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História O Comandante (SENDO REESCRITA) - O príncipe e o forasteiro


Escrita por: littlefairy22

Capítulo 14 - O príncipe e o forasteiro


"Porque você é o pedaço de mim

Que eu gostaria de não precisar

Perseguindo implacavelmente

Ainda luto e eu não sei por quê

Se o nosso amor é tragédia, por que você é meu remédio?

Se o nosso amor é insano, por que você é minha lucidez?"

(Clarity, Zedd)

— Eu não entendo – Taehyung comentou com os seus hyungs, de repente. Ele abaixou a cabeça. – Se Chung-Hee queria que Jimin fosse morto quando o pegou, por que foi tão fácil para Jungkook ir buscá-lo? Ele literalmente o colocou no lugar mais óbvio do mundo. Além disso, eu soube que o comandante explodiu o "laboratório" com uma bomba que algum traidor deles deixou, logo depois que eles saíram.

— Simples. O rei queria que Jungkook fosse até lá, ele queria que o lugar fosse explodido – Namjoon deu de ombros. Jin, Taehyung e Hoseok olharam para ele, com a mesma expressão confusa no rosto, como se estivessem tentando decifrar o que aquilo significava. – Galera, eu conheço o Jungkook desde que ele era um bebê, as duas únicas vezes que eu vi esse garoto realmente perder a cabeça foi quando o irmão dele morreu e quando ele descobriu que o Jimin foi levado. O rei colocou o Jimin no mesmo lugar em que matou o irmão, podem imaginar o que isso fez com a cabeça dele? Por isso ele saiu daqui tão desesperado, ele não queria que mais alguém importante para ele morresse por sua culpa.

  Os amigos estavam reunidos na fachada da enfermaria, conversando sobre os acontecimentos recentes. Nenhum deles, além de Namjoon, parecia entender direito o que estava acontecendo, então seria bom esclarecer algumas coisas. Como estava mais quente que o normal naquela época, o movimento no acampamento era bem maior, as pessoas estavam muito ocupadas, então eles poderiam ficar ali sem grandes preocupações.

— Mas...Por que ele iria querer fazer isso? – Hoseok franziu a testa, questionando. Nada fazia muito sentido ali. – Se o plano era atrair o Jungkook até lá, não seria mais conveniente montar uma armadilha para ele? Sei lá, sequestrar o comandante seria uma grande vantagem para eles, como um artigo de luxo para mostrar para aqueles riquinhos.

— Sim, seria, mas o objetivo dele vai muito além disso – Namjoon comentou, se encostando na parede. Ele observou os aprendizes correndo  em direção ao ginásio, já que era hora de treinar. – O rei quer que o Jimin seja quebrado, fique vulnerável e destruído por ele, pois já viu o impacto que isso tem no Jungkook. Ele deseja que todos vejam que a fraqueza do comandante é o Jimin, assim o seu povo vai crer que ele não tem condições de liderar, que ele pode arriscar milhões por uma só pessoa. Ele não quer somente matá-lo, quer quebrar o comandante de dentro para fora, como o cavalo de Tróia. O que é um líder sem um povo?

— O filho da puta é inteligente! – Jin falou, de repente, chamando a atenção dos rapazes. Os outros riram pelo seu jeito estranho de xingar, eles não estavam acostumados com aquelas palavras vindas do mais velho. O moreno sorriu, sem graça. – Desculpa, me empolguei.

— Na verdade, Chung-Hee não é tão esperto quanto faz parecer – Namjoon o corrigiu, pensativo. – Quando eu ainda era um infiltrado no Reino, percebi que ele realmente só liga para o poder, sequer pensa em estratégias. Alguém daqui ajuda ele com esses detalhes...E ajuda há muito tempo.

— O natrona. Quem vocês acham que é? – Taehyung questionou, curioso. Ele tinha tantos dúvidas que precisavam ser respondidas. – Há poucas pessoas aqui que eu confiaria plenamente, se eu fosse o Jungkook. Além de vocês, Jimin, Jisoo e o Yoongi, já que os dois estão com ele há anos...Eu não sei, pode ser qualquer um.

