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História Joshua's Selection - Interativa - Fôlego


Escrita por: fecasanova

Notas do Autor


Nos vemos lá embaixo.

Capítulo 17 - Fôlego


Point of View – Krystal Walker

13 de Julho

Enfermaria, Palácio de Illéa – 09h20

 

– Desculpa por não poder ir ao Paintball. – Joshua sorriu de lado e me olhou, com aqueles pequenos olhos verdes. Ele estava visivelmente melhor do que nos outros dias, mas mesmo assim ele estava deitado naquela maca, usando uma camisa branca que o deixava pálido como uma folha de papel. Uma folha rabiscada.

– Teremos outras oportunidades. – Sussurrei enquanto observava o príncipe se afastando um pouco para que eu sentasse ao seu lado.

– Esse vai ser o seu pior encontro. – Ele brincou e me olhou.

– Não tive muitos encontros na minha vida, então... Me surpreenda. – Brinquei, o que fez o príncipe rir. Me aproximei dele e aproveitei a proximidade para tocar seu ferimento com cuidado. Ele ainda tinha um curativo debaixo da camisa. Ele fechou os olhos, como se ainda estivesse sentindo dor. – Você foi muito corajoso.

– Um pouco estupido. – Ele deu de ombros e sorriu. – Mas fiquei sabendo que prenderam o Rebelde que atirou em mim.

– E o que vão fazer com ele? – Gemi

– Não vamos mata-lo, se é isso que está perguntando. – Ele desviou o olhar. – Tio Mike e tio Justin costumam conversar com os prisioneiros e dão a eles duas opções: ou passam a servir como soldados, ou são enviados para as patrulhas no Norte.

– Eu soube que estão invadindo o país por lá... Isso também é perigoso, não é?

– Você não tem que se preocupar com isso. É um desses assuntos chatos da Realeza. – Ele desviou o olhar para a parede, e depois de um longo suspiro, ele voltou a me olhar. – Você tem uma veia que fica pulsando bem na sua testa, sabia disso? E você é tão branquinha... – Engasguei.

  Eu ainda tinha problema com aquilo. Meu albinismo era o que eu mais tinha vergonha no mundo. Quando eu era mais jovem, quase nem saia de casa e o sol era o meu maior inimigo. Mas a medida que eu crescia, percebi que os meus grandes inimigos eram as outras pessoas. Eu tinha aprendido a ignorar e a não sofrer. Minha pele era, realmente, clara que as minhas veias azuladas brilhavam e se destacavam, mas aquilo era uma parte tão grande de mim que eu jamais conseguiria mudar.

 E apesar de todo o meu longo histórico de bullying e de piadinhas maldosas, Joshua parecia estar na contramão. Era como se ele não se importasse com a cor pálida da minha pele e nem dos meus cabelos. Puxei os fios bem tingidos do meu cabelo e olhei para ele, confusa.

– Não me entenda mal, isso é um elogio. – Ele riu e tocou a minha testa, passando os dedos grossos e gelados pela minha pele. – Bom que sempre vou saber quando estiver nervosa.

– Ah, é bem complicado me deixar nervosa. – Dei de ombros e puxei o cobertor grosso para cima das minhas pernas. – O que acha que podemos fazer aqui?

– Quer ver um filme? – Joshua sorriu e pegou o controle da TV em uma mesinha ao lado da cama. Assenti com a cabeça e ele colocou um filme.

  Não sei ao certo em que parte do filme, mas não demorou nada para que ele passasse o braço pelos meus ombros e me trouxesse para o seu peito forte. Eu não queria admitir, mas o bater ritmado do coração do príncipe era bem mais interessante do que o filme que estava passando na TV. Assim como o cafuné gentil que ele fazia nos meus cabelos, era bem mais aconchegante do que qualquer coisa naquele palácio.

– Você tem os olhos mais bonitos que eu já vi na minha vida. – Ele sussurrou aquilo como um segredo e eu ergui a minha cabeça. Tinha certeza que minhas bochechas estavam vermelhas como maçãs. – Como pode uma mulher tão bonita quanto você ser tão tímida? Qual é o problema das garotas bonitas?

– Eu não faço ideia. – Ri e senti os dedos do príncipe no meu queixo. Nossos olhos se encontraram e ficamos em silencio por um longo momento. Ele estava me dando um daqueles olhares profundos e penetrantes, podia sentir cada celula do meu corpo vibrando com aquele olhar. E ele ficou ali, me olhando nos olhos em silencio, até que eu não aguentei e desviei o olhar, o que fez ele rir e me puxar para um abraço ainda mais apertado.

– Você é linda, garota.

...

 

– Vamos lá. – Sir Ansel disse, animadamente para o Soldado Moe Dallas, que estava com um daqueles seus sorrisos excitados. Ele piscou para mim e sorrimos. Moe tinha se tornado um grande amigo. Ele sempre esperava as selecionadas de manhã e como eu era a última a ficar pronta, sempre conversávamos no caminho até o Salão das Mulheres. Sorri timidamente para ele, e tive que encarar os olhos fulminantes de Cecilia para mim. Algumas coisas estavam começando a ficar claras demais para todas nós. – O grupo Um será formado por... – Moe pescou um dos papeis na imensa tigela de vidro no meio do Salão das Mulheres. Sentada em um canto, estava a Rainha, acompanhada de Daphne Porter. Moe entregou o papel para Ansel, que sorriu. – Senhorita Calisto Hymans. – Moe sorteou mais um nome. – Senhorita Aurora Borkowski. – Moe entregou todos os outro papeis para Ansel, fazendo com que a rainha gargalhasse. – Senhoritas Anastasiya Glynne, Olympe Kang, Lilian Johnson e Sophia Van Tol.

