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História Joshua's Selection - Interativa - Faíscas


Escrita por: fecasanova

Notas do Autor


Nos vemos lá embaixo

Capítulo 16 - Faíscas


 

Point of View – Mila Allens

11 de Julho

Enfermaria, Palácio de Illéa – 20h33

 

– Quantos dedos tem aqui? – Uma das enfermeiras apontou três dedos em minha direção e eu sorri. Eles eram bastante atenciosos no palácio e era quase impossível não sentir como se fosse a pessoa mais importante do mundo para eles.

– Três. – Sussurrei enquanto balançava as minhas pernas. Suspirei enquanto olhava para o meu calcanhar inchado.

  Eu estava no Salão das Mulheres com Ally, conversando sobre os lugares que gostaríamos de visitar, quando soou o alarme. Alguns soldados correram para nos ajudar assim que as luzes vermelhas começaram a brilhar e a piscar. Eles abriram um esconderijo na parede e nos colocaram ali. Outras garotas também foram alocadas ali, mas era espaçoso o bastante para que nos sentássemos e os colchões ajudaram a nos manter confortáveis.

  Eu teria achado a experiência bem tranquila se não fosse por Pryia ficar presa conosco todo aquele tempo. Ela reclamava bastante. Ora estava com sede, ora com fome, em outros momentos, ela reclamava de dor nas costas ou no braço. Mas assim que um soldado alto abriu a porta para que saímos, ela fez aquela sua cara de vítima e passou na minha frente, fingindo estar passando mal e me derrubando por tabela.

  Sempre a culparia por ter torcido o meu tornozelo e por estar presa naquela enfermaria pálida.

– Bom, foi apenas uma luxação. – Ela disse por fim e se afastou, buscando uma faixa para passar por meu pé direito. – Bom, talvez você sinta dificuldade em andar por alguns dias, mas não é nada demais. Logo vai poder voltar a andar de um lado pro outro e acredito que isso não vai te impedir em nada na competição.

– O príncipe tem uma quedinha por garotas com gesso? – Brinquei e a enfermeira riu. Eu não tinha uma boa impressão do príncipe no começo. Algo em mim estava até arrependida por ter me inscrito, mas com o tempo, aquilo tinha mudado. Joshua era divertido e espontâneo. Era impossível não rir de suas piadas bobas, ou do jeito que ele brincava com a comida quando estava distraído.

– Bom, vou lhe dizer uma coisa... – Ela se aproximou de mim, como se fosse compartilhar um segredo comigo, a ouvi com atenção. – Joshua se feriu durante a invasão.

– Ele está bem? – Disse aquilo por impulso, o sorriso dela me deu certeza que eu estava com a preocupação estampada na minha cara.

– Sim, foi só um tiro.

– Só um tiro? – Eu ri, nervosa.

– Joshua é forte, esse não é o primeiro tiro dele. – A enfermeira sorriu.

– E eu que pensava que ele era só um rostinho bonito. – Dei de ombros. Ver o príncipe pela televisão era estranho, fazia com que tivéssemos uma impressão de quem ele era. Mas de perto, ele era diferente. Só que ainda era um cara normal.

– Bonito ele é. – Ela se afastou novamente e voltou a juntar seus equipamentos médicos. Sua tranquilidade era quase invejável. – Fique aqui mais um pouco, Senhorita Allens. Eu vou buscar uma bota ortopédica para você, certo?

– Tudo bem. – Eu sorri e ela saiu, andando com sua tranquilidade habitual.

  Fechei os olhos por um instante e ouvi a música suave que tocava pelos corredores. Podia ouvir o som suave do piano e dos instrumentos de sopro em um jazz suave. Não consegui evitar de mexer meu pé enquanto ouvia aquela batida gostosa.

– Mila? – Abri meus olhos assim que ouvi a porta se abrindo, sorri, mas fui surpreendida pelos olhos muito verdes do príncipe. E minha surpresa só aumentou quando percebi que ele não estava usando camisa. Fiquei em uma confusão estranha, não sabia bem para onde olhar: para as tatuagens multicoloridas, para o abdômen e os músculos bem definidos ou para o curativo enorme em seu ombro direito. – Desculpe, eu incomodo?

– Não, eu estou apenas esperando que a enfermeira traga a minha botinha especial. Acho que vou ser como a Cinderela. – Sorri e apontei para meu pé enfaixado. Ele sorriu e veio até mim, se sentando ao meu lado na maca. Seus olhos verdes se fixaram em minha perna.

– Uma Cinderela de botinha ortopédica. – Ele sorriu, mas logo aquilo se desfez e ele franziu as sobrancelhas. – Sinto muito por ter se machucado. – As palavras deslizaram pela boca dele e eu podia sentir a sinceridade delas. Dei de ombros, meu ferimento não era bem culpa da invasão ou dele, era culpa daquela vagabunda da Pryia. – Se eu puder fazer algo para que se sinta melhor...

– Eu só torci um tornozelo, você tomou um tiro. – A minha sinceridade arrancou uma gargalhada do príncipe. – Isso é impressionante. – Ele olhou para baixo. – O que aconteceu?

– Um Rebelde, com uma arma e com um mix de raiva e medo. Ele me viu e deu um tiro, mas as mãos dele estavam tremendo, por isso ele não acertou no coração.  – Joshua riu e me deu um olhar curioso. – E como aconteceu com você?

– Eu tropecei na hora que estava saindo do esconderijo. – O olhei esperando qual seria a sua reação e ele riu tanto que se engasgou. Tive que dar uns tapinhas nas costas do príncipe. – Qual é? Não devia rir tanto assim de mim.

