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História Juntos - Único


Escrita por: Sweetmoon

Notas do Autor


Olá,

Primeiro: sim, estou viva.
Segundo: Essa fic foi escrita, originalmente, para o SHINee Fic Fest 1, que aconteceu mais cedo esse ano. Caso queriam ver outras histórias alémd essa e apoiar o projeto (agora em sua segunda edição), procurem: shineeficfestbr no tumblr.
Terceiro: Fazia tempo que não escrevia uma fanfic para o SHINee pensando em postar, então talvez eu estivesse levemente enferrujada, mas fiz meu melhor!
Quarto: Essa fic foi betada \o/ incomum por aqui lol, mas algum moderador (?) do fic fest betou a fic, então yay! Obrigada!

Espero que gostem e apoiem o SHINee FicFest! É um projeto muito incrível e só vai dar certo com se as Shawols se envolverem <3

Capítulo 1 - Único


Dia 2975

Lee Jinki percebeu que seu marido tinha perdido a paciência quando viu seus olhos felinos brilharem com lágrimas não caídas. Quis tocá-lo, mas não sabia exatamente se tinha esse direito no ponto em que estavam.

– Você está me dizendo… – Kibum disse, as palavras deslizando com cuidado em seu tom afiado. – Que meu filho não pode estudar aqui?

– Não acho – repetiu a diretora. – que ele possa conviver com pessoas normais.

– Meu filho É normal – Kim praticamente rosnou. – Meu filho é inteligente, um ótimo garoto. Você não pode – ele pressionou o dedo na mesa de madeira, levantando o próprio corpo. – recusar o meu menino por ele ser diferente.

– Não creio que podemos concordar nisso. Claramente o senhor não tem tanto conhecimento a respeito de biologia-

Jinki levantou e tocou no ombro do marido, dando um passo à frente com uma expressão séria.

– Creio que devo interromper nesse momento, antes que ele pule em você e as nossas chances de ganhar o processo diminuam.

O rosto da diretora ficou pálido.

– Não entendo como poderia me processar.

– Talvez devesse perguntar ao seu advogado. Boa tarde – terminou calmamente, puxando seu marido para fora da sala. Viu Kim olhar toda a estrutura da escola enquanto faziam o caminho até a saída. Sabia que ele queria aquela escola. Kim tinha pesquisado muito sobre o lugar que poderia dar o melhor ensino para o pequeno Lee-Kim Hwan Joon.

Assim que pisaram fora da escola, o corpo do mais novo se dobrou enquanto mãos escondiam o próprio rosto, embora os gemidos baixos não escondessem o que estava acontecendo. Esquecendo a briga anterior, Jinki se aproximou, passando o braço em volta do corpo trêmulo e trazendo-o para perto de si, sentindo lágrimas molharem sua camisa assim que o abraço foi aceito.

Era a quinta escola.

~ * ~

Dia 2190

Hwan Joon tinha o sorriso mais lindo do mundo, foi a dedução de Jinki assim que colocou os olhos nele. Ele e o marido, depois de cinco anos de casados, haviam decidido ter um filho. O plano inicial era simples: dois filhos.  Um fruto de inseminação artificial com uma mãe de aluguel. Um que seria adotado. O motivo era simples: queriam adotar uma criança e, ao mesmo tempo, queriam ter alguém que pudesse ser literalmente parte de um deles.

A gravidez foi especial. A menina, Eunjee, que tinha carregado Hwan Joon era maravilhosa. Ela costumava se deitar e deixar os dois pais falarem com a barriga por muito tempo. Deixava que fizessem carinho.

E, quando o dia finalmente chegou, em meio a lágrimas, ela disse: “Obrigada por tomarem conta dele.” Porque aquela criança não era fruto de inseminação artificial, e os dois sabiam disso. Mas isso não era mais importante quando os olhos castanhos do menino brilharam em direção a eles.

Sabiam que ia ser um desafio, meses antes. Quando exames profundos demonstraram que o menino teria uma modificação genética, a vida deles virou um inferno. O casal passou dias apreensivo. Kibum chorava no travesseiro quando achava que Jinki estava dormindo. O medo de a modificação ser algo incompatível com a vida foi imediato. Como poderiam ter se apegado a alguém que nunca tinham nem visto? Não era explicável.