– Parabéns. – A Rainha disse no meio da nossa salva de palmas descompassada. Observei em silencio enquanto as seis se reuniam, diante da rainha. – A tarefa de vocês é uma das mais parecidas com as que a minha mãe costumava a fazer como Rainha e nós a escolhemos porque uma boa Rainha deve saber como organizar bons jantares. – As garotas riram, excitadas. – Vocês têm como tarefa organizar uma festa para cem convidados. Mas não quaisquer convidados. – As garotas Se entreolharam, curiosas. – O jantar que vocês fizerem será oferecido a família das selecionadas. – As meninas se entreolharam, contentes. Vi Rue sorrir com Sunset, as duas pareciam muito empolgadas com a ideia de rever seus pais. – Tudo neste jantar será decidido por vocês e, claro, vocês terão ajuda de alguém. – A rainha olhou para Daphne, que pegou um potinho no chão. – Aqui tem o nome de seis homens maravilhosos, que estiveram também em uma seleção. – Rimos. – O Padrinho de vocês nesta jornada será... – Ela ficou em silencio, com o papelzinho nas mãos, apenas para nos deixar mais ansiosas. – Sir Justin Bieber. – As garotas do Grupo Um se olharam nervosas. Sir Justin não parecia ser muito festeiro, nem parecia saber muito de jantares chiques. – Acreditem, Justin entende de cozinha como ninguém. Boa sorte garotas.

– O Grupo Dois será formado por... – Sir Ansel chamou nossa atenção para ele mais uma vez. – Senhoritas Lila Limber, Katrina Hunter, Tessa Brown, Krystal Walker, Cecilia Mcnamara e Gaia Walter. – Senti um arrepio estranho passando pela minha nuca quando escutei o meu nome sendo chamado junto com os das outras meninas. Elas se levantaram e eu fiz o mesmo. Por ironia do destino, fiquei ao lado de Tessa, que parecia ser a mais fechada dentre as garotas do grupo. Ela me olhou de cima a baixo, mas depois me deu um sorriso em apoio.

– O grupo de vocês terá uma tarefa que eu adoraria fazer. – A Rainha sorriu e olhou para cada uma de nós. O olhar dela era acolhedor, como os de uma mãe. – Uma rainha deve saber do sofrimento de seu povo e antes que o Inverno chegue, uma Rainha deve estar certa que todos os seus súditos estão bem cobertos e que têm roupas adequadas para a estação. Vocês terão que organizar uma campanha do agasalho. Terão também de administrar das doações e cuidar para que as roupas cheguem ao destino que vocês julgarem mais justo. Vocês podem trabalhas isso de tantas formas que chego a ficar empolgada. –A Rainha riu e brincou com os papeis, para sortear o nosso padrinho. – Vocês terão o prazer de trabalhar com... – Ela olhou a papel e deu uma piscadinha para mim. – Sir Ed Sheeran. – Ela dividiu uma risada com Daphne, que nos olhava com desdém. – Ficaram com o mais empolgado de todos. Boa sorte, meninas.

– Eu tive algumas ideias, eu acho que pode dar certo. – Katrina sussurrou enquanto íamos nos sentar em uma das mesas.

– Podemos falar sobre isso depois. – Gaia interrompeu Kat, que franziu as sobrancelhas, visivelmente nervosa. – Quero saber em qual grupo a Pryia vai ficar.

– Pelo menos não foi no meu. Eu arrancaria o estomago dela com minhas mãos. – Lila disse baixo.

– Ele vai falar as garotas do grupo três. – Cecilia sussurrou.

– Senhoritas Joanna Peters, Kira Magnonsh, Jennifer McCullers, Josefine Petersen, Mila Allen e Amélia Hall. – Ansel anunciou e as garotas se uniram lá na frente, notamos como Mila nem olhou para Joanna, o que deixou bem claro que elas não eram lá muito amigas.

– O grupo de vocês tem a tarefa que meu filho mais gostaria de fazer. – A rainha sorriu mais uma vez e olhou rapidamente para todas as meninas, mas seus olhos ficaram fixos nos de Jennifer por mais tempo e nenhuma de nós pode dizer porquê. – Vocês sabem que nós temos uma clínica para animais abandonados aqui e acabamos de atingir a nossa lotação máxima. Um reino, não se faz apenas de pessoas, os animais também devem ser amados e cuidados por uma Rainha. E por isso, decidimos que vocês devem organizar uma feira de adoção para animais de pequeno e médio porte. – Ela abaixou os olhos para pegar um dos nomes dos padrinhos. – É obrigação de vocês preparar os animais para a feira e também documentar cada animal que sai daqui e para onde ele vai. E vocês serão apadrinhadas por... – Ela abriu o papelzinho e riu. – Sir Evan Peters. Uma boa sorte á vocês, garotas.

– A Joanna vai mesmo trabalhar com o pai dela? – Pryia ergueu a mão. A rainha a olhou com curiosidade.

– Isso é um problema para você, Joanna? – A Rainha Ambre perguntou e percebi o olhar confuso de Joanna.

– Acredito que não, mas se isso incomoda tanto a minha querida Pryia, podemos mudar. Seria um prazer para mim trabalhar com qualquer um dos Sir desse palácio. Todos têm algo a ensinar. – Joanna disse. Firme, como uma rainha. O que fez Pryia revirar os olhos.

– Então está decidido. – Ansel berrou enquanto olhava para Moe, que pescava mais nomes no vidro.

– Eles ficam tão bonitos de farda. – Cecilia disse aquilo como se nós não soubéssemos que ela estava nutrindo sentimentos pelo soldado Dallas. Eu e Katrina rimos baixo, trocando olhares cumplices.

– E o grupo Quatro será formado pelas senhoritas Evangeline Wellves, Pryia James, Sunset Swan, Snower Thompson, Rue Rivers e Emmanuelle Dawson. – Houve um momento de silêncio enquanto as meninas se levantavam. Nós sabíamos que Sunset, Rue e Evangeline tinham uma amizade, mas elas tinham ido para o inferno juntas. Estar no grupo de Pryia deveria ser como pagar todos os pecados.

– Elas estão ferradas. – Kat resmungou.

– Você nem imagina o quanto. – Gaia riu e nos olhou. Eu fiquei assustada.

– A tarefa de vocês é uma das mais divertidas. – A Rainha riu e olhou para Sunset. – Uma Rainha tem muitas responsabilidades, mas também se diverte bastante. A tarefa de vocês será organizar um festival, seja ele de teatro, musica ou dança, o que realmente importa é que todo o dinheiro deste festival vá para orfanatos em Illéa. É responsabilidade de vocês escolher tudo e produzir cada detalhe. – A rainha sorriu. – E o padrinho de vocês para essa jornada será Sir Harry Styles.

