O alarme do relógio no criado ao lado da minha cama toca incansavelmente. Odeio acordar com o maldito barulho saturante, ainda mais pelo fato da minha cabeça estar explodindo feito fogos de artifício.
Bufo, notavelmente irritado, levando minha mão às cegas até o aparelho, pretendendo desligá-lo do ruído infernal. Porque minha cabeça dói como se eu tivesse passado a noite inteira bebendo? Porra, preciso de uma aspirina.
Abro os olhos com lentidão, minhas pálpebras ligeiramente doloridas. O quarto está iluminado de forma paupérrima por um feixe de luz que atravessa a persiana da janela ao longe. Foco minha visão ainda embaçada nos números do relógio digital, notando ser oito e dezessete da manhã.
Merda, tenho que ir trabalhar.
Amaldiçoando tudo o que consigo me lembrar, de todos os nomes que conheço, levanto da cama com lentidão, meu corpo dolorido em algumas regiões. Por falar em corpo, estou usando uma calça jeans úmida, que mal me recordo porque diabos não a tirei antes de deitar. Ou o porquê de ela estar úmida, claro.
Odeio não saber o que está acontecendo, ou aconteceu. Merda.
Suspiro, abrindo o botão e puxando o zíper em seguida, retiro a peça das minhas pernas, uma de cada vez. Por hábito, checo os bolsos, encontrando um papel num deles, da parte de trás. Seguro o papel também úmido e meio amolecido entre meus dedos, observando-o com interesse.
Era o mesmo que Noah viera entregar pra Baekhyun, tinha quase certeza. A forma como estava dobrado era a mesma, além de possuir a mesma tonalidade de folha. Ergo minhas sobrancelhas, desdobrando-o com cuidado para não rasgar, devido à sua fragilidade excessiva no momento.
Ponderando em como esse papel acabou terminando no bolso da minha calça, fixo meus olhos nas poucas palavras presentes ali, borradas e quase apagadas pela água. Estreito os olhos, tentando discernir o que dizem, com muita dificuldade.
Há uma junção de letras dispostas em duas linhas e alguns números no canto superior à esquerda. Mas estão tão desfigurados que mal consigo ler o que está escrito. O que poderia ser, enfim?
Suspiro incomodado, deixando o papel sobre o criado, desistindo de entender qualquer coisa. Temporariamente, pelo menos. Eu não funciono descentemente enquanto não tomar um banho pra acordar por inteiro. Nem sem meu café diário, de preferência na Starbucks.
Caminho para o banheiro, mal me olhando no espelho enquanto passo por ele para entrar no box. Girando o registro, a habitual água em temperatura agradável caindo numa ducha confortável sobre meu corpo. Deixo outro longo suspiro escapar ao fechar os olhos, relaxando os músculos nas minhas costas e ombros, estranhamente tensos.
Hoje está um dia frio, extremamente convidativo para passá-lo inteiro em casa, sob os cobertores. Coisa que eu não posso me dar ao luxo de fazer, se quiser continuar pagando minhas contas em dia.
Deslizo o sabonete pelo meu corpo, lavando-me com lentidão e preguiça, desejando não ter que sair debaixo da ducha gostosa. Talvez devesse ligar pra Baekhyun e perguntar o que diabos está escrito naquele papel. Mas creio que ele não me falaria, se posso ousar dizer que o conheço.
Aliás, que dia é hoje?
- Hoje é dia sete de agosto. Bom dia, Chanyeol.
Abro meus olhos com violência, procurando o dono daquela voz. Através do vapor formado pela água consigo observar Baekhyun parado do outro lado do box, olhando-se no espelho fixamente. Meu coração está dando mortais triplos pelo susto e eu ofego em alivio parcial. Entretanto, o que diabos ele faz aqui? E como conseguiu entrar?
- Bem... Você ia me ligar, então eu te poupei o trabalho e já estou aqui. - ele responde, como se eu tivesse acabado de fazer a pergunta verbalmente. Meus olhos reviram e ele continua, me ignorando. - E entrei pela porta, claro. Você a deixou aberta. - pelo box embaçado posso ver seu movimento de cabeça, jogando a franja pra trás.
Mesmo sem ver nitidamente, tal ato envia alguns arrepios pelas minhas costas e estímulos para uma área que devia estar controlada. Respiro fundo, tentando controlar o efeito que ele tem sobre mim, sem muito sucesso nisso.
Ouço sua risada quase em deboche e fixo meus olhos na sua silhueta novamente, encontrando-o agora exatamente ao lado do box, olhos me observando através das gotículas no vidro.
- Eu passei na Starbucks enquanto vinha pra cá. Nossos cafés estão sobre a mesa, não demore. - seus olhos me sondam de cima a baixo e ele sorri, sugando o piercing antes de se virar e deixar o banheiro.
Fico parado por um momento ainda observando o local onde ele estava segundos atrás, sentindo-me estranhamente quente, de repente. Bom... Não tão estranhamente assim, afinal, sentir essas correntes elétricas pelo corpo já está virando fato habitual quando ele está por perto.
Suspiro, balançando a cabeça em sinal negativo, terminando meu banho o mais rápido que consigo. Fecho o registro, puxando a toalha próxima à porta de vidro do Bbx, deslizando seu tecido felpudo pela minha cabeça e corpo, secando-me de qualquer jeito. Saio dali em seguida, sendo atingido por uma forte corrente de ar frio.
Estremeço, colocando a toalha ao redor da cintura, comprimindo os lábios juntos para evitar que eles tremam com o frio. Meus braços vêm ao redor do meu próprio corpo tentando protegê-lo contra a baixa temperatura e meus pelos se eriçam, enquanto caminho a passos forçados até meu quarto.
Olho para a cama, uma vontade intensa em pular nela e me enfiar sob os cobertores me consumindo, porém eu sei que se fizer isso não vou mais conseguir sair depois. Suspiro trêmulo, caminhando até o guarda-roupa, onde sou forçado a desfazer aquele auto abraço para abrir a porta de madeira pintada em branco.
Procuro por uma boxer dentro de uma gaveta onde eu as guardava, retirando uma azul-marinho dali. Visto-a com rapidez incrível, sentindo todos os pêlos nas minhas coxas levantarem, tamanho frio que faz dentro do quarto. A próxima peça que coloco é uma calça nem social nem esportiva, que eu usava para o trabalho, normalmente.
