História Jogos Sanguíneos - Jikook (em revisão) - Teste ou tortura?

-Jimin, de pé! –Escutei uma voz feminina em meio à um barulho estridente.

Olhei, lá estava Yoon batendo duas bandejas, juntamente com uma Sook de pijama e cara amassada, e um Yoongi irritado mandando ela parar.

-Que merda está acontecendo? –Perguntei coçando os olhos e sentando na cama.

-Já que esse irresponsável não vai treinar vocês, eu vou. –Murmurou Jisoo lançando um olhar carrancudo ao meu instrutor.

-Você não pode treina-los, sabe disso. –Min disse revirando os olhos. –Todo ano tem que fazer um escândalo...

-E você todo ano tem que encher a cara, no segundo dia, por causa de uma mulher que está morta!

-E você se irrita porque sabe que homem nenhum faria isso por uma mulher irritante e sem graça como você! Está sozinha até hoje, por que será? –Debateu e as expressões da vampira mudou para algo tristonho, que não combinava nada com ela.

-Peça desculpas. –Sibilei, levantando da cama.

-Mas o que... –Ele começou, mas o cortei.

-Não fale assim com ela. Seja homem, peça desculpas.

-Eu não vou pedir desculpas... –Bufou.

-Está tudo bem, Jimin. Ele só está de ressaca. –Ela abriu um sorrisinho forçado. –Vamos tomar um café, depois falamos de treinamento.

No fundo eu sabia que ela tinha ficado magoada.

...

-Aconteceu algo que eu não sei? –Perguntou Yoongi, quando estávamos treinando minha habilidade em arapucas; Yoongi me ensinava uma nova.

-Bem, isso depende. Se lembra de quem te levou até o quarto, e te deu banho ontem? –Perguntei.

-Não, mas se foi você, sinto muito. –Deu uma risada nasal.

-Iria ser eu, de qualquer modo, porém, o príncipe encantado, chegou para salvar a princesa. –Fiz uma pausa. –Meu Deus, isso soa horrivelmente gay.

-JungKook? –Assenti. –Uau! Nosso pla... –Fez uma pausa ao lembrar que havia alguma chance de o moreno escutar a conversa. –Bem, está tudo dando certo. Esse garoto parece ser gentil.

-Ele e eu ficamos conversamos no telhado, mas... ele desconfiou e... disse que não podia me ajudar. –Suspirei. –Mas conversamos bastante, de qualquer maneira.

-Podia dizer que estava decepcionado, se não conhece seu sangue tão bem. Relaxe, está tudo dando certo. –Disse com um sorrisinho. Parecia que ele tinha uma carta na manga.

Nos dois dias que se seguiram Jeon somente me olhava e abaixava a cabeça, não nos falamos nem nada do tipo, seu pai até parou de me olhar feio, já os tributos somente me olhavam com curiosidade.

Min disse que vários tributos queriam se aliar a mim, ou seja, trabalhar juntos, até sobrarem poucos de nós e termos que nos matar do mesmo jeito.

-Eu não quero fazer nenhum aliado, Yoongi! Só se for a menininha do distrito 11, a tal Bang Yun.

-Você quer se aliar com uma menininha de 11 anos, enquanto tem 22 opções melhores? Ninguém está tendo a chance que você tem, Jimin, e você só me surpreende com tanta burrice. –Disse com irritação.

-Eu confio nela! Diferente do resto das máquinas de matar, que temos além dos vampiros. E na verdade, o que eles querem comigo?

-O povo te ama! Você causou uma ótima impressão com aquelas chamas, e também enfrentou o pai do Jeon na frente de todos! Estão lhe chamando de “Garoto quente”. –Explicou.

-Você acha mesmo que se eu tiver aliados Jeon vai ir atrás de mim? –Debati.

-Jimin, você tem certeza que não sente nada por ele?

-É obvio que não, Yoongi. Só tenho... fé.