– Um musico. – Daphne riu e a Rainha compartilhou aquilo com ela.

– Boa sorte, meninas. – Ambre riu e olhou para Ansel.

– O quinto grupo será composto pelas Senhoritas Hermia Patel, Malia Castillo, Ariana Herondale, Taylor Swift, Jenye Lawton e Celestia Rubin. – As meninas se levantaram e as seis que restaram se entreolharam, já sabendo quem seria seu grupo.

– A tarefa de vocês pode ser perigosa e maravilhosa. Peço muita atenção, porque é algo que uma Rainha deve saber organizar de olhos fechados. – A Rainha Ambre sorriu e olhou para Daphne, que concordou em silencio. – Vocês devem organizar um baile de gala para cem convidados, além de pensar em tudo o que tocará durante a festa e no que serviremos. E eu, particularmente, espero que vocês façam essa tarefa muito bem, porque esse não será qualquer baile. – Daphne deu um sorriso tímido e deu de ombros. – Este baile é uma das comemorações que eu mais adoro e que todos os anos é um sucesso. Vocês serão as primeiras pessoas, além de mim e de Sir Evan Peters, a organizar o Baile da Coroa. – As garotas se entreolharam, nervosas. Menos Ariana, que permanecia um poço de calma. – Cada ano temos um tema e o desse ano será escolhido por vocês. Boa sorte. E o padrinho de vocês será Sir Michael Clifford.

– Ouvi dizer que ele é bem festeiro. – Ariana comentou com a Rainha, que riu sem parar.

– E, como vocês já devem saber, o último grupo será composto pelas Senhoritas Clarisse Acceti, Arabella Galadriel, Aria Campbell,  Allyson Barrow, Maeve Simons e Ever Jackson. – As seis se levantaram conversando baixo e resmungando.

– A tarefa de vocês ficou por último por ser, realmente, a mais difícil. – Houveram suspiros assustados. – Eu sei que devem conhecer um evento chamado Reunião dos Líderes Monarcas. Todos os anos, os reis, rainhas, príncipes, princesas, primeiros ministros de todos os países da Aliança se encontram para discutir termos e também para festejar a aliança. – A Rainha olhou para as garotas, mas também olhou para todas nós. – Este ano, Illéa receberá o Encontro. Eu estou muito emocionada e espero que esse seja um encontro memorável. Então, espero de vocês uma recepção impecável. Vocês serão responsáveis por receber os Reis, assim como lhes indicar os quartos e fazer uma breve festa de recepção. Espero que levem em conta o que cada rei ou rainha prefere e pensem nisso. E vocês terão como guia Sir Dylan O’brien. Eu lhes desejo boa sorte. – Ela disse aquilo e se levantou. – O Jantar deverá ser marcado para daqui a uma semana. É mais que o suficiente para que façam todos os preparativos. Boa sorte, meninas. – Ela acenou e se retirou. Mas assim que ela se foi, Sir Ansel tossiu, chamando nossa atenção.

– Eu espero que vocês saibam que assim que os seis eventos forem concluídos, o príncipe Joshua será incentivado a eliminar seis de vocês. – Ele disse aquilo em tom de ameaça e sorriu. – Então, deem o seu melhor. Porque qualquer errinho pode ser o fim para vocês.

  Respirei fundo. Ele estava falando sério.

~||~

 

Point of View – Adam Lerman-Porter

13 de Julho

Corredores, Palácio de Illéa – 12h30

 

  Respirei, finalmente. Eu não estava mais aguentando tudo aquilo. Era demais para mim. Demais. Joguei o punhado de amoras que tinha colhido no lixo e fiquei encarando a minha mão manchada pelo sumo vermelho delas.

  Eu as tinha escolhido com todo carinho, colhido com todo cuidado do mundo. E para quê? Para encontrar Joshua enfiado numa cama, rindo como nunca de mais uma das suas selecionadas. Aquela era Ana e eles pareciam já se conhecer bem, porque riam e seguravam as mãos como se já fossem íntimos.

  Eu queria vomitar. Colocar todo aquele ódio para fora, mas por mais que eu tentasse, simplesmente não conseguia. E meu estomago só tinha piorado quando a vi tocando o peito dele, analisando o ferimento e deixando um beijo romântico junto ao ombro de Joshua.

  Naquele momento eu tinha oficialmente desistido de entregar aquelas amoras. Os corredores do palácio não eram lá dos mais ventilados, mas ali eu me sentia melhor. Passei as mãos pelos meus cabelos e me perguntei porque eu estava agindo como um completo idiota. Minha irmã tinha um jeito bem mais sutil de sabotar as selecionadas. Ela ficava sempre pendurada nos ombros da Tia Ambre, lhe sussurrando como aquelas garotas eram indelicadas ou, simplesmente, ajudando nossos tios a pensar em tarefas que elas se enrolassem, enquanto eu... Eu estava com merda até o pescoço.

– Senhor Porter! – Ouvi aquela voz doce e irritante que já me era muito conhecida e me voltei. Sorri e Pryia me devolveu um sorriso irritantemente perfeito. Ela estava acompanhada de mais algumas garotas, eu sorri para elas e elas, fizeram o mesmo. Mas era visível que todas elas estavam profundamente irritadas com a presença de Pryia. – O Senhor poderia me acompanhar até os Jardins? Queria presentear o nosso querido príncipe com algo, para que ele melhore logo, e acredito que você é o homem perfeito para me dar as informações que preciso.

– Não se esqueça que vamos nos encontrar com Sir Harry mais tarde, na sala de música, para decidirmos os detalhes do festival. – A ruiva, Sunset Swan, disse, com uma cara de irritada que até me assustou. Pryia deu de ombros e entrelaçou o braço no meu, me puxando em direção ao Jardim. Quando já tínhamos tomado uma distância confortável, ela me deu aquele olhar cheio de maldade e sorriu. – Você ainda não me deu todas as fichas. Sabe que preciso de todas elas para atingi-las no lugar certo. – Eu já tinha entregado a Pryia uma dúzia de fichas das outras selecionadas, mas ela não parecia nenhum pouco satisfeita. – Estamos juntos nessa, não é, Adam?

