssima com seus curtos cabelos negros e olhos castanhos.

Parou de refletir sobre a beleza da miúda mulher morta. Voltou a limpar tudo, com bastante cloro e água sanitária. O sangue foi retirado, em quase todo. Só falta uma coisa: desmembrar o corpo e guardar dentro de sacolas e coloca-la onde realmente fora morta, o banheiro.

Cantarolando, andou até a terceira gaveta do armário abaixo da pia. De lá, tirou um enorme cutelo que reluziu na luz pálida da cozinha. Se a outra estivesse viva, arregalaria os olhos diante da imponência do cutelo.

Agachou, pegou o braço dela, apertou a lamina contra o cotovelo, onde a cartilagem separava o braço do antebraço, ergueu duas vezes curtas, mirando, pra então subir até atrás da cabeça, pegar impulso e enfiar a lamina contra a pele morta.

Um barulho oco soou, como um grunhido do osso sendo repartido. Seu curso de enfermagem, que fez na adolescência, ajudou muito em saber onde cortar.

Quinze subidas e descidas fortes de braço, cortes precisos e firmes. Começou a cantarolar, assoviando, enquanto partia os pedaços e os colocava numa sacola. As mãos eram firmes e fortes graças a academia e a infância na fazenda.

As grandes sacolas foram carregadas para o banheiro. Jogou cada conteúdo dentro da banheira cheia d’água. E gelo. Conservaria o corpo até seu marido chegar. Agora, só tinha de se livrar de suas roupas ensanguentadas e das roupas da jovem. E colocar para lavar as roupas ensanguentadas de seu marido.

Folhas, galhos, plantas, papeis e madeira podre dos vizinhos, entre essas coisas, as roupas com sangue. Aquela casa tinha o cremador, ou quase, já que era um enorme forno de cremar, já que quando os avos de Jeffrey compraram a casa, ela funcionava como uma casa funerária. Nem os pais de Jeff, nem eles próprios quiseram se desfazer dela. Sempre queimavam moveis e outras coisas, como um sofá uma vez, que não podiam ir para o lixeiro.

Com o tempo, viram naquilo uma maneira de ganhar um extra. Por dez dólares o quilo, eles queimavam madeira e outras coisas que não iam ao lixo. Já ia dando seis da tarde quando ela levava as provas do crime até o cremador.             

Colocando lá, entre lixo e madeira podre, acendeu o fogo e fechou a portinhola, como João e Maria fizeram com a bruxa no conto.

Bateu as mãos, se livrando do pó que não existia. Suspirou, observando a fumaça negra e acre subindo para o céu cinzento. A sensação prazerosa de trabalho bem-feito tomou conta do corpo dela. Voltou para casa, os saltos altos ecoando para a cozinha, deu uma olhada na comida e depois foi para o banho.

Trocou novamente de roupa, enfiando-se num vestido tubinho negro com leves babados e colocando saltos negros com sola vermelha. Novamente na cozinha, o relógio tocou no instante que pisou lá dentro. Tirou o assado do forno, observou melhor a textura e desligou o forno, enfiando-o lá dentro novamente, para se manter quente.

Alface americana, tomates cereja, pepinos, cenoura ralada, grão de bico cozido, azeitonas pretas, molho leve de limão com maionese e pedacinhos de queijo. Ingredientes para a salada que sua mãe fazia quando ela era criança. Quem olhasse pela janela, veria uma dona de casa comum.

Cantarolando, embrulho o pote de salada em papel sulfite e colocou na geladeira.

Enfiou o vinho branco e o vinho tinto na geladeira, Jeff gostava de ter escolhas. Ele não teria a chance de escolher entre a loura e a morena, por que não dar a ele a escolha da bebida de seu último jantar?

Arrumou o cabelo mais uma vez e, depois, se colocou a arrumar a mesa para o jantar. Tudo como a etiqueta manda. Faltava meia hora para seu marido querido chegar do trabalho no banco. Uns 45 minutos para ele chegar e reparar que não encontraria a amante em casa. Não transaria com ela na cama de casal que dividiam.