Ela é escura e riscada em finas e quase imperceptíveis linhas brancas. Meus dedos fecham o botão e puxam o zíper, mas ainda estou tremendo. Procuro por alguma camisa, vestindo uma branca que tenho pendurada num cabide. Os botões permanecem abertos enquanto procuro pela gravata, encontrando-a jogada no fundo do guarda-roupa.
Suspiro, sabendo que demoraria anos pra conseguir dar um nó descente e me pergunto porque afinal ela não tinha já o nó feito. Seria tão mais fácil todos os dias pela manhã.
- Eu posso dar um jeito nisso, se quiser. - ouço aquela lenta e arrastada voz de Baekhyun, mas ainda assim tão sensual que é suficiente pra eu me arrepiar por inteiro... De novo. Bufo, incomodado com todas essas sensações, virando-me para encontrá-lo à porta do quarto, os braços cruzados na frente do corpo.
- Desde quando está aí? - pergunto tentando não demonstrar interesse e ele sorri, batendo a sola do seu tênis branco contra o chão.
- Desde que saiu do banheiro. - responde, me deixando de sobrancelhas erguidas. Quer dizer que ele estava me observando trocar de roupa o tempo inteiro? - É... - ele começa novamente, agora caminhando com seus passos lentos na minha direção.
Seus olhos castanhos fixam-se nos meus e ele sorri de canto ao parar na minha frente, retirando a gravata da minha mão. Meus joelhos tremem ligeiramente, não pelo frio que faz no cômodo, mas pela intensidade com a qual ele me sonda. Seus braços vêm ao redor do meu pescoço e o tecido da gravata é colocado ali, enquanto eu sou puxado na sua direção.
- Você tem um belo corpo, Park. - sussurra no meu ouvido, os arrepios que descem correndo minha coluna agora tão fortes que eu até estremeço. O modo como ele pronuncia meu sobrenome é tão erótico que eu podia gozar no instante em que a sonoridade da sua voz adentra meu corpo. Maldição.
- Por que está aqui, Byun? - pergunto, chamando-o pelo sobrenome também, ignorando a mordiscada leve que ele me dá no lóbulo da orelha. Seus dedos habilmente fazem um nó na minha gravata e eu o vejo sorrir ao corrê-los até os botões abertos da minha camisa.
- Você também diz meu sobrenome com uma sensualidade incrível, Chanyeol. - ele ri, fechando cada um dos botões que encontra pelo caminho até em cima, no altura da minha garganta. Estreito meus olhos, deixando que ele arrume a gravata abaixo do colarinho da minha camisa.
- Não respondeu minha pergunta. - comento, notando que ele não o faria realmente. Sua expressão facial não muda e eu bufo, revirando meus olhos, tentando ignorar o súbito calor que eu estou sentindo.
- Eu sei. - afirma, sorrindo com o canto dos lábios finos. Seu corpo se abaixa e no chão ele alcança a toalha que uma vez minutos atrás estava enrolada no meu corpo. O tecido em seguida é jogado na minha cabeça e friccionado ali, secando o meu cabelo como se seca o de uma criança.
Fecho os olhos, tentando evitar soltar um gemido em aprovação pelo que ele está fazendo. Baekhyun é tão estranho e misterioso, completamente imprevisível e instável. Não faz nem uma semana que o conheço, mas ele parece se sentir na liberdade em fazer o que quiser, quando bem entender.
E, sejamos sinceros aqui, eu nunca tive uma relação tão intima como essa com um paciente antes. Aliás, é totalmente fora de ética e cogitação deixar seu paciente frequentar sua casa como se morasse nela, ou vê-lo como veio ao mundo sem seu consentimento. Coisa que ele faz muito, notavelmente.
- Mas você não se importa tanto, Chanyeol. Do contrário já teria feito alguma coisa pra me impedir, não? - ouço sua voz próxima de mim, fazendo-me cerrar os punhos para controlar a vontade em atacá-lo agora mesmo.
- Pare de invadir minha privacidade, Baekhyun. - reclamo irritado e a toalha finalmente deixa meu cabelo, sendo arremessada sobre a cama. Abro meus olhos e fito os seus, sorridentes em expressão.
- Me impeça. - ele desafia, estreitando os olhos de forma sensual, colando o tórax no meu.
Respiro fundo, prendendo a respiração quando sua mão se entrelaça à minha e uma cena distinta e aleatória pisca na frente dos meus olhos. Luzes coloridas piscando e rodando, um barulho alto e constante, em batidas fortes. O que diabos é isso, afinal?
- O café está esfriando, vem. - ele sussurra, puxando-me na direção da minha cozinha. Franzo as sobrancelhas, permitindo-me ser guiado por ele enquanto tento entender o que foi essa cena estranha e de alguma forma familiar.
Sinto-me órfão da sua mão na minha, quando elas se separaram e ele leva a sua até o conhecido copo da minha cafeteria preferida no mundo. Um deles me é oferecido e eu o aceito, sentindo imediatamente aquele aroma entorpecente de café feito na hora. Fecho os olhos, apreciando tal fato em transe temporário.
Quando os abro novamente, Baekhyun está sentado na cadeira à minha frente, seus olhos fixos no copo que tem seguro na mão direita, a esquerda desferindo desenhos pela sua coxa, coberta por um tecido negro de jeans.
O observo piscar lentamente, seus cílios longos abrindo-se e fechando-se com graciosidade. Ele tem uma beleza supostamente difícil e impossível de se descrever. Só vendo com seus próprios olhos pra garantir ser verdade mesmo, não meramente uma ilusão alucinante.
- Baekhyun? - pergunto num chamado, recebendo resposta alguma dele. Franzo o cenho com lentidão, dando um passo na sua direção, suficiente pra quebrar a distância entre nós. - Baekhyun?
Nada. Seus dedos se movem ininterruptos pela sua coxa, como se estivessem escrevendo no tecido da sua calça e ele mantém os olhos quase fechados, os grandes cílios impedindo-me de ver suas íris. - Baekhyun? - chamo preocupado, recebendo um estremecimento forte do seu corpo.
