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História Juntos pela Menrtira - Capítulo 1 - Tem cerveja na geladeira!


Escrita por: SakuraHtinha

Notas do Autor


Estou de volta!
Dessa vez com uma comédia romântica original, ao qual eu estou adorando escrever.
Espero que todos vocês que irão começar a acompanhar a vida agitada da Ágata, gostem tanto como eu estou gostando de escrever.

NOTA:
Essa história é totalmente original de minha autoria.
Pode conter cenas de insinuação sexual,linguagem imprópria, nudez, violência, apologia a bebidas.

Então, sem mais delongas: boa leitura!

Capítulo 1 - Capítulo 1 - Tem cerveja na geladeira!


 

Capítulo 1 - Tem cerveja na geladeira!

 

Bufei batendo os pés pela terceira vez em menos de um minuto. Chequei o horário pela enésima vez em menos de um minuto e meio. Deveria ter deixado o carro no estacionamento ao lado do aeroporto, o dono sempre dava em cima de mim, cobraria bem menos e eu não ficaria plantada em pé no aeroporto cheio esperando o bendito dar o ar de sua graça.

O celular chamou mais uma vez até cair na caixa de mensagem. Qual era a dificuldade de se atender o telefone?

Nenhuma!

Esfreguei a testa úmida com a mão direita sentindo o cansaço se apossar de meu corpo, não iria mais ficar esperando a carona chegar! Arrumando a postura caminhei em direção a saída do aeroporto com determinação sendo seguida pelos “clicks” dos meus saltos, motivada pelo desejo de vingança – por ter ficado igual uma pateta esperando o ser especial dar o ar de sua graça e vir me buscar, cheguei ao ponto de táxi, que para alegria de meu azar, está vazio. 

Até que me lembrei: Tinha gastado quase todo o dinheiro que restou com o maldito Box de Música dos Anos Oitenta. E tinha me sobrado... tirei a carteira da bolsa e contei o dinheiro.

Doze reais!

Minha determinação de chegar em casa intacta sumiu na mesma hora que o desejo de vingança cresceu a um nível alarmante. Ele ia me pagar, há se ia!

Cansada, de mal humor e com o menor pingo de vontade marchei com meus saltos altos no piso escuro do lado de fora do aeroporto indo em direção ao ponto de ônibus que ficava a duzentos metros do ponto de táxi. 

O desgraçado do Hugo ia me pagar!

Foi com esse pensamento que enfrentei três ônibus lotados, em pé com duas malas grandes nas mãos. 

O alívio foi grande quando desci do terceiro ônibus, suada e sem paciência, caminhei um quarteirão inteiro sendo torrada pelo sol incessante enquanto o vento quente jogava meu cabelo contra o rosto, que por sinal estava tão melado pelo suor que grudava os fios na pele.

Quase gritei de felicidade a ver o prédio branco e preto surgi entre outros edifícios. As arvores grandes, a grama bem aparada, as pedras brancas e cinzas que enfeitavam o pequeno jardim com flores coloridas, –  e algumas mortas, –  era o lembrete de que estava pertinho, bem pertinho de casa. Só precisaria passar pela portaria e subir quinze andares de elevador até meu andar e nada me impediria de tomar meu tão esperado e merecido banho.

 

O guarda que ficava na guarita, –  uma casinha pequena com a metade feita de tijolos avista e a outra de vidro negro, que ficava ao lado do portão preto cheio de ornamentos, meio metro maior que eu. –  me cumprimentou com entusiasmo, mostrado um sorriso de orelha a orelha e dentes bem amarelados. Chamou o porteiro pelo interfone para me ajudar com as duas malas, agradeci sorrindo. Roberto, o porteiro, surgiu fora do prédio preto e branco correndo em minha direção, a testa e pescoço brilhando com o suor e o sorriso nos lábios, a barriga saliente quicava levemente enquanto descia os degraus com pressa vindo em minha direção. 

– Ágata, minha filha chegasse tarde, achei que ias chegar mais cedo! –  O tom humorado que ele usou amenizou meu mal humor. Tirou as malas de minhas mãos e se pôs ao meu lado reto. Roberto parecia disposto a enfrentar quinze andares –  de elevador –  até meu apartamento segurando as duas malas pesadas com um sorriso nos lábios. 

