História Valley Star - Confusions Around You - Seren Dahlia

Dia 1 de janeiro de 2011, por volta das onze horas da noite em um hotel de Hong Kong, China.

- Ai Phill, essas fotos ficaram incríveis! Vamos nos dar bem desta vez. - Falou Luna animada enquanto olhava o marido trabalhando no computador.

- Acredito que sim, e os textos como estão? - Respondeu Philippe sem demonstrar muita animação, afinal sempre foi sério em relação a praticamente tudo.

- Ah... Escrevi pouco, mas as entrevistas ficaram ótimas, só preciso encaixar tudo e acrescentar um pouco de drama. Eu a-do-re-i esse ano novo! E você, Seren, o que achou?

Seren, que estava jogada em uma cama bagunçada do outro lado do quarto, murmurou algo incompreensível. Luna se aproximou dela e a sacudindo disse:

- Hey, garota, você está bem?

- Hum... Hã?! Oi... - Seren continuou murmurando.

- O que você tem? Vai lavar o rosto, suas olheiras estão horríveis, está parecendo um zumbi. - Falou Luna em um ar nada delicado.

- Ah... Faz dias que não durmo direito, vocês estão trabalhando sem parar, não sei como conseguem permanecer tão ativos.

Seren levanta e se dirige ao banheiro. Luna senta ao lado do marido e fala:

- Esses jovens... Cada dia mais preguiçosos. 

- Luna... Nós precisamos conversar sobre a Seren. - Philippe diz olhando seriamente para a esposa.

- A respeito do quê? - Perguntou Luna.

- É... A respeito do quê? - Repetiu Seren enxugando o rosto ao sair do banheiro.

- Querida, por que não vai lá em baixo e socializa com os demais hospedes da sua idade? - Sugeriu Philippe.

- Às onze e trinta e sete da noite? 

- O horário não é um problema, você sabe que os serviços do hotel funcionam 24 horas por dia, com certeza deve ter pessoas para você conversar. - Falou Philippe.

- Como se eu conseguisse conversar com o povo daqui...

- Apenas vá! - Continuou Philippe, já num tom não muito agradável.

- Okay... - Seren se calou e saiu do quarto.

"Ótimo, eu só queria poder descansar", pensou a garota enquanto chamava o elevador. Desceu até o primeiro andar do hotel onde havia um espaço aberto com sofás, sentou-se e começou a folhar uma revista que estava ao seu lado, pensou "se ao menos eu soubesse ler mandarim". Seren encostou sua cabeça na lateral do sofá, fechou os olhos e caiu no sono. Depois de um bom tempo sentiu algo a cutucando na região do ombro, acordou de uma vez e disse: 

- Wǒ bù shuō nǐ de yǔyán! (Eu não falo sua língua).

- Acalme-se, sou eu... - Falou Luna.

- Mãe... Você me assustou, que horas são?

- Três e vinte da manhã.

- Então vamos dormir.

- Não, nós precisamos conversar.

- Mas eu estou tão cansada... 

- Prometo que você vai descansar. Enfim, o que achou do ano novo chinês? 

- Já é a terceira vez que passamos por ele, eu gostei... É bonito, mas é igual.

- Não, sempre muda e faz um bom tempo que não vínhamos para cá, você amava aqui.

- Eu ainda amo, só estou muito cansada, juntando tudo dos últimos três meses cerca de 63 horas nós passamos dentro de um avião.

- Você sabe que eu e o seu pai não podemos perder nada que acontece no mundo, por isso estamos sempre correndo.

- Eu entendo... Você sabe disso, só estou cansada agora, como já falei mil vezes... Só me deixe dormir.

- Seren, escute! Está foi a sua última viagem deste ano.

- Hã? O que você quer dizer? Vocês não vão mais trabalhar com isso?

- Não, nós vamos continuar trabalhando, mas tomamos uma decisão sobre você. 

- Hã? Como assim?

- Existe um Colégio Interno próximo da cidade que você nasceu, onde a Agatha, sua madrinha, vive. Acredito que seja um bom lugar para você.

- Por que não posso ficar com a Agatha?

- Você sabe que ela não bate muito bem da cabeça.

- Ela tem o mesmo nível de sanidade que você. Hahaha!

- Pra amar viver assim, em constante mudança, é... Eu devo ser louca também.

- Eu amo você, Mãe. - Seren abraçou Luna.

- O colégio é grande e você poderá fazer amigos da sua idade, é algo que você nunca viveu antes, estudar por conta própria não é algo saudável, a escola e a convivência com outras pessoas fazem parte do seu desenvolvimento.

- Mas eu estou quase terminando, falta apenas dois anos.

- A decisão já está tomada, no fim deste mês embarcaremos de volta para sua cidade natal. 
 

27 de Março de 2011, Sweet Amoris, França.