—O desgraçado nem para pagar um motel —rosnou. Colocou a mesa e se sentou, com o rádio ligado.

Paciente como era, sentou e esperou. Como boa dona de casa, paciência era uma das virtudes dela.

A suculenta carne ficou pronta em exatos trinta minutos, quando Jeff entrava pela porta. Quando viu o marido, abriu um enorme e receptivo sorriso, se levantou e o beijou na boca.

—Tem vinho branco e tinto na geladeira, querido —sorriu com leve tom de sadismo. Jeff olhou ao redor, talvez procurando a amante morta. —O que foi, Jeff?

—Nada, amor, nada. —Beijou a testa da esposa e completou: —Vamos jantar. —Ele pegou o branco. Típico dele.

Nada mais foi dito. Ambos se sentaram e começaram a comer.

—Como foi seu dia, querida? —Ele perguntou, tentando ser simpático. —Não voltaria só amanhã?

—Tecnicamente, sim —sorriu para ele, dando uma piscadinha. —Mas falei para Mary e Julius que voltaria só amanhã, e eles ficarão com Jason até amanhã as oito.

—Bem, não reparou em nada de diferente quando chegou? —Lilian negou com a cabeça, dando um sorriso estranho.

—Não, amor. Nada.

—Como foi de viagem? —Mudou rapidamente de assunto. A loira tinha de admitir que ele era esperto. Contudo, não sabia o que a outra havia visto nele de tão especial. Moreno, olhos castanhos, nem alto nem baixo... sarado, sim, lindo, sim; contudo, comum.

Deixou de lado. Se entrasse nesse assunto, deveria começar a se perguntar porque se sentiu atraída por ele, pra início de conversa. —Muito bem, Dinah mandou lembranças! —O sorriso cínico brincou no rosto dela. —Como a carne está?

—Muito boa, tem que me contar como faz isso, pra mim não morrer de fome quando você voltar a viajar. —Brincou ele.

—Ah, querido, você não vai ter que se preocupar com isso mais —ela disse, com escarnio. Comeu outra garfada de salada e passou a língua sob os lábios vermelhos e voluptuosos. Ele começou a sentir a garganta um pouco ressecada.

—O que quer... —engasgou com saliva e teve que coçar a garganta para continuar dizendo, com a voz arranhada: —O que você quer dizer com isso?

Ela abriu o enorme sorriso, que ele chamava de sorriso de boneca quando estavam no colegial, para dizer com a maior apatia do mundo:

—Você não vai sobreviver para ver minha próxima viagem, Jeff —ele engasgou novamente, e ela não soube se foi pelo que disse ou pelo veneno.

—Lilian, o que você colocou na comida? —Tremeu. Sentia falta de ar, tremedeiras leves e começou a tossir.

—Veneno —disse e maneou a mão com o garfo para continuar dizendo casualmente: —Pensei inicialmente em uma arma, mas faz barulho e sujeira demais. Eu não teria forças para te estrangular e, com certeza, ninguém acreditaria que você se matou. Acidente forjado sempre acaba em prisão... então, só e restou o bom e velho veneno. A arma mais feminina, não?

Um estalo veio à mente de Jeff. Jeniffer!

—O que fez com Jeniffer? —A estranha mensagem que recebeu da amante, em que  dizia para que ele estivesse ali naquele horário, não batia com o feitio de Jenny. O sorriso dela comprovou o esperado e ele tremeu pensando no que poderia ter acontecido.

Ela revirou os belos olhos azuis e disse: —Acalme-se, ela está desmembrada no banheiro.

—Por que você fez isso, Lilian? —Ela começou a rir, como se ele tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.

—Vocês dois me traíram. Queria que eu ficasse feliz com o chifre? Me desculpe, mas passo —segurou a faca que usou para cortar a carne e apontou para ele, inclinada sobre a mesa, agora ela estava séria. Jeff sentiu o medo se apossar de si. Agora ele reconhecia o vestido, ele deu a Jeniffer. Ela notou que ele analisava suas roupas e sorriu: —Mil e quinhentos dólares num vestido para ela... e você mendigando duzentos para seu filho. Desgraçado!

