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História Joshua's Selection - Interativa - 99 Problemas - Parte 2


Escrita por: fecasanova

Notas do Autor


Nos vemos lá embaixo.

Capítulo 15 - 99 Problemas - Parte 2


Point of View – Joshua Schreave

10 de Julho

Suíte do príncipe, Palácio de Illéa – 23h30

 

“Joshua, sei que está passando por um momento muito complicado. Quero que saiba que estou aqui se precisar conversar ou, simplesmente, se divertir. Sinto muito por tudo que aconteceu. Espero que fique bem logo.

Pryia James”

 

  Passei os dedos pela letra bonita dela e sorri. Aquele era o primeiro bilhete que recebia de uma das selecionadas. E talvez aquele fosse um bom motivo para comemorar. Busquei o meu caderno de desenho e prendi o bilhete ali com um clip de papel, ao lado de um desenho que eu tinha começado a fazer de Pryia. Aquela tinha sido a minha solução para me lembrar do rosto de cada uma delas. E tinha dado muito certo.

  Eu tinha trinta e cinco páginas de desenhos e anotações sobre cada uma das garotas que tinham invadido a minha vida e a minha casa. Mas também havia uma página em branco. A página da garota de número trinta e seis. Tessa.

  Nós dois não tínhamos trocado nenhuma palavra desde a nossa briga na enfermaria. Ela estava muito machucada e não só fisicamente. Estava agressiva e parecia extremamente cansada, como se estar no palácio fosse o último lugar onde ela queria estar. Tirei a minha camisa suja e a joguei pelo chão.

  Eu também estava cansado: treinos, eventos, almoços, encontros. Eu estava tão esgotado, que tudo o que queria realmente era um tempo para ficar pelado. Mas nem aquilo eu podia fazer mais, sem que alguém tirasse fotos minhas e as espalhasse por todo o mundo. Mas antes que eu pudesse me lamentar mais, o telefone ao lado da minha cama tocou. Me estiquei o máximo que pude para pega-lo sem sair do lugar.

– Sim? – Sussurrei e ouvi um ruído baixo do outro lado. Aquilo acontecia quase sempre. Garotas descobriam aquele número e ligavam apenas para ver se eu realmente atenderia. – Alô? – Mais ruídos e então eu respirei fundo. – Tem alguém aí? – Ouvi a respiração profunda do outro lado e perdi a minha paciência. – É isso, então. Eu vou desligar. Boa noite.

– Não. – Aquela voz. Aquela voz quase sussurrada e contida que tanto tinha povoado meus sonhos e que naquele momento povoava todos os meus pesadelos. Ela respirou fundo e eu também. – Josh... E sei que eu não deveria estar te ligando.

– Na verdade, eu até que estava esperando essa sai ligação, Veridiana. – Respirei fundo. – Mas ela está mais de um ano atrasada. – Eu a ouvi respirando fundo, como se procurasse as palavras para me responder.

– Eu estava com vergonha. – Ela respirou fundo, pela milésima vez. Aquilo estava começando a me irritar. – Você estava com o coração partido e se eu ligasse isso iria apenas agravar ainda mais isso que você estava sentindo.

– E por que acha que agora eu estou numa boa? – Gemi

– Porque você está tendo a sua seleção e sua casa está cheia de garotas. – Ela disse de forma grosseira. Fechei os olhos. Aquilo seria irritantemente longo. Seria a discussão que nunca tivemos. – Sua mãe gosta delas, eu tenho certeza.

– Não coloque a minha mãe no meio disso. Ela gostava de você. – Resmunguei e me joguei na cama. – E você sabe que ela não tem nada a ver com o que aconteceu conosco. Tudo que rolou foi uma escolha sua e do seu pai.

– Meu pai é um idiota.

– Verdade.

– Eu não estou feliz com o Augusto, Josh. – Aquela era a primeira vez que estávamos nos falando depois do termino do namoro. Era complicado para mim ouvir tudo aquilo. Mas a única vantagem de ouvir a voz sussurrada de Veri era porque só assim eu podia ter certeza que eu a tinha superado. – Ele é um garoto mimado e... Pensa que é o dono do mundo só porque é um príncipe. Papai quer que eu me case logo, mas eu não posso. – Ela ficou em silencio por um tempo. – Eu penso em você o tempo todo. Penso em nós e como éramos perfeitos juntos. – Mais silencio. – Se lembra como nos divertíamos, de como as nossas noites eram... Joshua, eu sinto sua falta.

– Demorou esse tempo todo para perceber que gostava de mim, Veri? – Eu não consegui conter meu riso sínico. – Imagina quanto tempo você demoraria para aceitar o meu pedido de casamento? E quando você resolvesse se casar comigo, eu já seria um velho banguela.

