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História Jogo de Promessas - Capítulo 1


Escrita por: CarolTaisho

Notas do Autor


Olá pessoas!!!!!
Quanto tempo não posto algo aqui :p
Resolvi voltar com uma adaptação muito bacana que li alguns dias atrás, espero que gostem.
Boa leitura!!!

Capítulo 1 - Capítulo 1


Fanfic / Fanfiction Jogo de Promessas - Capítulo 1

[ADAPTAÇÃO]

 

KAGOME YAMATA soltou um xingamento quando tropeçou na bainha de seu vestido de casamento distraída com os números rolando na tela de seu smartphone. Ela dissera que não trabalharia hoje. Era mentira. Havia clientes que dependiam dela. E ele nunca saberia disso. Ela entrou na limusine, ainda de olho no telefone, enquanto puxava o vestido para dentro, batendo a porta depois de entrar.

– Indo para a capela?

Kagome ficou paralisada, o sangue congelando em suas veias enquanto a limusine se afastava do meio-fio e mesclava-se ao trânsito de São Francisco. Aquela voz. Ela conhecia aquela voz. Ela inspirou fundo e então ergueu o olhar, travando-o com os olhos escuros e intensos no espelho retrovisor. Ela conhecia aqueles olhos também. Ninguém mais tinha olhos como os dele, com a habilidade de ler os segredos mais íntimos de alguém. Capazes de zombar de alguém e flertar com alguém numa única olhadela de relance. Ela ainda via aqueles olhos em seus sonhos. E, às vezes, em seus pesadelos. Sesshoumaru Taisho. Um dos muitos esqueletos em seu armário. Só que ele não estava lá dentro.

– Eu vou me casar – disse ela.

Ela não ficava intimidada, ela intimidava as pessoas. Em Nova York, Kagome tinha mais ganas do que qualquer homem na sala de negociação em Wall Street. Ela era uma força reconhecida no mundo das finanças. Ela não sentia medo.

– Oh, eu acho que não, Kagome. Não hoje. A menos que você queira ser presa por bigamia.

Ela sugou o ar com pungência.

– Não sou bígama.

– Você não é solteira.

– Sou sim. A papelada...

– Nunca foi protocolada. Se não acredita em mim, faça uma pesquisa sobre isso.

Ela sentiu um nó no estômago.

– Oque foi que você fez, Sesshoumaru?

O nome dele tinha um sabor tão estranho em sua língua. Mas também nunca lhe fora familiar. Seu ex-marido era essencialmente um estranho. Ela nunca o conhecera de verdade. Eles meio que tinham morado juntos. Ela havia morado num quarto na luxuosa cobertura dele durante seis meses. Eles não faziam as refeições juntos, exceto nos fins de semana, quando iam para a casa dos pais dele. Não dormiam na mesma cama. Não dividiam mais do que o estranho “olá” quando estavam na imensa casa dele. Era somente em público que ele falava com ela. Que ele colocava a mão nela. Ele era abençoado com dinheiro, uma mente estratégica e uma total falta de se importar com a propriedade. Ela nunca conhecera um homem como ele. Antes ou desde então. É claro que nunca nem desde então tinha se casado por chantagem.

– Eu? – Os olhos dele encontraram os dela no espelho de novo. Um sorriso curvava os lábios dele, e ela viu um lampejo de seus dentes brancos em contraste com sua pele escura. – Nada.

 Ela riu.

– Que engraçado. Não acredito em você. Eu assinei os papéis. Eu me lembro muito claramente disso.

– E você teria ficado sabendo que o processo nunca foi até o fim se tivesse deixado um endereço para correspondência. Mas não é assim que você faz as coisas, não é? Diga-me, você ainda está fugindo, Kagome?

– Oque foi que você fez?

Ela não tinha de responder a Sesshoumaru. Não tinha de responder a ninguém. E, muito definitivamente, não tinha de fugir. Os olhos dela encontraram-se com os dele no espelho e ela sentiu uma pungente pontada de emoção que zombava de seu pensamento anterior. Por que isso estava acontecendo agora? Ela ia se casar dentro de uma hora. Com Kouga Wolf, o melhor homem que ela já conhecera na vida. Ele era respeitoso e honrável. Distante. Capaz de ajudar a alavancar sua carreira. Ele era tudo que ela queria, tudo de que precisava.