– Ainda não me disse o que vai fazer com essas informações. – Resmunguei enquanto atravessávamos a porta para o Jardim.

– Derrubar essas vagabundas. Por que acha que sou tão maldosa com elas? Essas garotas não suportam um pouquinho de maldade. – Ela disse aquilo com um sorriso. – Quanto tempo acha que vai levar até que Lila me bata? Ou pior, até que Evangeline peça para ir embora porque não consegue ler o que lhe dão? Quanto mais eu sei dessas garotas, mas fácil fica saber onde ataca-las.

– Você é o demônio.

– Obrigada. – Ela sorriu e correu para se sentar em um dos banquinhos. – A proposito, eu não tive como lhe agradecer pelas fotos que tirou, aquilo foi incrível.

– E você... Foi uma vadia por enviar aquilo para as revistas. Sabe como isso abalou o Joshua? Tem ideia de como ele ficou mal... – Aquela tinha sido a segunda vez que eu expunha Josh de algum modo. Aquele nó na minha garganta crescia mais a cada dia.

– Você deveria me agradecer.

– Eles vão descobrir que aquilo saiu do castelo e vão chegar até você.

– Eles podem até chegar, mas antes disso, eles vão expulsar alguém antes. – Ela piscou para mim. – Eu enviei aquelas fotos de modo anônimo para o Jornal que a nossa adorada jornalista trabalha. Quem você acha que será a primeira a rodar depois que descobrirem isso?

– Eu não posso continuar a fazer isso. – Conclui e dei alguns passos em direção ao castelo, mas Pryia riu, o que me fez olhar novamente para ela.

– Você vai desistir assim tão rápido? – Ela disse, alto o bastante para todo mundo ouvir. – Quer ele não quer?

– Quero, mas não quero assim. – Admiti aquilo para mim mesmo.

– Pois saiba que não terá outra chance sem ser agora. Sem ser esta. Porque não vai demorar para que ele comece a beijar as meninas e vai demorar menos ainda para que ele se apaixone perdidamente por uma dessas vagabundas. – Aquelas palavras me fizeram tremer. – E logo você vai servi-los assim como o imbecil do Michael faz até hoje.

– Cale a boca. – Gemi e a olhei. Ficamos um momento nos encarando enquanto eu respirava fundo. – Eu vou te entregar as outras fichas hoje...

– Quero que faça mais uma coisinha por mim, Adam... – Pryia se aproximou de mim e sussurrou algo em meu ouvido.

  Algo que partiu meu coração e que partiria também o coração de Joshua.

~||~

 

Point of View - Jennifer McCullers

13 de Julho

Quarto Nº 32, Palácio de Illéa – 13h40

 

– Você ainda está preocupada com o encontro com a maldita da Josefine? – Gaia resmungou enquanto vestia novamente seu sutiã. Nós duas nos entendíamos muito bem, tanto naquela competição, quanto na cama. Não era surpresa para mim ter um sexo tão ardente com uma garota. Era maravilhoso, eu só não tinha certeza se queria que meus pais soubessem disso.

– Não é isso que me preocupa. Acredite, eu não ligo para porra nenhuma desse príncipe. – Sorri e fechei meus olhos. Pude ouvir o momento exato em que Gaia acendeu seu cigarro e deu a primeira e longa tragada.

– Eu até que gosto dele. É bem cheiroso e bem... Não é do tipo de cara que eu costumo ficar, mas bem que eu gostaria de experimentar um pouquinho da realeza. – Ela riu, o que me fez abrir os olhos. Gaia estava debruçada na minha escrivaninha, usando apenas seu conjunto de lingerie azul, mas assim que ela me viu, piscou.

– Então porque não vai transar com ele na hora do almoço? – Provoquei e ela gargalhou.

– Até que eu gostaria de transar com ele. – Ela deu de ombros. – Eu não tenho disso sabe. Gosto mesmo de aproveitar o momento.

– Então é isso que estamos fazendo? Aproveitando o momento?

– Por favor, Jennifer, não me venha com essa de que você vai se apaixonar perdidamente por mim e que vamos sair daqui como um casal. Não somos o Troye e o Kodi da nossa geração. Você só quer aliviar a tensão com sexo e eu... Eu só gosto de transar. É isso.

– Gosto da sua sinceridade.

– Gosta de muito mais. – Ela riu e tragou mais uma vez. – Recebeu noticias dos outros rebeldes?

– Já te falei pra não ficar falando assim. – Gemi. Meu pai era o líder da Facção de rebeldes do Norte conhecida como os Tigres Brancos e ele tinha me enviado para o palácio com apenas um objetivo: conseguir o máximo de informação da família real. É claro que ele também adoraria se eu conseguisse ganhar aquela competição, mas estava cada vez mais claro que eu não teria muitas chances com Joshua, já que ele não ria das minhas piadas e sempre ficava muito distante quando eu estava por perto. Meu último truque era usar a minha sensualidade. – Não recebi nada. E aquele ataque... Foi feito pela Facção inimiga. Estou começando a ficar preocupada.

– Eu tenho algo para nos acalmar. – Gaia deu dois pulinhos e procurou no meio das suas roupas um pacotinho. Pode ver o conteúdo: um pó tão pálido quanto a cara da maldita Krystal. Gaia me deu um sorriso excitado e fez carreiras perfeitas com um papel que tinha encontrado por ali. – Vamos lá, garota. Os Rebeldes podem esperar um pouco. – Me levantei e fui até Gaia. Me aconcheguei em seu colo magro e então ela me posicionou, para que eu cheirasse a primeira carreira de cocaína.

– Você vai foder tudo, garota. – Sussurrei para Gaia antes de cheirar a primeira carreira. Ela gargalhou.

~||~

 

Point of View – Ambre Schreave

13 de Julho

Enfermaria, Palácio de Illéa – 17h40

 

– Eu tinha planejado todo um encontro elaborado, você não pode simplesmente levar um tiro e estragar tudo. – Hermia Patel gargalhou e eu ouvi o ruído rouco da gargalhada de Joshua. Eu não queria que eles soubessem que eu estava ali, muito menos que soubessem que eu estava ouvindo tudo. – Você me deve um encontro melhor que esse!

