História Je t'aime - Ahh o amor e sua loucura

Acordar sempre é a parte mais difícil, ou pelo menos eu achei que seria a parte mais difícil se considerar o martelar inconsciente de dor na minha cabeça, o peso em meus olhos, revirar do estomago e frio que parece penetrar nos meus ossos. Mesmo com a visão embaçada levanto a cabeça e abro os olhos tentando entender onde estou, sinto meu corpo pesado e cansado, tento mexer meus braços apenas para perceber que eles estão amarrados atrás de mim em uma posição que já foi extremamente desconfortável, não que eu possa sentir nesse momento já que eles se encontram dormentes .

- Você finalmente acordou, sabia que machucar alguém desmaiado não é tão divertido?- viro minha cabeça dolorida para onde a voz parecia vir e de um canto escuro, não que o quarto seja o mais iluminado, vejo essa garota que mais parece uma princesa saída dos contos de fadas, não parecendo ter mais de 15 anos sentada em um dos cantos, seu rosto bonito e delicado parece entediado, seus cabelos longos e loiros tem manchas escuras assim como seu vestido e sinto vontade de vomitar quando percebo finalmente que aquelas manchas escuras são meu sangue.

- Olá...- a encaro achando seu rosto extremamente familiar apenas para perceber que não sei seu nome ou mesmo o porque de sua familiaridade, me dê um desconto por favor, minha cabeça parece a ponto de explodir.

- Daina.- sua voz soa como sinos mas seu tom é quase machucado com minha falta de memória.

- Soa como Diana, a deusa da caça.- falo tentando me concentrar, ganhar tempo e principalmente encontrar uma forma de sair desse lugar que não faço ideia de onde seja.

- você fez a mesma piada quando conversamos pela primeira vez..- fiz?

- quando?- minha grande curiosidade não me deixa ficar de boca fechada.

- No reino de minha rainha, foi lá a primeira vez que te vi, com aquela ruiva destemida e o loiro com cara de quem pede pra levar uma surra, eu olhei pra você e percebi que você tinha algo de diferente, talvez por ser vampiro e mesmo assim ser tão... humano.- que? Penso comigo mesmo olhando o mais discretamente possível para a sala de paredes escuras, pouco iluminada e sem moveis além da cadeira em que estou sentado e uma mesa longa e cheia de objetos que parecem bastante dolorosos e, espera, aquilo ali é um saco de sal? Quem ela vai exorcizar?

–Depois nos reencontramos naquela festa do tal Bane- ela continua o que talvez será um longo e malvado monologo.- Finalmente tive coragem de me aproximar, você fez essa mesma brincadeira com meu nome, conversamos por um tempo e então ele chegou fazendo cena tomando território, encostando aqueles lábios imundos nos seus e o puxando pra longe sem nem ao menos perguntar se era isso que você queria.- suas mãos de repente estão em meu rosto, mais especificamente em minha boca em um carinho leve que me dá ainda mais medo do que se ela estivesse forçando ou tentando machucar de alguma forma.

- Eu lembro vagamente desse dia.- comento mais pra mim mesmo mas ela faz um som de quem escutou o que eu disse.

- logo depois todos aqueles rumores surgiram e eu apenas não conseguia entender, quer dizer, porque você escolheria uma um vampiro bebedor de sangue, impuro? Ainda mais Santiago?- e eu era o que mesmo quando nos conhecemos?

- Um vampiro bebedor de sangue ou uma fada louca e psicopata? Sem nem como poderia pensar antes de escolher.- ela que tinha se afastado volta para perto segurando uma faca aparentemente muito afiada e senta no meu colo como se tivesse todo o direito de estar ali, suas pernas de cada lado das minhas e seu rosto apenas a centímetros do meu.

- Não seja tão sacastico comigo Simon, lembre-se que sua vida ainda está em minhas mãos.- sua voz não é mais que um sussurro quente em meu rosto e em um movimento sinto minha pele ser rasgada na altura do ombro, dor radiando desse ponto para parte do meu corpo e mordo o lábio até provar meu próprio sangue apenas para não dar a essa louca o sabor de saber o quanto seu machucado doeu.

- porque ir atrás do Raphael se você queria a mim?- o plano ainda é ganhar tempo, no fundo eu sei a resposta pra essa pergunta, só não quero saber.

- Ele não te merece, achei que se tirasse ele do caminho ti teria pra mim mas então você se sacrificou pelo Bane, a nova lei ao redor é que não podíamos chegar perto de você então te vigiei de longe, te mantive seguro como pude e então quando suas memórias voltaram eu pensei que finalmente te teria pra mim, mas você correu pra ele como um cachorro sem dono... achei que depois que você descobrisse que me ama iria esquecer aquele filho da noite mas não, você voltou pra lá e pior, tentou trazer ele de volta.- me sinto cansado e tonto pela perda de sangue e excesso de informações, ainda tentando processar essa loucura toda.

- então porque eu to aqui?- sinto minha voz fraca e meu corpo pedindo ajuda, eu me sinto fraco e cansado quando de repente uma dor novamente irradia do meu ombro pra todo o meu corpo me fazendo jogar a cabeça pra trás e gritar até quase perder a voz.

- Se não posso te ter pra mim, então ninguém mais terá.- ela sussurra em meu ouvido enquanto tira a faca do meu ombro mais uma vez, se levanta do meu colo e caminha para a mesa de objetos que eu REALMENTE não quero saber o que são.

- A Rainha disse que o preço pela magia será cobrado.- falo tentando me dar alguma coisa pra manter o foco, pra me manter acordado até que a ajuda chegue... se chegar.

- Ah, a Rainha. Ela não sabe que sou eu afinal como ela desconfiaria de sua pessoa mais confiável e que sempre esteve ao seu lado pra tudo? - tudo que eu consigo pensar nesse momento é... Merda.- Afinal Simon, como você acha que eu tive acesso ao Livro de Magia?- Há barulho de passos ao longe mas ao contrário do que esperava não vejo susto ou apreensão em seu rosto, apenas a mesma expressão de boneca de cera que me faz ter arrepios.

- Desculpa Caramelo, mas acho que está na hora de terminar com tudo aqui.- Meu corpo se arrepia ao escutar o apelido que Camille me deu e fecho os olhos, parte por causa da tontura, parte esperando o golpe que nunca chegou.

Ouço um barulho parecido com o de uma porta sendo derrubada mas não tenho forças para abrir os olhos, por um segundo nenhum som é escutado por mim e então uma mão macia acariciando meu rosto e um sussurro em meu ouvido dizendo que tudo vai ficar bem em meio a alguns gritos de ajuda é tudo que sinto e ouço antes de tudo se apagar de vez, mais uma vez.