Quando o diagnóstico foi Síndrome de Down, Eunjee entrou em desespero, pensando que os dois poderiam desistir, mas ambos estavam tão felizes por Hwan Joon estar vivo, que a ideia nem passou por suas cabeças.

~ * ~

Dia 2860

– Bê, assim não – Kibum pegou a mãozinha de seu filho com carinho. – Não pode tocar aí.

Hwan Joon piscou, as pernas curtas se desequilibrando um pouco, mas não caiu. Apenas piscou para o pai, levemente confuso.

– Você não pode tocar em coisas do chão – continuou o pai calmamente, e apontou para o papel jogado. – Sujo.

Um sorriso suave apareceu no rosto de Jinki vendo a cena; Hwan olhou para ele como se buscasse uma segunda opinião.

– Sujo – disse firme, embora um tom de carinho fosse inevitável. – Não pode tocar em nada do chão, Joon.

Aceitando a resposta, ele se virou, puxando as mãozinhas, e voltou a tentar alcançar o carrinho de sorvete. Estava balbuciando alguma coisa que poderia ser “chocolate”, ou qualquer coisa terminada em “ate” que nunca tinha aparecido antes no pequeno vocabulário. Ele tinha dois anos, e já deveria falar muito mais, mas para uma criança com Síndrome de Down, tinha um ótimo desenvolvimento motor.

No carrinho do sorvete, pegou o filho em seus braços e deixou Kibum lidar com aquilo. Hwan, sendo o menino carinhoso que sempre era, começou a fazer carinho no cabelo do pai. Sentindo o sorriso surgir em seus lábios sem esforço, mexeu com ele no braço.

– Obrigado, Joon – murmurou. – Carinho é muito bom, faz carinho? – falou, querendo estimular a ação, e viu o menino brilhar diante do elogio, usando as duas mãos para brincar com os fios do pai. Distraído com a criança, não notou o rapaz se aproximando.

– Ele não deveria ficar em contato com outras crianças – falou rispidamente, sem dizer nenhum cumprimento. A boneca presa em suas mãos indicava que provavelmente estava ali com uma criança também.

– Joon é uma ótima criança – respondeu calmamente, usando uma das mãos para proteger a cabeça do filho, inconscientemente. – Não fale assim dele.

– É nojento – respondeu rispidamente. – Assim como esse estilo de vida que resolveram levar. Não esfreguem esse modelo distorcido de família para a minha filha, suma daqui.

Jinki sentiu o próprio corpo paralisar diante de tanto ódio direcionado a um casal que se amava, e uma criança, que apenas estavam tomando sorvete. Viu o outro se distanciar, sentindo-se impotente e exausto. Kim se aproximou com dois potinhos e um sorriso, até notar a expressão do marido.

Tomaram o sorvete em silêncio, ambos desejando felizes que Hwan Joon aparentemente não tinha entendido o teor da conversa, e estava animdissimo tentando pegar a colher sozinho.

~*~

Dia 3220

– Às vezes você é muito passivo – Kim murmurou certo dia, enquanto arrumavam as roupas no armário.

Jinki encolheu os ombros. Estavam juntos há praticamente nove anos, sabiam exatamente a personalidade um do outro por agora. Lee sempre fora mais tranquilo, deixando as situações escaparem por seus dedos para evitar uma briga, o inverso de Kibum.

– Sempre fui assim – murmurou.

– Sim, e não entenda errado, eu o amo assim – respondeu, parando para fitá-lo diretamente. – Mas às vezes as coisas acontecem com o Hwan e eu me sinto lutando sozinho.

Isso foi como um tapa. Hwan Joon, o filho deles, atualmente completando dois anos, estava na fisioterapia naquele momento.  Lee sempre fazia o máximo para fazer tudo pela criança, então aquela acusação era quase cruel e o machucou de formas inimagináveis.

– Não falo da sua capacidade como pai – Kim continuou –, mas sim de seu posicionamento quando coisas ruins acontecessem.

– Kibum – murmurou –, eu faço tudo o que posso.

– Para cuidar dele, sim – tinha tanta tristeza e cansaço em sua voz, que Lee tentou empurrar os próprios medos e mágoas para o lado. – Mas sou sempre eu lutando para que ele consiga as coisas.