– O que você tinha planejado? – Joshua riu.

– Pensei em irmos até o lago, observamos juntos as estrelas, trocar juras de amor enquanto chove e decidirmos o nome do nosso primeiro bebê. – A piada fez Joshua rir alto. Estiquei um pouco o pescoço para ver pela janela. Joshua estava sentado em uma poltrona de Hermia balançava as pernas sentada na maca.

– Eu prometo que vamos fazer isso em breve. Eu já queria estar longe daqui, mas... Parece que os médicos adoram me ter por perto.

– Você vinha muito aqui quando era criança? – Hermia tinha um sorriso doce, o que fez Joshua sorrir. Eu conhecia meu garoto como a palma da minha mão, e não havia nada no mundo que ele gostasse mais do que belos sorrisos e garotas que o fizessem rir.

– Bastante. Eu era bem... Era uma criança normal. – Ele deu de ombros.

– Não imaginei que um príncipe seria uma criança normal. Sempre te imaginei no meio de um monte de babados e ternos chiques. – Ela brincou e Joshua riu mais uma vez.

– Tinha essa parte também. Mas... Eu fui criado com muitos tios e eles sempre vinham e me levavam para lutar ou para brincar com as crianças na rua. – Ele sorriu. A infância de Joshua tinha sido um momento divertido para ele, mas tinha sido o inferno para mim. Ser Rainha era difícil, exigia tempo e paciência e ser mãe também exigia tudo aquilo de mim. Eu me via sempre entre o reino e Joshua, tendo que escolher qual deles mereciam mais atenção naquele momento. Ele tinha muitas lembranças sobre mim e sobre os momentos que passávamos juntos, mas eu tinha as lembranças verdadeiras: passar dias sem dormir, comer pouco, me estressar bastante e ainda tirar um pouco do meu tempo para ficar ao lado dele. Mas tudo tinha valido a pena no fim. Ele era um homem bom, afinal. – E sua infância?

– Foi uma dessas infâncias comuns de garota pobre, sabe?

– Posso adivinhar?

– Tente!

– Tinha muitos irmãos?

– Filha única!

– Seus pais não entendiam seu talento?

– Quase lá. – Ela gargalhou. – Agora me deixa adivinhar algo sobre você!

– Tente.

– Você se tatuou porque quis ser um príncipe diferente?

– Minha mãe deixava que eu pedisse qualquer coisa no meu aniversário e ela não podia dizer não. Então pedi a minha primeira tatuagem. Com o tempo, ela perdeu o controle de quantas eu tinha...

– Se eu te der um desenho... Você tatuaria?

– Por que não?

– E se eu não for a sua Rainha no fim das contas?

– Terei algo marcado em minha pele que jamais deixará que eu me esqueça de você... Ou desse momento em que nos encontramos. – Estiquei o pescoço mais uma vez e vi que Hermia tinha se aproximado de Joshua e estava analisando um dos braços dele, com atenção. – Quem são essas mulheres?

– Minha avó. – Joshua apontou para uma tatuagem antiga que ele tinha feito para a minha mãe. Eu tinha me emocionado muito quando ele aparecera com aquela tatuagem. – Essa de olhos cobertos é uma representação da Justiça. Eu quero ser sempre justo.

– E cego. – Ele riu com o comentário de Hermia. – E essa aqui do outro lado? Me deixa adivinhar... É a dignidade?

– É a morte com peitos enormes. – Ele gargalhou e ela também. – Eu estou flertando com a morte desde que nasci... Tinha que tatua-la.

– E as borboletas? Por que você tem tantas tatuagens de borboletas?

– Eu gosto.

  Eu me estiquei um pouco mais para ouvir a conversa, mas senti mãos tocando meu ombro. Dei um pulo, mas logo ri ao ver o rosto conhecido do meu irmão. O tempo estava passando e não éramos mais dois jovens. E Torrance era exatamente como a minha mãe. Os mesmos olhos, o mesmo sorriso.

– Querida. – Ele sorriu e me trouxe para um abraço quente. – Você está bem?

– Estou. – Sorri e ele ergueu uma sobrancelha. – Um pouco cansada, só isso.

– Sempre que eu te vejo, você está mais parecida com seu Adam, sabia? – Torrance sorriu e segurou o meu queixo. – Escondendo suas dores, colocando a saúde dos outros antes da sua...

– Tenho um reino para cuidar.

– Tem que tomar cuidado para não partir cedo demais. Uma boa rainha deveria se cuidar mais.

– Quando eu tiver um pouco mais de tempo, prometo que vou me cuidar melhor. Mas por enquanto, a saúde do reino é a minha saúde.

– Espero que esteja mesmo certa de tudo isso, Bre.

– Joshua vai ficar bem?

– Sim. Não. Quem sabe?

– Pare de gracinhas, Torrance.

– Ele foi bem criado. É um garoto forte. Não é um tiro mal dado que vai matar esse garoto. Mas ele está começando a sentir a pressão, está ficando assustado e cansado.

– E ele ainda nem é rei. – Nós dois rimos e Torrance passou os dedos pelo meu ombro.

– Por que ainda não se casou? – Ele sempre me perguntava aquilo e eu nunca tinha resposta. Adam sempre seria uma ferida aberta no meu coração. – Sei que posso parecer meio idiota, mas você precisa de alguém para dividir esse peso todo. Precisa de um novo amor. Nenhum homem no mundo vai ser tão perfeito para você como o Adam foi, mas... Você tem que parar de fugir do amor.

– Eu já estou muito velha para isso.

– Você nunca vai ficar velha, minha irmã.

– Diga isso mais uma vez, Torrance.

– Eu preciso voltar para casa.

– Enviarei algumas tropas com você. Sei que o Norte deve estar...

– Frio e perigoso. – Torrance desviou o olhar. Nós dois tínhamos sofrido muito no Norte. – Eu sempre levo flores para a montanha.