Tão forte que suas unhas cravam-se na sua coxa e ele solta um ofego, parecendo-me incomodado com alguma coisa. Sua cabeça se ergue no instante seguinte e seus olhos semiabertos fixam-se nos meus, confusos.
- O que houve? - pergunto num sussurro, como se temesse a resposta. Ele solta um suspiro e leva seu copo de café até os lábios avermelhados, sorvendo o líquido negro e fumegante com cuidado, quase hesitação.
- Algumas pessoas são tão estúpidas. - seu murmúrio é baixo e ríspido, seguido de um suspiro pesado, cansado. Ergo minhas sobrancelhas, sem entender do que ele está falando. - Nada importante, não se preocupe.
O fito por longos segundos, esquecendo-me parcialmente do café que tenho em mãos. Ele volta a sorver do seu copo, delicado ao inclinar o objeto nos seus lábios, deslizando a língua pelo piercing em seguida. Sua outra mão vai até os fios da sua franja e com cuidado ele coloca aquela mecha de cabelo atrás da orelha, bebericando sua bebida.
Suspiro, desejando entender o que se passa na sua mente pelo menos uma única vez. Levo meu próprio copo aos meus lábios, provando daquele sabor incomparável de um bom café. O líquido desce quente pela minha garganta, aquecendo meu corpo quase instantaneamente. Fecho os olhos, aproveitando as sensações que tal vício me causa.
Quando os abro novamente, Baekhyun está parado na minha frente, o tórax quase colado ao meu, a cabeça erguida para capturar meus olhos com os seus. Estremeço, sentindo sua respiração no meu maxilar, impossibilitado de quebrar nosso contato visual. Ele deixa o início de um sorriso aflorar nos seus lábios bonitos, enquanto os leva até minha orelha com lentidão agonizante.
- Sua expressão de prazer ao beber café é tão excitante, Park. - sussurra no meu ouvido, sua respiração quente atingindo toda a região e me deixando arrepiado. Minha mão livre se fecha em punho, assim como meus olhos e eu tento controlar a vontade em avançar sobre ele.
- Baekhyun. - chamo quase num sussurro, abrindo novamente os olhos para receber os seus, esperando pela minha continuação. Suspiro, pousando uma mão no seu ombro, fazendo uma ligeira força para afastá-lo de mim, embora meu verdadeiro desejo seja colocá-lo ainda mais perto. - Eu ficaria grato se você parasse com toda essa...
- Provocação? - ele completa me interrompendo, aquela palavra rolando nos seus lábios da maneira mais sensual que alguém pode ter a capacidade de conseguir. Mordo meu lábio inferior, sentindo a ponta gelada dos seus dedos subirem até o colarinho da minha camisa, tocando meu maxilar em seguida, como se segurasse meu queixo.
- Exatamente. - confirmo num ofego, sentindo meu corpo passar a tremer quando seu tórax realmente pressiona o meu, me fazendo perder o compasso da respiração.
- Por que eu deveria? - ele pergunta num sussurro, seus dedos segurando meu queixo, trazendo meu rosto pra mais perto do seu, fazendo-me inclinar na sua direção. Engulo em seco, fazendo um esforço intenso para não mandar tudo se foder e agarrá-lo de uma vez.
- Porque você é meu paciente. Eu não me envolvo com pacientes, Baekhyun. - murmuro sobre seus lábios, tamanha proximidade que eles estão dos meus. Seu sorriso parece aumentar e ele suga o piercing com força, permitindo uma visão total do modo que o metal entra e sai da sua boca de lábios alucinantes.
- Mas seu corpo está gritando pra ter isso, não está? - ele pergunta sussurrando, suas palavras lentas colidindo nos meus lábios, enviando inúmeros arrepios pela minha coluna. - Eu sei que está... Dá pra perceber em cada arrepio que eu te causo, ou cada ofego que você deixa escapar quando eu estou assim, extremamente próximo.
Seu sorriso cresce e eu desejo socar seu rostinho bonito, depois beijá-lo de forma insana e desesperada. Como ele consegue ser tão... Malditamente irritante e sexy, por Deus? Sua perna esquerda está entre as minhas e ele pressiona a coxa ali, me causando um ofego pesado e repentino.
- Você é insano, Baekhyun. - comento ao pousar minha mão livre na sua cintura, estreitando meus olhos perigosamente e recebendo um ligeiro arquear de sobrancelhas da sua parte.
- Você gosta da minha insanidade, não gosta? - sua mão pousa na minha nuca e ele sorri antes de pressionar os lábios nos meus rapidamente. Aperto sua cintura num ato involuntário nos breves segundos que sua boca está na minha enquanto meu coração surta dentro do meu tórax.
Então sou privado daquela pressão alucinante nos lábios e seu corpo não mais está encaixado ao meu. Ele senta-se novamente na mesma cadeira de antes, arrumando a franja e voltando a sorver do seu café. O observo perplexo, desejando socá-lo por estar tão certo de todas as suas indagações.
Maldição, maldição, maldição.
Bufo, notavelmente irritado, bebendo todo o meu café quase de uma vez só. Caminho para meu quarto, passando no banheiro para escovar os dentes e arrumar meu cabelo, embora não tenha vontade em fazê-lo. Depois de minutos ali, alcanço meu sobretudo dentro do guarda-roupa e mantendo-o preso na minha mão, volto para a cozinha.
Baekhyun não mais está lá, mas sim parado ao lado de fora da porta, as mãos enterradas num sobretudo preto, um cachecol enroscado no seu pescoço. Seus olhos encontram os meus e ele sorri com o canto dos lábios. Excitante.
- Por que veio, afinal? - pergunto enquanto visto meu próprio sobretudo, um braço de cada vez, puxando seu tecido grosso pra mais junto do meu corpo.
- Você ia me ligar, não ia? - ele responde com uma pergunta, me fazendo erguer as sobrancelhas ao lembrar daquele papel machado e borrado dentro do bolso da minha calça.
- Bom, isso foi só uma sugestão em pensamento. Não queria dizer que eu realmente fosse ligar pra você. - comento, fechando a carreira de botões negros no meu sobretudo, procurando pelas luvas que eu sempre deixo nos bolsos. Retiro-as dali e um papel cai no chão, aos meus pés.