– Isso é injusto.

– Você fica sempre sentado lá – elevou a voz. Não gritava, mas estava claramente irritado –, enquanto eu faço o maluco que briga por tudo.

– Eu simplesmente não vejo por que brigar – gesticulou. – Para quê? Para tornar a experiência ainda mais traumática para o Joon? Brigar não vai fazer a outra pessoa ser menos idiota, só me torna tão idiota quanto.

Notou que as palavras tinham sido erradas assim que a mágoa brilhou nos olhos castanhos do outro, tão clara quanto o céu azul.

– Eu não sou idiota! Mas sua passividade é egoísta! Não brigar para não gerar experiências ruins a você e ao Hwan é basicamente deixar uma pessoa preconceituosa continuar sendo assim!

– Não tenho como educar uma pessoa na base do grito, principalmente quando ela não quer ouvir – rebateu. – Faço tudo que posso pelo Joon, e essa sua acusação me deixa extremamente magoado.

– Você faz tudo aqui, mas eu preciso de apoio, Jinki! É difícil demais ter que sempre brigar sozinho, elevar a voz sozinho, rebater sozinho, enquanto você fica lá olhando tudo de fora! Precisamos ser parceiros nisso!

– Você não pode me acusar de não ser seu parceiro, Kibum. É injusto.

– Eu não quero brigar – murmurou. – Estou apenas dizendo algo que me magoa e pedindo para ter seu apoio nisso. Não é nada mais além de defender seu filho.

Kibum saiu do quarto, marchando obviamente irritado, deixando um marido igualmente magoado para trás, e nenhuma solução para o problema.

~ * ~

Dia 3250

Jinki chorava pouco. Era um evento tão raro, que quando as lágrimas começaram a descer por seu rosto, Kim parou imediatamente sua frase no meio.

– Jinki?

– Você não me chama de amor há meses – sussurrou de volta. – O que estamos fazendo?

~ * ~

Dia 3260

Estavam preenchendo juntos uma ficha para a sétima escola; Hwan Joon estava confortavelmente sentado no chão, brincando com blocos. Era um dia calmo, mas a noite tinha sido complicada. Ele tinha acordado várias vezes, chateado e chorando, pedindo pelos pais. Quando só Kibum entrava pela porta, ele chorava mais. Jinki teve que ir para lá no meio da madrugada, e acabou dormindo no chão do quarto do filho. O menino andava muito irritadiço, então aquela alegria era inesperada.

– Eles parecem ter uma boa estrutura como no site – Jinki comentou quando terminaram a ficha, olhando a janela da sala de espera. – Tem rampas para cadeirantes, nas fotos de lá não tinha.

Isso chamou a atenção de Kibum, que se debruçou para olhar a janela. Fazia muito tempo que não ficavam tão próximos; Lee sentiu o cheiro suave do perfume que o outro mais gostava, e sentiu seu coração acelerar. O outro parou também, paralisado com o rosto próximo ao do (ex?) marido. A respiração presa.

– Kibum – murmurou, tomando a iniciativa de aproximar a cabeça até elas se encostarem.

Kim fechou os olhos com força, como se algo o impedisse de fazer qualquer coisa. Como poderiam estar tão certos de uma separação se ficar perto ainda lhes causava um efeito tão forte? Viu o outro abrir os lábios para falar algo, mas seus nomes foram chamados. Os dois pularam, afastando-se imediatamente, seus rostos corados como adolescentes pegos fazendo algo incrivelmente errado. Kim pegou Hwan Joon no colo e foram juntos para a sala da diretora.

~ * ~

Dia 2735

Hwan Joon falou primeiro “ki” e ninguém sabia se era “JinKI” ou “KIbum”, mas chegaram a conclusão de que era os dois. Às vezes ele dizia “ki” estendendo os braços para o mais velho, outras para o mais novo. Ficaram bastante tempo só com essa palavra, que eles juravam que contava como duas, e foi a primeira vez que enfretaram qualquer tipo de preconceito.

Uma moça que estava atendendo-os em uma loja de roupas olhou com nojo assim que percebeu os olhos afastados, as pernas curtas e a língua que pendia um pouco para fora. A dor foi inacreditável. Não precisou de palavras. O olhar dela era tão cruel que ambos sentiram a necessidade de abraçar o filho, escondê-lo entre o amor dos pais para que nenhuma tristeza jamais chegasse nele.