– Fiquei sem carona seu Roberto, o Hugo me deixou na mão e tive que vim de ônibus. –  reclamei enquanto o seguia até a entrada do edifício, subindo as escadas observei o porteiro levemente maior que eu se equilibrar com as duas malas nas mãos. 

– Quer ajuda? Eu posso carregar uma delas, carreguei as duas do aeroporto até aqui, não me custaria nada! –  exibi um sorriso amarelo cheio de dentes e um tom carinhoso e sem graça. 

Roberto levantou o queixo e tomou fôlego. –  não precisa, eu dou conta! 

– Tudo bem... – Respondi sem acreditar muito nele. Tinha minhas dúvidas se a força de vontade dele era assim tão grande quanto a capacidade dele de suportar as duas malas pesadas.  

Entramos no hall de entrada, espaçoso. Um espelho grande vintage estava ao lado das caixas de correios de madeiras presas na parede marrom, abaixo das caixas de correios havia três vasos grandes com flores brancas, e ao lado um mural de vidro com vários avisos e informativos. De baixo do mural tinha uma mesa de ferro com a tampa de vidro, um vaso oval com Margaridas brancas descansava em cima dele. No centro do Hall um jogo de sofá de couro ficava em cima de um tapete felpudo, entre os sofás tinha uma mesa de vidro com jornais e revistas. Na outra Parede de frente para as caixas de correio ficava a mesa do seu Roberto, uma mesa grande de madeira escura que escondia a cadeira de couro dele. O Lustre cheio de gotas estava desligado, mas o ar condicionado que ficava em cima da mesa dele estava tentando tornar o hall o Alasca. O segui até o fim do hall em direção ao elevador. Na frente do elevador tinha uma portinha que dava acesso as escadas. Apertei o botão chamando o elevador e me pus ao lado de Seu Roberto.       

Ele não largou minhas malas no chão, o rosto rechonchudo começou a ficar levemente vermelho, isso me preocupou um pouco.

 – Tem certeza que não quer ajuda? –  insisti com um sorriso forçado. 

Ele só negou com a cabeça, e a porta do elevador se abriu. Observei meu reflexo no espelho do elevador, e pude confirmar todas minhas certezas, estou um caco!

Com dificuldade seu Roberto apertou o botão do meu andar, alguns minutos depois saímos juntos, seu Roberto estava quase roxo. 

Santo Deus, as malas não estavam tão pesadas assim! 

Vasculhei a bolsa atrás das chaves sobre o olhar atento e desesperado de seu Roberto.

Alívio banhou o rosto roxo dele quando abri a porta e dei passagem para ele, correndo quase tropeçando nos próprios pés ele largou minhas malas no lado do sofá marrom de dois lugares e respirou fundo. 

– Está entregue! –  falou sorridente e bateu as mãos uma na outra –  qualquer coisa é só interfonar!  

Sorri pondo a bolsa na mesa de centro de madeira.  

– Muito obrigada seu Roberto, o senhor aceita uma água? –  perguntei indo em direção a cozinha. 

Ela era simples e bem prática, modelo de cozinha americana nas cores de tabaco e branco era a parte da casa que eu tive que aprender com o tempo a usar. Até meus vinte anos não tinha muita familiaridade com o fogão.

– Aceito sim, muito obrigada Dona Ágata! –  Ouvi seu Roberto gritar da sala. 

Abri a geladeira rindo sozinha, minha risada entalou na metade em minha garganta ao ver as garrafas de cerveja e o pote de ovo de codorna em conserva. Agarrei uma garrafa de água na porta da geladeira e a fechei. Além de esquecer de me buscar e me deixar plantada quase duas horas no aeroporto ele resolveu povoar minha casa enquanto eu estava fora. Folgado!

Pisando duro voltei para a sala entregando a água, ele agradeceu e bebeu com ferocidade sem tomar fôlego entre as goladas. 

– Você sabe se o demente do Hugo está em casa? –  perguntei como quem não quer nada, mas não consegui esconder a irritação na voz. 

Seu Roberto parou de beber a água e abaixou a garrafa quase vazia.

 – Está em casa. –  respondeu devagar. 

Sorri satisfeita sentindo o sentimento de vingança aflorar pelo peito. Seu Roberto se despediu e acabei dando minha garrafa para ele.

Sozinha no apartamento abri as cortinas brancas deixando o sol forte iluminar decentemente a sala grande. Tirei o molho de chave do chaveiro ao lado da porta e sai do meu apartamento. Rezei durante minha caminhada curta pelo corredor em direção a porta das escadas que ficava ao lado do elevador para que ele tivesse dormindo, iria acordar Hugo da melhor forma que no momento me pode ocorrer.