— Eu acho que é a garota nova. A tal Lisa – Hoseok falou. Apontou para a garota, que estava do outro lado do acampamento, mexendo em alguns cabos e fios de algo que parecia ser um computador. – A garota chega aqui do nada acompanhada pela Keana e, de repente, é uma de nós? Não é muito conveniente que ela tenha chegado justamente logo depois que o Jimin foi levado, em um dia que Jungkook não poderia ter uma conversa decente com ela? Além disso, não confio em gente com cabelo tingido.

— Será que vocês não tem mais nada para fazer? – uma quinta voz se manifestou. Eles viraram e deram de cara com Yoongi, que, como sempre, tinha as suas mãos enfaixadas para que não tivesse problemas para carregar a sua espada, que se encontrava do lado de seu corpo. Ele estava suado e ofegante, como se tivesse acabado de sair de uma rotina pesada de treinamento. – Do que estão falando?

    Yoongi não tinha especificamente uma amizade ali dentro, por causa de seu eterno trabalho como mestre, porém, conversava com Hoseok sempre que podia. O mais velho era alguém bem fechado e o médico sempre percebeu isso, então frequentemente tentava puxá-lo para alguma conversa, fazê-lo se abrir para si. As únicas vezes em que o mestre conversou de verdade sobre a sua vida com ele foi na noite em que os Rebeldes tomaram a base, quando os dois estavam bêbados e espalhados pelo pavilhão, e quando os dois quase dormiram juntos.

    Hoseok tinha que admitir que se admirava com a personalidade de Yoongi, mas também achava muito triste, pois ele era impedido de fazer aquilo que o tornava humano. Ele era proibido de sentir, assim como o seu aprendiz. Ele não se permitia ter sentimentos, já que estava sempre ocupado treinando o comandante, ganhando mais conhecimento e conhecendo novos terrenos. Para ele, qualquer sentimento que não fosse ódio era inútil.

— Sobre o traidor. Estamos pensando em algumas pessoas – Taehyung comentou, dando de ombros.

— Não deveriam se preocupar com isso. Está tudo sob controle – ele falou, sério, logo tratando de acabar com o assunto. Pegou Jin e Namjoon pelo braço e os puxou para si de forma bruta, como sempre fazia. – Preciso falar com os dois.

     Taehyung e Hoseok ficaram sozinhos, para o desespero do mais velho. Ultimamente, quando os dois ficavam sozinhos, o médico ficava muito nervoso. Não por não gostar dá companhia do moreno, longe disso, ele nem sabia explicar o porquê de estar se sentindo daquele jeito, só sabia que já não se sentia tão confortável em ficar perto dele sem ter ninguém com eles.

— É engraçado – Taehyung murmurou, como se estivesse falando para si mesmo. Quando viu que Hoseok não entendeu, ele completou. – O jeito que ele te olha.

— Quem? Yoongi? – Hoseok franziu a testa, confuso. O mais novo assentiu. – Você está louco. Yoongi não gosta de ninguém dessa maneira...Nem de qualquer outra maneira, eu acho.

— Ele me assusta um pouco por isso.

— Ele me assusta também. E olha que eu sou um homem crescido – Hoseok riu da própria situação. – Com o tempo você se acostuma. Bem lá no fundo, ele é um homem legal.

      Taehyung apenas assentiu, parecendo convencido com a sua resposta. Ele começou a observar enquanto a Kyara treinava. No meio da base, haviam alvos de madeira e de ferro, para quem quisesse praticar com as flechas ou com lançamento de facas. A aprendiz de Jungkook era realmente muito boa, ela sempre lutava com as outras crianças na manhã e passava o dia melhorando a sua mira com os alvos.

      Hoseok percebeu o olhar que Taehyung usava para admirar a pequena guerreira. Não era um olhar de inveja, muito pelo contrário, ele queria demonstrar o quanto queria ser como ela. O menor admirava muito a perseverança e a força da garota, ela saiu de uma das piores colocações e se tornou a melhor dos aprendizes. Ele tinha certeza que Jungkook a colocaria em qualquer linha de frente, de qualquer batalha, algo que não aconteceria com ele.

— Ei, Tae. Eu posso te mostrar uma coisa? – ele pegou uma lanterna que ficava apoiada do lado de fora da enfermaria.

— Claro.