– Não seja idiota, Josh. Você sabe que eu te amo. Que sempre te amei. – Ela estava usando todas as cartas.

– Eu não vou te salvar da merda que você se meteu, Veri. – Sussurrei quando ouvi o som grave de alguém batendo na minha porta. – Pode entrar, Liv. Eu já estou acabando. – Gritei e então fechei os meus olhos mais uma vez.

– Vamos conversar. Acho que a gente ainda pode se resolver. – Ela sussurrou. Deveria estar fazendo aquele beicinho lindo que eu tanto adorava. – Tenho certeza que podemos voltar a ser exatamente como éramos antes.

– Éramos péssimos juntos, sabia? – Admiti. Aquilo estava atravessado na minha garganta por tempo demais. – Ao seu lado, eu fiquei egoísta e metido. Eu tinha certeza que o mundo era todo meu. Exatamente o que você falou do seu Augusto.

– Você está falando um monte de merda, Josh.

– Veridiana, nós não vamos mais ficar juntos. – Sussurrei. – Porque eu estou na minha maldita Seleção e a minha esposa está entre uma dessas garotas. Você teve a sua chance e você escolheu ficar com seu Augusto engomadinho. – Ouvi-a xingar baixo do outro lado da linha. – Boa noite, Veri. E não me ligue mais, ok? Eu não tenho saco pra suas lamentações. Tenho um país para cuidar. – Me estiquei mais uma vez pra desligar o telefone. Respirei fundo. Eu nunca tinha me sentido tão aliviado assim.

– Uau, problemas de príncipe. – Uma voz feminina soou. Dei um pulo da cama. E lá estava ela, a maldita Tessa Brown. Levei mais um minuto para perceber que ela estava vestida como uma das criadas.

– Então foi você, não é? – Gritei enquanto ficava de pé, apontando para ela. – Você quem tirou aquelas fotos minha.

– Hei, nudista, abaixa as pedras. – Ela levantou as mãos e não conteve um sorriso sacana. – Eu não tirei nenhuma foto sua. Se quiser pode me revistar ou... Revistar o meu quarto. Sei lá. Faça essas coisas que a realeza faz

– O que está fazendo aqui? – Resmunguei enquanto cruzava os braços junto ao meu peito. Ela fixou os olhos nos meus braços, como se quisesse entender as minhas tatuagens. – Você vai me responder ou não?

– É estranho para mim ver você desse tamanho, sabe? Com todas essas tatuagens e com essa cara de bad boy. – Ela sussurrou enquanto dava um passo em minha direção. Na penumbra, ela não me lembrava ninguém. Não com aquela cara amarrada. – Me lembro de você quando era só um loirinho magrelo, cheio de remela nos olhos e com aquela cara de retardado. – Ela sorriu e só então aqueles olhos me pareceram familiares. Ela soltou os cabelos, que estavam presos assim como os das criadas e sorriu para mim. – Agente Pimenta... Agente Pipoca pede desculpas.

  Fiquei mudo por um tempo. Para mim não mais que alguns segundos, mas para ela, deveriam ser horas. Aquele apelido. Só uma pessoa tinha me chamado assim durante toda a minha vida. Uma menina do Sul. Uma rebelde. As pessoas esperavam que eu os odiasse, mas sempre tive um fascínio por tudo que meus tios diziam que era perigoso e proibido.

  E aquela menina tinha sido o mais próximo que eu tinha chegado do perigo quando ainda era um moleque. Ela tinha invadido o meu quarto, me ameaçado, tinha dito que iria me matar, mas aquilo me deixou tão empolgado que fui incapaz de pedir socorro ou de revidar. Fiz o que toda criança maluca faria: fiz um amigo.

  Depois disso, ela aparecia no meu quarto periodicamente. Nós conversávamos. Ela me contava as coisas que fazia no acampamento dos Rebeldes e as histórias que ouvia lá, me mostrava suas armas e cicatrizes, levava para mim as coisas que ganhava: os machucados, os animais. Me contava sobre como sua vida era dura. E em troca. Eu lhe contava as coisas que aconteciam no castelo. Mal sabia naquela época, que eu estava dando a ela o que tinha de mais precioso: meu afeto e as informações sobre a vida no palácio.

   Nosso laço era forte. Mas se desfez. Como tudo na vida. Como todos os nós que se desfazem quando deixamos de ser crianças. Ela me olhou, tinha aqueles mesmos olhos acusadores e violentos. Me culpei por não ter notado aquilo a primeira vez que os vi.