– É um processo complicado – disse ele, cujo sotaque era tão charmoso como sempre, até mesmo quando as palavras dele faziam o sangue dela ferver. – Alguma coisa se perdeu...?

– Seu canalha! Ela fechou o navegador em seu telefone e preparou-se para fazer uma ligação.

 – Oque você está fazendo, Kagome?

– Chamando a polícia. A guarda nacional.

– Seu noivo?

Ela sentiu um nó no estômago.

– Não, Kouga não precisa saber...

– Você quer dizer que não contou a seu amante sobre seu marido? Essa não é uma ótima base para um casamento.

Ela não podia ligar para Kouga. Não podia deixar que Sesshoumaru chegasse nem perto do lugar do casamento. Isso acabaria com tudo que ela passara construindo nos últimos nove anos. Ela odiava o fato de que ele tinha poder para fazer isso. Odiava encarar a verdade de que ele tinha poder sobre ela desde o momento em que o conhecera. Ela cerrou os dentes.

– Chantagem também não é.

– Nós fizemos uma negociação, mi tesoro. E você sabe disso. Chantagem faz com que isso soe sórdido.

– E foi. E continua sendo.

– E seu passado é tão limpo que você não suporta sujar as mãos? Nós sabemos que isso não é verdade.

Surtar para cima de Seshoumaru não resolveria o problema dela. Que precisava chegar ao hotel e trocar votos de casamento.

– Eu vou perguntar de novo, antes de abrir a porta e sair rolando em pleno trânsito do meio-dia e arruinar esse vestido: Oque você quer? Como entrego a você o que você quer? Isso vai fazer com que você suma?

Ele balançou a cabeça em negativa.

– Receio que não. Estou levando você de volta para o meu hotel. E não vou sumir.

Ela curvou o lábio.

– Você tem uma quedinha por mulheres vestidas de noiva? Porque você me fez vestir um rapidinho da última vez em que nos encontramos, e agora parece interessado em mim de novo... e aqui estou eu, vestida de noiva.

– Não é o vestido.

– Dê-me um bom motivo para eu não ligar para a polícia e dizer a eles que fui sequestrada.

– Kagome Higurashi. Seu nome verdadeiro soava tão não familiar agora... ainda mais vindo dele, dito com um sotaque sulista. Ainda assim, ela sentiu um peso no estômago quando ele o disse.

– Não diga isso...

– Você não gosta do seu nome? Bem, imagino que não. Você mudou de nome afinal de contas.

 – Legalmente. Legalmente, meu nome é Kagome Yamata agora.

– E você, ilegalmente obteve bolsas de estudo, e entrou na universidade em Barcelona, falsificando seus registros escolares.

Ela estava muito ferrada. E ele sabia disso.

 – Isso parece uma conversa que tivemos há cinco anos. Eu já me casei com você para impedir que você espalhasse isso por aí.

– Negócios inacabados.

– Aparentemente, a única coisa inacabada é o nosso divórcio.

– Ah, não, tem muito mais do que isso. Ele estacionou a limusine na frente de um famoso hotel em São Francisco. Mármore, ouro e manobristas muito bem vestidos anunciavam o luxo para todos na área. Era o tipo de coisa que sempre a atraíra desde que ela era nova. O tipo de coisa que realmente passara a desejar quando percebeu que tinha o poder para mudar as circunstâncias. Todas as vezes em que se registrava num hotel, tão logo a porta era fechada e ela estava isolada do mundo, Kagome rodopiava e caía na cama, deleitando-se com a maciez. A limpeza. O espaço e a solidão. Até mesmo agora que tinha sua própria cobertura com lençóis com milhares de fios, ela ainda fazia isso. O hotel não estava evocando esses tipos de sensações nela hoje. Não com a presença de Sesshoumaru ali. O manobrista pegou as chaves, e Sesshoumaru veio até a porta de Kagome, abrindo-a.

– Espere... você roubou isso? – disse ela, olhando para a limusine.

Enquanto Sesshoumaru se curvava para baixo, Kagome lutava contra a premência de encolher-se para trás.

– Comprei-a do chofer. Mandei que ele fosse comprar uma mais nova. Mais legal.

