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História Joias de Bellona - Preto como Ônix: Psicometria


Escrita por: CacauVegano

Notas do Autor


Música que representa a personagem principal do capitulo: Solitaire - Marina and the Diamonds

Capítulo 2 - Preto como Ônix: Psicometria


Fanfic / Fanfiction Joias de Bellona - Preto como Ônix: Psicometria

Sofia é uma figura minuscula para a estatura dos outros personagens. Voz baixa, movimentos lentos e desleixados, o olhar, porém, cuidadoso, sempre na intensão de olhar o suficiente, não de menos, não demais. Sorri com facilidade, mesmo tendo dificuldade em demonstrar tristeza ou raiva. Mas acredite em mim, de todos nesta história, é a mais capaz de sofrer por qualquer formiga morta e qualquer sorriso não devolvido; As mãos, sempre precisado segurar algo ao tórax e seus lábios tão colados à faz parecer tão vazia quanto os trópicos. Pessoas assim podem ser consideradas as mais irreais, fora de mundo, vivendo um sonho. Mas acredite de novo, a realidade em sua cabeça e alma é tão real quanto a de qualquer outro. Abstração ou em carne, seus olhos abrangem tudo. Não pense que a escolhi por puro capricho de escrever um romance que te emocione.  Minhas intenções não são nada mais, nada menos que te machucar, querido leitor. E a postura ereta demonstrando saúde é a primeira coisa que se contradiz com todo o resto, seguido pelo rosto sempre elevado que, embora transmita insegurança pela necessidade frequente de checar o ambiente a sua volta,  diz em chumbo como poderia facilmente entrar em uma briga de teimosia contra autoridade, se necessário. De onde veio o chumbo? provavelmente de uma constante luta interna e externa pelo controle de si mesma. E sua energia, vencedora por anos, exibe sua flexibilidade e tranquilidade, como se expõe na letra das almas: "Entendimento é para os corajosos, assim como eu". Tente se aproximar, terá agradável calidez. Aproxime-se mais, terá frieza. Aproxime-se mais ainda... Bem, só os deuses sabem.

O ar estava silencioso. Sofia podia jurar que três pessoas lhe acompanhava: Uma garota de traços chineses, uma mulher alta com longos cachos crespos e um homem, quase tão alto e cabelos loiros ondulados. Mas quando virou-se para disser-lhes sobre a porta que acabou de achar, não havia ninguém. Julgou que se separaram sem perceber, o lugar era grande e difícil de ver por entre tantas plantas e arvores. Já cansada de esperar, mal suportava a sensação de ansiedade em seu peito. Resolveu investigar a porta e encontrou uma espécie de "botão" localizado bem ao meio. Apertou.

*Clique*

Conseguiu arrastar, para a direita, o que parecia uma chapa fina de concreto. Era quadrado, não muito maior que a garota. Há sua frente estendeu-se um corredor claro cujas paredes formavam um estranho heptágono na qual linhas azuis seguiam diagonalmente em cada uma das 6 vértices. No teto e ao chão mal notava-se as lampadas que conseguiam iluminar cada diâmetro da sala. Sua luz era incrivelmente suave aos olhos. O pensamento do possível futuro arrependimento nem passou por sua cabeça quando caminhou silenciosamente para dentro, fechando a "porta" logo em seguida. O som de seus passos pareciam música para os ouvidos e sentiu uma sensação de segurança ao saber que o minimo som poderia denunciar qualquer pessoa que se aproximasse. Continuou pois, no corredor que parecia infinito e a cada curva esperando em vão alguma outra porta. As vezes se deparava com duplos corredores, mas por algum motivo não sentia medo sobre onde estava indo.

Os pés faziam um "tec tec tec" em um ritmo lento e descontraído.

Tec tec tec te-.... Silencio. Viu uma porta alguns metros de distancia, no fim do novo corredor totalmente reto. Aproximou-se rapidamente, tomando porém, a preocupação de não parar mais perto que 2 metros de distancia. E observou. Era totalmente branca, bem menos detalhada que a primeira do jardim. Ou seja, sem a marca do botão.