– Tem que admitir que é uma história divertida. Mas vamos ter que encontrar uma história mais emocionante. – Joshua segurou a minha mão. Eu já tinha tido um encontro com ele antes, mas aquilo tinha parecido aleatório. Ele estava começando a ficar cansado de fazer sempre as mesmas coisas com as selecionadas: passeios no jardim, conversas ao luar, histórias aleatórias. – Que tal você dizer que me defendeu e então tropeçou e caiu.

– Uma história muito digna da minha bravura. – Ri e olhei nossas mãos. Gostava de como nossos dedos ficavam entrelaçados. – Acha que vai ficar com uma cicatriz?

– Eu coleciono cicatrizes. – Ele sorriu e esticou o braço para mim, mostrando uma cicatriz cumprida, coberta pela tatuagem de uma mulher, com algumas rosas ao redor. – Essa foi a primeira vez que fui atacado em uma invasão rebelde. Ele tinha uma faca e estava correndo para atacar a minha mãe. Eu me coloquei na frente do ataque. Levei três golpes e tiveram que fazer uma cirurgia.

– E a tatuagem... Quem é? – Toquei a tatuagem, a mulher estava de perfil, com os olhos semiabertos.

– É um desenho que fizeram da minha avó, Rainha Clarion. – Ele sorriu e tocou as rosas na base da tatuagem. – Ela adorava rosas. Pelo menos foi isso que a minha mãe me disse.

– E essa estrela aqui? – Sussurrei enquanto tocava o pulso dele, indicando uma tatuagem. – E esse nó?

– A estrela eu fiz quando a Zuni fez dezoito anos. Ela pediu para que eu lhe fizesse uma prova de amor e então, eu tatuei o que ela pediu.

– Zuni era sua namorada?

– Minha prima. – Ele riu e tocou a estrela. – Ela pensou que eu odiaria essa tatuagem e realmente odiei por algum tempo. Mas agora é uma das minhas preferidas. – Joshua me olhou, com um sorriso nos lábios. – O nó é uma tatuagem entre amigos. Bobby, Moe, Theodore, Gil e Lucca tem uma igual. Representa a amizade que teremos pelo resto da vida.

– Eu entendo. – Sorri. – Estava falando sério quando disse que faria algo para que eu me sentisse melhor?

– Claro que falei. – Ele sorriu e soltou meus dedos, finalmente, mas apenas para cruzar os braços junto ao peito. – O que quer?

– Poderíamos sair daqui? – Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu. – Eu sei que... Todas as garotas adorariam ficar aqui no castelo, mas eu realmente preciso de um pouco de ar fresco. – Dei de ombros e ele continuou me olhando, com curiosidade. – Pode ser um passeio em grupo, não sei... Talvez ir à praia ou algo assim. Eu acho que todas nós poderíamos aproveitar muito.

– Eu posso dar um jeito. – Ele sorriu e deu um pulo, deixando a maca. – Mas só vou marcar algo quando esse pezinho estiver curado. – Ele caminhou até a porta, mas antes de abrir, sorriu para mim. – Eu vou ficar na sua cola, Mila, até você melhorar.

– Tudo bem. – Sorri enquanto balançava as pernas na maca, aquilo não tinha sido no todo ruim.

~||~

 

Point of View – Therese Bieber

12 de Julho

Abrigo dos Animais, Palácio de Illéa – 02h08

 

– Como é que você está? – Gritei assim que o vi chegar, não queria parecer preocupada, mas algo em mim realmente se importava com ele. Mesmo que eu não quisesse admitir. Ele estava usando um conjunto de moletom folgado e estava sem nenhuma expressão. Eu jamais o julgaria por suas atitudes ou por suas escolhas de roupas. A madrugada em Angeles era bem fria e eu estava feliz por ter saído com a minha jaqueta de couro. Ele deu de ombros como resposta e pegou as chaves do bolso do moletom.

– Onde você colocou o tigre? – Ele passou pela porta e respirou fundo.

– Ele tem nome, sabia? – Resmunguei enquanto pisava duro, passei na frente dele e fui até a sala onde tinha deixado o Faísca. Detestava quando ele falava daquele jeito. – O nome dele é Faísca.

– É um péssimo nome para um animal tão grande. – Ele estava mal-humorado e eu nem tinha coragem de o culpar por aquilo. Joshua tinha levado um tiro, pontos e parecia que nem tinha dormido ainda. Abri a porta da sala com cuidado. Faísca estava encolhido num canto, olhando para baixo. – Ele comeu alguma coisa?

– Eu não sei. – Resmunguei. Não entrei na sala, deixei que Joshua se aproximasse de Faísca. Observei em silencio enquanto ele se sentava no chão, de frente para meu tigre. Faísca o olhou, desconfiado, mas não demorou nada para ir até Joshua. Eles ficaram um tempo se encarando, antes de Faísca se atirar no chão, para que Josh acariciasse sua barriga. – Acha que ele está machucado?

– Não sei ainda. – Joshua sussurrou enquanto olhava todo o pelo do meu querido Faísca, descobrindo algumas falhas nele. – Só algumas escoriações bem leves e um inchaço na pata. Não é nada demais. Vou pedir para que a Madame Min cuide dele durante o dia. O que ele costuma comer?

– Carne. – Sussurrei. – Acho que não vai ser uma boa ideia deixar que outras pessoas cuidem do Faísca, ele costuma ser muito hostil com as pessoas que ele não conhece. – Ele deu uma risada irônica quando eu disse aquilo. – O que foi?

– É um animal selvagem. – O príncipe sussurrou, sem animação, ao mesmo tempo que afagava a barriga de Faísca. – Sabe quantas pessoas ele machucou enquanto estava no palácio?

