História Jogos - Volta

Desde aquele infeliz dia minha vida foi do céu para o inferno em duas horas. As duas piores horas da minha vida.

Eu quase arranquei minhas mãos para sair daquelas algemas. Quando cheguei em casa a decepção no rosto de todos da minha família foi de longe a pior coisa.

Eu nunca apanhei tanto de alguém quanto apanhei do meu pai, acho que ainda hoje algumas marcas são perceptíveis se você olhar de perto. O pacote de desgraças veio acompanhado de uma expulsão, então lá estava eu, estudante de 18 anos, desempregado e sem apoio familiar jogado na rua. Eu me sentia um lixo.

Talvez eu seja tudo aquilo que o Jimin falou realmente, se é que esse é o real nome daquele desgraçado.

Eu não tive mais notícias dele, ele realmente sumiu do mapa. Sim, eu tentei o encontrar; inúmeras vezes inclusive. Perguntei para seus amigos e nenhum soube me responder, e os poucos que aceitaram falar comigo disseram que ele pode ter ido para o exterior já que estava planejando isso à alguns meses. Aquele filho da puta planejava ferrar com minha vida à meses.

Mas tudo na vida nós superamos, pelo menos era pra ser assim, certo? Depois que meus pais me deserdaram e me jogaram na sarjeta, com a ajuda dos poucos amigos que continuaram do meu lado eu arrumei um lugar para dormir.

Larguei a faculdade e passei a me dedicar no meu emprego meia-boca em um restaurante falido de Busan. Me sinto um sujo por ter vendido meu corpo diversas vezes para a dona pra ter um lugar pra ficar a noite.

Perdi a conta de quantas vezes me prostitui para ter o que comer no outro dia. Depois que sua dignidade é jogada no lixo uma vez, você acha que não pode ficar pior. Mas fica. Sempre fica.

E na noite passada eu recebi a ligação da minha mãe –se é que ainda posso chamá-lá assim, já que fui deserdado e "expulso" da família.

Na ligação ela apenas disse que como um bom dongsaeng eu deveria comparecer ao jantar de noivado da minha noona, no qual eu não tinha a menor vontade de comparecer já que minha relação com a minha irmã não é lá das melhores. Não que eu tenha algo contra ela, mas acho que depois de ver o olhar de desgosto dela ao descobrir juntamente com nossos pais de que  sou gay e não ter feito nada enquanto eu era espancado fez com que a pouca empatia que eu tinha com ela diminuísse.

Mas mesmo assim estou indo, essa pode ser uma chance de me reaproximar da minha família, porquê por mais ruins que eles tem sido comigo esse tempo todo, eles ainda são minha família. As mesmas pessoas que me fizeram ser o que sou hoje, em partes. Os mesmos que me deram amor, carinho e uma boa base familiar para me inspirar.

Ao chegar na minha antiga casa eu paro um pouco para analisar. Céus, não mudou nada desde quando fui embora.

Bato na porta sentindo o sangue ir para todo meu rosto, eu estou tão nervoso. Dou um passo pra trás pensando se ainda dá tempo de correr para o ponto de ônibus mais próximo. Antes de me virar escuto a porta abrir, e aquele rosto tão familiar que por anos me fez sentir a pessoa mais amada do mundo estava na minha frente.

–É bom ver a senhora de novo, mãe -Me curvo.

–Sabe que não pode mais me chamar assim, Jeongguk -Ela mantém sua cara fechada enquanto dá espaço pra eu entrar- Vamos, entre logo -Apresso meu passo e entro na casa que por anos chamei de lar.

–Desculpe -Me curvo novamente e me viro indo para a sala quando recebo um puxão no pulso.

–Espero que se comporte hoje, é uma noite muito importante para sua irmã.

–Sim senhora -Soltei meu pulso bruscamente- Se me der licença -Vou em direção a sala e imediatamente recebo os olhares reprovadores dos mais conservadores, olhares surpresos dos mais novos e até mesmo os de compaixão dos que antigamente me chamavam de amigo.

–Agora que todos chegaram, eu queria a atenção de vocês para apresentar o mais novo membro da família Jeon. Venha cá filho -Pensei que meu pai estava se referindo a mim quando vi um sujeito passando pelo meio das pessoas. Seu cabelo era loiro e ele tinha uma estatura baixa.

Esse rosto. Esse sorriso.

–Meu nome é Park Jimin, e espero que cuidem de mim daqui para frente, prometo fazer a Sonyeol a mulher mais feliz do mundo.

Eu acho que nunca senti um ódio tão grande como estou sentindo agora.

–É bom ver você de novo também, Kookie.