— Me dê a sua mão – ele pediu, estendendo a dele. Os dois tinham os dedos entrelaçados enquanto andavam até a entrada para a floresta. Taehyung se assustou um pouco quando viu que eles estavam entrando no lugar, afinal, Jimin e Jungkook o proibiram de ir ali. – Relaxa, eu não vou contar para o Jimin. Aliás, é por uma boa causa.

  Conforme eles iam adentrando a floresta e a luz da lanterna só iluminava a frente deles, foi se tornando cada vez mais assustador seguir aquele caminho. Talvez fosse pelos barulhos estranhos que os ventos faziam, lhes pregando peças e mais peças.

  Taehyung se assustou com um ruído esquisito e apertou mais a mão dele.

— É que...Está ficando escuro, hyung. O que quer me mostrar? Essa floresta é muito perigosa, tem muitas criaturas que não conhecemos, eu sequer trouxe o meu arco e as minhas flechas.

— O seu hyung te protege – Hoseok sorriu quando viu a expressão de descrença do outro. – O que foi? Você acha que não sei lutar só porque sou médico, criança? Prefere o Jungkook só porque ele tem uma espada?

  Por um minuto, o menino até se esqueceu do medo, rindo do outro.

— Ele tem músculos também.

— Ok, então. Quando precisar das suas injeções, ou quando estiver doente, peça ajuda ao Jungkook.

   Tae sorriu, batendo em seu braço.

— Você sabe que é o meu hyung preferido.

   Hoseok murmurou, como se estivesse jogando uma praga para ele.

— Tomara que um dragão-de-komodo te ataque.

— U-Um dragão de verdade? – Taehyung perguntou, com os olhos arregalados. – Ele vive aqui? Ele cospe fogo?

— Não, ele não é um dragão daqueles que eu li para você – Hoseok riu com a sua hipótese. Quando Taehyung ficava doente ou algo do tipo, ele ia dormir na enfermaria junto com o médico, então o mais velho lia histórias de fantasia para ele. – Mas ele também é muito assustador, ele é como um lagarto gigante e carnívoro. Ele foi modificado pelo Reino, aumentaram o seu tamanho e a sua capacidade destrutiva, então colocaram a sua nova espécie na floresta. Originalmente, esse bicho nem é daqui.

— Por que me trouxe aqui agora? – Taehyung se encolheu, apertando a sua mão.

   Hoseok franziu a testa.

— Você já viveu aqui por um tempo quando fugiu do castelo, sabe que é perigoso. Por que esse medo agora?

— É, mas nessa época eu não sabia que animais modificados viviam aqui! Quando eu entrei na floresta pela primeira vez, só o que vi foram lobos, que pareceram bem normais para mim.

— Mas há um animal muito bonito aqui – Hoseok sorriu, o conduzindo por mais alguns metros. – Aqui estão elas.

  Quando Taehyung olhou aquele pequeno espaço onde a floresta parecia se abrir, entendeu o que Hoseok quis dizer. Centenas de borboletas se espalharam pela clareira, mas não eram simples borboletas, essas eram azuis e brilhantes. As suas asas realmente brilhavam como se elas fossem pequenas lâmpadas, o que fez eles desligarem a lanterna, já que o brilho delas iluminava toda a clareira. Era muito, muito bonito o jeito que elas pareciam dançar na floresta, com as suas luzinhas.

— São tão lindas. Eu nunca vi nada igual – Taehyung falou, boquiaberto. Ele se aproximou com cuidado para se debruçar em um troço retorcido e ter uma visão privilegiada das criaturas. Até mesmo conseguiu que algumas pousassem em sua mão. – Por que elas têm essa cor? É muito bonita.

— Radiação, eu acho – Hoseok deu de ombros.

Hoseok se sentiu feliz apenas por ver a animação do mais novo. Ele tinha os olhinhos brilhando e a boca aberta, tamanha a admiração. Naquele momento, o médico sabia que seria capaz de tudo para fazer aquele garoto feliz.

— Hoseok-hyung... – ele segurou o rosto do mais velho com as duas mãos, sorrindo. Deixou um beijo tímido em sua bochecha. – Obrigado por cuidar tanto de mim e ser tão legal desde o primeiro dia. Serei eternamente grato.

— Não é nada, Tae – Hoseok falou, limpando a garganta, de repente ficando nervoso. Não, ele não podia. – Eu faço isso porque gosto de você.