Seren e sua família descem do carro de Agatha em frente ao colégio. Tudo ali parecia magnífico, Seren não conseguia segurar o que sentia. Havia uma construção enorme ao centro e outras menores, feitas de tijolos a vista, por todos os lados, a grama estava bem cortada e brilhava. Era um local enfestado de árvores e flores, Seren pensou: "Não faltará lugar para ler um bom livro".

Sua animação estava em um grau extremamente elevado para o normal, essa seria a chance dela finalmente iniciar sua vida social, o que significava muito para ela. Durante as viagens nunca conseguiu se apegar a ninguém, a maior parte do seu tempo era dedicado à leitura e à história dos locais por onde passava.

Se dirigiram à secretaria e logo foram recepcionados pela diretora, Senhora Shermansky. Esta após exibir o imenso Colégio e apresentar algumas das atividades extras proporcionadas, como: clube de musica, esportes, artes e jardinagem; Levou Luna e Philippe até seu escritório e ali finalizaram a matrícula da garota.

Esperando para o lado de fora estavam Agatha e Seren.

- E ai? O que achou daqui? - Falou Agatha empurrando Seren e sorrindo.

- Eu gostei, é um lugar adorável.

- Own... Você cresceu tanto! É tão certinha e fofa, estou muito feliz que podemos ficar próximas de novo! - Continuou Agatha enquanto apertava as bochechas rosadas de Seren.

- Hey, vocês duas! Tudo certinho, vamos até o carro buscar a bagagem? - Falou Luna saindo do prédio junto de Phill.

Se dirigiram até a saída e levaram as duas grandes malas de Seren do carro até o portão, Philippe se aproximou da garota, colocou as mãos em seus ombros e tentando evitar o choro disse:

- Boa sorte, querida. Desejo tudo de bom para o início desta sua jornada.

- Obrigada, Pai! - Seren o abraçou forte e assim o homem não conseguiu se conter e deixou as lágrimas escorrerem de seus olhos.

Olhou diretamente para os olhos da filha e prosseguiu:

- Nós te amamos muito.

Luna os abraçou também e se desculpou por já ter que partir em mais uma viagem, desta vez para Indore, Índia. Seren compreendeu, já estava acostumada e suas emoções se voltavam para o que vinha em frente e não para o que já conhecia.

- Até mais, filha, mande mensagem e ligue para gente sempre que poder. - Os pais se afastaram.

- Mocinha, mocinha... Se cuide e toma cuidado com os rapazes, tenta não machucar tanto o coraçãozinho deles ou não deixa eles machucarem o seu! - Falou Agatha.

- "Hahaha"! Obrigada, madrinha.

Seren caminhou adentro do Colégio e se virou para assistir o carro partindo e o aceno de seus pais.

- Hey! Esqueci de algo. - Philippe parou o carro e correu até a garota segurando algo nas mãos. - Está aqui, um amuleto da sorte.

- Obrigada pai. - Seren pegou o presente, "papai e essas maluquices". Era um colar de pedra com algumas runas, colocou no pescoço.

- Sempre que sentir saudades olhe para ele, a noite ele reflete um brilho fantástico, assim como uma estrela. Minha amada Seren... - O pai, animado, continuou explicando coisas sobre o amuleto, por mais alguns minutos. Seren não estava entendendo mais nada.

- Vamos logo, Phillipe! - Luna gritou do carro.

Seren riu.

- Estou indo! Ótimo, fique bem, minha flor. - Phillipe beijou a testa da garota e se retirou.

- Vou sentir falta de vocês! - Gritou Seren.

- Nós vamos sentir mais ainda...- Falou Philippe dando partida no carro.

Seren acenou e quando perdeu a visão do carro para a distância se virou para o colégio, tomou coragem e começou a andar. Apesar de ter prestado atenção na explicação da diretora, estava completamente perdida, suas malas estavam pesadas e seus braços magros mal conseguiam as carregar, se sentou em um banco qualquer para descansar e tentar relembrar onde o dormitório ficava. Um garoto loiro veio correndo em sua direção, parou em seu lado, arrumou a gravata azul que usava e falou ofegante:

- Olá, me chamo Nathaniel, mas pode me chamar de Nath. Sou representante de turma e às vezes faço alguns serviços a mais, como agora! A diretora me chamou para te guiar, ela já deve ter apresentado o Colégio para você, mas aparenta estar perdida.

Seren corou, primeiro garoto da sua idade que via em muito tempo, olhou para o chão disfarçando e respondeu gaguejando:

- É-é-é... E-eu não sei onde é o meu quarto.

- Hum... Normal. Você acabou de chegar, né? - O garoto sorriu. - Venha, o dormitório feminino não é muito longe. Sua colega de quarto é a Violette, ela está sozinha desde que a última estudante da nossa turma saiu do Colégio. Porém ela é muito gentil, uma ótima artista e tímida assim como você aparenta ser.

Seren percebeu desconforto quando Nathaniel citou a antiga estudante. Não soube o que falar, então só sorriu carinhosamente, como sempre. Andaram por alguns minutos e Nath se ofereceu para carregar a bagagem, Seren recusou, mas ele insistiu.