- Acredite, você ia. - ouço sua voz dizer firme e abaixo para pegar o papel, notando ser o mesmo que eu deixara jogado sobre o criado alguns minutos mais cedo naquele dia. Arregalo os olhos lentamente, procurando pelos de Baekhyun no segundo seguinte.
- Como sabia que eu vestiria esse sobretudo e checaria seus bolsos? - pergunto com certo receio, vendo-o levar uma mão até a franja e alisar seus fios. Sua mão também está coberta por uma luva... Rosa.
- Eu já te disse várias vezes que sei mais do que você imagina, Chanyeol. - comenta calmo, fechando os olhos maquiados enquanto arruma seu cabelo. Suspiro, sentindo-me incomodado por saber que isso é verdade, de fato.
- Isso é bem assustador, sabe... - comento vago, colocando minhas luvas e desdobrando o papel mais uma vez, pouso meus olhos nele, notando as letras estranhamente mais nítidas que antes.
- Eu não vou fazer mal algum pra você, querido. Relaxe. - sua voz vem calma e reconfortante, me fazendo sentir um alívio que não devia, considerando tudo o que eu já notei ele ser capaz de fazer. Suspiro, tentando encontrar um sentido para o que tem no papel nas minhas mãos, falhando miseravelmente.
Números sequentes causam delírio, embora contenham significado inestimável. Consequências merecem constante atenção se deseja finalmente solucioná-las.
6.13.25
O que diabos isso podia significar?
- Você vai entender, Chanyeol. E quando isso acontecer, você vai finalmente conseguir as respostas pra muitas das suas dúvidas. - ele explica, não parecendo se incomodar com minha expressão confusa ao reler aquelas palavras que não faziam sentido algum pra mim.
Suspiro, dobrando o papel novamente e o guardo no bolso, só agora olhando na sua direção. Ele sorri, acenando com a cabeça para que eu saia do meu apartamento. Ainda com aquelas letras e números tentando encontrar algum significado na minha mente, pego minhas chaves, celular e carteira, trancando a porta depois que saio.
- Os números são importantes. - ele comenta, como se estivéssemos naquele assunto o tempo inteiro. O observo pelo canto dos olhos enquanto caminho para o elevador, lembrando-me do conteúdo do papel.
- Importantes como? - pergunto baixo, como se mais alguém ali pudesse ouvir nossa conversa. Ele sorri, voltando a colocar as mãos com suas luvas rosas dentro dos bolsos do seu sobretudo, sugando o piercing enquanto espera o elevador ao meu lado.
- Isso você precisa descobrir, Park. - seus olhos fixam nos meus por breves segundos e eu não consigo evitar olhar para seus lábios ao ouvir meu sobrenome escapando por eles. Excitante demais, porra.
- Não ajudou muito, Byun. - ergo as sobrancelhas, tentando evitar os pensamentos sobre como seria ele gemendo meu sobrenome ou até mesmo gritando em êxtase por ele. Oh, péssima hora pra ficar animado, amigo.
Baekhyun ri, entrando junto de mim no elevador quando a porta de metal se abre. Reviro os olhos e aperto o térreo, sentindo imediatamente seu corpo sendo pressionado ao meu, sua mão perigosamente na minha coxa. Foco meus olhos nos seus, sua respiração na altura da minha garganta.
- Não acha que seria interessante o elevador dar problema agora? - pergunta num sussurro e um ruído alto é ouvido, como se o som da sua sugestão fosse suficiente para que aquilo realmente aconteça.
Arregalo meus olhos, sua mão subindo pela parte interna da minha coxa enquanto as luzes piscam com descontrole. Meu corpo enrijece por inteiro e eu ofego quando ele abocanha meu pescoço, mordendo a pele com vontade.
- Baekhyun... - digo num ofego mais forte, sua mão parando perigosamente próxima à minha área que insiste em estar animada. Ele me interrompe, antes mesmo que eu possa pensar no que dizer.
- Eu poderia dar um jeito no seu amigo aqui, Park. - no instante em que ele profere a frase, seus dedos pressionam-se entre minhas pernas e eu deixo um gemido involuntário escapar. - Você quer, não quer? - continua nos sussurros, mal me dando tempo para pensar no que está acontecendo.
Subitamente empurro seu corpo para o lado, trocando nossas posições. Ele ofega quando suas costas batem com violência na parede e eu ofego também, sentindo aquela inevitável corrente elétrica nas minhas células. Suas pernas envolvem minha cintura e eu ignoro como estamos encaixados quase perfeitamente.
- Já avisei pra parar as provocações, Byun. Você não vai gostar se eu me descontrolar, fique ciente disso. - ameaço entre dentes, vendo-o sorrir e passar a língua pelos lábios, umedecendo-os.
- Como pode ter tanta certeza que eu não vou gostar? - pergunta no instante em que o elevador pára e as luzes permanecem acesas. Meus olhos estão nos seus e nossos narizes se tocam tamanha proximidade que compartilham. As portas metálicas abrem e minha atenção se foca no rosto da senhora que está parada, estática a nos olhar.
Baekhyun ri, segurando meu queixo com rapidez e virando minha cabeça de frente pra sua, cola a boca na minha por breves segundos. A senhora arregala seus olhos e deixa um grunhido de surpresa escapar. Ele me solta, desviando-se dos meus braços e voltando a pisar no chão, sai do elevador, sorrindo para mulher.
Reviro os olhos, corando violentamente quando também saio do elevador, sendo observado com desgosto e nojo no olhar pela senhora que morava no quarto andar. Ela olha com repulsa para o local no elevador onde Baekhyun estava pressionado contra a parede, seus olhos vagando pelo chão em busca de algum vestígio de não sei o que.
Bem, na verdade eu sei, mas não acredito que ela esteja realmente procurando aquilo.
Baekhyun ri ainda mais parado à saída do prédio e eu coloco minha melhor expressão irritada no rosto, caminhando na sua direção a passos rápidos. Saio do prédio logo atrás dele, notando seu rosto agora tão sério que a mudança radical de expressão é até assustadora.
- Você tem um celular aí? - ele pergunta, frio e firme, sem retirar os olhos de um ponto distinto na avenida. Franzo o cenho, esquecendo-me da bronca que o daria segundos antes.