– Você... Você não se lembra de mim, não é? Que imbecil. – Ela abriu um sorriso envergonhado e cheio de raiva. – O que tenho na cabeça pra pensar que você se lembraria de mim? Você é só um principezinho que tem mais coisas para fazer do que... Se lembrar... – Ela estava ainda mais chateada e aquilo ficava mais aparente, e transbordava em forma de raiva. Ela deu passos duros em direção a porta, mas eu só precisei de um passo para alcança-la e segura-la pelo punho. – Tire as suas mãos imundas de mim.

– Você parece um animal selvagem, sabia? – Cuspi a verdade. Eu tinha perdido totalmente o controle de tudo na minha vida e ser doce e paciente não estava mais dando certo. – Não pode entrar no meu quarto, me falar uma coisa dessas e esperar que eu solte fogos de artificio. O que espera que eu faça? Que te convide para uma festa do pijama? Além do mais, você nem poderia entrar aqui, sabia? Você está quebrando tantas regras que eu...

– Que se danem as regras. – Ela sussurrou enquanto olhava para meus dedos envolta de seu pulso. – Pode me soltar?

– Você vai me morder e sair correndo? – Perguntei, a encarando.

– Eu não sou um cachorro. – Ela me respondeu, revirando os olhos muito castanhos. – Me solta logo.

– Eu estou... Tentando processar tudo isso que você... – A soltei e voltei para a minha cama, me sentando ali e respirando fundo o máximo de vezes que consegui antes que ela abrisse a boca mais uma vez.

– Seu problema sempre foi esse de pensar demais. – Ela pulou ao meu lado, se misturando aos meus lençóis e cobertores. – Qual é a da família real? Vocês ficam batendo a cabeça na parede tentando achar solução para tudo.

– Estou cercado de malucos. – Disse aquilo para mim mesmo, enquanto me jogava na cama ao lado dela. Minha mente dava voltas e voltas e eu não conseguia chegar a lugar nenhum. E quanto mais pensava, mais confuso eu ficava. Mordi o meu lábio e olhei para ela. – Como entrou aqui? Na Seleção?

– Longa história. – Ela deu de ombros e abraçou o meu travesseiro. – Mas de que isso importa? Em breve você vai me eliminar, não é?

– Você ainda é uma rebelde? – Perguntei assim que me dei conta do que ela era. – Eu tenho que te tirar daqui agora mesmo. A minha mãe... Eu não sei o que sou capaz se você ferir alguém.

– Por que você fica tendo essas crises de personalidade? Já estou aqui a um tempo e ainda não matei ninguém. – Ela disse aquilo em tom de brincadeira, mas meu olhar deve tê-la alertado que eu não estava no clima para piadas. – Seu tio Justin me encontrou em uma esquina, quase morta. Ele pediu para que sua mãe me escondesse aqui por um tempo enquanto ele procura um lugar para me mandar ou para me matar, não sei ao certo.

– Quem te feriu? – Sussurrei.

– Quem mais? – Ela abriu um sorriso enorme, mas estava ferida. Com o orgulho ferido. Mas mascarou aquilo voltando a pular na minha cama. – Mas agora eu tô aqui, né? Vou aproveitar tudo o que o palácio tem para me oferecer.

– Você é louca. – Fechei os meus olhos e respirei fundo. – E eu podia jurar que você era um garoto quando nos conhecemos. – Eu ri e ouvi o ruído da risada dela. – E você me beijou. Eu passei a minha vida inteira pensando que tinha sido beijado por um garoto.

– Isso explica sua necessidade de se tornar um cara enorme, com cara de mal e cheio de tatuagens. – Ela sussurrou. Só então parou de pular e se jogou ao meu lado. – Homossexual.

– Seu nome não é Tessa. – Sussurrei e abri os olhos. – É Therese.

– Tessa é o meu disfarce. – Ela sussurrou e me olhou de lado. – Uma linda e doce menina, não vê como esse papel caiu como uma luva para mim? – Ela ficou em silencio por um tempo e depois suspirou. – O que seu tio falou sobre mim?

– Que você era um problema dele e que não era pra me incomodar com você. Que você seria como um fantasma. – Sorri ao dizer aquilo. – Eu deveria estar morrendo de medo de você.

– Deveria mesmo.

– Mas eu não consigo sentir medo.

– É porque já me conhece. – Ela sussurrou e então me olhou. Nossos olhares se encontraram, mas ela logo desviou o olhar. Exatamente como fazia quando era uma menininha suja de fuligem e poeira.

