História Jardim do Tempo - Introdução

O céu estava salpicado de estrelas brilhantes, meus olhos verdes estavam atentos porque o solstício de verão tinha chegado, faltava somente um dia para o Natal. Nós não tínhamos neve, mas tínhamos os fogos de artifício que tomavam os meus olhos enchendo-os com o seu brilho. Meu namorado olhou para mim, disse o quanto estava bonita dentro daquele vestido verde esmeralda com algumas pedrinhas espalhadas que ficavam brilhando em torno de todo ele. Os meus cotovelos estavam apoiados na varanda que ficava no segundo andar da casa dando vista total para toda a rua, eu me virei em direção a ele e soltei um sorriso tímido.

  – Você também está lindo. – Eu disse, mantendo o contato visual por algum tempo, aquele olhar dele de volta para mim era calmo.

Por algum motivo nossa atividade favorita no natal era nos prepararmos para a lista de atividades de natal olhando os fogos um dia antes da data em si. As atividades incluíam, ouvir músicas e dançar com meias no meio da sala, desenhar em folhas de oficio e praticar a minha pintura (que não era das melhores), tocar músicas divertidas e o mais importante de tudo: Juntar a família a todo custo, esse era o espírito de Natal, a união. É o que a minha mãe sempre diz.

Tony (o apelido carinhoso para o meu namorado), vai dormir na minha casa hoje, fiquei surpresa quando papai simplesmente não ficou furioso com a idéia, ele não era uma pessoa má, ele é aquilo que as pessoas conhecem como “Pai extremamente preocupado e protetor”, mas ele é com certeza uma das melhores pessoas do mundo, quando  olho para ele eu sei que ele é o tipo de pessoa que ficaria para sempre ao meu lado. Apesar de parecer explosivo costuma se acalmado pela minha mãe com um simples beijo de gente velha.

Minha mãe diferente dele vibrou bastante com a idéia, ela ficou muito feliz um ano atrás quando tínhamos dado o nosso primeiro beijo, eu entrei em casa envergonhada puxei-a pelo braço e disse tampando o meu rosto que tomava a forma de um tomate por conta da vergonha. Ela é realmente muito bonita, tem os olhos castanho claro, pele branquinha, um corpo como de uma mulher que nunca teve filhos, nariz arrebitado fino, sorriso encantador e um cabelo longo vivaz com mexas loiras por entre o castanho bastante escuro.

Papai, beijou a minha mão assim que eu entrei em casa.

   – Está ansiosa pelo natal? – Ele me perguntou olhando diretamente com aqueles olhos verdes, eu realmente nunca soube de quem ele tinha puxado isso, vovó e o vovô não tem olhos verdes, mas meu pai e a tia tem os olhos assim, por sorte segundo a minha outra avó eu puxei aqueles olhos, me disseram que ela pulou naquele momento de felicidade por eu ter puxado a “parte mais bonita do meu pai”.

   – Arrãn – Eu sorri e o abracei. Não saberia dizer muita coisa a mais, por alguma razão não conseguia transformar meus pensamentos tão bem em palavras, meu pai dizia que isso era muito parecido com a minha mãe, ela também não era lidava tão bem com palavras e era direta de forma geral, será que as pessoas me achavam muito fria por isso?

Ele me rodopiou no seu abraço e todos na sala acabaram rindo, minha mãe o parou e deu um beijo na minha testa.

   – Você vai acabar quebrando sua filha, Grande Hércules  –  Ela brincou. Eles tinham um humor tão pessoal que ficava surpreso como os dois se comunicavam com o olhar, era invejável aquele nível de ligação mesmo convivendo quinze anos com eles continuo me mantendo surpresa quanto a isso.

Meu irmão também estava na sala, geralmente ele era um idiota mas eu não o odiava, eu sei que Sebastian me protegeria em qualquer situação assim como o meu pai faria por mim, incrivelmente ele tinha muitos aspectos do meu pai, quase como se ele fosse a mistura perfeita, seu corpo era relativamente magro de mais ou menos um metro e setenta, o cabelo dele se parecia muito com o da minha mãe sem as mexas loiras, seus olhos tinham os verdes do meu pai e a sua pele apesar de não ser rubra como a do meu pai estava alguns tons acima da minha mãe.

   – Hey, Ton, quer jogar? – Ele disse para o Tony, a relação de Tony com o Sebastian era melhor do que a minha, parecendo dois irmãos fazendo o tempo todo coisas juntos, não me surpreendendo nem um pouco quando o meu pai estava no meio disso se tornando então “Os três mosqueteiros” com a fantasma aqui apenas observando eles se divertir.