- Tenho, por quê? - pergunto notavelmente confuso, vendo seu cenho se franzir, seus olhos começam a mudar de cor. Estremeço, sabendo o que aquilo significava.
- Chame uma ambulância. Agora. - seu tom é imperativo e eu retiro o celular do bolso do sobretudo, discando o número da emergência. Assim que o aparelho encontra meu ouvido e eu espero para atenderem, um alto estrondo me faz saltar para fora do meu corpo, tamanho susto.
Olho para onde Baekhyun tem seu olhar fixo, notando um carro em chamas contra um poste de luz, enquanto o outro tem sua frente totalmente contorcida e amassada, lataria torta e vidro espatifado. Arregalo os olhos, quando a voz de uma mulher vem pelo meu celular e Baekhyun faz seu caminho até o local do acidente, agora com os olhos intensamente amarelos.
É difícil me concentrar nas palavras da moça do outro lado da linha quando se tem um carro em chamas e outro completamente espatifado na sua frente. Mesmo assim, consigo informar o endereço e ela garante que a ambulância chegará o mais breve possível.
Baekhyun salta um pedaço da lataria do para-choque que está jogado ao chão, caminhando na direção da porta do mesmo carro. Eu não sei o que fazer, mas o sigo de qualquer maneira. Embora esteja assustado como o inferno, ele me parece bem seguro das suas ações.
Um homem aparentando por volta dos quarenta anos está preso no banco do motorista, o cinto de segurança enroscado ao seu pescoço, as pernas comprimidas contra o assento pela baixa altura que o volante adquiriu com o impacto.
Filetes de sangue escorrem da sua cabeça por todo o seu rosto e ele me parece completamente inerte, morto. Engulo em seco, notando ao lado o corpo de uma criança, quatro ou cinco anos. Meus olhos lacrimejam ao ver seu braço virado para trás, quebrado ao meio.
Talvez por ser pequena - uma garota - quando a lataria amassou se contorcendo pra dentro não chegou a alcançar suas pernas, vestidas numa meia grossa e botas de frio até a altura do joelho.
Sua cabeça pende pra frente no cinto de segurança, desfalecida, seu queixo encostado em seu pequeno tórax, o cabelo castanho claro ondulado caindo por todo o seu rosto, impedindo-me de ver se ainda pode estar viva, ou não.
Estou quente, talvez pela grande quantidade de adrenalina rolando no meu corpo, talvez pela proximidade incrível que o carro em chamas está de nós. Pessoas gritam e olham aterrorizadas para os destroços do acidente, reunindo-se em volta do local, mas mantendo distância suficiente para prevenir algum acontecimento repentino.
Baekhyun parece estar checando o outro carro, aquele em chamas. Viro na sua direção, vendo-o se afastar e caminhar para onde estou parado, seus olhos continuam amarelos.
- A garota está viva, precisamos tirá-la daí antes da explosão. - diz alto suficiente para que eu consiga ouvir e eu arregalo os olhos, vendo a grande quantidade de combustível que escapa do tanque do carro, espalhando-se pelo chão e impregnando o local com aquele cheiro forte.
- Não é melhor esperar a ambulância? - pergunto quando ele caminha para o outro lado e seus olhos fitam cada detalhe no corpo da garota, provavelmente tentando arranjar uma maneira de tirá-la dali.
- A ambulância vai demorar pelo menos mais dez minutos, Chanyeol. E se você notou, tem gasolina por toda parte. Vai explodir a qualquer instante. - informa, fazendo meus joelhos tremerem pela sua revelação, embora eu já fizesse ideia dela.
- Como pretende tirá-la daí? - decido não contrariá-lo, desejando ter tanto autocontrole como ele demonstra ter em situações críticas como essa. Seus olhos fixam nos meus e ele faz um movimento com a cabeça. Chamando-me para ficar ao seu lado.
- Acha que consegue segurar a porta aberta enquanto a tiro de dentro? - pergunta, voltando seus olhos para o corpo da garota e eu olho na mesma direção, notando que a tranca está acionada.
- A porta está trancada, Baekhyun. - informo quase em tom alarmante, vendo-o olhar na direção da tranca e suspirar, olhando para o outro carro em seguida.
- Não temos tempo. - sua voz vem num sussurro e ele coloca suas mãos na porta, espalmadas contra a lataria amassada. Observo-o semicerrar os olhos e murmurar palavras que não entendo, conforme a tonalidade brilhante e amarelada da sua íris parece se espalhar por todo o seu globo ocular.
Mordo o lábio inferior e observo, aterrorizado, um rastro de chamas vir queimando todo o combustível no chão, na direção do carro. Olho pra Baekhyun mais alarmado que antes, mas então tudo treme e, em seguida, para.
Pisco perplexo, olhos arregalados tentando acreditar no que estou vendo. O vidro da porta onde ele tem suas mãos acaba de se espatifar em milhares de pedaços, mas eles não caem no chão, como deveria. Estão flutuando, girando ao redor de si mesmo.
Olho ao meu redor e noto as chamas paralisadas, como se alguém acabasse de tirar uma foto, capturando-as em filme. A própria fumaça que está espalhada por todo o local não mais se move, as pessoas ao redor parecem ter sido petrificadas em expressões e movimentos que faziam um segundo antes do estalo que eu ouvi.
Baekhyun ofega, seu cenho franzido de uma forma extremamente forte. Não sei o que fazer, o que está acontecendo e meu cérebro insiste em dizer que ele fez o tempo parar. Mas não, é demais para que eu possa acreditar.
- Tire-a daí, Chanyeol. - ele ofega quase como se o ar lhe faltasse com intensidade e eu assinto bestificado, afastando os cacos de vidro que flutuam na minha frente. Estico os braços na direção do pequeno corpo do banco passageiro, rapidamente soltando o cinto de segurança e puxo-a na minha direção, retirando-a de dentro do veículo pela janela.
Mantenho-a firme no meu colo, sua cabeça deitada no meu ombro, minhas mãos e braços seguramente presos ao seu redor. Baekhyun então retira suas mãos da lataria e outro estalo se ouve, e no segundo seguinte todos os cacos estão no chão, as chamas novamente dançam alucinadas e as pessoas novamente correm e gritam, desesperadas.