– Você tem que tomar cuidado. – Não sei ao certo porque disse aquilo a ela. Talvez parte de mim se importasse com aquela garotinha e sentisse que tinha uma dívida de honra com ela. – Tem tantas regras a serem seguidas aqui... Se precisa mesmo de abrigo, vamos cuidar de você, mas tem que começar a seguir as regras.

– Eu não sigo as regras fascistas da família real.

– Você fala muita merda.

– E você está se transformando num deles, sabe?

– Eu sou um deles. Eu sou da família real e vou ser até o fim da minha vida. Eu não sou só um molequinho loiro que brincava com você de agente secreto. Sou o príncipe. – Mordi meu lábio. – Na verdade, eu sempre fui o príncipe. A gente só não gostava do título.

– Eu ainda não gosto. – Ela admitiu e ficou de pé. – Acho que eu tenho que ir. Já te fiz pensar demais por hoje e sei que se pensar um pouco mais, sua cabeça vai acabar explodindo. – Therese sorriu e piscou para mim. Prendeu os cabelos novamente m um coque e me olhou, de rabo de olho, como se quisesse me provocar.

– Obedeça a porra das regras. – Gemi enquanto ela abria a porta do meu quarto.

– Ah, você fica tão bonitinho bravinho. – Ela riu e então correu pelo corredor gelado.

  Respirei fundo e me joguei na minha cama, sem folego. Se aquela Seleção não me matasse, eu não morreria mais.

 

 

~||~

 

Point of View – Evangeline Wellves

11 de Julho

Biblioteca, Palácio de Illéa – 07h20

 

– Aqui está. – Madame Beatrice deu um pulo trouxe um livro do meio de suas bagunças. O príncipe sorriu para ela e passou os dedos pela capa dura do livro empoeirado.

– Obrigado, Tia Bea. – Joshua sorriu e passou uma das mãos por meu ombro. Ao lado dele, eu deveria parecer exatamente como um ratinho sendo abraçado por um urso. Ele me guiou até uma das mesinhas. Era cedo, então não havia ninguém na biblioteca, além de Madame Beatrice. Me sentei ao lado do príncipe. – Eu amo essa edição de “A Bela e a Fera”. – O príncipe me olhou e sorriu, quando ele abriu o livro, senti um frio subindo pela minha espinha. Aqueles malditos risquinhos iriam me perseguir para sempre. – Eu adoro as imagens que tem nesse livro... Você já leu esse livro?

– Não. – Admiti e aquilo foi mais fácil do que eu tinha imaginado. Joshua se aproximou um pouco mais, para que nós dois pudéssemos olhar para o livro juntos. Senti o leve toque dos dedos gelados dele nos meus.

– Como assim você nunca leu “A Bela e a Fera”? – Ele riu um pouco e abaixou ainda mais o tom de voz. – Se a tia Bea ficar sabendo disso, ela vai te passar uma enorme lista de livros para ler. Os que ela chama de “Leitura obrigatória”. – Eu ri e olhei nos olhos dele. Joshua tinha os olhos mais bonitos que eu já tinha visto em um rapaz. O que me fez corar. – Quer ler?

– Por que você não lê para mim? – Sussurrei. Aquela foi a única desculpa que tinha pensado e por um momento a ideia me pareceu idiota. Mas assim que ele me olhou nos olhos, tive certeza que aquela era realmente uma ideia idiota.

– Ninguém nunca me pediu isso. – Joshua sussurrou e passou os dedos pela folha amarelada do livro. Vi a primeira imagem: uma rosa, bem vermelha e viva, e ao fundo, um enorme castelo. – Era uma vez, num país distante, um jovem príncipe que vivia em um reluzente castelo. – Joshua me olhou, com um sorriso doce nos lábios. – Esse sou eu. – Eu ri um pouco a apoiei meu rosto em uma das minhas mãos, mantendo o olhar fixo no rosto do príncipe, que não estava apenas lendo. Ele interpretava cada palavra, erguendo as sobrancelhas ou simplesmente sorrindo. – Embora tivesse tudo o que quisesse, o príncipe era mimado, egoísta e grosseiro.

– Você não é assim. – Sussurrei e ele me deu um olhar sorridente.

– Você porque nunca viu como sou quando acordo. – Joshua me olhou rapidamente, antes de voltar a atenção para o livro, mais uma vez. – Mas, numa noite de inverno, uma velha mendiga veio ao castelo e ofereceu a ele uma simples rosa em troca de abrigo para o frio. – Joshua direcionou o olhar para mim e sorriu. – Repugnado pela feiura dela, o príncipe zombou da oferta e mandou a velhinha embora. Porém, ela o aconselhou a não se deixar levar pelas aparências, pois a beleza está no interior das pessoas. – Ele fez uma pausa dramática.