– Ele foi treinado para isso. – Justifiquei.

– E os soldados foram treinados para nos proteger. – Joshua respirou fundo e me olhou. – Se ele tivesse matado alguém, eu não sei se poderíamos mantê-lo aqui. Tem que tomar cuidado, se ele atacar alguém... Não haverá muito que possamos fazer por ele. – Dividi a minha atenção entre o rosto divertido de Faísca e a feição preocupada do príncipe. Mordi meu lábio.

– Eu vou conversar com ele. – Sussurrei.

– Seu tigre não me ataca por que? – Joshua se deu conta aquilo um pouco tarde, e também parecia não se lembrar do que tinha acontecido quando éramos crianças. No dia em que eu tinha ganhado o Faísca, tinha corrido com ele até o palácio, escalado as paredes e mostrado meu novo animalzinho. Nós tínhamos sido grandes amigos, até Russell descobrir tudo e me obrigar a dizer coisas cruéis ao príncipe. Parte de mim agradecia por ele não se lembrar daquilo.

– Talvez ele goste de você. – Menti e dei de ombros. – Eu vou me candidatar ao voluntariado daqui para ficar mais perto do Faísca.

– Vou escrever um bilhete para a Madame Min. – Joshua tentou se levantar, mas Faísca o puxou para baixo. Noventa por cento do tempo, meu enorme tigre agia como um monstruoso animal selvagem, mas nos outros dez por cento, ele era apenas um gato gigante. E nem Joshua era capaz de resistir a ele. – Você é um bom menino. Mas tem que nos prometer que não vai mais machucar ninguém. – Faísca se aninhou no colo de Joshua, o olhando com atenção. – Eles são minha família.

  Ficamos ali por mais alguns minutos, até que Joshua conseguiu se levantar. Não falamos mais nada, mas não precisava. Ele estava se arriscando para manter o meu amigo seguro. E eu seria grata a ele pra sempre por fazer aquilo por mim.

– Você está ferido? – Sussurrei enquanto tomávamos o caminho de volta para o castelo. – Isso deve estar doendo demais...

– Vou ficar bem. – Ele mentiu.

– É isso que os rebeldes costumam a falar. – Demos de ombro ao mesmo tempo e rimos alto.

 

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Point of View – Maeve Simons

12 de Julho

Salão das Mulheres, Palácio de Illéa – 07h40

 

– Ela não deve aparecer aqui hoje, não é? – Aurora sussurrou enquanto terminava de embaralhar as cartas. – Não que eu já a deteste, mas... Hoje é o dia do encontro dela, pensei que ela ficaria a manhã toda se arrumando.

– Não se preocupe, Aurora, ninguém gosta da Pryia. – Jenye resmungou enquanto piscava para Kira, que estava na outra ponta da mesa.

– Será que Joshua vai notar que ela é uma imbecil? – Malia sussurrou e me olhou, dei de ombros. Eu e Malia tínhamos nos aproximado bastante com o passar dos dias. Gostava dela e de seu sorriso fácil. E era quase impossível para nós não nos organizarmos em pequenos grupos. Havia o grupo de Rue, Sunset, Katrina e Lily. Elas estavam sempre juntas, mas o grupo delas nunca estava realmente fechado. Também tinha o grupo de Jennifer, Gaia, Amélia, Pryia e Taylor, e ninguém queria estar no caminho delas. Outras meninas, como Arabella, Evangeline e Ariana não ficavam muito em nenhum dos grupos, elas transitavam por todos, com muita tranquilidade.

– Uma hora, ele vai notar. – Sorri tentando acalmar Malia. Todas nós esperávamos que o grupinho de Pryia começasse a tentar nos sabotar. E talvez a espera fosse pior do que as sabotagens. – E vamos ver de camarote quando ela cair. – Rimos. O meu grupo era formado pelas garotas que ainda não tinham se acostumado muito bem com as coisas do palácio. Cecilia pulou em nossa direção, sorrindo de orelha a orelha.

– O que rolou? – Ela sorriu e se sentou ao lado de Aurora que estava distribuindo as cartas lentamente.

– Estamos discutindo se a Líder do grupo de vagabundas vai ou não vai descer para nos agraciar com sua companhia. – Aurora brincou enquanto passava algumas cartas para Malia, que sorriu.

– É claro que ela vai aparecer. – Cecilia riu. – Ela não ia perder a chance de nos perturbar, ainda mais estando prestes a ter um encontro.

– Será que ela não percebe que nós a odiamos? – Malia olhou para as suas cartas e depois para nós.

– Talvez ela se alimente com o nosso ódio. – Brinquei e as meninas riram. – Vocês têm um ás? – Tivemos algum momento de paz. As meninas estavam chegando e iam se acomodando na sala. Algumas liam livros, outras se distraiam escrevendo, enquanto outras apenas conversavam.

– O demônio está vindo aí. – Jenye gritou enquanto olhava de uma pequena fresta na porta.

– Quem mandou vocês ficarem invocando o demônio? – Cecilia riu, mas logo voltamos a fingir que estávamos falando sobre qualquer coisa. Pryia entrou no salão das mulheres usando uma roupa que eu jamais esperaria dela: ela estava com um vestido curto, mas bastante confortável. Era algo muito diferente das roupas provocativas que ela costumava a usar. Algumas de nós conseguiram fingir que estávamos surpresas com o modo como ela estava vestida, mas outras não conseguiram se segurar. Observei o momento exato em que Kat e Lila riram um pouco.

– O que foi? – Pryia ergueu uma das sobrancelhas e passou os dedos pelo pano leve se seu vestido. Ela estava tão bonita que chegava a ser um pecado. Mas o que Pryia James tinha de linda, ela tinha de filha da puta.