Praticamente voei pelos degraus, meus saltos faziam um barulhão desnecessário sempre me acompanhando. Desci um andar e abri a porta entrando no corredor de paredes metade marrom e metade bege, parei em frente a porta do apartamento 1423, enfiei a chave na fechadura imaginado mil e uma maneiras de como me livrar do corpo dele, a porta se abriu em um clique.

 A primeira coisa que vi foi o sutiã vermelho no sofá preto, a segunda coisa que notei foi meu vaso branco de porcelana no chão quebrado em vários pedacinhos ao lado do tapete manchado de vinho.

Filho da mãe! 

Se eu queria antes me vingar agora eu queria tirar sangue do desgraçado! Marchei pelo corredor quase derrubando os quadros da parede sentindo que tiraria o coro dele. Parei na frente da porta do quarto, que por sinal está fechada. Suspirei fundo recuperando minha postura e tentando ignorar a raiva que circulava livremente por todo meu ser. Abri a porta do quarto com fúria. O cheiro de cerveja velha, vinho e pizza quase me fizeram vomitar. Parei no lado na mesa, perto da porta e vi um fio de tecido que tentava se passar por uma calcinha minúscula, a dona da calcinha sem vergonha estava nua e dormia no chão ao lado de Hugo. Respirei fundo e escancarei a porta, contei até três e fechei a porta com força, a mesinha tremeu. O estrondo foi alto e o suficiente para acordar os dois, a mulher em segundos se pôs de pé com o rosto assustado, se não fosse minha raiva teria me envergonhado por vê-la nua. Hugo se sentou no chão o mais rápido que pode, o susto abandonou o lugar no rosto dele para dar lugar a surpresa.

 – Bonito para a sua cara! –  gritei séria cruzando os braços para não avançar em um dos dois.

 A mulher pegou o lençol no chão e se enrolou nele da melhor maneira que pode, não parava de olhar para Hugo esperando que o palerma dissesse algo. Os fios loiros era uma confusão e a maquiagem estava tão borrada que em comparação a Freddy Krueger, podemos dizer que ele é bem jeitosinho. Hugo levantou cambaleando usando a cama como apoio enquanto segurava o lençol na altura da cintura escondendo seus documentos.

 Ele esticou a mão direita na minha direção. –  eu posso explicar! –  balbuciou nervoso.

 Minha bunda que ele vai explicar!  Puxei o ar com força para dentro do pulmão preste a explodir.

 – Fiquei quase duas horas te esperando no aeroporto! – Bati as mãos nas coxas – tive que pegar três ônibus nesse sol quente, Três! –  levantei três dedos para enfatizar. – porque comprei a merda daquele box de músicas dos anos oitenta para você. E o desgraçado estava dormindo no bem bom com uma qualquer! – Gritei quase descontrolada. – Você tem noção de quantas vezes eu te liguei? 

A loira ficou vermelha, não se se de raiva ou vergonha, mas ela abriu a boca para retrucar.

–  fica quieta se não via sobrar para você! – Apontei com o indicador para ela cortando qualquer tentativa de argumentação dela.

 – Eu posso explicar! –  Hugo voltou a repetir tentando adotar uma postura calma enquanto procurava alguma cosia pelo quarto.

 Revirei os olhos e respirei fundo. – Me explica então, quem foi que quebrou meu vaso e manchou meu tapete? Qual dos dois?

 Hugo olhou para a loira tentando puxar algo na memória, a loira olhou para ele sem entender. 

–  fui eu! –  ela respondeu quase tímida.

 Soltei o ar devagar de olhos fechados. – Acho bom você ter oitenta e cinco reais e cinquenta centavos com você ou te denuncio por invasão e degradação de bens!

 A mulher ficou vermelha e depois branca.

 – Você não acha que está exagerando? –  Hugo perguntou sonolento ainda segurando o lençol na altura da cintura.

 – Não, porque seria exagero se eu cobrasse a lavação do tapete sem saber quanto que vai dar. Não sou injusta, mandarei o valor certinho para ela pagar, mas o valor do vaso eu sei, e como ela quebrou ela que pague o estrago!

 Hugo se sentou cansado na cama e deu de ombros. –  bem, se eu fosse você pagava logo. –  resmungou sonolento.