– Continue. – Supliquei.

– E quando ele voltou a expulsa-la, ela se transformou em uma linda feiticeira. – Não pude conter o meu suspiro de espanto, o que fez o príncipe me olhar com surpresa. – O príncipe tentou se desculpar, mas era tarde demais, já que ela percebeu que não havia amor no coração dele. E como castigo, ela o transformou em uma fera horrenda.

– Oh, meu deus.

– E rogou uma praga no castelo e em todos que lá viviam. Envergonhada de sua monstruosa aparência, a Fera de escondeu no castelo com o espelho magico, que era sua única janela para o mundo exterior. A rosa que ela o oferecera, era encantada e iria florescer até o vigésimo primeiro ano, se ele aprendesse a amar alguém e fosse retribuído na época em que a última pétala caísse, então o feitiço estaria desfeito. – Olhei para o príncipe, que dividia a atenção entre o livro e meu rosto deslumbrado pela história. – Se não, ele estaria condenado a permanecer Fera para sempre. Com o passar dos anos, ele se desesperou e perdeu a esperança. – Ele se calou, mais uma vez e me olhou. – Pois quem seria capaz de amar um monstro?

– Por favor, leia mais. – Sussurrei enquanto empurrava o livro para ele.

– Você realmente não conhece essa história? – Ele sussurrou enquanto me olhava, apertando o livro contra seu peito forte.

– Não. Meus pais não... Tinham muito tempo para mim e... Eu não fui muito a escola. – Contei uma parte da verdade, sem entregar tudo.

– Minha mãe lia todos os dias para mim... Isso é muito triste. – Ele sussurrou e olhou para o livro. – Eu não sei se seria eu se não tivesse lido esse livro quando criança. – Ele me olhou, com surpresa nos olhos. – Bom, onde paramos?

– Quem poderia...

– Amar um monstro. – Ele sorriu e olhou novamente para o livro. – Em uma pequena vila, não muito distante dali, vivia uma bela jovem e seu adorado pai. O seu nome era Belle e ela era a garota mais bonita do vilarejo.

– Acho que eu vou gostar dessa história. – Sussurrei enquanto deitava a minha cabeça no ombro forte do príncipe.

 

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Point of View – Ariana Herondale

11 de Julho

Sala de Cinema, Palácio de Illéa – 16h20

 

– Joshua. – Sussurrei quando os créditos do segundo filme que estávamos vendo começou a subir. Era um filme antigo, em que o papel do mocinho era vivido por Sir Robert Pattinson, mas todo aquele glamour parecia ter passado completamente despercebido pelo príncipe, já que ele tinha se perdido em um cochilo tranquilo. Não consegui evitar uma risada contida quando aproximei o rosto do dele para vê-lo dormir. Estava com os olhos bem apertados, mas os lábios estavam levemente abertos. Ele estava dormindo tranquilo e eu estava começando a me sentir mal por pensar em acorda-lo.

  Aqueles dias deveriam estar sendo complicados para ele: a revista com suas fotos nu, o juramento, os encontros, as garotas cobrando atenção dele, os conselheiros cobrando que ele fosse um perfeito príncipe. Cobranças. Cobranças. Cobranças. Eu sabia bem como era aquilo.

  Me levantei delicadamente, já que ele tinha passado a mão pelo meu ombro quando ainda estava acordado. Eu nunca tinha sido uma grande fã da família real, muito menos tinha me imaginado enfiada na Seleção. Mas as pessoas tinham praticamente feito a inscrição por mim e assim como Sir Robert, eu tinha certeza que eles me selecionariam. Não que eu fosse uma pessoa arrogante, mas sabia bem que a minha presença chamaria ainda mais pessoas a ver o Jornal Oficial. E se eles queriam mascarar algo, a minha presença seria perfeita para isso.

  Caminhei em silencio até a cabine e procurei outro filme entre as prateleiras imensas com inúmeros DVDs. Enquanto passava os olhos por todos aqueles títulos, minha mente não parou de pensar em como aquilo estava sendo diferente do que eu tinha imaginado. Enquanto eu via o príncipe pela TV, acreditava que todo aquele bom humor e carisma eram meio falsos. Mas quanto mais eu me aproximava, mais sincero tudo aquilo ficava. Assim como a dor.

  Eu sabia bem como era estar exposta o tempo todo, sabia como era ter que lidar com as pessoas querendo mais do que eu poderia entregar. Eu podia entender uma parte de Joshua que poucas pessoas entenderiam. E talvez aquilo nos aproximasse mais.

– Ari? – Ouvi a voz sussurrada e preguiçosa de Joshua e corri até a porta.