Enquanto os três se divertiam com o bom e velho Xbox, eu e minha mãe fazíamos uma das coisas que eu mais gostava, como um ritual para o novo ano que chegava. Todos aqueles objetos que foram importantes para o meu ano ganhavam lugar em uma caixa onde seriam devidamente guardados e separados dos outros objetos, esse ano eu estive me superando consegui encher duas caixas com todas aquelas coisas, por fim, eu tinha batido as duas mãos e soltado um longo suspiro.

   – Obrigado, mãe. –  Eu disse animada  – É bom fazer isso junto de você todos os anos. –  Continuei, ela realmente ficava empolgada a ouvir o quanto eu gostava de fazer essa atividade com ela, o que ela não poderia imaginar viria a seguir, meu pai aparecendo do nada e se jogando por cima dela e de mim ao mesmo tempo.

   – Eu amo vocês, meninas. – Ele abraçou tão forte que perdi o ar por alguns instantes.

Acabamos nos jogando na cama em uma posição interessante, meu pai estava do lado esquerdo com os braços esticados para a frente e me olhava com carinho, minha mãe estava do outro lado e fazia o mesmo mas com as mãos em mim, e eu ali naquele meio recebendo toda aquela atenção.

   – Você sabe o que isso me lembra, certo, amor? – Minha mãe disse o olhando.

   – Sim. – Ele soltou uma pequena risadinha  – O meu sonho, estávamos exatamente assim mas ela deveria ser apenas um bebê.. – Ao ouvir aquilo só pude pensar que talvez eu ainda fosse um bebê sem muito conhecimento sobre o mundo e foi no meio do abraço mais caloroso do mundo que eu pude está aquela noite, era sem dúvidas o melhor dia da minha vida (exceto pela vez em que pude comer quase toda a pizza já que papai e Sebastian estavam com o estomago ruim )

Tony dormiu na sala com Sebastian, papai e mamãe ficaram no quarto mas hoje acabei sentindo estranhamente uma vontade de continuar no meio deles, sendo mimada como uma garotinha de 5 anos, apareci na porta do quarto deles de noite e pedi para deitar entre eles mamãe limpou a baba no rosto rapidamente e disse “tudo bem”, meu pai também não se importou e acariciou a minha cabeça, após uma noite de sono faltaria somente algumas horas para o natal.

A correria começou ainda cedo, o fato é que minha mãe LEVA MUITO A SÉRIO o natal, e eu também o LEVO MUITO A SÉRIO, logo estávamos as duas loucas. Papai estava cozinhando a maioria dos pratos, eu achava engraçado o fato de ele não gostar de metade daquilo e mesmo assim está os fazendo porque mamãe adorava. Meu pai anotou uma lista de produtos para eu comprar no mercadinho com o Tony e disse que precisava disso para terminar de fazer os preparativos com a minha mãe, provavelmente minha avó iria aparecer de tarde para ver como as coisas estavam.

A parte mais legal sobre o mercadinho é que ele estava bem na minha esquina então não deveria ser tão difícil comprar algumas coisas. Foi o que eu pensei um pouco antes de chegar naquele verdadeiro formigueiro humano, as pessoas realmente deixavam as compras para a última hora por isso os mercados estavam lotados, mas cerca de cinqüenta minutos depois eu e Tony conseguimos sair de lá com as sacolas.

   – Vamos correr? – Eu perguntei para ele pegando-o de surpresa quando parti em disparada.

De pouco adiantou ele me alcançou rapidamente, e riu. Distrai-me só por alguns segundos e acabei tombando com as coisas da sacola, ralando o joelho (por sorte eu estava usando short, seria muito vergonhoso exibir a minha calcinha no meio da rua, mas um joelho ralado por está correndo não é tão melhor, com certeza não é).

Até hoje não pude perceber exatamente o que poderia haver em alguém como eu que fizera Tony se apaixonar, estava me sentindo idiota naquele instante, ele se ajoelhou e soprou o arranhou no meu joelho e logo em seguida ofereceu a sua mão para que eu pudesse me levantar.

   – Como eu te adoro. – Eu disse enquanto levantava com ajuda dele.

Foi naquele momento que algo como um enorme clarão me ocorreu, meus olhos se encherem com aquele brilho cegante, toda o mundo a minha volta também estava branco meu corpo estava sendo levado entre arcos dourados gigantescos e brilhantes que giravam incessantemente em volta deles mesmos como se fossem um grande orbe espiral .

Eu não fazia a mínima idéia de porque eu estava sendo levada, eu não sabia o que estava acontecendo ou onde eu estava indo.. “Sophia o que você fez com você mesma” foi a última coisa em que eu pensei antes dos meus olhos se fecharem.