...

Era o penúltimo dia de treinamento, a tensão no local só aumentava; até Sook que pensava tão positivo em relação aos jogos, andava desanimada, mas era normal, afinal, a morte chegaria para 23 de nós.

Estávamos no centro de treinamento, quando comecei a ouvir gritos, e berros, bem na parte que os vampiros estavam.

-Yoongi, o que está acontecendo? –Perguntei em um sussurro.

-Os vampiros estão sendo testados. –Disse engolindo seco.

-Testados ou torturados? –Indaguei enquanto os gritos só aumentavam.

-Fico com a segunda opção. Jeon é o próximo. –Avisou-me enquanto os gritos cessaram.

Logo, começou novamente os gritos, que eu os reconheci facilmente. Era mesmo Jeon.

-Impeça isso! –Gritei para meu instrutor. Seus gritos entravam em minha cabeça me fazendo tapar os ouvidos. Parecia que ele gritava mais. Parecia que com ele era pior.

Saí correndo até o centro de treinamento deles, paredes de vidro agora cobriam o local, Min me segurou.

-Jimin, não fique vendo isso, vamos embora. Você não pode fazer nada.

Olhei novamente. Jeon estava em uma cadeira que parecia dar choques em todo seu corpo, enquanto vários tubos injetavam alguma espécie de líquido em suas veias.

-Parem com isso! –Berrei para um monte de vampiros que me olhavam estranho. Tentei entrar na sala, mas eles somente me seguraram.

-Você não pode entrar aqui. –Disse um vampiro segurança, alto e gordo.

-O que estão fazendo com ele? O que é aquele líquido? –Perguntei quase em berros, seus gritos eram altíssimos e eu tinha que berrar mais do que ele.

-O que está fazendo aqui, humano? – Me perguntou uma vampira loira surgindo do meu lado. Eu lembrava dela, era uma vampira que representava Ares, deus da guerra.

Não respondi. Aproveitei a distração do segurança para tentar entrar para dentro do local, mas a garota foi mais rápida, e me segurou com facilidade. Comecei a gritar, doía em mim vê-lo sentir tanta dor dessa maneira.

-Qual seu problema, garoto? Não gosto de gritos, não piore a situação. –Resmungou a loira.

-Eles vão mata-lo! Eles... eles... –Não conseguia terminar minha fala, apenas vi uma pedra sendo lançada e o vidro se quebrando por completo.

Achei que tinha sido Yoongi a jogar a pedra, mas foi simplesmente a menininha de 11 anos que eu queria como aliada, ela piscou para mim.

Em meio à confusão, todos os vampiros vieram ver o que aconteceu, então consegui passar para dentro do recinto, quando desligaram a máquina, e Jeon soltando-se dos fios, caiu ao chão. Corri até ele.

Seu rosto estava com expressão de dor, se encolhia ainda mais, ajoelhei e coloquei sua cabeça em meu colo.

-Você está, ok? –Perguntei desesperado sem saber o que fazer.

-Minha força... –Respirou. –Estou me sentindo fraco. Você... tem sangue em você. –Sua voz era rouca e sutil, e seu tom muito baixo.

Olhei para um pequeno corte no meu braço. Deveria ter sido causado por eu tentar atravessar entre os cacos de vidro que estavam no chão.

-E-eu... quero... –Ergueu o dedo até o pouco de sangue que escorria no local, e levou a boca, fiquei sem reação, até seu pai aparecer aos berros até mim.

-A culpa de tudo isso é dele! –Apontou para mim, chamando os seguranças. –O leve aqui!

E eu fui carregado à força até meu quarto, e fiquei de castigo lá o resto do dia.

Eu estava preocupado com Jeon, ele não era uma má pessoa, não merecia isso.

Esse jogo não é nada justo para ambas as partes.

Ainda podia lembrar claramente dele dizendo que estava sem forças, e de como levou seu dedo com meu sangue até seus lábios.