– É que nunca pensei que uma cobra ficaria tão bem envolta em seda. – Katrina brincou, com um meio sorriso torto nos lábios, pude ver que os olhos de Pryia se incendiaram em ódio.

– Você é tão divertida, Jornalista. – Pryia sorriu, mas não deu atenção a nenhuma de nós, estava tão entretida com seu vestido e seu decote bonito que nem se importou conosco. – Gosto dessa sua ousadia. Pena que seus pais não podem dizer o mesmo. – Aquela foi a primeira vez que vimos Katrina se calar e seus imensos olhos marejarem. Rue correu até ela, para lhe dar apoio. Nos entreolhamos, ainda não conhecíamos tanto assim umas das outras, mas os traumas começavam a surgir. – Tão bonitinhas vocês pensando que podem se unir, virarem melhores amigas e fazerem festas do pijama no palácio. Isso é uma guerra e em uma guerra, ou se guerreia ou morre. E eu não vim aqui para morrer! – Ela ergueu finalmente os olhos. Aqueles olhos cheios de desejo de Pryia me causara arrepios. – Eu quero e eu vou ser a próxima rainha, nem que para isso tenha que derrubar cada uma de vocês.

– Não somos inimigas. – Sunset gritou e se levantou. Observei como Arabella puxou-a pelo braço. Não era como se quiséssemos evitar o confronto com Pryia, mas aquele não era o momento. Ela estava indo falar com Joshua.

– Isso é patético. – Tessa Brown ergueu a cabeça de um livro e olhou para Pryia de cima a baixo, com desdém. – Vocês vão mesmo deixar que essa garota afronte vocês desse jeito? Não sei se são muito fracas ou muito burras. Essa garota não sabe nada sobre vocês.

– Fiquem calmas. – Evangeline levantou um pouco a voz e olhou ao redor. – Não podemos ficar brigando desse jeito. Estamos aqui para ser rainhas, não guerreiras.

– Você jamais será rainha de nada. – Pryia disse, com um sorriso malicioso nos lábios. – Uma rainha do gueto, talvez. Mas acredito que mesmo as rainhas do gueto têm que ter o mínimo da boa educação. Ou pelo menos saber ler, não é mesmo? – Pryia deu seu primeiro tiro, a guerra tinha começado, oficialmente. Evie cobriu os lábios com as mãos, pude ver a vergonha correndo por seu rosto. – O que você disse, Tessa? Que eu não sei nada sobre vocês? – Pryia gargalhou, fazendo com que todas nós nos olhássemos desesperadas. – Eu sei mais de vocês do que imaginam.

– Gosta de nos afrontar, não é mesmo? – Lila empurrou uma cadeira, estava visivelmente nervosa, assim como todas nós.

– Ah, me poupem. – Pryia sorriu e jogou os cabelos para o lado. Ela não esperou que nenhuma de nós dissesse mais nada, apenas deu as costas e saiu do salão das mulheres.

– Isso não pode ficar assim. – Lily sussurrou e como uma matilha de lobos furiosos, nos levantamos, seguindo Lila, que nos guiava como se fosse a nossa líder. Passamos pelo corredor longo atrás de Pryia até chegarmos a uma das salas. Ficamos todas estáticas quando percebemos que ela também tinha parado.

– O que tá rolando? – Josefine sussurrou e me olhou, confusa. Dei de ombros, eu também não conseguia ver muita coisa. Estiquei o pescoço, mas a cabeça de Snow me cobria um pouco.

  As meninas foram se afastando os poucos e então pode ver o que estava acontecendo: uma enfermeira estava de pé, enquanto Joshua permanecia sentado em um dos sofás brancos, ele estava sem camisa e todas nós ficamos um tempo confusas até o momento em que vimos o ferimento nos ombros do príncipe.

  Ele tinha levado um tiro, todas nós sabíamos daquilo e também sabíamos que vários soldados tinham se ferido também. Troquei olhares confusos com Cecilia, que deu um passo em minha direção, colocando uma mão em meu ombro. Fitei agoniada aquele ferimento ainda ensanguentado de Joshua, mas o que realmente estava me enojando, era ver Pryia, ao lado dele.

  Ficamos todas em silêncio enquanto éramos obrigadas a assistir Pryia e Joshua trocando caricias e sussurros. A enfermeira riu deles e disse que era melhor deixa-los sozinhos, para que aproveitassem melhor o encontro. Não podíamos fazer nenhum barulho, porque nenhuma de nós queria que Joshua percebesse que estávamos observando-os, aquilo seria um ultraje. E aquele era o plano de Pryia: nos obrigaria a vê-la ali, com o príncipe.

– Eu vou matar essa garota. – Tessa resmungou, o que fez com que todas nós concordássemos em silencio. Era uma tortura. Longa e tenebrosa. Víamos os dedos magros de Pryia deslizando os dedos pelo rosto de Joshua, quando eles riam de sussurros que ela falava.

– Eu vou embora. – Sunset sussurrou enquanto dava as costas, sem se importar muito. Ela foi embora e acabou carregando Rue e Lily com ela.

– Não, Joshua, por favor. – Evangeline sussurrou, para si mesma quase em uma oração, enquanto observávamos em silencio que Joshua fechava os olhos. Ele parecia um pouco exausto de tudo, o que fazia com que a aproximação de Pryia parecesse indevido.

  Pryia aproximou o rosto do de Joshua, enquanto nos direcionava um olhar provocativo e cheio de raiva. Ela sussurrou algo a Josh, que sorriu para a cobra. Era como se estivéssemos vendo um daqueles documentários da vida animal, quando uma cobra ataca um búfalo.