– Tenho certeza que Adam ficaria muito feliz. – Ficamos em silencio um tempo. – Levou flores para nossa mãe?

– Claro. – Torrance me abraçou com força. – Pense no que eu te falei ontem, querida. E se alguma coisa acontecer, não pense duas vezes em me chamar, sim? Eu estou aqui para você.

– Você é minha família, Torrance. Queria que ficasse aqui...

– Tenho um bebê e uma esposa... Não posso deixa-los.

– Pode trazê-los. Eles teriam muito mais o que fazer na Capital.

– Não tente me convencer a ficar nesse inferno que você chama de lar, minha irmã. Já passei muitos anos preso aqui.

– Amo você. – Sussurrei enquanto Torrance se afastava, sorrindo.

– Também amo você.

...

 

– Ambre, querida, onde você está? – Evan me chamou, pela milésima vez. Pisquei meus olhos e voltei a atenção para os papeis que estavam na minha frente.

– Peço desculpas. Eu estou muito distraída. – Disse alto e os conselheiros riram. – Eu não consigo para de pensar nos ataques e... Que o Joshua podia ter morrido.

– Mas ele não morreu, Bre. – Justin começou e todos olharam para ele. – Já redobramos a guarda e estamos fechando o cerco em uma das facções.

– Não quero que matem ninguém. Não devemos ser bárbaros como eles, Justin. Não mais. O tempo de guerrilha acabou. Não iremos nos rebaixar. – Sussurrei e bati meus papeis na mesa. – E quanto ao Norte, mandaremos duas tropas para lá e vamos torcer para que seja o bastante para conter os avanços pelo menos por enquanto.

– Eles estão mais violentos que antes, Majestade. – Um dos homens que tinham vindo do Norte para a Reunião sussurrou. – Nós estamos tentando trazer todas as mulheres e crianças para o sul, mas de pouco tem adiantado.

– Devemos avançar, Bre. Não contê-los. – Dylan sussurrou e me deu um olhar carinhoso. Ele deveria estar em Scott&Lion, aproveitando sua esposa e os momentos com ela. Mas estava ali, como tinha prometido estar quando erámos mais jovens. – Temos que atacar.

– Eu peço que esperem. Sei que assim que começarmos essa guerra, Joshua vai querer se envolver e...

– Talvez ele deva se envolver, meu bem. – Michael sussurrou. – Ele é o príncipe. Sua presença no front de batalha seria impactante e ele seria visto por todos como um príncipe corajoso e guerreiro.

– Ele é meu filho. Meu único filho. Não me peça para mandar o meu menino para a guerra.

– Ele não é mais seu menino, Ambre. – Michael insistiu e me olhou. – Agora não há mais o seu menino, Bre. Ele é Joshua, o príncipe herdeiro. E você não pode impedi-lo de lutar as batalhas de seu povo... Alguém conseguia te impedir?

~||~

 

Point of View – Katrina Hunter

13 de Julho

Torre Norte, Palácio de Illéa – 20h40

 

– Você não deveria estar aqui, sabe? – Resmunguei, surpresa quando vi a figura esguia do príncipe. Ele deu um pulo, tentando apagar o cigarro que estava entre seus dedos longos, mas ele pareceu um pouco mais tranquilo ao ver que quem se aproximava era eu. Joshua estava com olheiras escuras, mas me deu um sorriso animado. – O seu médico pediu para que ficasse alguns dias em repouso.

– Estou repousando, mas em um lugar diferente. – Ele retrucou e me deu um sorriso doce. Me aproximei, sem muito alarde. De perto, ele estava ainda mais exausto: as bolsas avermelhadas debaixo dos olhos, o nariz muito vermelho, os ombros caídos. Não me lembrava o cara encantador que tinha conhecido antes.

– Não deveria fumar, sabe? – Comecei. Eu não era lá aquele tipo de menina que dizia palavras doces ou que dava conselhos, mas naquele momento, ele parecia precisar de um puxão de orelha. – Você vai ficar todo fedorento.

– Estou cheirando enfermaria, não tem como ficar mais fedorento do que eu já estou. – Ele deu de ombros e enfiou o cigarro entre as pedras da torre. Nos olhamos por um tempo, antes dele respirar fundo. – Eu fiquei sabendo que você teve alguns desentendimentos com a Pryia.

– Quem te contou isso? – Franzi a minha sobrancelha e o olhei com desconfiança.

– Eu tenho olhos e ouvidos por todo o palácio. – Ele disse com um meio sorriso, as estrelas estavam muito bonitas naquela noite.

– Eu espero que saiba que a Pryia é uma... Eu não consigo pensar em nenhuma palavra que não seja um xingamento ou um palavrão. – Dei de ombros, o que fez Joshua rir. – Eu a detesto.

– Qual é o problema com ela? Pryia é tão doce e... Meiga. Gosto dela.

– São os peitos. Está enfeitiçado pelos peitos dela, eu não vou te julgar. – Disse com muita sinceridade, mas ele riu alto. – Porque é só isso que você está vendo nela.

– Ela é uma menina legal...

– Você não pode se apaixonar por ela.

– Eu prometo que vou tentar, mas ela tem sido bem convincente. – Ele brincou, dando de ombros. Empurrei o ombro dele, mas depois me arrependi, sabia que ele estava machucado.

– Eu te machuquei? – Sussurrei sem graça.

– Não. Eu já estou quase bem. – Ele gemeu, sem graça e fechou os olhos. O vento gelado chicoteou nossos corpos. Fiquei olhando para o príncipe por um longo momento: seus cabelos loiros estavam voando e suas sobrancelhas estavam muito franzidas, era como se ele tivesse muito bravo, mas eu sabia que não. Aquela era uma careta de dor.

– Você é um idiota. – Sussurrei e ele me olhou, com aqueles olhos verdes lindos. – Príncipes tem dessas coisas de mentir, não é?

– Realmente. – Ele sorriu e fitou o jardim imenso diante de nós. – Eu sinto muito por seus pais.

– Não tem que sentir. Eles só me deixaram. – Disse aquilo como se fosse pouca coisa, mas eu sabia que não era. Ele me olhou, era como se quisesse que eu aceitasse sua piedade, então eu respirei fundo. Eu era forte, sempre tinha sido. E pronto. Não estava com o coração aberto para nada. Nem para o príncipe. – Você está bem com a sua seleção?