Engolindo seco, tocou-a e quase berrou com o susto que tomou com uma luz surgindo diante da mão que tocava o maciço... Metal? E as luzes continuaram se espalhando em finas linhas retas e retangulares até que, ficando totalmente negra, desapareceu em pó flutuante. A sala que se seguiu era um nada branco com paredes de vidro, dando uma bela vista pra um céu estrelado e um mar sem fim.

Hipnotizada era a melhor palavra. E quem não estaria, diante de tal visão? Um manto azul escuro enfeitado com diamantes. Se sentir pequeno nunca foi tão bom. Queria chegar mais perto. Queria vê-la o melhor possível. Deu seu primeiro passo na nova sala e a sentimento de ter seu êxtase quebrado pela sensação da água gelada em seus pés é como uma mistura de nostalgia e desagrado - o mesmo que sentar no brinquedo do parque e perceber que ainda estava molhado pela chuva do dia anterior.

Olhou para baixo. Viu os pés descalços sobre a água transparente.

"Oh..." Era gelada e havia peixinhos nela. Estremeceu pela realidade e resolveu ter mais certeza de onde estava: Ainda era uma sala, ampla, parecia formar algo circular. O chão e as paredes internadas eram todas brancas, fora tudo que dava para o lado de fora, incluindo o teto: eram um vidro que protegia e ao mesmo tempo dava a melhor visão de fora. Havia cachoeiras nos cantos e pequenos tuneis no chão que facilitava a circulação de água. E mais peixes! Pequenos, a maioria pretos, também marrons claros, outras com tons vermelhos e vinho escuro. Em grande quantidade, os peixinhos dourados de aquário pareciam mais confiantes na chegada da nova alguém.

"Adorável, não acha?" Uma voz estranha surgiu de algum lugar. Sofia tremeu e manteve o silencio até analisar por completo a figura sentada em uma mesa flutuante, bem próximo das paredes de vidro. Estava se deliciando com alguns petiscos e uma bebida qualquer. Ao centro da mesa, um jaro branco brilhante detalhado por uma pequena pedra negra e lisa, estava cheio flores cores de vinho identificada imediatamente como um Cosmos atrosanguineus.

"É... bem... A- onde estou?"

"Quer café?" a figura ignorou "Deve estar com fome, estes petiscos são bem nutritivos".

Sophie tremeu com uma certa possibilidade.

"Não tenha medo, não são feitos de peixinhos de aquário!"

A garota soutou uma risada aliviada.

"E são todos veganos"pegou um prato e balançou na direção dos olhos marrons esfomeados. "Venha e cuidado com os peixes" a voz agora saiu indiferente.

Assim vez, andou com cuidado até chegar a mesa, onde automaticamente uma cadeira se fez. Enquanto isso o homem estranho enxia sua caneca com um cheiroso e espumante café preto.

Mal pode controlar o suspiro de prazer com a primeira golada. Poderia estar envenenado, com um remédio para dormir ou coisa do tipo, sophie sabia desta possibilidade, mas se estivesse, bem, teria valido a pena. Depois de um minuto de silencio, as perguntas começaram.

"Onde estou?"

"Nenhum lugar que você atualmente saiba"

"Como cheguei aqui?"

"Nem ideia"

"Quem é você?"

"Alguém cujo trabalho é te guiar"

"pra onde?"

"Sei lá"

"QUE?"

"Que?"

"Ah! Esquece!"

Seguiu-se alguns segundos até que a garota tivesse paciência novamente para continuar.

"Quem sou eu?"

"Sofia, hora essa!"

"Não foi isso que quis dizer... E-Eu não consigo lembrar. Quero dizer, do mundo que vivi tenho apenas imagens e sensações nostálgicas. Da minha família apenas impressões e de mim... Branco. "

*Silencio*

"Você é, no momento, alguém importante para este lugar"

"isso não ajudou muito..."

"Bem, o resto é você que precisa descobrir, não é?"

*silencio*

"Há outras pessoas..." Sofia continuou "estão no jardim"

"Eu sei. Não são minha responsabilidade"

"E eu sou?"

"yep"

De repente, o homem soltou rouco: "então você chegou aqui sozinha... E simplesmente os deixou para trás!?"

"Você falando assim até parece algo cruel!"

"Pode ter sido decepcionante para eles"

"...eu sei..."

"E?"

"E o que?"

"Exato! Você não está se importando, continue assim. Está segura aqui."