Naquela noite, enquanto estavam na cama, Kim perguntou, sussurrando: – Você tem medo de que o Hwan não consiga fazer nada?

– Como assim?

– Ele é obviamente inteligente – havia um tom orgulhoso em sua voz, que fez o mesmo sentimento surgir no peito de Jinki –, mas tenho medo que ele não consiga ser grande na vida por causa dos outros.

– Joon é tão inteligente que ninguém jamais vai conseguir negá-lo nada.

– Acredita nisso?

– Sei disso, Bummie – sorriu para o escuro do quarto. – Nosso filho vai fazer seu lugar nesse mundo sem precisar de simpatia de ninguém. Ele vai ser tão incrível que ninguém vai pará-lo nunca.

Kim entrelaçou seus dedos aos do marido.

– Eu te amo. Obrigado por me lembrar de continuar acreditando.

– Eu sei – riu um pouco ouvindo o ‘humf’ indignado do outro.  – Eu também te amo.

~ * ~

Dia 2195

– Vocês são realmente fortes – Taemin, melhor amigo de Kibum comentou, segurando um Hwan novinho em seus braços. – Não sei se teria tamanha coragem.

– Como não ter coragem recebendo esse sorriso lindo de volta? – Kim respondeu, olhando o filho por cima do ombro do amigo. Hwan Joon tinha começado a rir recentemente e estava adorando os dedos que balançavam em frente aos seus olhos.

– Ele é muito fofo – Jonghyun completou, vendo o marido se divertindo com a criança. – Espero que seja tranquilo tudo com… Vocês sabem – fez um gesto vago.

– É sim – Jinki respondeu. – Minho ajudou muito a gente, na verdade, deu vários contatos de médicos.

Choi Minho era amigo de longa data deles, assim como o casal “Jonghyun e Taemin”. Tinham se conhecido durante a escola e permanecido em contato desde então. Choi era médico e, embora sua área não fosse necessária para eles, tinha diversos amigos para indicar.

– É muita coisa?

– Ele precisa de um acompanhamento especial. Hwan vai demorar um pouco mais que outras crianças sem a síndrome para aprender algumas coisas, então é bom que profissionais o estimulem.

Taemin assentiu, agora usando os dedos para fazer cosquinhas na palma da mão do bebê, recebendo risos de volta.

– Ele é tão amoroso – Taemin murmurou. – É uma criança muito animada.

– A animação dele é bem contagiante – Jinki comentou –, mas eu apreciaria mais horas de sono.

Todos riram no quarto, fazendo Hwan Joon, mesmo sem entender a conversa, rir ainda mais.

~ * ~

Dia 3250

Jinki sabia, inconscientemente, que toda a briga tinha começado por uma bobagem, e que seu marido estava se sentindo inseguro. A verdade é que mesmo com anos de casado, Kibum sempre tivera uma carga grande de medo de que Lee fosse embora.

– Meu Deus, eu não sou idiota – Kim falou, o sussurro irritado, já que Hwan Joon estava dormindo em seu quarto. – Vi como estava olhando para ele.

– Não estava olhando – respirou fundo. – Bummie, eu jamais-

– ANTES – foi a resposta magoada. – Mas agora? Jinki, nós nem damos as mãos mais – constatou, os olhos felinos brilhando com lágrimas não derramadas –, e eu vi que ele estava se oferecendo e você queria – deu de ombros. – Eu te conheço, vi algo que não via em você há não sei…

Lee se aproximou, segurando o rosto do marido em suas mãos.

– Jamais!

– Me trairia, eu sei – Kim segurou as mãos dele. – Mas você olhou para ele como me olhou quando nos conhecemos, e não sei se consigo… Você poderia até não ir, mas-

O choro interrompeu a conversa. Olharam para o relógio ao mesmo tempo, e perceberam que eles provavelmente estavam falando alto. Três da madrugada. Lee dormiu no quarto de Joon, com o menino em seus braços, e fingiu não ouvir o marido chorando no outro quarto.