– Estou. Eu acho que todo mundo fica excitado com a Seleção. É como ver e estar em um conto de fadas. É como esperar o meu amor e saber que ele está bem perto. Tanto que eu já posso senti-lo. – Ele deu de ombros. Podia ver que ele estava sendo sincero e aquilo me fez sorrir. Um sorriso irônico, mas um sorriso. – O que foi?

– Eu não acredito muito nisso de amor. – Dei de ombros. – Sabe, meus pais nunca me amaram, não vou esperar que outras pessoas façam isso por mim.

– Isso é bem triste de se pensar. Eu acredito que fui feito para amar alguém e alguém foi feito para me amar.

– O único jeito de eu amar alguém é se me pagarem.

– O amor é como oxigênio. – O príncipe me olhou, chocado. – O amor é tudo. É ele que corre pelas nossas veias, que nos faz levantar todas as manhãs. Nós só precisamos de amor.

– Pelo amor de Deus, não comece com isso.

– Tudo o que precisamos é amor, Katrina.

– Você! Eu preciso de comida... De ter um teto onde dormir.

– Apenas amor.

– Amor é só um jogo. – Minha declaração pareceu chocar o príncipe, que arregalou os olhos muito verdes.

– Uma noite. Me dê só uma noite para te provar que o amor existe.

– De jeito nenhum. Você vai me obrigar a ver casais andando de mãos dadas. Casais novos, velhos, plantas, animais. Eu já vi tudo isso, Muralha, não acredito que exista.

– Uma noite. Uma noite em nome do amor.

– Você é um idiota. – Disse enquanto girava o corpo em direção as escadas. – Eu não vou ceder a você.

– Não me deixe aqui sozinho. – Ele disse aquilo e me paralisou por um segundo. – Não pode me deixar aqui desse jeito.

– Você não acha que as pessoas já se cansaram dessas histórias estupidas sobre o amor? – Sussurrei, sem olhar para o príncipe. Eu não tinha sido muito amada durante toda a minha vida. Meus pais tinham me abandonado. Eu tinha me criado sozinha e, quando se está sozinha, o amor é a última coisa que se pensa. Respirei fundo e o olhei novamente, Joshua estava com o olhar perdido entre as arvores e a cidade.

– Eu olho para as pessoas e não é isso que elas me dizem.

– Eu sempre me irritei com as pessoas que acreditavam demais no amor.

– E qual é o problema de acreditar no amor? Eu gostaria de saber... – Ele me olhou, esperando uma resposta, mas minha resposta foi o silencio. – O amor é aquilo que nos faz acreditar, Kat. Acreditar que podemos voar tão alto como os pássaros.

– O amor nos faz de idiota, Joshua. E assim, jogamos toda a nossa vida fora por causa de um momento. De uma felicidade que passa e some. – Admiti aquilo e dei as costas para ele mais uma vez, mas não esperei que ele dissesse nem mais uma palavra, comecei a descer as escadas o mais rápido que pude.

– Eu posso te mostrar como é. – A voz do príncipe ecoou pelas paredes e me fez parar. – Mesmo que só por uma noite.

– Você... – Eu respirei fundo. – Você vai ser um babaca comigo.

– Não, eu não vou.

– E eu... Vou acabar uma bêbada estupida que escreve livros sobre você.

– Nós podemos ser amantes!

– Não, Joshua, nós não podemos. – Voltei a descer as escadas o mais rápido que eu podia, mas Joshua também estava descendo e parecia que a cada passo que eu dava, ele dava três.

– Sim, nós podemos. – Ele sussurrou assim que alcançou o meu pulso. Os dedos dele estavam muito gelados e me causaram um arrepio estranho. – E você sabe que podemos. – Joshua era dono de olhos pequenos, mas poderosos. Intimidadores e sedutores como só ele. – E mesmo que nada queira que nós fiquemos juntos, sabe que podemos roubar um pouco de tempo... Mesmo que só por um dia. – Joshua passou os dedos pelos meus cabelos soltos e os colocou atrás da minha orelha. – Eu posso ser o que você precisar que eu seja. Seu amigo, seu amante, seu herói. Só não me diga que você não acredita no amor.

– Você deve ser maluco. – Sussurrei enquanto sentia os dedos grosseiros dele no meu pulso.

– Você pode manter isso em segredo... Manter seu coração em segredo e tudo o que acontecer. – Joshua encostou sua testa na minha, lentamente. Nossos narizes se tocaram e eu senti seu cheiro amadeirado e forte, misturado com aquele cheiro estranho de nicotina. Seus lábios estavam tão próximos do meu que eu podia sentir sua respiração. – Eu não vou contar para ninguém que você tem um coração. – Meu coração disparou. – Você vai perceber que não tinha visto o mundo como ele deve ser visto sem amor.

– E você vai me dar o seu amor? – Sussurrei.

– Não é pra isso que você veio aqui? – Joshua sussurrou.

  Eu podia escutar o meu cérebro dizendo que aqueles lábios jamais seriam meus de verdade, mas meu coração, meu maldito coração, gritava sem parar. Dizia que eu precisava daqueles lábios nos meus, que eu precisava nem mesmo que só por um segundo.

  E então eu avancei. Agarrando aquele beijo. E tudo explodiu.

  Não havia montanha que era alta demais, nem rio que fosse muito selvagem. As estrelas poderiam colidir naquele momento que eu não perceberia, que não faria a menor diferença. Enquanto Joshua estivesse com os braços em volta da minha cintura e com os meus lábios colados nos dele, não haveria nada que pudesse me tirar daquele êxtase.

  Aquilo não era amor. Eu sabia. Mas era bom.

  Não era amor. Não ainda.

~||~

 

Point of View – Moe Dallas

14 de Julho

Pátio de Treino dos Soldados, Palácio de Illéa – 00h40

 

– Você está bem? – Sussurrei enquanto me sentava no chão de cimento batido. Cecilia arregalou aqueles olhos enormes e tocou as coxas escondidas pela capa escura que estava usando. – Sabe, eu te disse para usar uma roupa discreta, não para vir disfarçada de Batman.