Aquelas pessoas, bem, alguém como eu irá encontrar eles. Eu já estaria saindo daqui para te ver, mas aparentemente alguém não tem nenhuma paciência."

"Mas eu tenho bastante paciência sim,  só que algumas algumas situações pedem ação e..."

"Ok. Ok. todos sabemos que simplesmente não estava pensando quando saiu do grupo como uma ovelhinha negra. Isso é bom na verdade, mas vindo de você... Deve ter sido a perda da memória. Ou a ansiedade. Ou ambos. Bem, como eu disse, temos boa comida, uma linda vista, apenas aproveite este momento. Logo você cairá no sono e pela manha coisas finalmente acontecerão"

Sophie não conseguia decidir seguir o conselho do estranho ou seguir o conselho de seu cérebro e pensar as inúmeras coisas que haveriam de ser pensadas na situação. Mas, não muito demorou e nada mais havia a ser pensado. E porque haveria? Estava segura, podia sentir a ansiedade sumindo, o ar era fresco. Os peixes nadavam. As estrelas brilhavam. O mar refletia. E o café estava quente. Fechou os olhos enquanto uma parte de sua memória vazia foi preenchido como um filme francês tedioso.

 

Este ser humano é comparável a uma maquina de produzir dúvidas. Um artefato raro queria eu poder dizer, se isso não resultasse em um olhar de desaprovação dele mesmo para mim. Ninguém produzia dúvidas mais duvidosas que Sofie Menezes dos Santos.  Desde o seu primeiro pensamento foi se construindo ela mesma, uma floresta-labirinto de memórias, experiências e teimosias. Até 5 anos colecionava de tudo, como o mundo era enorme!  Aos dez descobriu o que mudaria sua vida para sempre: Pessoas.  Seres humanos eram criaturas estranhas e duvidosas que queria controlar tudo e todos. Até mesmo Sofia! Mas olha só! Já não bastava ser privada do mundo em uma sala com paredes e grades, ainda queriam tirar-lhes as dúvidas. Naquela época por Sofia estava tudo bem, “dúvidas existem para serem respondidas“, pensou. Não tardou, porém, para notar o quão burros eram os professores. Como podiam responder perguntas com respostas que criavam mais dúvidas? E pior, como não compreendiam as dúvidas?!

Um dia Sofia resolveu tirar o dia para fazer perguntas. O céu estava limpo e todos estavam desenhando coelhos e ovos coloridos - Também contavam sobre um pobre homem qualquer que foi torturado pelos humanos- É interessante como nesta época a maquina de dúvidas sabia fazer perguntas, mas fazia e incomodava. Incomodava os professores e todo o resto dos adultos. Por isso que seres humanos eram tão estranhos, pois um dia seu pai lhe disse que os humanos eram humanos porque possuíam consciência, que aparentemente é a capacidade de saber sobre si mesmos e sobre o mundo . Como poderiam saber de tais coisas tão incríveis se não conseguiam duvidar? (A garota maquina guardou esta pergunta como sua mais preciosa) Decididos, eles lhe diziam com louvor: "Eis o que somos! Seres humanos, somos primos do macaco, mas quem se importa com aquele primo burro e chato? O homem surgiu do barro, a mulher da costela do homem. Você ainda não é mulher, querida Sofia, você é como os macacos, porém mais preciosa, pois será como nós um dia. Sendo burra como um macaco, você nos pertence. Imagina o perigo estar solta ao mundo para descobrir suas respostas incorretas! Fico aterrorizado só de pensar o caos que o mundo entraria".

Ah, mas Sofia ficou irada. Não sabia por que, apenas sabia o quão idiota eram os humanos de sua vida (duvidava que estes fossem os únicos humanos do mundo).  Estava aterrorizada também, estava presa às respostas estranhas de pessoas estranhas. E se ficasse estranha também? Se havia um ponto final nas frases desta maquina era este sentimento. Um desejo de quebrar as paredes das escolas e sair correndo pelo horizonte. Para encontrar outros humanos menos estranhos e responder suas próprias perguntas. Só descobriu um nome para isto aos 15 anos, era liberdade.

 

E o filme queimou em uma cena clichê, antes dos olhos da maquina humana se abrirem fixados a um sol brilhante em dejavu.


Notas Finais


Obrigado pela leitura.


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