—Como você pode? —A voz dele saiu como um sussurro frágil. Tentou se levantar, mas não conseguiu, caiu no chão tremendo e tendo convulsões.

—Como eu pude? Como eu pude? Como vocês puderam! —Não gritou, mas disse bem alto. —Ela era minha melhor amiga, seu filho da mãe! E agora, você vai morrer como o verme que é! Tremendo nesse chão, enquanto eu aproveito o show!

—Você não vai escapar dessa!

—Pelo amor... é claro que vou! Tecnicamente eu estou em Nova York, na casa vazia de minha prima. Além disso, quando fizerem sua autopsia, o veneno já terá sido degradado e vão achar que foi ataque cardíaco, encadeado por você matar sua amante. —Sorriu diabólica. —Eu serei a pobre esposa traída e viúva. Vocês, os vilões.

Ele engasgava, mas ouvia bem o que ela dizia. Se espantava a cada frase, a cada sorriso. Medo e horror entravam em sua mente. Se casara com uma psicopata. 

Sua visão turva só permitiu que ele voltasse a ver o sorriso de boneca, mas que agora não era lindo, e sim horrível. Horripilante. 

—Além disso, ficarei milionária com o dinheiro de seu seguro de vida —ele voltou a tremer. Logo, ele revirou os olhos e morreu definitivamente. —Droga, nem teve show direito.

Soltou um muxoxo de desaprovação e andou até o banheiro, com luvas, puxou o ralo da banheira e o deixou vazar até sobrar somente o gelo, que derreteria quando ela aumentasse o termostato.

Pegou sua bolsa e saiu de casa, andando calmamente até o carro, com placa forjada, na mesma marca e modelo que o carro de Jeff, que estava na garagem. Dirigiu de volta a Nova York com o carro alugado, voltou para a casa de sua prima antes dela voltar e completou o álibi perfeito.

(...)

Na manhã seguinte, as nove, chegou em casa. Policiais rodeavam a casa com viaturas por todo lado. A facha amarela da polícia cruzava o quintal de sua casa. Bancando a desesperada, passou pela facha e caminhou com os Jimmy Cho até seu filho, que estava nos braços de Mary, a vizinha.

—Mas o que é que está acontecendo aqui? —Murmurou, nervosa, para o primeiro policial que viu. O mesmo a segurou pelos ombros e perguntou quem ela era: —Lilian Perry, dona da casa.

Viu dois CSI olharem para ele e assentirem. O policial passou a língua pelos dentes e lábios antes de dizer: —Seu marido matou Jeniffer Alan e depois morreu do que aparenta um ataque cardíaco.

Enquanto por fora aparentava estar sem chão, por dentro gargalhava em felicidade. Apertou os ombros de seu filho, Jason, e beijou a testa dele em meio aos fios negros. 

O menino olhou-a com seus lindos olhos azuis e a abraçou, procurando carinho. Mecanicamente, Lilian retribuiu. 

(...)

Naquela mesma semana, Jeffrey e Jeniffer foram enterrados. Lilian não compareceu ao da falecida amiga, já que os jornais estampavam a traição, mas apareceu no do marido com o filho. Foi ela quem jogou a primeira rosa branca e quem jogou a primeira pá de terra.

Sorriu ao sair do cemitério, além de tudo, dançou sob o tumulo dele. Novamente, ela ostentava o sorriso que marcava vidas. Ali, pintado nos lábios roxos, estava novamente o sorriso de boneca que não condizia com uma esposa de luto. Porém, ninguém notou como ela estava realmente por baixo do véu negro que usava. 

Ao seu lado, seu miúdo filho, apertando-lhe a mão.


Notas Finais


Obrigada, pessoal. Se puderem comentar seria muito bom, também. Opiniões e críticas construtivas são bem vindas. Também é para as 13 histórias de terror de um outro desafio.


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