– Eu pensei que estava bem discreta. – Ela sorriu e colocou alguns fios de cabelo atrás da orelha. Cecilia e eu estávamos sempre nos encontramos na madrugada, estávamos nos enganando e dizendo que aqueles encontros eram apenas para que eu contasse para ela as coisas que Joshua mais gostava. – O que trouxe para mim?

– Trouxe alguns pães de abobora e geleia de morango. – Resmunguei enquanto pegava o pote e o pano dobrado que eu havia escondido na farda. Ela me olhou desconfiada, mas depois sorriu. – E o que você trouxe?

– Escrevi uma carta pro príncipe. – Ela passou um papel para mim, estava bem dobrado. – Mas não quero que leia agora. Só vai ler quando estiver indo dormir e se tiver legal, você trás para mim amanhã.

– Tudo bem. – Guardei a carta no bolso da farda e a olhei. Cecilia era linda, assim como todas as outras selecionadas. Mas ela era estranhamente inconsequente e estávamos nos aproximando de uma forma que eu jamais tinha pensado em me aproximar de uma das garotas do Joshua. Porque era isso que ela era. Uma das garotas do Joshua. E se alguém nos vesse ali, eu seria punido e ela seria expulsa. Eu jamais tinha pensado em correr aquele risco, nem em trair meu melhor amigo daquela maneira.

– Como você virou soldado? – Ela mudou logo de assunto e enfiou um pedaço de pão na boca.

– Não veio aqui para saber sobre mim, veio para saber sobre o Joshua. – Cruzei meus braços e fiz uma careta. Ela sorriu. E como aquele sorriso era lindo. – Ele se interessou por lutas quando tinha uns dez anos.

– E você já estava no palácio nessa época?

– O que eu acabei de falar? Você realmente me escuta?

– Eu só não estou interessada na história maravilhosa de vida do príncipe. Eu posso aprender tudo isso lendo uma daquelas biografias idiotas que lançam toda semana. Mas só você pode me contar as coisas que realmente acontecem nesse palácio. Estamos aqui a um bom tempo e parece que nada de bom acontece.

– Mas agora vocês têm tarefas a cumprir. Tarefas interessantes.

– Se é assim que você quer ver as coisas... – Ela deu de ombros e se levantou em um pulo. – Me leve a um lugar legal. Me mostre coisas engraçadas.

– Talvez amanhã. – Me levantei também e respirei fundo. – Está ficando tarde e alguém pode pegar você pelos corredores. Já pensou no que fará?

– Me fingir de sonambula? – Ela sorriu e se aproximou de mim. Ela estava com os braços abertos, mas eu apenas estiquei a minha mão. Eu tinha pensado que lutar era complicado, mas nada era mais difícil que negar um abraço de Cecilia. – Até amanhã, Moe.

– Até amanhã. – Resmunguei enquanto via ela se afastar. – Se cuida. – Ela sorriu e correu pelos longos corredores. Respirei fundo.

– Se cuida? Que tipo de cara você se tornou? – Quase dei um pulo ao ouvir aquela voz. Sir Justin estava me encarando, com ambas as sobrancelhas erguidas.

– Senhor, não é nada disso que o senhor está imaginando, Senhor. – Gritei, em meio a mil continências.

– Que estou imaginando? – Sir Justin riu e caminhou até mim. Ele pousou uma das mãos em meu ombro. – Eu vi, Senhor Dallas. Sabe que isso está errado, não é?

– Eu sei. – Sussurrei.

– Tem que contar para ele. – Sir Justin disse aquilo, o que me surpreendeu. Trocamos olhares, eu estava visivelmente confuso. – Joshua não vai se apaixonar por todas elas e logo algumas irão embora... Talvez... Dizer a Joshua que está... Gostando de uma das garotas...

– Eu não posso fazer isso. Nós... Nós somos amigos. Eu não posso trair o meu irmão assim...

  Corri, sem me importar com o que Sir Justin fosse pensar de mim. Fui até o meu pequeno quartinho e me tranquei ali. Eu estava ofegante, com o coração disparado. Sentir aquilo era pior que apanhar de Theodore por horas. Enfiei a mão no bolso da minha farda e segurei a carta de Cecilia. A desdobrei com cuidado e sorri ao ler sua letra bordada.

“Não consigo parar de pensar em você desde aquele dia... Sei que você e eu não podemos... Não devemos nem ser amigos, mas... Acho que eu preciso ficar perto de você para ter coragem de continuar nessa Seleção.
Você é importante para mim, Senhor Dallas. Sei que é pedir demais, mas... Se pudermos ser pelo menos amigos, me encontre amanhã as 02h00 da manhã, na torre Norte.

Esperarei você lá.
Cecilia.”

  Tateei a letra bonita dela e corri com a carta para uma vela que eu deixava sempre acessa. Observei aquela carta queimar em silencio, enquanto meu coração batia mais que os tambores da guerra.

– Eu tô fodido.


Notas Finais


Oi, Oi Brioches!

Desculpem, mais uma vez pela demora pra postar, mas tive mais imprevistos do que imaginei, então tô bem chateada com um monte de coisa. Então perdoem esse capítulo meio postado as pressas.
Ainda temos mais 10 encontros, mas não irei fazer POVs de todos eles, já que estamos perdendo muito tempo com eles e a história não está desenrolando, então, farei POV apenas das meninas que ainda não os tiveram e continuaremos com o dia a dia no castelo.

Então aqui vai uma tarefinha: quem suas selecionadas convidariam para o jantar no Palácio? Cada Selecionada por escolher apenas Duas pessoas da sua família. Sim, eu sei que vão dar mais de 100 convidados, mas qual é a graça da tarefa se for muito fácil, né?
E mais uma coisa: gente, fiquei chocada com a votação. KKKK Vocês votaram em uma Selecionadas que eu acreditava ser muito querida. Mas como previsto, a garota que vocês mais querem que seja eliminada é a nossa Pryia.

Bom, Brioches, é isso por hoje.
Amo vocês.

Khaleesi, a mãe dos Brioches.


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