– E ele não pareceu importar-se que tinha de ir me pegar?

– Não quando lhe dei dinheiro suficiente para duas novas limusines. Não.

– Ele ia deixar uma noiva ilhada no dia do casamento dela?

Sesshoumaru deu de ombros.

– O mundo está cheio de desonestidade e pessoas egoístas. Você, minha cara, deveria saber disso.

Ela soltou uma bufada e ergueu o vestido acima dos joelhos, saindo do carro sem encostar em Sesshoumaru. Ela endireitou-se e deixou que o vestido caísse no lugar.

– Não diga isso como se você não fosse um dos egoístas, meu querido marido.

Sesshoumaru ainda era tudo que fora cinco anos atrás. Alto, largo, impressionante, uma visão da perfeita beleza masculina em seu terno de corte perfeito. Sua pele bronzeada ficava ainda mais acentuada por sua camisa social branca; seus cabelos escuros estavam na altura do colarinho de seu casaco. Ele sempre tivera o poder de perturbar a ordem na vida dela, de fazer com que ela sentisse que estava perigosamente perto demais de perder o controle que cultivara durante os anos. Seu magnetismo era o que ela mais odiava nele. Que ele sempre tivesse o poder de fazer com que ela tremesse quando mais anda conseguia fazer isso. Não era apenas a aparência dele. Havia muitos homens atraentes no mundo, e ela tinha bastante autocontrole para não deixar que isso a afetasse. Era o fato de que ele exalava uma espécie de poder que ela nunca poderia ter esperanças de conseguir. E o fato de que ele tinha poder sobre ela. Ela passou voando por ele, ignorando o aroma de sua colônia e de sua pele. Ela entrou no saguão do hotel, bem ciente de que estava fazendo um showzinho e não se importando nem um pouco com isso. Ela inspirou fundo. Precisava de foco. Precisava descobrir o que ele queria para que pudesse ir embora, o mais rápido quanto possível.

– Sra. Taisho, sr. Taisho. – Uma mulher que Kagome presumia que seria a gerente deu a volta no balcão com um largo sorriso motivado pelo dinheiro no rosto.

– Que bom tê-los aqui. O sr. Taisho me disse que estaria trazendo a noiva dessa vez. Tão romântico.

Sesshoumaru aproximou-se dela e envolveu sua cintura com o braço. Ela ficou sem fôlego. Por um louco instante apenas, ela queria apoiar-se nele. Aproximar-se daquela força masculina. Mas apenas por um instante.

– Muito romântico – disse ele.

– Temos bebida no quarto? – quis saber Kagome soltando-se dele.

A gerente, que pelo crachá que chamava Maria, franziu levemente o cenho.

– Há champanhe esperando por vocês.

– Vamos precisar de três – disse ela.

Maria franziu ainda mais o cenho.

– Ela está brincando – disse Sesshoumaru.

– Estou enchendo a cara desde que me casei, pretendo passar o resto do dia assim.

– Nós vamos subir.

– Mande champanhe – disse Kagome enquanto Sesshoumaru a arrastava para longe da recepção de um jeito que ela imaginava que ele achava que era algo que um adorável marido faria. Ele levou-a até o interior de um elevador dourado, com um sorriso em seu belo rosto, até que a porta do elevador fechou.

– Aquilo não foi nada fofo, Kagome. Ela pôs a mão nos quadris e voltou seu sorriso mais petulante para ele. Ela não se sentia ousada, nem no controle, mas conseguia fingir bem.

– Você está de brincadeira, não? Aquela atuação foi ótima!

– Você passou a vida toda atuando. Não espere louvores agora.

– Olha, estou nervosa aqui.

– Você não está chorando, nem rangendo os dentes por deixar seu noivo no altar.

– Você não sabe nada sobre o meu relacionamento com o Kouga, então não finja que sabe. Eu gosto dele. Não quero deixá-lo no altar. Quero que você recobre o bom senso, me dê a chave da limusine para que eu possa ir nela até o hotel e me casar com ele.

A imagem de Kouga naquele fraque preto, sob medida, parado na frente de todos os amigos e colegas de trabalho deles... ela sentia náuseas. Ela nunca, jamais pretendera fazer com que ele passasse por aquele tipo de humilhação.