Essas cenas me confundiam!

-Jimin, você tem uma visita. –Disse Yoon abrindo a porta do meu quarto e revelando alguém que eu não esperava.

-JungKook? –Indaguei levantando da cama e vendo um Jeon pior do que vi hoje mais cedo, pelo menos conseguia andar.

-Olá Park. –Disse monótono.

-Vou deixar vocês dois à sós. –Disse Jisoo, saindo do local.

Ele veio até a borda da minha cama, se sentando.

-Vou ser breve. –Começou. –Por que fez aquilo?

Ignorei a pergunta, tocando em um hematoma debaixo de seus olhos, como se ele tivesse tomado um soco naquela região.

Seus olhos vermelhos me causavam arrepios.

-Achei que... vocês, não ganhavam hematomas.

-Claro que ganhamos, a diferença é que se precisa de uma força maior para isso. Mas não se preocupe, nos curamos bem mais rápido também.

-Quem bateu em você? Te torturaram mais? – Indaguei incrédulo.

-Sim, mas... o roxão não foi por causa do teste.

-Aquilo não é um teste, Jeon. – Revirei os olhos. –Foi seu pai?

-Não importa. –Sua mudança de assunto já respondia minha pergunta. –Me diga, Jimin. Por que fez aquilo? Por que quer me confundir daquela maneira? Você age como... como...

-Como se eu me importasse? – Ri nasalado. –E... e eu me importo! Tudo nesse jogo é tão estúpido e cruel! Quando ouvi seus gritos, não aguentei, entende?

Pela primeira vez eu não tinha mentido.

-Você quer se aliar a mim, certo? Aliar-se um vampiro... isso não acontece. –Perguntou monótono.

Dei de ombros.

-Aconteceu uma vez... E eu quero viver. –Sussurrei.

-Eu pensei. Pensei que não quero te ver morto, não sei por qual motivo, ou que eu podia me esforçar mais para te ajudar. –Suspirou, escondendo o rosto nas mãos. –Mas não posso, Park. Não. Não! Hoje foi somente a prova disso. Eu não sou forte o suficiente para lutar nem comigo mesmo. Desculpe Jimin, desculpe mesmo. Mas não poderia nem está aqui com você.

-Tem medo do seu pai, não é. –Ele não respondeu. Tinha hora que eu esquecia que JungKook só tinha 15 anos. –Tudo bem, eu entendo. Posso só pedir mais uma coisa? – Era a hora do teatrinho de “cara apaixonado”. –Amanhã é a cerimônia de iniciação dos jogos, e talvez... o meu último dia de vida. A última coisa que peço é que passe a minha última noite de vida comigo.

-Como assim?! –Eu ri de sua reação exagerada.

-Não pense besteira! Tipo, quero que esteja comigo, quero te conhecer antes e tudo.

-Isso não tem sentido. –Franziu a testa.

-Só eu sei o que faz sentido! Só eu que sinto aqui. –Apontei para o peito.

Eu não sabia se aquele argumento tinha sentido, mas me pareceu sensato dizê-lo. “Estar” apaixonado é estranho para mim.

-Não se nega um pedido de alguém em seu leito de morte. É o que dizem. –Disse por fim.

-Eu preciso pensar, Jimin. –Levantou da cama e foi até a porta; achei que ele fosse simplesmente ir embora, mas ele parou em frente a mesma. –E eu não acredito que vá ser sua última noite, te vi treinar, e bem, você é fantástico.

Sorri largamente ao vê-lo atravessar pela porta.

Se ele aceitasse, eu teria uma chance de fazer a coisa certa. A última chance.

Enganar Jeon era uma péssima coisa a se fazer. As minhas falas até para mim eram confusas. O que do que eu falava era mentira? E o que do que eu falava era verdade?

Coloquei essas preocupações em segundo plano, pois por enquanto... eu me preocuparia em viver.