  Algumas das meninas viraram o rosto, mas outras, entre ela: eu, mantivemos os olhos fixos naquela cena deplorável: Pryia aproximou seu rosto esguio do rosto anguloso de Joshua. Seus lábios pequenos roçaram nos do príncipe. Para as meninas, aquilo tinha sido um beijo, mas para mim, um beijo só era um beijo quando ambas as partes beijam. E Joshua, estava mais parado que um cadáver.

– Vem, vamos embora. – Malia sussurrou me puxando pelo braço. – Não temos que ver esse circo. Ela já teve o que queria. Ela o beijou.

– Isso não foi um beijo. – Sussurrei e sorri. Aquilo não era um beijo.

 

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Point of View – Ever Jackson

12 de Julho

Corredores, Palácio de Illéa – 14h40

 

– Senhorita Jackson. – Virei-me para olhar quem estava me chamando. Eu estava entretida nos meus pensamentos, estava pensando no encontro que tinha acabado de ter com o príncipe. Joshua tinha sido simpático, tinha feito piadas e me feito rir um pouco. Mas apesar de toda a simpatia, haviam duas coisas que me incomodariam para sempre: a imagem dos lábios de Pryia tocando os de Joshua ainda rodavam pela minha cabeça e havia mais uma coisa: Benjamin. Meu noivo. Eu tinha tido o terceiro encontro do dia.

  O encontro entre Joshua e Kira tinha sido um desastre. Ela tinha voltado ao Salão das Mulheres com os olhos cheios d’água e nos contado como tinha pedido Joshua para que a ajudasse a subir em uma árvore, eles tinham se divertido, mas quando chegou a hora de descer da árvore, além de ter rasgado sua calça, ainda tinha derrubado o príncipe e feito seus pontos abrirem.

   Algumas garotas tinham rido, enquanto outras tinha se compadecido e ajudado a Kira a se acalmar.

– Sim? – Sussurrei enquanto me virava, com a cabeça ainda distante.

– Como a Senhorita está? – O Soldado Gilbert Grayson se aproximou em mim com trotes rápidos. Ele me deu um sorriso meio sem graça.

– Eu estou bem, acho. – Dei de ombros e voltei a andar quando Gilbert finalmente me alcançou. Eu estava detestando tudo aquilo. Odiava estar no palácio naquelas condições, odiava ser obrigada a encontrar com o príncipe, odiava ficar me forçando a tentar me apaixonar por ele. Mas eu nunca me apaixonaria, porque o meu coração já tinha dono. – Houve algum problema?

– Não. – Ele desviou o olhar e puxou algumas cartas da farda. – Chegaram as correspondências. E o Moe me pediu para entregar algumas delas. – Ele esticou duas cartas para mim e logo se afastou. Olhei atentamente para os dois envelopes e respirei fundo.

  Eu reconhecia a caligrafia que estava naqueles dois envelopes: um era do meu pai, com sua letra bonita e cheia de curvas, digna do embaixador que ele era e a outra era de Ben. Engasguei o choro e corri, desesperadamente, de volta para o meu quarto.

  As minhas criadas ergueram os olhos quando me viram chorando, mas eu as dispensei, disse que era algo pessoal e elas, como boas criadas do palácio, me obedeceram. Sentei-me na cama, abraçando o envelope que vinha de Ben. Tremi um pouco enquanto abria aquela carta. Eu não tinha falado com Benjamin desde o dia em que a anunciação tinha sido feita.

  Nossa briga tinha sido feia. Eu não tinha feito a minha inscrição, tudo tinha acontecido por causa da mãe de Benjamin, que tinha encontrado uma das fichas no lixo e feito a minha inscrição. Eu jamais havia pensado nisso, mas eu tinha sido escolhida e não podia simplesmente dizer que eu não queria ir. Aquilo seria uma desfeita para o príncipe, e meu pai jamais permitiria isso.

  Abri a carta de Ben, com o coração mais acelerado que nunca.

“Ever,
Sinto sua falta. Espero que volte logo para casa. Eu estou aqui e sempre estarei, por você e apenas por você.
Te amo, Ben.”

 

  Ele tinha escrito pouca coisa, porque ele sabia que aquela carta seria lida por outras pessoas, mas só de ler aquilo meu coração tinha se enchido de esperança. Eu não precisava daquela Seleção, não tinha que entrar naquela guerra, porque já havia alguém para mim.

  Escondi aquela carta entre o colchão e a cama. Eu não podia ser descoberta e nem deixar que nenhuma das outras meninas descobrissem que eu tinha alguém, ou aquilo poderia ser o meu fim.

 

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Point of View – Celestia Rubin

12 de Julho

Biblioteca, Palácio de Illéa – 20h40

 

  As paredes da biblioteca eram cheias de pássaros. E eu me lembrava daquilo, assim como a música que tocava no fundo. Era como se tudo aquilo tivesse se passado em um sonho borrado e distante.

– O que foi? – O príncipe se aproximou de mim com um sorriso doce. Ele estava visivelmente abatido e cansado, e toda hora passava os dedos no ombro, onde tinha levado um tiro. Ele deveria estar sentindo muita dor, mas jamais diria nada para nenhuma de nós. 

– Eu não tenho certeza, mas é que... Parece que eu já estive aqui. – Sussurrei, sem nenhuma força. Mordi meu lábio e olhei para Joshua, que também admirava os pássaros.