– Quer eu a leve até lá ou não, seu casamento não será legal. Já lhe expliquei isso.

As mãos dela começavam a tremer. Por que estava reagindo dessa forma? Por que estava sendo tão fraca? Estaria em estado de choque?

– Eu não acredito nem por um segundo que você... esqueceu de protocolar a papelada.

O sorriso dele ficou sombrio.

– Coisas mais estranhas aconteceram, tesoro.

Pela primeira vez ela notara que ele não era exatamente o mesmo. Ela achou que os Pela primeira vez ela notara que ele não era exatamente o mesmo. Ela achou que os olhos eram os mesmos, mas agora via que não. Ele era radiante. Seus olhos âmbar brilhavam com malícia. Ele se divertira tanto com a descoberta do segredo dela, de que ela não era quem dizia ser. Divertira-se ainda mais só de pensar em se casar com uma garota americana para ofender o pai que mandara que ele se casasse para que tivesse a liderança da empresa deles. Para provar que era um homem de família. Tinha sido a melhor piada para ele, casar-se com uma estudante de faculdade, sem dinheiro algum, nenhuma conexão e nenhuma habilidade na cozinha. Ele não era mais radiante. Ele tinha um brilho sombrio agora que parecia sugar a luz da sala, que parecia absorver e matar qualquer brilho que fosse. Isso mexia com ela de um jeito estranho.

– Como ser sequestrada no dia do meu casamento?

– Você poderia ter me impedido. Poderia ter chamado a polícia. Poderia ter ligado para o seu Kouga. Você não fez nada disso. E não está fazendo nada disso. Você poderia dar a volta e sair daqui e pegar um táxi. Eu não a impediria. E você sabe disso.

– Mas você sabe. Você sabe de tudo. E eu...

– E arruinaria sua reputação junto aos seus clientes. Ninguém quer ouvir conselhos de uma conselheira financeira que largou a escola secundária e cometeu fraude para conseguir o diploma da faculdade.

– Você tem razão, esse tipo de informação realmente deixa os clientes sem graça – disse ela, sem emoção na voz, nauseada.

– Imagino que sim. É só nos lembrarmos da nossa reunião quando você era minha estagiária.

– Acho que as coisas ficaram esquisitas mesmo quando você me chantageou para que eu me casasse com você.

– Você continua usando essa palavra. Foi mesmo chantagem?

– Segundo a definição dos dicionários? Sim.

Ele deu de ombros. Faltavam cinco minutos para o casamento de Kagome, e ela estava ali, parada, numa opulenta suíte de hotel, em seu vestido de casamento, com um outro homem.

– Você teve tudo de bandeja na vida, Sesshoumaru. Comigo não foi assim. Tive de fazer meu próprio destino. Talvez eu tenha agido de forma meio duvidosa, mas...

– Ogoverno dos Estados Unidos chamaria isso de fraude.

– Você não faz ideia de como são as coisas...

– Não, você tem razão. Mal consigo falar com uma colher de prata dentro da boca. O que sei eu das dificuldades da vida? – Ele curvou o lábio com cinismo. Uma nova expressão na face de Sesshoumaru.

– A única dificuldade que você enfrentou foi quando seu pai exigiu que você abrisse mão de ser um mulherengo festeiro e arrumasse uma esposa. Então, o que foi que você fez? Você me forçou a casar com você porque achou que uma esposa gringa, especialmente não católica e que não sabia cozinhar seria um jeito divertido de seguir sem realmente seguir as ordens do seu pai. E concordei porque era melhor do que perder o emprego. Melhor do que ser expulsa da universidade. Tudo era um jogo para você, mas, para mim, era a vida!

– Você está agindo como se eu a tivesse machucado de alguma forma, Kagome, mas nós dois sabemos que isso não é verdade. Eu lhe dei seu próprio quarto. Sua própria ala na cobertura. Nunca banquei o intruso em sua vida, nunca, nem mesmo uma vez, me aproveitei de você. Mantive nosso acordo e liberei-a depois de seis meses, e você foi embora. Com todo o dinheiro que lhe prometi... do qual você vive se esquecendo.

Ela cerrou os dentes. – Porque não gastei esse dinheiro.