~ * ~

Dia 3264

Assim que Hwan Joon terminou de fazer todos os exames necessários e eles descobriram que o menino estava na porcentagem de bebês que com Síndrome de Down que não tinha problemas cardiopatas, eles começaram os exercícios para ajudar no desenvolvimento. Jinki se lembrava de ficar horas com o marido e o filho fazendo exercícios.

Kibum trabalhar em casa tinha sido ótimo, já que Lee só saía para cobrir eventos, sendo fotógrafo, e ficava em casa o resto do tempo. Já Kim, sendo um freelancer de designer e illustrador, praticamente não saia de casa. A decisão de não contratar uma babá tinha sido natural: já teriam que dividir o filho com todos os médicos que precisariam fazer seu acompanhamento, então o tempo livre era só deles.

Talvez tenha sido o erro, Lee pensou, encarando o teto do quarto de hóspedes de Jonghyun e Taemin.

– Vocês passavam pouco tempo sozinhos – Choi murmurou, observando o amigo –, e com toda a confusão da familía… Eu, assim como tenho certeza que o Jong ou o Tae, teríamos cuidado dele.

Nem a familia Kim, ou Lee, tinha sido a favor do casamento, quem dirá de adotarem uma criança com Síndrome de Down, então começaram ali sozinhos. Mas sempre tinha sido Kibum e Jinki contra o mundo. Nunca tinham tido problemas como aquele. Nunca o amor tinha chegado perto de acabar.

– Sinto falta deles, Min.

Estava com os amigos há uma semana e sentia falta de dormir perto de Kibum ou com Hwan em seu peito. De acordar e ver o sorriso do filho pela manhã. De poder ver Kim todos os momentos.

– Eu sei.

~ * ~

Dia 2125

– Nós escolhemos seu nome hoje – Lee falou para a barriga de Eunjee, que estava de fone lendo um livro, deixando os dois ter um momento ali.

– Sim – Kim passou a mão suavemente na barriga da menina e sorriu. – Hwan Joon.

– Lee-Kim Hwan Joon – Jinki falou suavemente.

– Kim-Lee Hwan Joon – Kibum rebateu e os dois riram. – A gente tem detalhes para discutir ainda. Mas Hwan Joon é um nome lindo – murmurou. – Hwan significa luz, brilho.

– Joon significa talentoso – Jinki completou, segurando a mão do marido. – Você vai ser a nossa luz, Joon.

Em seus sete meses de gestação, Hwan Joon chutava pouco. Segundo os médicos, isso acontecia porque o desenvolvimento motor de uma criança com Síndrome de Down era mais complicado. Eunjee guiou a mão de Kim para o local do chute, sem dizer nada, e Jinki juntou a mão à do marido ali, sentindo o impulso leve, e se inclinou para beijar a testa de Kibum.

~ * ~

Dia 3264

– Sabe do que você precisa? – SoYou falou, vendo o amigo segurar Hwan Joon, que estava usando cubos mágicos para treinar os dedos gordinhos. Ele e Jinki sempre tomavam cuidado extra com a alimentação do filho, já que crianças com Síndrome de Down tendiam a desenvolver obesidade; mesmo assim, Hwan era gordinho.

– O quê? Uma boa noite de sono? – Kim murmurou de volta, rindo um pouco.

– Sair e se divertir. Há quanto tempo você não faz isso? – SoYou deu de ombros. – Desde que o pequeno Hwan chegou, você e Jinki-ssi só saíam para os médicos dele. Uma festa pode ser legal.

– Ele precisa de cuidados específicos – respondeu, na defensiva, e se inclinou para beijar a cabeça do filho, que riu para ele.

– Eu sei – murmurou ela. – E sei que com… A falta dos avós pode ser mais difícil, mas eu poderia ficar com ele, ou os meninos – gesticulou vagamente –, e agora você pode deixar ele com o Jinki e ir se divertir um pouco. Você sempre gostou de dançar.

Kim fitou a amiga e franziu a testa. Realmente, gostava de dançar, há quanto tempo não o fazia? Sentia-se perfeitamente confortável deixando o filho com o outro pai, percebeu.

– Talvez a gente devesse tentar.

SoYou riu alto e se inclinou na mesa, ignorando se o resto do restaurante estava olhando para ela agora.

– Marcamos várias vezes nesse período e você sempre desmarca – ela apertou os olhos ameaçadoramente. – Liga pra ele. Agora.