  Taehyung sorriu, sem graça.

— Eu também gosto de você. Muito.

  A medida que eles continuavam ali, observando as borboletas, Hoseok começou a perceber que Taehyung não estava bem. O moreno olhava para baixo, meio desorientado, como se estivesse esperando alguma coisa acontecer.

— Tae? – o médico tocou em seu ombro, desconfiado.

   Ele se arrependeu de ter feito isso, já que, assim que tocou no menino, ele gritou de dor. Os seus braços e pernas começaram a tremer violentamente, o levando ao chão rapidamente. Ele continuou a se contorcer na grama gelada, enquanto Hoseok observava, completamente assustado e desesperado por alguma resposta sua. 

— Não! Não vão embora! – o garoto gritou, se debatendo. Ele parecia estar preso em algum tipo de transe, como se sua mente estivesse vivendo algo diferente de seu corpo.

— Ei, calma, está tudo bem – Hoseok falou, se aproximando. Taehyung segurou em seu rosto e o médico observou, com certo terror, os seus olhos se revirando várias vezes até ficarem completamente brancos.

  Assim que o garoto parou de se debater, Hoseok simplesmente não conseguia dizer se ele havia desmaiado, já que seus olhos ainda estavam completamente brancos. O pegou no colo com a maior delicadeza, mesmo que tenha mantido um aperto ao seu redor. Ele decidiu que levá-lo até o Jungkook seria o melhor, talvez o comandante soubesse dizer o que foi aquilo.

(X)

— Eu ainda não entendi o que as duas estão fazendo aqui – Jungkook falou, completamente desinteressado no assunto.

  Keana e Lisa foram até a sua sala, querendo mostrar ao comandante uma coisa que descobriram. A loira havia percebido que, com as coisas que tinha em sua mochila, poderia trabalhar para entrar na frequência que os guardas do Reino usavam para se comunicar. Além de sua câmera, ela tinha o seu notebook, o seu microfone, um rádio, alguns cabos e ferramentas que seriam muito úteis, a garota só precisava de um lugar que lhe desse as condições exigidas para tal.

— Foi o que eu expliquei, comandante – Lisa falou, se aproximando do trono de Jungkook. Ela mostrou algumas coisas em seu computador que, obviamente, o moreno não era capaz de entender. Ele nunca teve um contato direto com tecnologia, de qualquer maneira. – Eu tenho uma ótima chance de me infiltrar na comunicação deles, só preciso de um lugar mais perto do Reino e que um dos seus infiltrados me faça um favor. Com a antena deles sendo desligada, ganha vantagem quem estiver mais perto.

   Jungkook olhou para baixo, desconfiado. Te peguei, ele pensou.

— E como você sabe que eu tenho infiltrados no exército do Reino, Lalisa?

  A garota pareceu ficar nervosa por uns segundos. Realmente foram alguns segundos, o lampejo de preocupação em seu rosto se foi com a mesma velocidade que chegou, nem Keana havia percebido.

— Eu, hã...Eu já fiquei com um deles. O nome dele é Chanyeol, não é? Bom, eu estava no quarto dele e o rádio estava ligado, então eu ouvi algumas coisas sobre um ataque do Reino em algum lugar. E, pelo jeito que o homem falava...Deduzi que uma mensagem era daqui.

— Então você é uma boa observadora, certo? – Jungkook falou, com um pingo de ironia na voz. Ele tinha que admitir que gostava da personalidade da garota, embora ela ainda tivesse muitas coisas para aprender. – Eu vou confessar, Lisa, eu te admiro muito por se adaptar tão fácil a estar do outro lado do jogo. Quero dizer, você cresceu no Reino, os seus pais eram os reis, você era uma princesa...E, de uma semana para outra, você foge de casa e já começa a falar sobre "se infiltrar na comunicação deles" desse jeito. O que faz você ser tão diferente deles?

— Você não sabe nada sobre mim, Jungkook – ela falou, encarando o comandante com ferocidade. Lisa mudou o peso do corpo para o pé esquerdo, parecendo ficar tensa. – Não conhece os meus motivos.

— Esse é exatamente o meu problema com você – o comandante falou, se esticando de seu trono para ouvir melhor. – Tente me explicar as suas razões e eu decido se quero te deixar mais perto do Reino. Veja, eu corro muitos riscos com essa situação, preciso saber se você vale a pena.