Ela não conseguira. Deixá-lo... deixar a família dele e a cidade que ela começara a sentir com sendo seu lar fora horrível demais. Além disso, ela sentira pela primeira vez o quão desonrosa ela era como pessoa.

– Se você quer seus dez mil dólares, o dinheiro está numa conta bancária. E, francamente, são centavos para mim agora.

– Ah, sim, agora você é uma mulher bem-sucedida, não?

Nesse instante, não era assim que ela se sentia.

– Sim, sou.

Sesshoumaru avançou na direção dela.

– Você é boa com as finanças, com investimentos.

– Planejamento financeiro, estratégias financeiras, escolha de investimentos na bolsa. Diga qualquer coisa, sou boa nisso.

– É isso que eu quero de você.

– Aconselhamento financeiro?

– Não exatamente... – Ele olhou janela afora, a expressão em seus olhos, inescrutável. – Meu pai morreu há dois anos.  

Uma imagem do homem formidável e incrível que ele fora abençoado a chamar de pai passou diante dos olhos de Sesshoumaru. Inu Taisho era exigente. Um líder. Um homem que se importava... com seus negócios, com seus filhos. Com seu filho mais velho, que não estava levando a vida a sério o bastante. Importava-se com ele a ponto de forçá-lo a casar-se. Era uma versão tensa de gostar, mas era mais do que Kagome algum dia tivera de seu próprio pai. Aquele homem, assim como sua esposa, e a irmã de Sesshoumaru vieram a significar algo para ela. Kagome amava-os.

– Eu sinto muito – disse ela, baixinho, com um pesar estranho no coração.

Não que Sesshoumaru fosse sentir falta dela ou importar-se com ela. E ela não merecia isso. Ela mentira para ele. Até onde Inu Taisho sabia, ela largara seu filho.

– Eu também – disse Sesshoumaru –, mas ele me deixou encarregado da Taisho Communications.

– E as coisas não estão indo bem...?

– Não exatamente.

– Você precisa que eu dê uma olhada nos livros da empresa? Porque posso fazer isso depois que me casar com Kouga.

– Isso não pode acontecer, tesoro.

– Pode sim – disse ela desesperada.

Já passava da hora da marcha nupcial. Ela podia visualizar o hotel, todo enfeitado com fitas e tules cor-de-rosa. Seu belo bolo de casamento cor-de-rosa. Era o casamento de seus sonhos, desde que era uma menininha. Não um casamento numa catedral, conduzido inteiramente em latim. Um show para a família do noivo. Um casamento que não tinha nada a ver com ela. O casamento com Kouga seria com um noivo que não a amava, mas que pelo menos gostava dela. Um noivo que não achava a ideia de fazer votos de casamento uma piada. Pelo menos ele a queria por perto. Ser querida num nível pessoal era novidade para ela... que gostava disso.

– Sinto muito, Kagome. Preciso que você volte para a Espanha comigo. - Ele olhou para fora da janela. – Está na hora de levar minha esposa de volta para casa.

– Eu disse não. Não é não.

Kagome recuou um passo.

– Sinto muito, mas não se trata de uma negociação. Ou você vem comigo agora ou vou até aquele hotel com você, que poderá explicar, na frente de seus convidados e de seu noivo, exatamente porque você não pode se casar com ele hoje. Pode explicar a ele como estava prestes a envolvê-lo num casamento ilegal.

– Não de propósito! Eu nunca faria isso com ele se eu soubesse...

– Assim que seu histórico for revelado, pode ser que ele não acredite em você. E, mesmo que acredite, talvez não a queira mais.

Sesshoumaru curvou os lábios num sorriso, mas seus olhos não tinham nenhum humor. Parecia que ela estava olhando para um estranho. Ele não era o Sesshouumaru que ela conhecera. Do qual ela nem sabia como sentia falta. Sim, ele tinha os mesmos lábios perfeitamente curvados, o mesmo maxilar anguloso, a mesma teimosia. Mas não tinha mais o ar despreocupado de antes. Havia rugas em seus olhos e em sua boca. Boca que parecera ter-se esquecido de como era sorrir. Talvez fosse por causa da morte do pai dele, mas ela não estava nem aí para nada disso. Não podia dar-se ao luxo de importar-se com nada disso. Tinha de cuidar de si, como fizera a vida toda. Ninguém cuidara dela antes e ninguém faria isso agora além dela.

