Eu detesto gente ignorante, sério. Tudo bem, já me conformei que as pessoas não podem viver em harmonia umas com as outras e concordar entre si, e daí todo mundo vive feliz vomitando arco-íris e jogando pétalas de flor pro alto enquanto andam saltitando, mas porra, um pouco de respeito as vezes é bom e todo mundo gosta. Você não precisa concordar com a opinião do amiguinho, é só respeitar, caralho!
Okay, talvez eu esteja um pouco alterado. Perdoem minha compostura, é só que esse assunto é delicado e me deixa meio puto. Deixem-me esclarecer o que aconteceu.
Era uma quarta-feira pouco antes das férias do meio do ano, e eu tinha acordado de bom humor. Talvez fosse o clima ameno, ou o simples fato de que eu fui dormir após falar com o Nath na noite anterior. De qualquer forma, fui pra escola ouvindo Pariah’s Child, do Sonata Arctica, e Power Metal é pra mim como Arctic Monkeys é pras pessoas normais, ou Winner pro povo bizarro dos kpops - ou seja, tranquilizante. Quando cheguei no edifício da Sweet Amoris, Love* estava terminando de tocar, e eu até me permiti esboçar um sorriso mínimo e murmurar um “bom dia” pro pessoal conhecido que encontrei no pátio. Porém antes que eu pudesse apreciar a reação engraçada das pessoas ao meu deboísmo repentino e aleatório, vi a Lynn se aproximar de mim com uma cara nada boa, segurando o celular na mão e Lysandre na outra.
_ Bom dia meu amigo querido e senhorita Tábua.- cumprimentei-os, e o Lys me encarou com uma careta confusa e preocupada.- O que houve?- perguntei após não receber nenhuma provocação de volta da Lynn, normalmente ela fingiria estar ofendida com meu comentário e nós discutiríamos de brincadeira como em toda manhã. Mas não dessa vez.
_ O Nath tá com problemas.
…
Assim que ela disse aquilo a música trocou para Larger Than Life, e aquele acorde grave do início combinou perfeitamente com minha expressão séria de preocupação.
_ Que tipo de problemas?- perguntei, pausando a música pra me concentrar no que ela diria.
Lynn suspirou fundo e me estendeu seu celular. O Messenger estava aberto numa conversa com o Nathaniel finalizada a poucos minutos atrás. Comecei a ler enquanto ela falava.
_ Ele me ligou ontem depois de falar com você.- ela contou.- Disse que o pai dele tinha ouvido vocês dois conversando e estava desconfiado. Eu disse pra ele não se preocupar, e se precisasse podia dizer que a conversa era comigo. Depois disso não falei mais com ele, e hoje de manhã ele me mandou isso.- ela apontou pro celular e se calou pra que eu pudesse me concentrar na conversa.
Nas mensagens ele basicamente dizia que o pai não havia acreditado quando ele disse que a conversa era com a Lynn, e que ele sabia do nosso namoro porque a mãe de alguém da escola havia contado, e que ele tinha apanhado após várias ameaças de expulsão, e que ele não iria pra escola hoje porque seu corpo doía e o rosto estava muito machucado.
Quando eu terminei de ler minhas mãos tremiam.
_ Onde você vai?- perguntou Lynn, a voz um pouco esganiçada, quando eu devolvi seu celular e comecei a caminhar para fora da escola com passos pesados.
_ Salvar o Nath daquele desgraçado!- eu gritei, e chutei o portão quando passei por ele, o que assustou umas garotas do primeiro ano que conversavam em grupo logo ao lado.
Em algum momento enquanto eu lia aquelas mensagens o meu sangue começou a bombear mais forte no meu corpo, porque agora eu sentia meu coração bater rápido e meu rosto vermelho. Mas eu estava bravo, não apaixonado, e queria muito socar a cara de alguém. Normalmente consigo esconder esse meu lado explosivo, porque ele é meio, bem… Explosivo, mas naquele momento eu estava tão alterado que esqueci de todos os conselhos que minha mãe me dera quando eu era pequeno e encrenqueiro. Eu só queria socar o pai do Nath por ser tão covarde.
_ Castiel, espera!- disse a Lynn, segurando meu braço pra que eu parasse de andar e olhasse ela. Eu podia ver que estava quase chorando.- Você não pode ir lá assim.
_ Não posso?- retruquei, e pude ver nos olhos dela que meu jeito grosso não a assustava.
_ Você está alterado.- disse o Lysandre, finalmente, também tocando meu braço.- Se acalme primeiro.
Tentei suspirar fundo e me concentrar. Ali, na minha frente, estavam duas pessoas que se importavam e queriam me ajudar. Eu devia ouvi-las.
…
_ O plano é o seguinte.- iniciou Lynn, já mais calma, a voz determina e as mangas puxadas até o cotovelo.- A gente vai até a casa do Nath, mas só eu entro. Digo ao pai dele que sou uma amiga e vim porque fiquei preocupada porque ele faltou. O pai dele me conhece, vai me deixar entrar sem problemas. Quando eu chegar as coisas do Nath vão estar quase todas arrumadas, eu acho, então a gente só espera o pai dele ir trabalhar e sai tentando não chamar atenção. Se a mãe dele perguntar a gente diz que vamos até minha casa estudar.
_ Com toda a bagagem dele?- pergunto, preocupado.
_ A mãe dele sempre quis que a gente tivesse algo, provavelmente não vai negar se eu pedir pra ele dormir lá em casa. Enfim. Quando a gente sair vamos direto pra sua casa e ele fica lá durante um tempo. Se precisarem de qualquer coisa, eu sou uma ninja e posso assaltar o quarto dele de noite.- Ela termina com um nice guy e eu quase fico menos preocupado.
_ Tem certeza que isso vai funcionar?- pergunto, apreensivo.
_ É isso ou a gente foge com ele de noite, o que é bem mais arriscado.- ela diz, dando de ombros.
Eu só pude suspirar pesado. Aquele plano não era muito bem estruturado, mas nós estávamos desesperados.
…
Quando os olhos do Nath encontraram os meus sua expressão passou de um pedido de socorro para um suspiro de alívio. Ele estava horrível. Seus ombros estavam encolhidos e ele mancava, e seu rosto estava inchado de choro, além do olho roxo e o lábio cortado. Eu não conseguia imaginar que um pai fosse capaz de uma coisa dessas.
Ele apenas jogou a mochila no chão e me abraçou ali mesmo, do outro lado da rua de sua casa, e eu senti que ele poderia quebrar se eu não o segurasse com cuidado. Quando me afastei para o olhar seus olhos estavam marejados.
_ Desculpa.- ele disse, a voz trêmula, e eu não pude encontrar nenhum motivo pra ele ter dito aquilo.- Desculpa por te envolver nisso tudo.
Eu apenas o abracei novamente, e sussurrei ao seu ouvido:
_ Está tudo bem, você vai ficar bem. Eu estou aqui, okay?
Nós apenas nos soltamos quando a Lynn insistiu que devíamos sair logo dali.
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