– Estou aqui atrás. – Gritei e reparei que ele se levantou e estava vindo ao meu encontro. Por um motivo que não sei explicar busquei o meu reflexo na pequena janela e ajeitei os meus cabelos. Depois me senti estupida. – Você sabe que dormiu na metade do filme, não é?

– Sei sim. – Ele sorriu e encostou no batente da porta. Os olhos dele estavam ainda menores, o que o deixava realmente charmoso. Ele era tão bonito que deveria pagar imposto pela beleza. – Quer ver outro filme?

– Claro que quero, mas a pergunta que não quer calar é se você consegue ficar acordado durante mais um filme? – Perguntei com toda a ironia que havia em meu ser, o que fez Joshua rir. – Homens sempre fazem essas coisas, não é?

– Sim. Somos treinados desde de pequenos para dormir em filmes, em peças teatrais, em concertos. Se for algo dos filhos ou da namorada se torna mais inevitável ainda. – Ele brincou e entrou na pequena cabine, olhando os DVDs também.

– Pois se eu for Rainha, irei te condenar a morte se dormir em um dos meus shows. – Eu brinquei e ele riu novamente. – Isso é o máximo da falta de respeito, sabia? – Eu o olhei e ele simplesmente deu de ombros.

– Sabe quantas horas eu durmo por dia? – Ele me olhou.

– Oito, como todas as pessoas normais? – Fui irônica mais uma vez e ele notou. Eu sabia bem que ele não dormia nem seis horas por noite. Ele tinha tantos afazeres que não sabia como sobrava tempo para que ele tomasse banho. – Você deve viver de café.

– E cocaína. – Ele riu e eu o olhei. – Assim como você.

– Me pegou. – Eu dei de ombros e cruzei os meus braços.

– Fui a um show seu uma vez.

– Eu me lembro desse dia. Meu pai veio até o meu camarim e disse que eu tinha que dar duzentos por cento de mim, porque o “príncipe herdeiro do trono” estava na plateia e aquela poderia ser a minha grande chance de brilhar para a família real. – Eu ri ao me lembrar daquilo e Joshua fez o mesmo.

– Eu não me lembro de nenhuma música. Estava tão bêbado que não sei nem como fui parar lá. – A confissão dele me fez rir também. – Era aniversário do Bobby e ele estava completamente apaixonado por você. Me lembro que ele me obrigou a sair do bar para ir no show e que eu mal conseguia me mexer quando chegamos no estádio. Aquilo estava lotado e todo mundo queria um pedaço seu.

– E seu também, não tem que ser modesto. – Eu me lembrava bem de vê-lo do palco e de como Joshua tinha um sorriso encantador. Mesmo estando bêbado.

– Não. Um pedaço seu, porque já não havia quase nada de mim. – Ele gargalhou e pegou um DVD em uma das prateleiras mais altas. – Já viu “Bonequinha de Luxo”?

– Várias vezes. Minha mãe adora esse filme. – Sussurrei e me aproximei dele. Toquei a capa do DVD e olhei para ele. – Esse é o filme preferido de todas as mães.

– É o meu filme preferido. – Ele sussurrou.

– Hm... É um filme e tanto. – Desconversei e ele gargalhou. Fiquei tão corada, que podia ser facilmente confundida com um tomate.

– Estou brincando. – Ele colocou o DVD no lugar e me olhou. – Qual é o seu filme preferido?

– Eu não tenho filme preferido. Gosto de todos da mesma forma. – Brinquei. – Assim como você e as suas selecionadas.

– Não gosto de todas da mesma forma. – Ele riu e balançou a cabeça, como se tivesse oficialmente desistindo de mim. Então deu as costas e deixou a cabine.

– Claro que gosta! É isso que os homens dizem. – Gritei enquanto corria para alcança-lo.

– Cada uma de vocês é diferente, como é que posso sentir o mesmo por cada uma de vocês? – Ele virou-se para me olhar, mas eu ainda estava longe, correndo na direção dele.

– Você consegue me pegar no ar como em Dirting Dance? – Gargalhei. Tudo o que eu menos queria era que ele não tivesse lembranças divertidas do nosso primeiro encontro.

– O que? – Ele riu e coçou a nuca.

– Vai, vamos lá. – Eu ri e dei alguns passos para trás. – Você me pega. Seja o meu Patrick Swayze.

– Alguém já disse que você é completamente maluca? – Ele riu e então dobrou as pernas um pouco, procurando seu apoio. – Vem.

  Eu ri e corri. O mais rápido que pude, até chegar perto dele o bastante para poder pular e assim como tinha acontecido naquele filme romântico antigo, Joshua me pegou no ar e me ergueu ainda mais.