Sabendo que tentar ir contra a amiga seria inútil, ele pegou o celular, segurando Hwan com o braço, e ligou para o (ex?) marido.

– Jinki?

– Oi, Kibum. – Pela voz, Kibum podia dizer que o outro estava cansado.

– Tudo bem? – desviou o olhar, sabendo que a resposta seria positiva, mesmo podendo ouvir que era mentira.

– Tudo e aí?

Sentia falta de quando o outro lhe contava todos os problemas, em detalhes, e conseguiam se ajudar ou só deitar juntos até a dor passar. Sentia falta do companherismo. Piscando rapidamente, quis gritar que se desculpava e que o amava, mas calmamente respondeu.

– Bem… Hwan está aqui – sorriu um pouco. – Hum, ele está brincando com o cubo.

– Ele adora o cubo – Jinki murmurou, um tom amoroso em sua voz.

– Jinki, eu queria saber se… – respirou fundo. – Você poderia cuidar do Hwan amanhã – viu SoYou gesticular irritada. – Hoje? – afastou o celular. – Hoje? Pirou?

– Hoje é sexta!

– Hoje! – falou no telefone, fazendo uma expressão fechada para o sorriso da amiga. – A SoYou quer me levar para sair.

– Hoje? Acho que não tem prob– Minho! Pare com isso! Eu-MINHO!

Conseguiu ouvir um som que parecia luta do outro lado, enquanto os dois falavam coisas murmuradas que não conseguia entender, e riu um pouco. Logo quando voltaram a falar no telefone, reconheceu a voz de Minho.

– Kibum? É Minho! Hoje o Jinki não pode, nós vamos sair SHHHHHHHH –ele gritou para abafar a voz de Lee do outro lado. – Sei que você ficou com ele, e é complicado, mas Jinki está chorando pelos cantos há uma semana – ‘NÃO ESTOU’, ouviu o grito de Lee e Minho respondeu um ‘está sim’, irritado. – Agora, creio que Jonghyun e Taemin podem olhar ele, sem problemas. E amanhã Jinki fica com ele o dia todo.

– Não sei – Kim encolheu os ombros, vendo o filho o fitar sorrindo. – Não queria dar esse trabalho para Jonghyun e Taemin.

– Eles não ligam. Nunca ligaram.

E depois disso, Kim não tinha muito como argumentar.

~ * ~

Dia 1855

– Eu quero ter filhos! – Kibum falou e riu um pouco da expressão surpresa do outro – Não agora, idiota, um dia.

Jinki sorriu de volta, esticando a mão para pegar a do outro entre as suas.

– Por que não agora?

Kim piscou surpreso, fitando o marido. Tinham se casado há exatamente três anos agora; com os dois de nomoro, completavam cinco juntos. Filhos não era uma conversa tão constante, Lee raramente falava sobre querer ou não, mas sempre quisera. Talvez não antes de Kibum, mas sempre com ele.

– Mas, amor – Kibum sorriu –, você quer?

– Com você? – Jinki se inclinou para beijar suavemente os lábios do outro. – Sempre.

O mais novo pulou um espaço do sofá para sentar no colo do outro e deu um beijo amoroso em seus lábios.

– Não quero que se sinta forçado a fazer algo que não quer.

Lee negou com a cabeça e se esticou para beijá-lo dessa vez.

– Já que nossas famílias não são exatamente… Bom – deu de ombros, sentindo o outro ficar tenso em seus braços. – Vamos ter a nossa. Nossa familia cheia de amor e compreensão. Nossa família em que as pessoas não vao parar de amar as outras por causa de preconceito – sorriu, abraçando-o e escondendo o rosto no espaço entre seu queixo e sua clavícula. – Nossa família cheia de amor.

Kim sorriu e levantou o rosto do outro para beijá-lo várias vezes, dizendo “eu te amo” sem parar.

~ * ~

Dia 2885

– E se não aceitarem ele?

Kim estava nervoso, batendo as mãos uma contra a outra, mas a luva fazia o som sair abafado. Hwan Joon estava no colo do outro pai, a cabeça descansando contra o ombro de Jinki. Estavam visitando a canditada a primera escola do filho. Era difícil, poucas tinham uma estrutura que poderia ser adaptável para uma criança com Síndrome de Down e estava dentro do orçamento do casal. Queriam que Hwan Joon estudasse com crianças que não tinham a síndrome, para que ele pudesse intaragir com diferença, e também poderia ser bom para as outras famílias aprenderem a amar alguém diferente.