– Canalha. Você está ficando repetitivo. Então você espera que eu volte para a Espanha e seja sua esposa?

– Não exatamente. Espero que você volte e continue a agir como se fosse minha esposa enquanto me ajuda a resolver os problemas que estou enfrentando na Taisho Communications.

 – Por quê?

– Porque não preciso que ninguém fique sabendo da existência desses problemas. Nem meus concorrentes, nem minha mãe, nem minha irmã... Ninguém pode ficar sabendo disso.

Ela começou a montar o quebra-cabeça em sua mente.

– Então você acha que podemos fazer com que pareça uma reconciliação depois de cinco anos. Sua esposa repentinamente de volta a Barcelona, grudada em você, em vez de assumir que precisou de ajuda externa para ajeitar suas finanças?

– Praticamente... sim.

Agora as coisas faziam sentido. Por trás da atitude dele, havia problemas de verdade. O que queria dizer que Kagome tinha mais poder do que achou que tinha trinta segundos antes. Ela curvou os lábios num sorriso, sentindo a adrenalina no corpo.

– Você precisa de mim. Diga. Diga que precisa de mim.

– Kagome...

– Não. Se vou até mesmo considerar a possibilidade de fazer isso, você tem de admitir. Para mim e para si mesmo. Agora... agora eu não sou uma aluna de faculdade assustada e com medo... – Ela olhou nos olhos dele sem pestanejar. – Admita que precisa de mim.

– Você nunca foi uma aluna assustada de faculdade. Você era raivosa. Você ficou com raiva por ter sido pega e estava desesperada para manter aquele segredo.

– Bem, agora você está soando um pouco desesperado. – Ela cruzou os braços e inclinou o quadril. – Então, pelo menos diga “por favor”.

Ele curvou os lábios num quase rosnado, um músculo pulsando em seu maxilar. Ele pesava suas opções.

– Por favor.

Ela ergueu o queixo e sorriu, aquele tipo de sorriso que ela sabia que faria o sangue dele ferver.

– Bom menino.

A luz feroz nos olhos dele era um indicativo de que ela fora longe demais agora. Mas ela não estava nem aí para isso. Ele não tinha como ferrar mais ainda o dia dela do que já tinha feito. Por um instante, ele não se mexeu. Ela viu que ele estava tomando decisões, calculando... ela chegou a achar que ele poderia... bater nela? Certamente não. Não importava o que Sesshoumaru fosse, mas monstro ele não era. Será que a beijaria? Isso era algo que ele poderia fazer. E só de pensar nisso, o coração dela acelerou-se. Ela viu que ele relaxara visivelmente.

– Bastante confiança e atitude de uma mulher que poderia ser acusada de um crime se as palavras certas caíssem nos ouvidos errados.

Ela levou as mãos aos quadris.

– Mas você mostrou suas cartas, querido. Eu posso ter uma arma apontada para a minha cabeça, mas você está amarrado a mim. Se eu pular do penhasco, você vem comigo. Sejamos civilizados, que tal?

– Não vamos nos esquecer de quem tem mais a perder.

Ela analisou a face dele, as rugas em volta de sua boca, em sua testa. Rugas que não existiam quando ela o conhecera.

– Eu tenho a sensação de que você tem mais a perder do que parece.

– E você? No mínimo pode perder clientes, sua reputação.

No máximo...? Ele não teve de terminar a frase. Era possível que ela pudesse perder... tanta coisa. Tudo. A possibilidade de ser acusada de um crime. De perder o diploma. De estar de volta num trailer em Arkansas. Ela não poderia voltar para isso, um inferno sem saída. Uma eternidade de monotonia desconfortável que a maioria das pessoas tentava amenizar com as ondas nebulosas do álcool ou o barato das drogas. Não. Ela não se arriscaria a voltar àquela vida.

– Entendi. De qualquer forma... não posso ir me casar com o Kouga agora, não é?

– Não, a menos que você queira ampliar sua lista de crimes.

– Não machuquei ninguém, Sesshoumaru.