 A loira olhou para ele incrédula, como se tivesse escutado o maior absurdo do mundo. Dei de ombros e troquei o peso de perna.

 – Se vistam, estarei esperando os dois na sala. –  dei as costas saindo do quarto batendo a porta.

 Me sentei no sofá preto com as pernas cruzadas, o salto começou a apertar meus pés de uma forma desconfortável. Demorou dez minutos para os dois saírem do quarto, a loira parecia furiosa e Hugo não tinha vestido uma camisa e parecia que ia cair em qualquer lugar e dormir.

 – Então? –  perguntei olhando para a mancha de vinho.

 – Você e a namorada mais esquisita que eu já vi! –  A loira anunciou com o nariz empinado.

 O quê?

 Minha gargalhada soou alta e escandalosa assustando a mulher, Hugo me acompanhava, mas de uma forma mais contida.

 – Você está louca? Não sou namorada desse... –  apontei para Hugo e segurei um palavrão. –  desse ser.

 A loira cruzou os braços e olhou para ele assustada. Hugo me fuzilou com os olhos ofendido.

 – Não?

 Hugo negou com a cabeça preguiçosamente. 

 – Deus me livre namorar ele! –  murmurei risonha – de onde você tirou essa ideia? 

 A loira me olhou como se eu fosse de outro mundo e se afastou de Hugo.

 – Meu telefone está aqui junto com o dinheiro –  pôs um cartão na mesa de centro junto com o dinheiro. 

 Olhei para ela e tirei o celular do bolso da calça, com a ponta dos dedos peguei o cartão e digitei o número, o telefone começou a chamar alguns segundos depois ouvi o celular da garota receber a ligação. Sorri tranquila.

 – Vais ficar ou quer que eu chame um táxi? –  falei com gentileza enquanto me levantava do sofá recolhendo o dinheiro e o guardei no bolso junto com o celular.

Fui em direção a cozinha pegando na dispensa a pá e a vassoura e voltei até a sala, os dois cochichavam de uma forma nada agradável. Hugo se calou quando me viu e a loira se virou para mim séria.

– Vai querer que eu varra também? –  debochou.

Sorri com simpatia. 

– Claro que não! Visita não faz trabalho doméstico, isso quem vai fazer é o Hugo.

Só ouvi um suspiro acompanhado de um palavrão, não me importei, pus a pá e a vassoura na mão dele e caminhei com tranquilidade até a porta.

– E Hugo, quando tiveres desocupado, vai lá em cima, quero conversar com você. –  sorri com carinho e sai do apartamento.

 Não demorou muito para Hugo aparecer no meu apartamento esfregando uma das bochechas, a marca da mão da loira estava bem impressa no rosto dele.

 – Tinhas que ter cobrado o valor exato do vaso? –  perguntou com o humor mais leve vindo na direção do sofá. 

Revirei os olhos fazendo pouco caso da situação. Hugo sentou no meu lado com a cara de quem queria morrer dormindo. 

– Ficasse me esperando quase duas horas no aeroporto? –  perguntou com a voz sonolenta. 

Afundei no sofá de camurça com chaise retrátil aberto, como amava esse sofá!  

– É, fiquei. – Curta e seca.

Ouvi Hugo suspirar. –  por isso que meu celular não parava de tocar... 

Virei o rosto na direção dele devagar como a menina do exorcista, se eu estivesse em um desenho animado meus olhos estariam pegando fogo e o cenário atrás de mim estaria todo preto com raios a minha volta.

 – E porque você não atendeu o bendito celular? –  rugi mostrando o punho, uma ameaça silenciosa de que eu bateria nele sem hesitar. 

Hugo pós as pernas em cima do chaise aberto ainda sem camisa, a metade da panturrilha para baixo ficou fora do chaise aberto e se acomodou no sofá. Com o canto dos olhos observei ele cruzar os tornozelos. O desejo ardente de correr para a farmácia e comprar cera quente e me livras dos pelos da perna dele quase me expulsou do sofá. Quase!

 – Gata, eu estava dormindo não ia acordar para atender o celular! –  respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

 Revirei os olhos respirando fundo.

 – Claro que tinha que cobrar, ela quebrou ela que pague! –  bati com a mão esquerda no braço fofo do sofá. Ouvi Hugo Ri e bocejar.

 – Fico te devendo “uma” então?

 Pode ter certeza que vai me dever “uma” mesmo!