     Lisa pareceu ter um colapso interno naquela hora. Ela respirou fundo algumas vezes, olhando para todos os lados da sala até ter certeza que só o Jungkook e a Keana estavam presentes. Mesmo assim, a ideia de contar a sua experiência para um homem não a deixava muito tranquila. Ela tinha certeza que, quando acabasse de fazer o seu relato, ele iria dizer que ela não merecia tratamento especial por causa daquilo.

— Eu vivia em uma das ruas mais ricas do Reino com o meu pai verdadeiro, em uma casa que o Chung-Hee nos deu para que eu me mantivesse escondida do povo. Eu achava que tinha dado sorte de não ter sido morta por ser uma bastarda, mas, há mais ou menos um mês atrás, eu vi o rei e o meu pai discutindo na minha casa quando me atrasei um pouco para chegar do trabalho – ela foi rápida em limpar uma única lágrima que escorreu de seu olho direito. Jungkook a observava com cuidado, procurando algum sinal que entregasse que ela estava mentindo. – A medida que a briga continuava, os dois realmente se encheram de fúria e o rei avançou no meu pai com uma garrafa de vidro, o deixando desmaiado com um golpe na cabeça. Q-Quando eu fui tentar impedir...

— Princesa – Keana colocou a mão em seu ombro, fazendo um carinho rápido. A rebelde não sabia quando começou a ter empatia por aquela garota, não fazia nem uma semana que se conheciam. – Você não precisa continuar, ele já entendeu.

— Continue, Lalisa – Jungkook ordenou, ignorando o olhar raivoso que recebeu de Keana. – Eu tenho que saber.

— Depois que eu tentei impedir, ele me bateu e...E usou o meu corpo quando eu já estava machucada. E continuou fazendo a mesma coisa até que eu perdesse a consciência – ela já estava chorando agora. Nenhum dos primos sabia o que dizer, pois eles nunca foram ensinados a consolar  pessoas. – No dia seguinte, ainda tinha sangue nas minhas roupas e eu mal conseguia andar, mas...As ruas estavam mais barulhentas que o normal. Eu descobri que se tratava de uma punição e fui o mais rápido possível até a praça. Quando cheguei até lá, eu vi meu pai ser decapitado pelos guardas do Reino, sendo considerado culpado por um crime que ele não cometeu. E-Então, depois que ouvi aquelas coisas que Chung-Hee disse para você e de ver a loucura que o assassinato do meu pai causou a minha mãe, eu fugi.

    Ela foi até a mesa de Jungkook e se sentou em sua cadeira, cobrindo o rosto com as duas mãos. Chorava como uma criança que havia perdido o pai, não uma mulher crescida, era como se ela estivesse revivendo a experiência.

O comandante imediatamente foi até ela, se pondo de joelhos na sua frente. Jungkook segurou em seu queixo fino, limpando as suas lágrimas sem pressa. Ele deixou que ela tivesse o seu próprio tempo para se recompor, não a fez dizer mais nada, pois sabia o quanto era importante.

— Eu sinto muito por tudo que aquele desgraçado te fez passar.  Sobre o seu pai...Eu te entendo completamente e eu sei o quanto isso parece falso quando ouvimos, mas eu realmente entendo. – ele deu um sorriso triste, cheio de amargura, ainda segurando o seu rosto. – Ele fez isso com o meu irmão também. Eu recebi a cabeça dele na minha cama.

— E como você melhora isso? Como faz a dor parar?

— Ela não para, nunca parou e acredito que nunca vai. É só que alguns dias doem mais que outros – ele suspirou, se levantando lentamente quando teve certeza de que ela já estava estável. Viu que Keana olhava para os dois, como se estivesse analisando o comportamento inédito do comandante. – Você vai ter a sua vingança. Quero que você me traga a cabeça dele quando nós ganharmos a guerra, princesa.

— Eu vou, comandante – ela assentiu, enxugando os olhos. Os dois trocaram um olhar de pura empatia e solidariedade antes de se afastarem. – Vamos ao trabalho.