– Você também me parece familiar, sabe? – Ele sussurrou e aquilo chamou a minha atenção. Ele estava imenso nas lembranças enquanto olhava para aqueles enormes pássaros que tomavam toda a parede. – Sempre vinham crianças de todo o país e de outros países vinham sempre passar uns dias aqui. Eu adorava quando as crianças vinham, nós sempre brincávamos por todo o palácio. – Joshua deixou um sorriso nostálgico escapar. – E quando as crianças da França vinham... Era sempre uma loucura. Eles eram divertidos e animados, o príncipe Raoul era sempre muito animado e quando ele estava aqui, sempre tinha uma menina... Ela se parecia muito com você.

– E o que houve com ela? – Sussurrei enquanto tocava as paredes.

– Eu não sei. – Ele mentiu para mim, com um sorriso doce. Ajeitei meus cabelos rapidamente. – Mas ela era muito bonita. – Sorri e comecei a andar, passando os dedos pela parede. A parede era lisa, suave, e enquanto meus dedos passavam pelos pássaros enormes, senti algo borbulhando em minha mente.

  Eu podia ver as crianças correndo, se escondendo por entre as prateleiras altas cheias de livros. Um garoto de cabelos castanhos corria sem parar, sendo perseguido por um outro garotinho, que era pálido e loiro. Senti o gelado da parede em minhas costas na lembrança, assim como sentia a mão fria do príncipe nas minhas costas.

– Como você era quando pequena? – Joshua sussurrou enquanto me dava um abraço carinhoso. Cada toque dele me trazia emoções estranhas, era como se ele me trouxesse sentimentos e sensações que eu tinha reprimido.

– Eu... – Respirei fundo. Eu tinha tido uma infância complicada. Me lembrava de poucos flashes de quando eu tinha menos de doze anos e gostava de manter aquelas lembranças tristes o mais longe possível da minha mente. – Era uma menina tímida. Fui criada em um orfanato de Illéa, e eu acho que vim da França... Não tenho muitas lembranças...

– Como assim não tem lembranças? – Olhei rapidamente para o príncipe, com um sorriso nos lábios, mas meu sorriso se desfez quando eu vi a feição estranha do príncipe. Ele estava ainda mais pálido do que já era.

– Eu... Acho que me machuquei quando era pequena. – Contei a história sem muitos detalhes. – Você está bem, Joshua?

– Eu? Estou ótimo. – Ele mentiu e deu de ombros, voltando a me olhar com atenção. – Como você chegou aqui? Estava machucada... Isso... Você não se lembra de nada?

– Acho que não. – Respirei fundo e tentei afastar as minhas memorias. Mas eu me lembrava bem. Lembrava de como eu tinha sido maltratada e torturada e de como as pessoas me olhavam com desprezo. Me lembrava da dor que tinha sentido em meu corpo e a vergonha da minha alma.

– Eu posso te ajudar com isso. – Ele sussurrou, mas sua voz estava fraca, distante. Fixei meu olhar em Joshua. Seus lábios estavam pálidos. – Você quer? Quer que eu encontre sua família pra você?

– É o que eu mais quero na vida. – Sussurrei enquanto ia na direção do príncipe. – Acho que você deveria sentar, Joshua.

– Eu vou fazer isso por você. – Ele sorriu, mas deu um passo para trás. Todos no palácio tinham aquilo: jamais diziam que estavam mal, nem pediam ajuda. Segurei o pulso do príncipe com força, mas não foi o bastante para impedir que ele caísse.

– Socorro. – Berrei enquanto me ajoelhava junto ao príncipe, que estava estirado no chão, com os olhos fechados. Toquei a testa dele e respirei fundo. – Ele está ardendo em febre. Alguém me ajude.

   Madame Beatrice correu em nossa direção e pediu para que eu me afastasse. Meu coração estava disparado.

– Fique calma, menina. – Madame Beatrice sussurrou enquanto me abraçava. Nós duas observamos em silencio enquanto Joshua era levado para a enfermaria por dois soldados, ainda desmaiado. – Joshua é forte, ele vai ficar bem.

 

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Point of View – Joshua Schreave

13 de Julho

Enfermaria, Palácio de Illéa – 00h40

 

– Você não tinha que sair da sua casa para me ver. – Resmunguei enquanto coçava a minha cabeça. Observei como o meu quarto estava lotado: minha mãe, meu tio Evan, Olivia. Todos eles estavam ali apenas para mostrar que se preocupavam comigo. Aquele desmaio tinha sido um alvoroço em todo o palácio. Mas a presença que estava me deixando realmente nervoso era de meu tio Torrance. Ele era o único tio que eu tinha que realmente era meu tio. Torrance era o filho bastardo de minha avó, e tinha sido o motivo pelo qual ela tinha sido executada. Talvez por isso, tio Torrance odiasse o palácio. Ele tinha se isolado no Norte e nós mal o víamos. – Como está o Norte?

– Perigoso, doente, assim como ele sempre esteve. – Tio Torrance abriu um sorriso acolhedor para mim, enquanto se aproximava para aferir a minha temperatura pela milésima vez. – Alguns imigrantes estão vindo e estão se unindo com uma Facção do Sul. Mas sua mãe já mandou algumas tropas e hospitais para lá. Vamos ficar muito bem.

– Como está a sua esposa? – Minha mãe resmungou. Ela estava com os olhos cheios daquela preocupação, que eu conhecia muito bem. Tio Torrance tirou a minha blusa e analisou o meu ferimento mais uma vez. Percebi que ele estava pesando na resposta enquanto passava alguns unguentos ou remédios. – Pensei que traria ela e o bebê.