  Torci para que ninguém nos visse naquela situação tão estranha, ao mesmo tempo que queria ficar presa naquele momento por mais tempo. Joshua tinha um magnetismo que puxava todos para perto dele. Era como se ele fosse o sol e todas nós orbitássemos ao redor dele. Sem para de nos atrair por ele, nem mesmo por um segundo.

  Joshua foi me colocando no chão lentamente, com nossos corpos se tocando sem muito cuidado. No fim, estávamos tão próximos um do outro, que eu nem sabia onde começava o meu corpo e onde terminava o dele.

– Acho que você seria um ótimo Johnny. – Sussurrei, assim que afastei o rosto do dele, mas não ficamos sérios nem por um segundo. Ele riu e eu acabei rindo também. – Você faz isso com todas as garotas?

– Não, mas agora que sei que funciona, talvez eu faça. – Ele piscou para mim e esticou a mão. Assim que eu pensei em fazer o mesmo. Todas as luzes do cinema se apagaram. E tudo o que eu ouvi foi a respiração pesada do príncipe perto de mim, e sua mão gelada em meu ombro.

– Não é bem assim que se seduz alguém, sabia? – Sussurrei enquanto me aproximava dele.

– Mas é um jeito divertido, não é? – Ele sussurrou, mas antes que pudéssemos nos provocar ainda mais, uma luz vermelha começou a piscar, loucamente.

– O que é isso? – Sussurrei.

– Estamos sendo atacados. – Joshua sussurrou e entrelaçou os dedos nos meus.

 

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Point of View – Therese Bieber

11 de Julho

Corredores, Palácio de Illéa – 17h15

 

– Todas venham comigo. – O Soldado de cabelos compridos gritou enquanto apertava algumas partes da parede, que abriam em pequenos esconderijos. Algumas selecionadas estavam entrando ali, junto com as suas criadas.

– Onde o príncipe está? – Uma garota morena gritou. Aquela era a maior vadia que eu já tinha visto. E eu vinha do Sul. Cruzei os olhos com uma garota que eu tinha certeza que já tinha visto alguma vez na vida, mas ignorei aquilo completamente. Dei um passo para trás, me desgarrando do grupo de selecionadas, que começavam a se debater e a fazer perguntas que aquele soldado jamais seria capaz de responder.

  Corri na direção oposta que o soldado estava levando as meninas, de volta para os quartos. Quando entrei no meu quarto, fui até a janela e pude ver que os rebeldes da minha facção estavam vindo em direção ao palácio, alguns estavam atirando e gargalhando. Eu sabia como era aquela sensação, estava até começando a sentir saudades daquela excitação.

– Senhorita Brown? – Um soldado berrou assim que me viu e correu na minha direção. – Você tem que sair daqui. Não vê que é perigoso?

– Eu só queria pegar um colar. – Menti. Colares, brincos, eram aquelas coisas que as meninas se importavam, não é? O soldado assentiu e me puxou para fora do quarto. Ele apontou para o corredor. – Corra e não olhe para trás. Tente ignorar todos os barulhos. Isso pode ser terrível.

  Assenti e corri. Aquele soldado era estupido. O som dos tiros e da gritaria era o som com que eu estava mais acostumada. Estava sendo bem mais difícil conviver com o som afinado dos violinos do palácio do que com o som alto e ensurdecedor dos tiros. Passei correndo por um soldado, que mal percebeu que tinha esquecido alguém.

  Estava correndo em direção ao salão das mulheres quando ouvi um som que eu conhecia muito bem. Um rugido alto e rouco.

– Faísca. – Berrei e ouvi o barulho alto das patas do meu amado bichinho de estimação. Dificilmente os rebeldes tinham algo pelo que sentir afeto, mas eu tinha sido presenteada com aquele doce monstro. Faísca era um doce tigre-siberiano. Que não demorou nem um minuto para perceber que eu estava ali e correr em minha direção. Ele era tão pesado que me jogou no chão. Acariciei o seu pelo, que já não estava tão sedoso quanto era na época em que eu cuidava dele. – Meu Deus, eu senti tanta saudade de você.

  Ele me lambeu em resposta.

– Não posso deixar que te levem embora. Você está tão magro. – Segurei-o pela coleira e corri, buscando um lugar aonde pudesse deixa-lo. Tive então a ideia maravilhosa de correr com ele até o abrigo de animais do palácio. Se eu desse sorte, ninguém nos veria.

– Tessa. – Ouvi a voz rouca do príncipe me chamando. Ele estava com uma arma nas mãos, usando uma camisa estranha e aprecia ter acabado de acordar. – Saia daqui, entre em um abrigo, logo.