  Lisa explicou aos primos como faria o planejado. Ela teria que se comunicar com Chanyeol pelo rádio deles e pedir que ele entrasse na sala de controle do rádio e da televisão, usando o cartão que ela deixou em seu quarto quando fugiu. Assim que Chanyeol desse um jeito de interceptar a antena deles, bastava colocar o rádio de Lisa na mesma freqüência que ela trabalhava.

  Se o seu transmissor for mais forte que o da emissora original, você pode fazer com que os rádios sintonizem a sua mensagem, em lugar da emissora de sempre. A antena que estivesse mais perto levava vantagem, mesmo que emitisse um sinal mais fraco.

— Eu e o Jungkook já íamos para uma das vilas cypher para uma reunião amanhã, podemos te levar também. Essa se localiza no litoral e fica mais perto do Reino, deve levar um dia e meio para chegar até lá. Talvez um só dia, se formos de carro – Keana falou, encarando os dois. – Se a antena do Reino estiver desligada, então você vai ter a vantagem de qualquer jeito, mas é melhor que esteja mais perto.

— Preciso falar com o Chanyeol, vou pedir que o Namjoon me empreste o seu rádio – a loira falou, parecendo ter a sua mente trabalhando a mil. Pegou as suas coisas novamente e não se demorou a sair da sala, fazendo uma breve reverência aos primos.

  Keana e Jungkook se encaravam, perdidos nos olhares um do outro. Os dois sabiam exatamente o que tinham que conversar, mas não queriam, não depois de ter ouvido o depoimento de Lisa. Aquela garota já havia passado por muita coisa...Era realmente necessário que soubesse que a sua mãe foi morta por uma de suas novas aliadas?

— Quando vai contar para ela? – o comandante pressionou a morena, a observando com cuidado. – Vocês tem que conversar sobre esse assunto antes que arrumem alguma amizade forte ou algo do tipo, você sabe disso.

— Sei. Mas eu também sei que ela ouviu uma parte da sua conversa com o Chung-Hee, quem me garante que ela não sabe que fui eu? – a líder deu de ombros, mexendo em uma de suas tranças espalhadas pelo cabelo longo. Já fazia um tempo que não se preocupava tanto em mentir para alguém.

   Jungkook balançou a cabeça.

— Lisa não estaria tão indiferente se soubesse, eu tenho certeza que ela tem a noção de que foi um rebelde, mas não sabe quem. Quando eu conversei com o rei, ele me disse que tentaria manter aquilo em segredo de todo mundo. Tenho para mim que ninguém sabe ainda, só ele, Lisa e alguns soldados – ele fez uma pausa, respirando fundo. – Acho que você deveria esperar ela fazer tudo o que precisa com o rádio e, então, abre o jogo.

      Eles passaram mais um tempo discutindo sobre o que fariam quando chegaram a vila cypher, o lugar onde eles passaram a infância, até que Keana teve que ir embora, para aprontar os seus homens. Jungkook foi deixado sozinho, perdido em seus devaneios, quando ouviu alguém descendo as escadas. Ele já ia estranhar a situação, então se lembrou que Jimin havia dormido no quarto de hóspedes naquela noite.

    Se virou para trás e viu o ruivo. Ele ainda estava enrolado naquele casaco grande que pertencia a Jungkook e usava os seus jeans habituais. O comandante tinha que admitir que poderia se acostumar com ter essa visão todos os dias, ver o rostinho sonolento do mais baixo lhe dava mais paz que qualquer outra coisa.

— Que horas são? – Jimin perguntou, coçando os olhos. Ele se aproximou da mesa e se apoiou nela para ficar do lado do comandante, que o recebeu com um lindo olhar, como se ele estivesse apreciando admirar o seu rosto.

— Provavelmente umas seis da noite – Jungkook deu de ombros, sem ter como saber ao certo. Vendo a confusão do mais velho, ele esboçou um pequeno sorriso. – Do outro dia, hyung. Você está dormindo desde que chegamos aqui ontem.

   Jimin pareceu chocado com a constatação.

— Meu Deus, Jungkook, por que você não me acordou? Eu odeio dormir até tarde.

— Você precisa descansar, meu anjo, tem passado por muita coisa nesses dias – Jungkook o puxou para perto de si, segurando em sua cintura com delicadeza. – E você fica fofo quando está dormindo.

