História Judas - Agora queime querido, queime.

“Cada sussurro
Em todos os momentos em que estou acordado
Estou escolhendo minhas confissões
Tentando ficar de olho em você
Como um tolo, um tolo magoado, perdido e cego
Oh não, eu falei demais
Eu causei tudo isso”
R.E.M - Losing My Religion

XXX

A possibilidade de deixar para trás, tornar passado aquele circo de horrores, era na mais piegas explicação, tentadora. Jackson buscava no rosto de Jaebum onde estaria escondido o trunfo daquela proposta, onde estaria a armadilha, o erro; afinal Im Jaebum não dava ponto sem nó. Seu coração em seu peito ladrava, sua tez fria exalava o suor advindo da adrenalina que percorria todo o seu corpo, a atmosfera que já estava densa, pareceu jogar-se pesada sobre os ombros de Wang. Tudo isso acompanhado pelo olhar sombrio de Jaebum, que tudo absorvia sem nunca, jamais devolver algo de volta ao ambiente, as orbes de Jaebum eram como um buraco negro afinal.

– O que foi Wang? Ficou sem palavras? Logo você que sempre tem alguma merda para despejar sobre o ouvido dos outros.

Jackson levantou-se da cadeira em que estava sentado, começou a andar de um lado para outro na pequena e escurecida sala, passava as mãos nervosamente sobre os cabelos descoloridos, definitivamente não sabia o que fazer. Pensou então em como tudo seria mais fácil se em seu peito não sentisse milhares de sentimentos inomináveis quando se tratava de s\n, seria muito mais fácil se nunca a tivesse conhecido, entretanto, se nunca tivesse com ela se envolvido Jaebum jamais teria motivos para querê-lo longe, longe de sua penitência.  

Jackson Wang queria muito deixar tudo para trás e apenas recomeçar, mas acontece que… deixar tudo para trás significava abandonar s\n também e ele não sabia se seria capaz disso, por isso sentia-se um tolo, um bobo que se apaixonou pela pessoa errada outra vez. Além do mais, o loiro sabia com quem estava lidando, sabia que havia algo nas entrelinhas da proposta do moreno, Im Jaebum era um ser vingativo, rancoroso e sádico, obviamente não iria deixar passar os beijos e toques entre Jackson e s\n, para Wang, era claro que Jaebum faria algo contra si, mas o quê? O medo do desconhecido estava deixando Jackson cada vez mais descontrolado, sentia inúmeras emoções fervendo em suas veias, chegou a crer que entraria em combustão a qualquer momento, e bem, ele entrou.

– Você deveria jogar limpo pelo menos uma vez na sua vida. –  Jackson então praticamente voou sobre Jaebum, agarrando a gola de seu usual jaleco branco e o levantando através deste. –  Eu sei que não vai apenas me deixar ir assim tão fácil, então não esconda o jogo, só assim poderei escolher minhas armas.

–  Por que eu deixaria você ter o direito de munir-se? Eu não posso arriscar perder W-A-N-G. –  As mãos frias de Jaebum acariciavam as bochechas de Jackson, fazendo com que o condenado recordasse de tempos muito remotos, tempos que lhe traziam um misto de asco e efervescência.  

– Claro Jaebum, você sabe que se me deixar preparado para o vindouro eu obviamente ganharia de você. Você se lembra? Quando jogávamos limpo eu costumava ganhar sempre, no final, você sempre se rendia a mim como uma menininha.

Jaebum soltou um suspiro involuntário ao lembra-se do que exatamente Jackson estava a falar, não queria fazer o que fez, mas seu corpo gritava, queimava, sentia saudades, mas isso era tão inaceitável, de qualquer forma apenas fez o que sentia vontade apesar dos pesares; uniu seus lábios ao lábios de Jackson de forma voraz, suas mãos correram até a nuca alheia o puxando para mais fundo naquele beijo.

Enquanto isso, dentro de Jackson tudo se revirava, queria se afastar, queria jogar Jaebum para bem longe de si e depois lhe esmurrar a cara por ter tido a audácia de beijar-lhe, mas assim como Jaebum, Jackson também sentia saudades, apesar de nunca admitir isso, desta forma resolveu unir o útil ao agradável, utilizando-se daquela frase muito conhecida em meio a sociedade, “mantenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda”.

– Você é uma vadia, Im Jaebum, uma vadiazinha que sempre perde o controle quando se aproxima de mim. –  Disse Jackson, separando-se de Jaebum apenas para rodear a mesa que insistia em os separar, colando seu corpo ao de Jaebum logo em seguida.

– Apenas acabe logo com isso. – Sussurrou Jaebum, após ter seu corpo erguido por Jackson que em seguida o sentou sobre a mesa.

– Você está com pressa Jae? Antigamente você costumava rebolar sobre o meu pau incansavelmente sem se preocupar com o tempo. – Inferiu Jackson, sugando o lábio inferior de Jaebum em seguida. – Você costumava gozar gemendo o meu nome, e… você sempre pedia por mais no final, não é mesmo?

– Não seja tão convencido Wang, não haja como se não gostasse e nem tente me diminuir por ter sido eu a ter dado o meu corpo a você, afinal, durante muito tempo você foi viciado nele. –  Jackson apenas sorriu ladino, não queria admitir que um dia fora completamente louco por Im Jaebum, julgava este fato ridículo demais.

– Ok, chega de falar. – Concluiu Jackson, puxando Jaebum para mais um beijo, dessa vez não havia ferocidade havia saudade.