Sesshoumaru ficou olhando para a esguia e fria morena que estava parada à sua frente, de braços cruzados na frente de seu vestido de noiva. Sua esposa. Kagome. A imagem dela, uma estudante de faculdade magrinha com uma mente afiada e mais ganas do que qualquer pessoa que ele conhecera ficara em sua mente. E, quando ele se dera conta de como estavam ficando difíceis as coisas na Taisho Communications, fora nela que ele pensara. E soube que tinha de trazer sua esposa de volta. Sua esposa. Que nunca fora realmente sua esposa, exceto por sua assinatura na certidão de casamento. Ela era uma conexão com seu passado. Com o homem que ele fora. Ele se perguntava se ela poderia magicamente reverter as coisas, fazer com que, de alguma forma, ele voltasse a ser como era antes. Tolice, provavelmente. Mas ele não conseguia tirá-la da cabeça, e tinha de haver um motivo para isso. Ainda bem que ele agira no momento certo. Nesse seu novo mundo cheio de enxaquecas e conversas de que ele se lembrava pela metade, agir no momento certo era algo raro, e que ele saboreava. Pessoalmente, ele não estava nem aí para o que ela havia feito para entrar na universidade. Naquela época, ele a havia selecionado como sua estagiária com base em nada além de seu desempenho impecável na faculdade. Para ele, isso era tudo que importava: que ela estivesse à altura do trabalho. Ele usaria agora qualquer vantagem que tivesse, sem peso na consciência. Kagome sabia muito bem o que era fazer o que tivesse de ser feito. Exatamente o que ele estava fazendo agora.

– Você agiu, ignorando as ideias tradicionais de certo ou errado, independentemente de quem fosse se machucar com isso. A mesma coisa que estou fazendo agora, então, espero que você me perdoe – disse ele, ciente de que não havia nenhuma sinceridade em seu tom de voz. Não que ele a sentisse. Ela o estava testando, cutucando, tentando deixá-lo com raiva. Tinha dado certo, mas não mexeria no foco dela, que era ela.

– Então você acha que fica tudo bem, elas por elas? – disse Kagome sem sorrir.

– Não estou extremamente preocupado com questões de moralidade no momento. Preciso levar a Taisho de volta ao lugar dela.

– Como foi que você conseguiu deixar as coisas ficarem tão ruins assim?

Nem ferrando que ele ficaria falando de suas falhas. Não agora e provavelmente nunca. Isso não era da conta dela.

– Todos nós temos nossos pontos fortes. É com o orçamento que estou tendo problemas. Investimentos. Impostos. Não sou especialista nessas coisas.

– Contrate um especialista.

– Fiz isso. Ele não fez o trabalho dele.

– Basicamente você não notou que ele estava ferrando com as coisas...

Só de pensar nisso, além de ter de fazer as coisas rotineiras da direção da Taisho, o deixava com dor de cabeça, falta de ar... Ele sentia o gosto metálico do pânico na língua. Será que algum dia ele se sentiria normal? Ou esse seria seu normal agora? Que pensamento perturbador!

– Eu não tinha tempo para isso – disse ele, entredentes.

– Muito ocupado dormindo com mulheres diferentes por aí?

– Uma herdeira diferente toda noite – disse ele, quase dando risada de sua própria mentira.

– Melhor do que lidar com assuntos de casa. Ou chantagear estagiárias para se casarem com você...

– Nosso caso foi especial.

– Ah, sim. Nossa, eu me sinto brilhando de tão especial que sou.

Kagomv queria deixá-lo com raiva. Ele não permitiria que isso acontecesse. Era um dos poucos benefícios do ferimento na sua cabeça. Isso tinha resfriado suas paixões e, embora isso fosse um inconveniente em algumas formas, em outras, era algo de valor. Ele não mais tinha a cabeça quente. Geralmente. Não era mais impulsivo. Segundo alguns, não era mais divertido. Mas ele não sabia como consertar isso. E descobriu que não se importava mais com isso. Mais um dom.

– Bem, é seu grande dia. Uma noiva não deveria sentir-se especial?

Ela murmurou um palavrão bem feio e sentou-se na beirada da cama, e a saia de seu vestido formou ondas de tecido a seu redor. Como um anjo raivoso, caído na neve.

– Golpe baixo.