– Alicia não gosta muito de sair do Norte e o bebê ainda é muito pequeno, acho que ele não lidaria muito bem com esses voos de avião. – Tio Torrance sorriu e olhou para minha mãe. Ele já estava beirando os cinquenta anos e como todo bom irmão mais velho, olhou para mamãe com os olhos cheios de provocação. – E quando que você vai me dar um novo sobrinho? Já estou ficando cansado de vir aqui para remendar esse. – Tio Torrance apontou para mim com desdém, o que me fez rir.

– Eu não estou conseguindo nem cuidar do Joshua. – Ela riu e coçou os olhos. Estava cansada, com sono e estava muito preocupada, não só comigo, mas também com os ataques recentes dos Rebeldes do Sul. – Eu não tenho estrutura para cuidar de um bebê agora.

– E quando vai terminar a sua Seleção? – Torrance continuou a provocação e daquela vez, quem riu foi o Tio Evan. – Porque eu vejo essas mesmas caras desde sempre.

– Você veio aqui para isso? – Minha mãe respirou fundo e se levantou. – Como é que o Josh está?

– Bom, ele levou um tiro e os pontos estouraram, deveria ficar um tempo de repouso. – Tio Torrance abriu os braços e minha mãe se aninhou no peito de seu irmão. Sorri. – E você tem comido bem, Senhor Driver? Tem dormido bem?

– Dormir? O que é isso? – Sussurrei e todos riram. – Eu tenho estado muito nervoso com tudo isso. A Seleção, os ataques, as garotas. – Admiti aquilo pela primeira vez e vi a expressão da minha mãe mudar. Ela ficou ainda mais preocupada. – E o tiro não tá nem doendo. Eu vou ficar bem. Talvez só tenha de dormir umas doze horas direto.

– Vocês dois precisam descansar. – Tio Torrance apontou para minha mãe e depois para mim. – Vocês, Schreaves, tem essa mania de tentar carregar o mundo nas costas, querem sempre agradar a todos e esquecem-se de si. Se você continuar assim, Bre, não vai durar nem mais dez anos. E você, Joshua, vai ser um rei com gota. Os dois tem que se cuidar. – Ele sorriu e abraçou minha mãe com carinho, afagando os cabelos dela. – Tem que se afastar um pouco. Talvez vocês devessem fazer uma viagem... Alicia adoraria ter uma babá para o nosso bebê. Talvez o Josh deva ter uma experiência com crianças.

– Não podemos nos afastar de Angeles. – Eu e mamãe falamos aquilo em uníssono, o que nos fez rir. Eu sentia que parte de minha alma estava amarrada a alma da minha mãe, e eu amava aquilo. Nos olhamos, com cumplicidade. Eu não seria nada sem ela.

– Temos muito o que fazer aqui. – Mamãe explicou e se sentou ao meu lado, na maca. – Joshua não pode abandonar a Seleção e estamos muito perto da Reunião dos Líderes Monarcas em algumas semanas. Tenho muito o que preparar e...

– Ambre. – Tio Torrance respirou fundo e segurou o ombro da minha mãe, eles se olharam profundamente. – Podemos conversar? Só nós dois?

– Você é exatamente como a mamãe, Torrance. Isso é assustador. – Minha mãe sorriu, mas assentiu.

– Eu vou falar com os soldados. – Tio Evan sorriu e se levantou. – Fique bem, garoto. – Ele me deu um abraço sem muito aperto e se afastou. Ele também estava preocupado e eu entendia. Olhei para Olivia, que também não parecia muito feliz com tudo o que tinha acontecido.

– O que é, Liv? – Sussurrei.

– Eu não disse nada. – Ela respirou fundo e cruzou os braços. Eu conhecia aquela mulher como a palma da minha mão.

– Como é que está o seu filho? – Sussurrei, sem graça.

– Não quero falar sobre isso. – Ela me deu um olhar magoado.

– Desculpa. – Sussurrei.

– Você está machucado, desmaiou. Eu estou me sentindo péssima. – Ela admitiu aquilo com um olhar triste. – Sua mãe confiou a sua vida a mim e eu não estou.... Cumprindo essa expectativa.

– Você não é a minha soldada, Olivia. – Disse, respirando fundo. – Você tem feito seu trabalho muito bem. Você é carinhosa, é minha confidente. Você sempre me deu todo o amor que eu precisava. – Abaixei os olhos, toda aquela conversa estava me deixando tonto. – Amo você, Liv. É só o que importa.

– Também amo você. E odeio quando as pessoas te ferem. – Ela balbuciou mais alguma coisa, mas o som oco de alguém batendo na porta fez com que ela se levantasse. – Sim? – Liv berrou enquanto aproximava o rosto da porta.

– Liv, sou eu. Queria ver o Josh, soube que ele desmaiou. – Ouvi a voz sussurrada de Joanna. Liv me olhou, surpresa.

– Pode deixar ela entrar. – Sorri.

  Liv abriu a porta e Joanna entrou como um raio. Ela estava usando roupas masculinas e estava com os cabelos loiros escondidos por uma touca de lã escura, o que me fez rir.

– Por que está vestida assim? – Gargalhei.

– Não queria que ninguém me visse vindo para cá. Eu posso ser expulsa se alguém descobrir. – Jo riu e tirou a touca, deixando os cabelos loiros caírem sobre os ombros.

– Meu Deus, Joanna, é como se eu tivesse te vendo com oito anos novamente. – Liv riu baixo e olhou para mim, depois para Joanna. – Eu vou deixar vocês dois conversarem. – Liv sorriu e se despediu de Jo, com muita tranquilidade. Mas me deu um olhar estranho antes de sair.

– Você está bem? – Jo sussurrou enquanto se aproximava da minha maca.