Sim, sentiam saudades um do outro, uma saudade sempre ofuscada pelo ódio que alimentaram durante anos, mas sentiam. Jaebum sentia saudades do garoto leve, de sorriso fácil, festeiro e com excelente gosto musical que Wang costumava ser. Jackson sentia saudades do garoto doce, ingênuo e sonhador que Jaebum costumava ser.  E fora em nome desta saudade que se entregaram um ao outro; nada muito doce, nada de romance, nunca tiveram esse tipo de coisa quando se tratava de sexo afinal. O que não quer dizer que não tenha sido extremamente bom, gostoso. Fora gostosa para Jaebum sentir Jackson dentro de si outra vez, fora gostoso para Jackson ouvir seu nome sendo gemido por Jaebum inúmeras vezes; as peles suadas, os beijos molhados, os arranhões, as palavras sujas, todo este conjunto tornara aquele momento único, um momento em que ódio sentiu-se acuado em seu canto, impotente, incapaz, pois ali, pela primeira vez, não havia espaço e nem tempo para odiar.

XXX

Jaebum ainda estava em choque por tudo que aconteceu, seu cabelo ainda estava uma bagunça e suas roupas desalinhadas escondiam as marcas deixadas pelo seu maior e melhor inimigo. Ainda era capaz de sentir o cheiro de sexo em seu corpo e tudo que queria fazer era gritar, gritar para alguém, revelar tudo que havia acontecido mais cedo, mas faz muito tempo que Im Jaebum esqueceu-se do significado da palavra amigo, tudo porque em seu mundo, não existe confiança e onde a confiança não habita a amizade não se faz presente.

– O tempo hoje está realmente muito fechado, veja só, são quatro da tarde, mas o céu nublado me faz crer que são seis da manhã. – Disse Youngjae assim que chegara ao topo do prédio e avistara Jaebum. O jovem rapaz era novo na organização e ainda se esforçava muito para ao menos tentar agir naturalmente.

– O líder sabe que está aqui, por isso te convoca para um conversa séria, é sobre um tal de Wang. – Continuou a falar Youngjae ao perceber que Jaebum não responderia suas inferências acerca do mau tempo.

– Park Jinyoung quer falar sobre a pessoa que sequer o nome eu quero mencionar agora... – Jaebum finalmente abriu a boca para falar, após encolher-se um pouco mais dentro de seu casaco negro.

– É… acho que sim. – Disse Youngjae, incerto.

– Como é o seu nome? Juro que nunca te vi por aqui. – Indagou Jaebum, tentando conversar com o outro sobre qualquer outra coisa, afim de organizar seus pensamentos antes de ir ter com Jinyoung.

– Choi Youngjae, senhor. – Respondeu o mais novo, curvando-se cordialmente em seguida.

– Youngjae… menino Youngjae você sabe por que eu estou aqui? Ou melhor, você sabe por que eu gosto deste lugar?

– A paisagem? – Chutou Youngjae, após dar uma olhadela no local.

– Sim, a paisagem Youngjae. Este é um dos prédios mais altos de Nova York, consegue ver o quanto é incrível observar a cidade aqui de cima?

– Sim senhor, terraços são realmente incríveis.

– Por favor não haja de forma tão automática comigo. – Disse Jaebum, soltando uma risada que logo morreu. – Eu estou cansado disso... queria que as coisas fossem como antigamente, eu queria ter ele de volta e também queria o meu antigo eu de volta.

–  O ser humano tem essa mania de querer de volta tudo que perdeu lá atrás, só que a vida… a vida não devolve nada daquilo que nós mesmos abrimos mão. Digo isso por experiência própria.

– Eu sei Youngjae, eu sei muito bem. – Disse Jaebum, passando as mãos sobre os seus cabelos negros que graças a ventania farfalhavam sem parar. – Eu acho que apenas preciso de um espaço para respirar. – Concluiu Jaebum, fechando os olhos e aspirando o ar frio calmamente.

O menino Youngjae não pode deixar de notar a beleza de Jaebum. A pele branca e delicada, os cabelos negros e lisos, o rosto de formas delicadas e joviais; Im Jaebum não passaria despercebido sobre os olhos de ninguém, ainda mais sobre os de Youngjae que tivera a sorte de ver o psicólogo em um  momento tão frágil… era uma fragilidade rara e bela, tão bela que Youngjae não fora capaz de se conter.

– O senhor… é muito bonito. – Disse, corando automaticamente.

– As aparências enganam Choi Youngjae, deveria saber disso quando resolveu se meter com pessoas como eu. – Disse Jaebum, caminhando até Choi e lhe entregando seu cartão de visitas. – De qualquer forma, prepare suas pernas para fugir de mim, porque eu também te achei agradável.

Choi Youngjae viu Jaebum indo embora levando consigo toda sua inconstância. Sorriu vitorioso por ter conseguido chegar até o poderoso Im Jaebum tão rápido, alguém parecia estar o abençoando afinal.

– Im Jaebum, você já era. – Sussurrou em seguida traçando o mesmo caminho feito por seu alvo minutos antes.

XXX

Jackson esperou o cair da noite para finalmente dizer adeus ao Instituto Herbert Snowden. Sim, ele concordou em ir embora, mesmo sabendo de todos os riscos, mesmo sabendo que teria de deixá-la. O momento em que Jaebum selava seu destino ainda estava fresco em sua memória, aliás não esqueceria daquele instante tão cedo, afinal quem diria que Jaebum assinaria aquele documento completamente nu, após ter sido fodido por Jackson Wang? A vida é realmente muito imprevisível.

Então, sem que quase ninguém percebesse, Jackson atravessou os portões do inferno rumo a sua redenção. Nas mãos, apenas uma sacola plástica contendo os pertences que estavam consigo quando anos atrás fora preso; na cabeça um único objetivo: Vingança.

“Considere isto
Considere isto a dica do século
Considere isto
O deslize que me deixou
De joelhos, fracassou
E se todas essas fantasias
Se tornassem reais
Agora eu falei demais”
R.E.M - Losing My Religion”