Sua mão se fecha no meu braço e ele me puxa pra longe do local, tossindo quase compulsivamente. Eu quero ajudá-lo, quero fazer inúmeras perguntas, mas sei que esse não é um momento propício para tal. Assim que alcançamos uma distância de cinco metros do carro, um estrondo alto se faz, as chamas consumindo-o inteiramente.
A explosão arremessa nossos corpos pra frente e viro-me a tempo de cair de costas no chão, a garota ainda segura nos meus braços, agora sobre mim. Baekhyun cai ao meu lado, de joelhos, tossindo quase como numa convulsão. A fumaça negra e acinzentada que escapa do local do acidente é asfixiante, emanando um odor pútrido, que faz nossos olhos lacrimejarem.
Olho para Baekhyun ao meu lado, seus olhos ainda amarelos. Ele ergue a cabeça, me fitando em retorno. Engatinha-se até mim em seguida, pousando sua mão trêmula nas costas da garota, ofegando incansavelmente. Minhas costas doem pelo impacto do meu corpo no chão de concreto, ardem em algumas regiões, mas suportável.
- Segure-a com força, okay? - ele me pede num sussurro alto e eu assinto, incapaz de fazer qualquer outra coisa.
Sento-me no asfalto, segurando o corpo pequeno da garota contra meu tórax, colocando-a quase sentada no meu colo. Baekhyun se arrasta pra mais perto, sentando-se sobre minhas pernas esticadas, colocando sua mão no braço quebrado do corpo entre nós.
Observo-o confuso, seus olhos voltarem a brilhar com intensidade e a menina passa a tremer, como se estivesse sem roupas numa temperatura congelante. Automaticamente seguro-a com mais força e em questão de segundos ela está tremendo tanto quanto se acabasse de entrar numa convulsão.
Arregalo meus olhos, sentindo a adrenalina se misturar ao sangue que corre veloz nas minhas veias. Noto o cenho da garota se franzir com força e Baekhyun volta a murmurar aquelas palavras incoerentes, deixando-me notar que seu corpo também está tremendo.
Meu olhar desamparado vai dos seus olhos amarelos brilhantes até o braço da garota, que treme mais forte que todo o seu corpo. Então ele força a junta para trás, colocando-o no lugar que deve estar e ela grita. Um grito alto e estridente, seus olhos apertados e seu corpo tremendo alucinado.
- Chanyeol! - Baekhyun reclama alto, provavelmente irritado com minha falta de ajuda na situação. Assinto e seguro-a com força, sua cabeça pequena se enterrando no meu tórax e abafando seus outros gritos e soluços, lágrimas ininterruptas pelo seu rosto pálido.
Seus olhos amarelos então voltam ao normal lentamente enquanto ele retira o cachecol no seu pescoço e o coloca na garota, agora novamente desmaiada. Suas mãos escorregam inertes na direção do chão e eu observo bestificado seu corpo pender pra frente, caindo sobre mim.
- Baekhyun. - chamo ao segurá-lo com a outra mão, a primeira ocupada em manter o corpo da garotinha seguro no meu colo. Ele remexe o corpo com lentidão, quase dificuldade, deixando-me preocupado. - Baekhyun, abra os olhos.
Peço quase desesperado, segurando seu corpo com uma mão no centro das suas costas. Está tudo quente, tanto pela adrenalina do momento quanto a proximidade dos dois carros em chamas. Suor escorre pelo meu rosto e meu cenho permanece franzido, ainda sem conseguir processar tanta informação junta.
- Me leva... Pra sua casa, Chan... Chanyeol. - ele sussurra alto suficiente pra que eu possa ouvir e eu assinto de imediato, colocando suas pernas ao redor do meu corpo, deitando sua cabeça no meu ombro.
Seus braços me enlaçam e ele se pendura ao meu corpo com as últimas forças que lhe parecem restar, enquanto eu faço o máximo de esforço para nos levantar do chão, a garotinha ainda segura no meu colo, suportada pelo meu outro braço. É nesse instante que a ambulância chega, suas sirenes ouvidas a quilômetros de distância.
Consigo ficar de pé e agradeço o fato do meu prédio estar a vinte metros de distância de onde estamos. Caminho para ele o mais rápido que posso sem me desequilibrar, atraindo o olhar de muitas pessoas que agora formavam quase uma multidão para assistirem ao acidente, fazendo comentários e lamentações, mas não ajudando em nada.
Adentro meu prédio e encontro o elevador no andar, agradecendo à Deus por tal fato. Baekhyun é quem aperta o botão do meu andar, voltando a afundar a cabeça na curva do meu pescoço, sua respiração falhada e quase imperceptível, como se estivesse diminuindo a cada minuto passado.
Mordo o lábio inferior, pedindo para que o elevador não pare em mais nenhum andar até chegar ao meu. O que de fato acontece e eu consigo sair para o corredor estreito onde fica minha porta, encontrando dificuldade em resolver como conseguir alcançar minhas chaves.
Baekhyun, provavelmente ouvindo todos os meus pensamentos, segura o molho de chaves dentro do bolso no meu sobretudo, colocando a certa na porta em seguida. Viro o corpo lateralmente, facilitando para que ele consiga destrancar, ouvindo o breve ‘click’ e a porta se abre.
Empurro-a com meu corpo, caminhando diretamente para meu quarto. Deito Baekhyun na minha cama, vendo sua cabeça cair quase desfalecida sobre meu travesseiro, seu corpo inerte sobre os lençóis. Mordo meu lábio inferior, ofegando, colocando a garota ao seu lado, com cuidado especial no seu braço, mostrando uma luxação arroxeada.
- Baekhyun... - chamo imediatamente, espalmando seu rosto ligeiramente suado, vendo seus olhos me fitarem semiabertos, cansados. A menina ao seu lado começa a tremer novamente, franzindo o fino cenho com força.
- Precisamos... Mantê-la aquecida. - ele sussurra, puxando o pequeno corpo pra perto do seu, envolvendo-a com seus braços em seguida. Observo-a ofegar e se contorcer, como se estivesse sob dor insuportável. – Chanyeol! - Baekhyun reclama, me olhando como para que eu fizesse alguma coisa.