– Vão aceitar – Jinki disse com convicção. – Como poderiam recusar?

Uma hora depois, tinham feito um tour relativamente longo e estavam sentados com a diretora, que os olhava com uma expressão séria.

– Não temos como aceitar Hwan Joon aqui – explicou calmamente. – Ele é uma ótima criança – gesticulou para o menino –, mas não temos como adaptar a escola para recebê-lo.

– Não precisa de muito – Kim disse. – Ele só precisa de um horário extra com um professor qualificado e de alguém para ficar de olho, já que ele fala pouco ainda e anda meio desengonçadinho… Mas todo o resto, fisioterapias, fonoaudiólogo e tudo mais, nós que providenciamos fora do horário acadêmico.

– Sim – Lee completou. – Ele é como qualquer criança, só vai aprender mais lentamente. Mesmo assim – um tom de orgulho defensivo apareceu em sua voz –, ele aprende! E depois não esquece mais, super esperto – terminou, acariciando o rosto do filho com o dedo. Joon estava brincando com a blusa do pai, que tinha estampas em relevo.

– Não temos como, sinto muito.

Foi a resposta definitiva. Naquela noite, Jinki e Kibum dormiram com Hwan Joon entre eles, como se isso fosse protegê-lo de todos os preconceitos do mundo.

~ * ~

Dia 2065

Kibum estava deitado na cama, dormindo, com um livro aberto por cima de sua barriga quando Jinki chegou em casa. Sorrindo carinhosamente, sentindo-se até mais calmo só de ver o marido, colocou a mochila ao lado da cama e tirou o casaco. O livro era sobre Síndrome de Down. Tinham descoberto há alguns dias que o filho deles teria a síndrome e, depois de comemorem que era algo simples e compatível com a vida, saíram e compraram vários livros sobre o assunto.

Quando tinha imaginado ter filhos com o marido, jamais imaginara que teriam uma grande responsabilidade tão rápido. O processo de inseminação era realmente longo. Tinha esperado demorar ainda mais; porém, tudo deu muito certo e agora se via cada vez mais próximo de ter uma família com Kibum.

Tirou o livro de sua barriga e depositou-lhe um beijo na testa. Ia se virar para guardar o livro, quando foi puxado levemente.

– Fica aqui – Kim murmurou, a voz sonolenta.

– Vou só guardar o livro – riu um pouco da manha do outro, principalmente quando foi puxado novamente, dessa vez com mais força.

– Deixa aí.

Lee riu um pouco, deixando o livro cair e se juntando ao outro na cama. Trouxe-o para seus braços, ouvindo um gemido de aprovação quando se inclinou para beijá-lo nos lábios.

– É tão bom ter você aqui – murmurou contra a bochecha dele. – Te ter perto de mim torna tudo tão mais fácil, faz o peso do mundo tão mais leve.

Kim riu baixo, parecendo envergonhado.

– Não sei responder quando diz essas coisas – sussurrou e beijou seu rosto. – Só que te amo.

– Eu não preciso de outra resposta, Bummie.

~ * ~

Dia 3265

Quais eram as chances? Lee Jinki viu, do outro lado do local, em meio a pessoas dançando, a figura de Kibum acompanhada de SoYou e outras pessoas. Sabia que tinha sido visto também. Seus olhos se encontraram quase automaticamente. Aquela festa, teoricamente, era exclusiva, de um amigo de Minho. Mas considerando que o grupo de amigos deles era basicamente o mesmo, não se surpreendia.

– Deixa ele – Minho falou. – Se divirta.

Mas, como percebeu depois de 10 minutos na casa de Jonghyun e Taemin, era muito difícil se divertir sabendo que o outro não era mais parte da sua vida. Mesmo assim, tentou ignorar e foi falar com alguns conhecidos. Não dançou, não costumava fazê-lo, apenas quando Kibum o arrastava para a pista e o fazia rir até que esquecessem as pessoas olhando. Kim dançou com algumas amigas, como sempre fazia. Não se sentia mal ao observá-lo de longe, pois sentia os olhos o seguindo por todos os lados. Cansado, saiu para os fundos da casa. Ali havia um pequeno jardim, nada de mais, apenas o suficiente para escapar dos outros.