– Não posso deixar ele aqui. – Gritei de volta e apontei para Faísca. Joshua hesitou por um minuto, olhando para mim e para Faísca como se fossemos completos estranhos. Talvez ele não se lembrasse, mas Faísca o tinha conhecido quando ainda era só um menino. Tive que segurar meu tigre com força para que ele não pulasse em Joshua como se ele fosse um velho conhecido. – Você tem que me ajudar.

– Mas que merda. – Ele resmungou e abriu um daqueles esconderijos da parede. Aquele era grande o bastante para que eu ficasse com Faísca por um tempo. Ele tinha mais alguma coisa para me dizer, mas ouvi o barulho oco de um tiro e ouvi o grito de dor do príncipe. Ele não disse mais nada, apenas fechou a porta, me trancando ali e me afastando da batalha. Abracei Faísca com força e respirei fundo.

 

...

 

  O barulho alto da porta se abrindo fez com que eu abrisse os meus olhos. Tinha dormido, abraçada ao meu tigre. Apertei a mão que estava me oferecendo ajuda. Me levantei com muita dificuldade, todas as partes do meu corpo doíam. Então olhei para o príncipe que me olhava de volta. Não sabia ao certo o que tinha nos olhos dele, mas quis acreditar que era só dor.

– Você levou um tiro. – Sussurrei ao ver o sangue no ombro dele.

– Jura? – Ele riu um pouco. Ele não nem estar conseguindo falar, mas aquele era o futuro rei de Illéa. Por mais ferido que estivesse ferido, ele jamais deixaria de sorrir. – Tire seu tigre daí e o leve para o abrigo. Você não vai ter muito tempo, os soldados vão começar a liberar as pessoas agora. – Eu estava boquiaberta. – Você está me ouvindo?

– Estou! Ir até o abrigo.

– Coloque ele em uma sala sozinho. – Ele olhou para os lados. – Nós vamos lá para alimenta-lo ás duas da manhã. Me encontre na escadaria. Você vai ter que segura-lo enquanto eu faço os exames. Eu não posso perder mais nenhuma parte de mim.

– Ele vai te obedecer. – Sussurrei

– Apenas saia daqui, ok? – Ele disse e então me deu as costas.

  Eu nunca imaginaria que aquele garoto, aquele garoto tão cheio de vida se transformaria em um homem tão forte. Algo em mim tremeu. Não, Therese. Você tem que ser forte. Lembre-se do que o Justin disse: ele não é para você.


Notas Finais


Oi, Oi Brioches!

Me desculpem o sumiço! Esse mês foi uma loucura: férias, amigos, ensaios para uma peça, apresentação de outra peça, bebedeira, problemas na faculdade. Resumindo, um mês normal para uma menina de 21 anos. KKKKK
Então, finalmente voltei com um capítulo, que ficou tão grande que eu resolvi dividi-lo em duas partes.

Bom, voltamos com tudo agora e pretendo levar essa história mais a sério, postando sempre. Claro que espero que entendam que alguns capítulos podem demorar mais, já que eu estudo e trabalho, mas sei que vocês são Brioches lindos e compreensivos, e irão entender tudo isso.

Agora vamos lá para os recados:
1 - Sim, haverá uma prova em grupo e como são 36 selecionadas, elas foram divididas em 6 grupos com 6 meninas. Os grupos foram definidos por sorteio, tanto na história como aqui. Então gostaria que dessem uma conferida em que grupo a sua personagem está e me digam se acham que esse grupo vai se dar bem ou mal.
Ah, e se quiser que a sua personagem tome alguma atitude, me diga por mensagem.
https://spiritfanfics.com/jornais/sorteio-dos-grupos--joshuas-selection-9883897
2 - Teremos a primeira eliminação assim que a primeira prova for cumprida. Intercalando com isso, teremos os encontros que estão faltando. Por mais que eu tente fazer com que eles aconteçam mais rapido, sinto que estou deixando algumas personagens de lado. Me digam se a história está perdendo o ritmo ou se arrastando demais. Se esse for o caso, os encontros serão apenas vistos "por alto" ou apenas comentado.
3 - Queria saber se vocês acham legal fazermos um especial. Seria como se fosse um "Jornal Oficial", mas vocês enviaram as perguntas que seriam feitas aos personagens. O que acham?
4 - Gente, eu estou amando escrever essa fanfic e espero que vocês também estejam amando ler.

Mais uma vez, desculpem por ter me afastado tanto, mas prometo que estou de volta e com várias ideias fervilhando na cabeça.
Amo vocês.

Beijos,
Khaleesi, a mãe dos Brioches.


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