– Estou ótimo. Foi só um desmaio. Se lembra de quando o meu nariz sempre sangrava quando eu ficava nervoso? – Sussurrei. Ela se sentou ao meu lado, mas logo foi se aninhando na cama ao meu lado. Nós dois sempre tínhamos sido muito próximos e eu realmente sentia falta daquilo.

– Eu lembro! – Ela riu baixo e deitou a cabeça no meu ombro nu. Aquilo tinha doído bastante, mas não tive coragem de reclamar. – Lembra de quando fomos chamados para entrar como os noivinhos no casamento do Tio Justin? E que você ficou tão nervoso antes de entrar que seu nariz começou a sangrar e você manchou todo o meu vestido branco.

– Aquele dia foi incrível. – As lembranças ainda eram muito fortes, sorri.

– Eu pensei que você ia me pedir em casamento aquele dia. – Ela admitiu aquilo sem me olhar.

– Por que pensou isso? Tínhamos, o quê, sete anos? – Eu ri. Aos sete, tudo o que eu queria era que a minha mãe me deixasse ir para a escola, assim como Joanna ia. A olhei, confuso.

– Sei lá, talvez eu pensasse que nós fossemos almas gêmeas na época. – Sorri quando ela disse aquilo. – Eu pensava que você era o meu príncipe. Que eu seria a sua Rapunzel.

– Eu detesto a Rapunzel. – Brinquei e ela riu. As mãos de Joanna procuram as minhas e entrelaçamos nossos dedos.

– Sempre soube que você me odiava. – Ela disse aquilo com bom humor, e fixou os olhos em nossas mãos. – A medida que fomos crescendo eu percebi que você não era o meu príncipe, que você era o príncipe do povo.

– E isso é ruim? – Sussurrei enquanto me deitava, lentamente. Eu estava cansado demais.

– Não. Tenho orgulho de você. – Ela sussurrou e se deitou ao meu lado, com a cabeça apoiada em meu peito. – Eu sempre soube que você seria um homem incrível, que se tornaria um rei maravilhoso.

– Vocês põe muita fé em mim. – Gemi, sem graça. – Eu não sei como vai ser quando eu for rei.

– Eu tenho certeza que você vai ser maravilhoso. – Ela me olhou, estava com algo em seus olhos verdes. – Você jamais mentiria para mim, não é, J?

– Claro que não, Jo. Eu não minto para pessoas que já ganharam de mim no xadrez. – Admiti, o que fez Joanna rir um pouco.

– Você beijou a Pryia? – Ela foi rápida e não hesitou em perguntar aquilo.

– Não. – Respirei fundo, mas a resposta de Joanna me deixou paralisado. Ela me abraçou com força, apertando seu corpo contra o meu. – Está com ciúmes de mim, Jo?

– Talvez. – Ela respirou fundo e me olhou nos olhos. – Eu só não gosto de imaginar que você e ela...

– A Seleção é isso, Joanna. – Disse aquilo apenas para provoca-la. – Eu só vou poder beijar uma boca quando essa Seleção acabar. Então vou beijar todas as bocas que puder agora.

– Só não beije a Pryia. – Joanna disse aquilo sem hesitar mais uma vez. Aproximou o rosto do meu, como fazíamos quando éramos crianças. – Me prometa, Joshua. Prometa.

– Eu não posso prometer isso. – Ri baixo e fechei os olhos.

– Prometa. – Joanna tocou meu machucado, o que me fez gritar. – Prometa!

– Isso dói, Joanna. Para!

– Então me prometa.

– Ah, cale a boca. – Gritei, passando os braços pela cintura de Joanna e a apertei em meu peito. Ela me olhou, com aqueles olhos verdes lindos. Não devia ter passado nem um minuto, mas para mim, poderia ter passado uma eternidade naqueles olhos. Joanna encostou os lábios na lateral do meu pescoço, deixando um beijo suave ali. Respirei fundo. – Não me provoque assim.

– Eu não estou fazendo nada. – Ela sorriu. Aquele maldito sorriso que derretia todas as minhas defesas. – Por que você não me beijou quando eu estava indo embora?

– Por que você não me beijou quando estava indo embora? – Sussurrei enquanto ela me olhava, assustada.

– Porque eu guardei o beijo para agora. – Joanna não deixou nem que eu respirasse, apenas segurou o meu rosto entre as mãos pequenas e delicadas e me beijou.

  Eu tinha esperado aquele beijo por anos.

  Os lábios de Joanna eram quentes e doces, sua língua era delicada e o beijo dela era como um sonho. Um dos meus sonhos úmidos de adolescente.

   Mas aquele beijo estava atrasado. Anos atrasado. Mas mesmo assim fez o meu coração disparar. Envolvi a cintura de Jo com os meus braços e deixei que aquele beijo se estendesse, até que o meu folego sumisse.

   O folego e a dignidade. 


Notas Finais


Oi, Oi Brioches! Como vocês estão?

Gente, então, esse capítulo é apenas para dizer que entre esta sexta e a terça, nós teremos pelo menos dois novos capítulos de Joshua's Selection.
O que acharam do primeiro beijo da nossa história? O que estão achando da nossa vilã Mor: Pryia James? O acham que vai acontecer com a nossa amorzinha Evangeline agora que a Pryia jogou a merda no ventilador?

Ah, pessoas, mais uma coisa. Dêem uma olhada no "Caderno de Regras" que mais alguns personagens foram adicionados porque em breve teremos um evento muito importante para a fanfic, assim como a primeira eliminação.

Sobre a Eliminação, queria ver a opinião de vocês, então aqui está uma pesquisa para que vocês respondam: https://pt.surveymonkey.com/r/T9K82Y5

Amo vocês. Beijos.
Khaleesi, a mãe dos Brioches.


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