Toco seu fino braço e noto como sua pele pálida está gelada, parecendo um cubo de gelo. Ela ainda está tremendo e ele parece a apertar com mais força, recebendo sua pequena e machucada face enterrada no seu tórax. Seus gemidos são baixos e dolorosos, tão infantis que partem o coração de qualquer um.
Baekhyun me olha ainda mais sugestivamente, seu semblante ainda expressando cansaço intenso. Aproximo-me dos dois na cama, deitando-me junto deles, colando meu corpo aos seus. Recebo seu olhar surpreso quando abro meu sobretudo e abraço os dois com o tecido.
Um ofego breve escapa dos finos lábios da garota enquanto seu corpo diminui a forma como treme. Meus olhos conectam com os de Baekhyun e sua mão segura a minha, tão trêmula e suada quanto. Meu outro braço traz o corpo de ambos pra mais perto, minha mão pousando no centro das suas costas. Consigo sentir na ponta dos meus dedos como ele tem dificuldade para respirar no momento.
Engulo em seco, observando sua cabeça pender pra trás e desfalecer no travesseiro, seus olhos se fechando relutantemente. Ele parece tão fraco que até a leve pressão dos seus dedos nos meus, entrelaçados, para nesse instante.
Uma pequena gota vermelha desce rolando do seu nariz e eu a limpo antes que atinja seus lábios, pálidos e sem seu habitual avermelhado de sempre. Mordo meu lábio inferior, pensando em levá-lo até um hospital. Mas somente tal pensamento o faz apertar minha mão com força, como me dizendo que não era pra fazer aquilo.
Eu vou ficar bem... Não se preocupe.
Ouço sua voz ecoar na minha cabeça e suspiro, aliviado e agradecido pela primeira vez desde que o conheci por essa habilidade em conseguir partilhar pensamentos. Aperto mais o corpo dos dois contra o meu, já não me sentindo com tanto calor quanto antes.
Olho pela janela, notando pequenos e constantes flocos de neve descerem pelo céu, seu tom branco, imaculado. Não me lembro de nevar no outono, antes. Suspiro, tentando organizar todo o turbilhão de pensamentos e imagens que dançam alucinados na minha cabeça.
Baekhyun me intriga tanto que é até difícil explicar. Eu desejo mais que minha própria vida desvendar todo esse mistério que o envolve, entender o porquê de todas as suas estranhas ações, como é possível existir alguém de tal maneira. Se é que há alguma explicação para isso, afinal.
Além disso, acho que estou começando a conhecê-lo um pouco. Embora gaste a maior parte do seu tempo me provocando, sei quando fala sério, quando o que sai dos seus lábios é real. Ele tem um brilho nos olhos estranho e diferente, meio inefável, mas que eu capturo em certos momentos em que eles cruzam com os meus.
E eu posso dizer que odeio quando ele me encara por muito mais tempo do que deveria. Parece que está me lendo por inteiro, visitando cada um dos meus segredos, me conhecendo a fundo, muito melhor do que eu mesmo faço. Aliás, porque às vezes tenho essa sensação que não sou realmente eu?
É recente até, porém nos três últimos meses houve dias em que eu não sei até hoje o que aconteceu exatamente. Talvez eu tenha algum problema com a memória e devesse ir ao médico, só pra checar que está tudo certo. Sei que a labirintite não está mais aqui desde que Baekhyun fez aquilo no outro dia.
Mais um fato nele que me intriga. Como ele consegue curar as pessoas, salvar a vida delas e prever todos esses acontecimentos? Como ele consegue ler os pensamentos de todos ao seu redor, como pode saber o ponto fraco e as características de ações passadas sem ao menos conhecê-las pessoalmente?
Oh, Deus, acho que se continuar pensando nisso eu vou realmente precisar de um psiquiatra. Não importa o quão irônico isso soe.
E, merda. Preciso arrumar uma nova secretária. Desde que despedi Yoorae - e pensando sobre isso agora, algo que aconteceu há cinco dias atrás - meus horários com os pacientes tem se misturado e entrado em conflito constante. Hoje mesmo, minha sorte era que não havia ninguém marcado para o período da manhã.
Talvez Baekhyun já soubesse disso e por isso estávamos aqui ainda, deitados na minha cama, no meu apartamento, às - e eu olho na direção do relógio sobre o criado, seus digitais números vermelhos mudando - nove e quarenta e seis da manhã.
E isso é estranho, meu Deus, como é. A garotinha entre nós está tremendo um pouco, pequenas gotículas de suor se formando na sua testa. Tenho medo que ela não vá aguentar ou que haja alguma complicação. Seja lá o que foi que Baekhyun fez alguns minutos atrás.
Por pensar nele, sua feição me parece mais aliviada que algum tempo atrás, seu semblante não mais demonstra dificuldade em respirar ou dor. Às vezes eu chego a pensar que ele está acostumado.
Tenho vontade em deixá-lo dormir do jeito que o faz pra sempre, numa paz até invejável. Seus longos cílios acariciam o início das suas maçãs do rosto, seu cabelo um pouco longo atingindo sua pele tão imaculada quanto a neve lá fora em diversas regiões, contrastando tom claro e escuro, deixando-o encantador, por assim dizer.
Eu odeio admitir, mas ele me atrai. Atrai muito mais que qualquer outro já o fez e isso é estranho. Mesmo que eu esteja nos meus vinte e sete anos ainda, tempo pra sair e conhecer pessoas ou me relacionar a elas é difícil. Raramente isso acontece e quando acontece, bom... As pessoas são extremamente fáceis hoje em dia.
Não é como se me atraíssem por mais de um momento em que a bebida já fez seu efeito e eu não estou me importando mais com as consequências. Baekhyun era muito mais... Diferente.
Digo, qualquer um que o olhe pode ficar alguns minutos paralisado somente apreciando sua beleza um tanto surreal e o modo como ele te encara nos olhos, que faz as pernas fraquejarem e o ar se tornar insuficiente. E tal reação é intrigante.
Quero dizer... Ninguém gosta de se tornar tão acessível para outra pessoa, como se suas muralhas não fossem suficientemente fortes e densas pra bloquear qualquer tentativa em ultrapassá-las. Baekhyun meramente me conhece, mas ao mesmo tempo faz parecer que sempre me conheceu.