– Jinki?

– Oi, Kibum.

O outro parou ao seu lado. Ficaram em silêncio por alguns minutos, sem olhar para nada além do céu. Esses momentos nunca foram desconfortáveis; conseguiam ficar juntos por horas, calados, e seria melhor que passar horas falando com qualquer outra pessoa.

– A escola ligou – Kibum falou, sua voz baixa e suave. – A última que fomos. Eles aceitaram o Hwan.

– Sério? – Lee se virou para ele agora.

– Ligaram pouco antes de eu sair, ia te contar amanhã – explicou, sorrindo para ele. – Fiquei tão feliz, parece um lugar tão bom.

– Sim, a diretora foi muito amorosa, e o Joon pareceu gostar de tudo.

Felizes, eles se abraçaram para celebrar a conquista do filho. Tinha sido a sétima escola, e finalmente tinham conseguido. Jinki ficou ali, com o outro em seus braços, sem se preocupar com nada, considerando que não tinha sido afastado. Gostava de ficar ali, com ele.

– Desculpa – falou contra os cabelos negros de Kim –, se eu não fui tudo que você esperava.

– Mas você foi – Kibum se afastou um pouco para lhe fitar diretamente nos olhos –, e ainda mais que o esperado. Você foi perfeito.

– Então por que estamos aqui? – Havia tanta dor em sua voz, que o mais novo estendeu a mão para tocar seu rosto suavemente.

– Porque sou imbecil e não soube dizer que estava sobrecarregado, mesmo com você dividindo o peso comigo. Não disse que estava com medo de o Hwan nunca conseguir nada, mesmo que você fosse acalmar meus pesadelos – sussurrou. – Porque achei que estava te perdendo, mas, na verdade, estava me fechando – encostou a testa na clavícula do outro. – Eu te amo tanto, tanto, ficar sozinho me deixa tão triste.

– Eu te amo muito – respondeu, apertando os braços em volta do outro. – Sei que não brigo sempre, que parece que eu fico vendo as coisas acontecerem, mas é que… Por que eu deveria, sabe? Você é melhor nisso. Eu preciso tanto de você, porque quando meu pedido vem errado noBurger King agora eu não peço mais pra trocar – os dois riram um pouco. – Eu preciso de você na minha vida. Não me deixa sem você, juro que nunca passou pela minha cabeça ter alguém que não fosse você aqui.

– Acho que a gente precisa ter mais momentos para a gente – Kim disse. – Jong e Tae podem ficar com Hwan às vezes, sabe? Ou uma babá, e aí podemos ter momentos assim – levantou o rosto novamente. – Acho que nos negligenciamos tanto como casal que nossas inseguranças tomaram conta.

– Sim – Lee finalmente levou as mãos para segurar carinhosamente o rosto do outro entre as suas. – Podemos ser melhores que isso. Esses 15 dias longe de você foram um inferno, mas nos fizeram pensar, e agora podemos continuar desse ponto e fazer algo melhor.

Beijaram-se com todo o amor que sentiam, apertados um contra o outro, no quintal de um amigo qualquer. E tudo ficaria bem. Nunca deixariam de ser uma família; eram feitos um para o outro. Completavam-se em todas as suas perfeições e imperfeições. No outro dia, quando voltaram os três para casa, Hwan Joon fez questão de conferir que nenhuma roupa ficou esquecida no quarto de hóspedes dos amigos, gesticulando com os bracinhos gordos e dizendo decididamente que “dadá ia voltar”. Dormiram os três abraçados, porque sempre seria assim: eles contra o mundo. Juntos.

Dias: Todos


Notas Finais


Todas as informações sobre a Síndrome de Down eu peguei no site do Movimento Down, já que eu não tenho todos esses conhecimentos. Espero que tenha sido isso o que a pessoa que fez o plot queria ler ^^ e que todos tenham gostado <3

[Ps: estou bem nervosa de postar algo depois de tanto tempo sumida, então sejam legais comigo lol. Podem me achar lá no Twitter, qualquer coisa: @priiserpa o/]


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