 – Você fica me devendo “uma” sim, e vai me devolver a metade do valor de que botei no seu carro Hugo! Enchi o tanque para que você pudesse ir me levar e buscar e não para pegar mulher nas festinhas! –  resmunguei de cara feia.

 Hugo soltou um grito abafado quase pulando do sofá, os lábios finos se escancararam e os olhos de arregalaram. É só mencionar dinheiro que ele acorda.

 – Fala que está brincando comigo? –  praticamente suplicou quase apavorado, quase!

 Quis rir dele e falar "bem feito seu otário", mas me mantive apática, isso o irritava muito.

 – Eu tenho cara de quem está brincando? –  apontei com os dois indicadores para o meu rosto neutro.

 Hugo soltou um resmungo e me xingou não muito baixo.

 – Como se esse dinheiro fosse ser necessário para você! –  debochou –  sabia que é feio e mal-educado da sua parte ficar cobrando os outros? E por acaso tens noção de quanto a gasolina está valendo?

– É claro que tenho noção, enchi o tanque do seu carro seu cabeçudo! E outra, não botei gasolina no seu carro porque sou educada e boazinha, botei gasolina no seu carro para você me levar e buscar no aeroporto. –  voltei a explicar devagar. –  E você não foi me buscar! É justo que você devolva a metade do que gastei de gasolina.

 Soltando um grito agoniado Hugo bagunçou os cabelos e olhou para o teto.

 – Deixa de ser mal-amada e mão de vaca. –  resmungou. 

 Dei de ombros olhando para a tevê desligada no deck da parede.

 – Sabe quem ligou mil vezes esse final de semana querendo falar com você? –  Mudou de assunto no mesmo instante que o humor dele mudou, curiosidade e mistério banhou o tom dele.

 Neguei com a cabeça. –  quem? 

Hugo pulou no sofá e girou ficando de frente para mim e apoiou o antebraço esquerdo no encosto reclinável do sofá. Aquele animo súbito dele me deixou curiosa, ele parecia uma criança preste a contar a identidade secreta do seu super-herói favorito para o seu melhor amigo. 

 – Quer mesmo saber? –  perguntou em uma voz enigmática e um sorriso sacana nos lábios.

 Foi minha vez de pular e girar no sofá, me senti inquieta e aqueles sorrisinhos e tentativas de mistérios estavam fazendo o efeito esperado em mim.

 Apoiando meu antebraço direito no encosto reclinável e me inclinei na direção dele. –  Conta logo, quem?

– O Diogo!

 A primeira coisa que eu fiz ao escutar o maldito nome? Bati no baço dele com força. Ele soltou uma exclamação de dor, mas acabou rindo.  A segunda coisa que eu fiz? Bati nele de novo, e ele continuava rindo.

 – Porque você fala com esse sorriso irritante no rosto? –  perguntei quase brava.

 Hugo ria como se tivesse visto a coisa mais engraçada do mundo, se defendeu de mais alguns tapas, mas ainda ria, e muito!

– Porque queria ver essa sua cara de solteirona desesperada. Impagável! 

Filho da mãe!

 Avancei nele desferindo tapas bem estalados nos braços dele. Hugo revezava entre rir e se defender. Parecia estar se divertindo muito.

 – Está bom lutadora, já chega! Essas tapinhas de crianças estão doendo! –  falou entre risadas, as bochechas estavam levemente vermelhas e os olhos com lágrimas de tento rir.

 Parei de atacar o Sr. Engraçadinho me recompondo, sentei em cima dos tornozelos meio emburrada. Hugo respirava fundo tentando controlar a risada.

 – Você está rindo de que, palhaço?  

Hugo suspirou tentando se recompor. –  estou rindo de você! De quem mais séria?

 Ignorei o que ele falou. Diogo me ligando não deveria ser boa coisa. Não mesmo!

 – O que ele queria? –  perguntei seca.

 Hugo passou a mão direita no cabelo negro. –  se desculpar, disse que estava arrependido... sabe o de sempre!

 Arrependido? Por favor, isso era a mesma coisa que dizer que iria nevar no Ceará. Ele não pareceu nem um pouco arrependido quando me traiu com a morena turbinada, nem na hora e nem depois de três semanas. Eu poderia ser boazinha, mas não otária! Quem nessa situação estava arrependida era eu! Nunca desejei tanto não ter conhecido o desgraçado. Hugo era um santo em comparação a Diogo.