  Jimin sorriu, sem jeito de responder aquilo. Era tão estranho o que a presença de Jungkook fazia com ele. Ele era capaz de esquecer tudo de ruim que ocupava a sua mente e o deixava preocupado, era como se o comandante fosse a sua morfina.

  Ele olhou para baixo, percebendo uma coisa curiosa. Na mesa, uma folha se destacava das outras, pois carregava um desenho preto e branco. Era um desenho de dois homens, que tinham suas testas apoiadas um ao outro, como se estivessem prestes a se beijar. A emoção era notável nas expressões de ambos, eles tinham lágrimas desenhadas em seus olhos, como se eles não se vissem há muito tempo. Jimin percebeu que os dois personagens pareciam muito com ele e com o comandante, não podendo evitar de sorrir com aquilo.

— Isso é lindo. Eu não fazia ideia que você sabia desenhar.

— E-Eu não...Ainda não terminei esse – o comandante falou, parecendo levemente nervoso por ter sido "pego". Jimin achou uma graça aquela atitude, ficou muito feliz de saber o que o comandante pensava nos dois assim como ele pensava. E isso só ficou mais nítido quando Jungkook deu um sorriso tímido, sem mostrar os dentes, como de costume. – Comecei a fazer quando nós voltamos para casa.

  O ruivo sorriu de lado, rodeando o seu pescoço com os braços.

— Qual é a história desses dois? Pensou em alguma?

— Um deles é um príncipe de uma ilha distante e muito, muito bonita. O outro é um forasteiro, que veio de um lugar ruim, mas que tinha um enorme coração. Eles se conheceram e se deram conta de que se apaixonaram desde que se viram pela primeira vez, mas o príncipe não podia fazer nada com ele, já que o seu povo não iria aceitar.

     Jungkook contava a história, olhando fixamente nos olhos do ruivo. Ele apenas escutava com atenção, tendo os seus cabelos penteados para atrás de orelha e os olhos levemente brilhando por ouvir aquilo.

— E o príncipe soa como alguém interessado? – Jimin sorriu, dedilhando os seus lábios delicadamente.

— Oh, sim, ele estava muito interessado. Então, como não encontraram paz para que tivessem o seu amor explorado, os dois fugiram, atrás da coisa mais preciosa que eles poderiam achar: o amanhã. Esse desenho mostra como eles se encontraram e como...Como viveram felizes, não para sempre, mas pelo tempo suficiente para se tornarem lendas.

     Os dois foram interrompidos de seu lindo momento quando as portas se abriram violentamente. Ambos se viraram, a tempo de ver Hoseok entrar com Taehyung desacordado em seu colo.

— Jungkook, eu não sei o que aconteceu com ele. Ele desmaiou e seus olhos ficaram brancos! – Hoseok exclamou, deixando o garoto no chão com delicadeza. – Eu achei que fosse uma crise de diabetes, mas não se encaixa em nenhum dos sintomas.

     Jimin foi o primeiro a correr até ele, desesperado, se pondo de joelhos em frente ao garoto. Ele segurou em seu rosto, não deixando de reparar nos olhos brancos, o chamando em voz alta, tentando fazer com que ele acordasse. Jungkook veio logo depois, mas, assim que o comandante tocou o braço do mais novo ali, seus olhos voltaram a cor normal e ele pareceu ter acordado de seu transe.

  Era como se ele e Jungkook tivessem uma ligação especial, que foi privada assim que ele reagiu perfeitamente quando o maior o tocou. O pequeno olhou a sua volta, parecendo desesperado com algo, enquanto um pouco de sangue escorria de seu nariz.

— O-O que houve, meu amor? – Jimin perguntou, recebendo o menor em seus braços. O ruivo estava tão preocupado que seu peito chegava a doer, só de imaginar o que poderia ter causado aquilo. – Taehyung, você está bem?

Jungkook perguntou de um jeito diferente, sem fazer nenhuma expressão facial.

— O que você viu, Tae?

— Eu vi muitos corpos, pessoas gritando enquanto suas peles queimavam...Pude sentir que você estava chorando, comandante, mas não deu para ter certeza – o mais novo olhou diretamente para Jungkook, falando baixinho, ainda muito abalado. Hoseok e Jimin apenas olhavam para os dois, tentando entender o que estava acontecendo. – Eu vi uma explosão.



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