Por mais que eu tente impedi-lo de entrar na minha cabeça, ele está sempre aqui, capturando cada um dos meus pensamentos, sabendo de cada sensação que eu tenho. Odeio não ter o controle, odeio me sentir tão vulnerável. Odeio o fato que ele não me deixa rastro algum de explicação ou pista para que eu tente descobrir o que diabos ele é, ou o que aconteceu na sua vida.
Entretanto, considerando que eu o conheço a menos de uma semana, devo ser obrigado a concordar com o que ele sempre diz, “você tem pressa demais, Chanyeol”. Sempre tão certeiro nas suas acusações, maldição.
Sua mão segura a minha uma vez mais, causando-me um susto pela temperatura extremamente baixa que ela apresenta. Fito seu rosto novamente, procurando por algum sinal ou explicação para tal ato. Seus olhos abrem-se lentamente e suas íris lascivas encaram as minhas, sonda que me tira o ar.
- Preciso conversar com você. - ele sussurra, sua voz tão suave que até me assusta. Pisco confuso, perdendo contato na nossa mão quando ele se afasta e levanta, devagar.
- Sobre? - pergunto em sussurro igual, fitando suas costas, a garotinha agora sendo abraçada somente por mim. Ela solta um suspiro trêmulo e Baekhyun vira a cabeça, fitando-a pelo canto dos olhos, sobre o ombro direito.
- Sobre ela. - sussurra, levantando com lentidão, caminhando para meu guarda-roupa, abrindo-o como se soubesse exatamente onde encontrar o que precisava. Ergo uma sobrancelha, vendo-o trazer um cobertor na nossa direção.
- O que tem ela? - pergunto ao retirar a garota dos meus braços, deitando seu corpo pequeno com cuidado sobre o colchão, Baekhyun cobrindo-a fartamente em seguida. Ela suspira mais uma vez, suas pequenas mãos agarrando-se ao tecido felpudo que a envolve.
- Vamos pra sala. - anuncia, sua mão deslizando pela bochecha da menina, levantando-se em seguida e saindo do quarto, deixando-me momentaneamente sem reação. O que eu disse sobre aquele sentimento de intriga? Pois é.
Aproximo-me do seu corpo sobre meu sofá, esperando por mim, o olhar perdido em qualquer ponto na mesinha do centro. Não gosto muito quando ele está pensativo assim. Até hoje não significou boa revelação, devo dizer.
- E então? - pergunto, tomando a liberdade em me sentar ao seu lado, trazendo seus alucinantes olhos para os meus, segundos de ar perdido. Engulo em seco quando um suspiro deixa seus lábios quase no seu natural tom novamente.
- Anna está órfã, agora. - sua voz vem calma, porém firme, suficiente para fazer um arrepio ligeiro correr descendo na minha coluna. - O senhor no carro, seu avô, era o único que ela tinha. - engulo em seco, meu coração indo para os pés. - Ela não vai acordar até o começo da noite e não corre mais perigo, desde que ela permaneça aquecida.
Assinto, sentindo-me mal pela garotinha, sabendo como era perder parentes. Meu pai, apesar de ser um homem arrogante e mesquinho, com quem eu raramente falava, morreu havia quatro meses. Não teria me afetado tanto se esse fato não tivesse acontecido na minha frente, seu eu não estivesse junto dele no momento.
- Você sente falta dele? - ele me pergunta num sussurro, como se aquele fosse um grande segredo à ser guardado. Pisco num primeiro instante, suspirando em seguida.
- Não é como se ele tivesse sido um pai, realmente. Não sinto falta... Só acho que não precisava ter visto a sua morte. - mordo meu lábio inferior, Baekhyun adquirindo uma expressão pensativa na bonita face. - O que vamos fazer com ela? - mudo o assunto, não querendo falar naquilo.
Eu lembro de ter demorado um mês pra tirar a cena do meu pai morrendo dos meus sonhos. Baekhyun murmura alguma coisa trazendo meus olhos para os seus, distantes. Franzo o meu cenho, achando ter ouvido-o dizer um ‘me perdoe’, mas talvez tenha sido só minha imaginação.
- Anna pode ir praquele orfanato no centro da cidade. - ele comenta, suspirando lentamente. - Sabe qual é? - pergunta, rolando o piercing pelo seu lábio, os olhos nos meus. Assinto. - Ótimo. Leve-a pra lá. - e então levanta, ajeitando o tecido do seu sobretudo sobre o corpo.
Franzo o cenho, vendo-o ir até meu quarto, demorar alguns segundos ali e voltar com seu cachecol, enrolando-o no seu pescoço. Caminha para a porta em seguida, sem lançar um único olhar na minha direção. O sigo.
- Baekhyun! - chamo antes que ele abra a porta, fazendo-o parar, virando-se com lentidão para me olhar nos olhos. Continuo confuso. - O que está fazendo? - pergunto soando mais exaltado do que pretendia, vendo-o suspirar e recolocar as luvas antes retiradas.
- Preciso resolver umas coisas... Você precisa organizar sua vida. - sussurra aproximando-se, parando tão próximo que consigo sentir sua respiração singela no meu maxilar. - Vai ser melhor não nos vermos por alguns dias. - sua língua desliza no metal do seu lábio, os dentes o prendendo numa mordida leve, hesitante.
Mal tenho tempo para processar suas palavras antes que ele me direcione um sorriso curto, colocando a mão na parte de trás da minha cabeça, colando nossos tórax sem pressão. Ofego em surpresa, seus lábios juntando-se aos meus no segundo que se segue, demorando-se mais tempo que todas as outras vezes.
Meus joelhos estão fraquejando pela doçura iminente que eles possuem, pela forma totalmente sutil como estão colados aos meus, pela sua respiração quente e convidativa misturando-se na minha. Eu ameaço colocar meus braços ao seu redor e fazer daquele contato maior, mas ele se afasta antes mesmo que eu consiga ter tempo em fechar os olhos, deleitoso.
- Até outro dia, Park. - sussurra no meu ouvido, mordiscando o lóbulo em seguida, deixando-me arrepiado.
Mordo meu lábio inferior para reprimir um gemido que a pronuncia do meu sobrenome me faz ter ímpetos em liberar, vendo-o virar e sair do meu apartamento, fechando a porta atrás de si.
Me deixa excitado só com um beijo, puta que pariu.
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