– Você ama este homem com quem ia se casar hoje?

Ela balançou a cabeça devagar.

– Não.

Ele balançou a cabeça também.

– Está usando outra pessoa?

– Dificilmente. Kouga também não me ama. Nenhum de nós tem tempo para uma paixão avassaladora. Mas nós gostamos um do outro. Eu gosto dele. Não gosto da ideia de ele ser deixado no altar. Não gosto da ideia de humilhá-lo.

– Acho que mais humilhante seria se ele descobrisse que a quase esposa dele vinha mentindo para ele. Sobre tantas coisas...

– Kouga tem seus segredos. Ele não acha que ninguém percebe isso... mas ele tem. Sei que tem... mas não faço perguntas.

– Isso quer dizer que...

– Ele teria aceitado meus segredos também. Nós não dividimos confidências.

– Bem, não creio que isso vá acontecer agora.

Uma breve expressão e vulnerabilidade e tristeza passou pelo rosto de Kagome. Estava claro que ela sentia algo por Kouga, não importando o que ela dissesse.

– Planos mudam. – Ele sabia muito bem disso.

– Tenho de ligar para... alguém – disse ela com um nó no coração.

– Está tarde demais para salvar o dia.

– Sei bem disso – disse ela, irritada. – Só me dá um minuto.

Ela puxou o celular de dentro da bolsa.

– Para quem você está ligando?

– Para minha assistente. Ela está no escritório cuidando das coisas enquanto estou fora. Kagura? – Kagome assumiu um tom autoritário. – Eu sei. Eu não posso... não posso prosseguir com isso. É complicado. E não vou conseguir chegar no hotel. Você pode... ir até lá e dizer isso a Kouga?

– Dizer o que a ele?

Sesshoumaru ouviu os gritos da assistente dela de onde ele estava.

– Que eu sinto muito. Que eu gostaria de ser valente o bastante para fazer com que as coisas fossem diferentes, mas não consigo. Eu sei que estamos na hora do rush, e vai levar uma eternidade para você chegar lá, mas... por favor? – Kagome fez uma pausa de novo. – Obrigada. Eu... tenho de ir. - Ela apertou o botão para finalizar a ligação e voltou-se para Sesshoumaru. – Espero que esteja satisfeito consigo.

Ele não estava, mas como ele se sentia não tinha nada a ver com isso. Isso era o que tinha de ser feito. Tentar consertar a Taisho. Tentar consertar a si mesmo.

– Na verdade, não, mas eu prometo a você que no fim você vai ficar satisfeita com isso.

– Duvido.

– Assim que as coisas estiverem resolvidas, vou dar-lhe a permissão de falar da sua parte na ressurreição da empresa da minha família.

Ele não pretendia dar nem esse tanto a ela. Ele ficou chocado com sua própria oferta. Ele não costumava mais ser espontâneo.

– É mesmo? – disse ela, com a expressão velada, mas o interesse em seus olhos era intenso demais para que ela o escondesse por completo.

– Verdade. Prometo que, no fim das contas, eu me divorciarei de você e você poderá se gabar dos seus êxitos na empresa. O que eu não quero é ninguém enfraquecendo os negócios enquanto as coisas estiverem vulneráveis, mas, depois disso, diga o que quiser, arraste o meu nome pela lama, fale das minhas incompetências.

É só orgulho... Orgulho do qual ele tivera de abrir mão fazia um bom tempo. Ele se segurava no que podia, mas era limitado.

– Você vai mesmo se divorciar de mim desta vez? Perdoe-me por não acreditar em você.

– Se você não se mudar toda hora que nem uma cigana, então terá os papéis quando tudo ficar finalizado.

O primeiro divórcio não finalizado não fora intencional. Mais um efeito colateral do acidente que tinha mudado tudo, mas, no fim das contas, fora algo afortunado.

– Certo. Temos um acordo.

Kagome estendeu a mão esguia que ele segurou na dele. Ela era tão mignon. Passava a impressão de delicadeza, quando ele sabia muito bem que ela não era nada delicada. Era como se fosse feita de aço, isso sim. Um sorriso curvou os lábios dele, a satisfação ardendo em seu peito.

– Boa menina.


Notas Finais


Ate a próxima.


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