 – Pelo amor de Deus Ágata, você não vai cair nesse papo de arrependido. –  quase suplicou. –  vai?

 Revirei os olhos, isso foi o suficiente para acalmar Hugo. Claro que não acreditaria nele, Diogo foi o pior erro que eu pude ter cometido. Pena que a três meses atrás eu achava ele o cara mais incrível do universo e por isso acabei ganhando de graça um belo par de chifres na testa. Mas espera, como ele sabia disso? 

– Você ficou esse final de semana aqui não foi? 

 Hugo sorriu de orelha a orelha, nem se preocupou em omitir nada. Me respondeu com um sorriso safado.

 – O que eu posso fazer, tens uma ótima coleção de filmes e de música. E convenhamos seu apartamento é melhor do que o meu e sua dispensa vive cheia. Sem falar que sua casa tem um cheiro melhor que a minha!

 – Isso porque eu faço compras e mantenho minha casa limpa ao contrário de você, que acha que o apartamento é um chiqueiro e faz o que faz! Parece um apartamento de adolescente. 

Hugo fez careta como se a ideia de limpar a casa ou fazer compras fosse extremamente ofensiva. Às vezes eu tinha a certeza de que tinha alugado o apartamento para um adolescente mimado e preguiçoso ao invés de um homem já formado com seus quase trinta anos.  

– E por isso você se dá a liberdade de povoar e infectar meu apartamento com sua preguiça e bagunça? –  me segurei para não atacar uma almofada nele, vontade foi o que não faltou.

 Hugo deu de ombros não se importando com o que falei, relaxado no sofá só faltou pôr os pés na mesa. Que ele não fizesse isso!

 – Você chegou cedo, um dia mais cedo! –  Hugo murmurou olhando para a tevê desligada.

 Parecia que ele gostava de me irritar de propósito, era inacreditável o quão irresponsável ele conseguia ser!

 – Seu palerma, eu mandei mensagem ontem de manhã, liguei e falei com você avisando que eu chegaria mais cedo que o previsto! –  segurei a vontade de arrancar meus cabelos da cabeça, minhas palavras saíram entrecortadas, raiva borbulhou dentro de mim.

 Hugo me encarou desacreditado, como se tivesse ouvido a maior mentira do mundo.

 – Eu não me lembro!

 Bufei cruzando os braços.

 – Claro, encheu a cara de cerveja e vinho, aposto que está morrendo de ressaca. Sinceramente, me surpreendo por você lembrar o meu nome!

 – Para com o drama, você está aqui não está? –  resmungou irritado.

Cruzei os braços revirando os olhos, nós dois olhamos para a tevê desligada. 

– Minha mãe ligou. –  Hugo resmungou baixo.

Deixei minha cabeça pender para a direita, observei o perfil dele, a barba não muito grande, mas bem-feita na mandíbula e queixo, os lábios medianos ligeiramente finos, o rosto e nariz comprido, as bochechas redondas, olhos grandes e redondos, os cílios compridos e grossos, sobrancelhas grossas que pareciam ser feitas toda semana no salão. 

– E o que queria? –  perguntei devagar sentindo o vento entrar na sala pela porta da sacada que estava aberta. 

Hugo fez uma careta e virou o rosto para mim quase emburrado.

– Queria saber se eu ainda estava vivo e quando eu criaria vergonha na cara e arranjaria uma namorada, se ela podia ter esperanças em um dia ser avó... sabe o de sempre! –  sorriu cansado quase fechando os olhos.

Me segurei para não rir, seria muito cruel da parte dele se ele tivesse respondido que sim. Não me leve a mal, mas Hugo é o tipo de cara que nasceu para ser solteiro e sozinho. Ele é um cara legal, ele é inteligente, quando quer ser bem-humorado ele é! Mas como parceiro romântico, pelo o que eu via e sabia, Hugo é nota zero!

– Eu disse que estava procurando. –  ele deve ter notado minha cara de censura, e logo remendou –  Só procurando, só disse que estava procurando. Não que encontrei. 

Esse era o momento que eu deveria ter sido legal e falar frases de conforto, mas falei a primeira coisa que me veio à mente:

– Tem cerveja na geladeira!


Notas Finais


Para aqueles que leram até o final, muito obrigada!
Sugestões, criticas construtivas e elogios são sempre bem vindos.
Caso alguém tenha identificado qualquer erro ortográfico, é só avisar que corrigirei rapidinho!


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