- Bem... Como você se chama?

Seren respondeu baixinho, costumava ter vergonha de seu nome, o qual não é muito comum. Nathaniel não conseguiu ouvir direito, mas não quis a incomodar perguntando novamente. Já estavam se aproximando do dormitório quando Seren visualizou um menino de cabelos castanhos e olhos verdes, muito familiar, mas não conseguia definir de onde vinha a memória dele.

Subiram as escadas até o terceiro andar e depois de andarem um pouco pelos corredores, bateram na porta do último quarto, o futuro lar de Seren. Violette estava desenhando sobre uma mesa. Nath a apresentou:

- Violette, esta é Seren! Sua nova colega de quarto, acredito que vocês vão se dar muito bem.

Violette não disse nada, apenas esboçou um pequeno sorriso e continuou a desenhar. Seren também sorriu de leve.

- Ok, vou deixar vocês sozinhas para se conhecerem melhor. Boa noite, até amanhã.

- Boa noite. - Seren respondeu.

Nath saiu pela porta. "Preciso dizer algo para ele", Seren pensou e correu para o corredor.

- Obrigado por ter me ajudado.

O garoto sorriu e disse:

- Não há de quê.

Acenou e foi embora. Seren voltou ao quarto e começou a arrumar suas roupas no armário, não tinha muitas peças. Nunca gostou de comprar roupas, as poucas que não eram relacionadas a culturas variadas dos locais que já passou, eram colegiais. Sua mãe cansou de comprar uniforme para cada escola que ela passava e então comprou uma pilha de básicos, em Sweet Amoris uniforme não é necessário, porém Seren decidiu permanecer com as mesmas roupas. Colocou seus livros embaixo da cama, vestiu seu pijama de carneirinhos e se aconchegou em suas cobertas, olhou o amuleto que seu pai havia a presenteado e adormeceu imaginando mais uma vez como seria ter amigos.

- I know you want to stay in bed, but it's light outside.

- It's light outside.

Seren levantou assustada, era apenas o despertador de Violette, perfeita musica para a situação. Violette levantou e riu.

- Bom dia. - Seren falou.

- Seu cabelo está engraçado. - Disse Violette.

- Sério? - Seren levantou e correu até o espelho que ficava em cima da penteadeira. - Arg! É mesmo...

Seren colocou seus óculos e viu sua imagem refletida. Uma garota pequena de cabelos armados e arruivados, seu rosto levemente arredondado e enfeitado com sardas, um nariz pequeno e levemente empinado. Olhos de cor azul escuro, que durante dias chuvosos ficavam roxos, cobertos com um óculos redondo e preto. A garota começou a pentear o cabelo até que ele tomou sua forma normal, liso.

Olhou para trás e viu Violette colocando alguns papéis de desenho dentro de sua pasta, ela falou:

- Desculpe-me por não ter te recepcionado bem ontem. Estava confusa se queria mesmo uma companhia depois de tanto tempo, mas pelo jeito que você reagiu acho que podemos ser amigas.

"É sério? Finalmente vou fazer uma amiga?".

- Claro! Faz um tempo já que não interajo com pessoas da minha idade. - Seren suspirou. - Então pra mim está sendo difícil também, teria feito o mesmo na sua situação. Se não for pedir de mais, você pode ficar comigo no restante do dia? Sabe como é... Primeiro dia de aula.

Violette sorriu e prometeu acompanhá-la e falar um pouco de cada pessoa que conhecia. Seren não demorou muito para se trocar. Estava pronta, só faltava tirar uma sujeira de seu óculos, mas Vi a puxou antes. Desceram a escada juntas, o sol brilhava forte no céu dando cores incríveis às folhas das árvores, que se encontravam na frente do dormitório. Seren tentou ao máximo enxergar cada detalhe, mas era difícil, pois seu astigmatismo acarretava também uma fotofobia, a qual a impedia de visualizar bem coisas na luz forte, coçou os olhos e seguiram em frente.

- Violette! Bom dia.- Falou uma garota de cabelos brilhantemente brancos e compridos. - Esta é a sua nova colega de quarto?

- Oi Rosalya. Sim, é ela.

- Que fofura, parece que vocês se deram bem. Faz tempo que não vejo Vi animada assim.

Seren corou e só conseguiu olhar para seus pequenos pés.

- Não tenha vergonha, quero te conhecer. Violette não se aproxima de qualquer pessoa e pelo que ouvi dizer de você, parece ser muito interessante.

Seren ficou feliz pelo que ouviu, sorriu tímida e falou:

- É-é... Não sei o que ela viu em mim... Muito obrigado pela hospitalidade de vocês duas. Mas... Como assim? Ouviu algo sobre mim? Acabei de chegar.

Rosalya colocou o braço sobre o ombro de Seren e disse:

- Você tem muito o que aprender... As coisas correm rápido aqui. Bem... Ouvi sobre você ter passado seus últimos anos viajando, que quase não teve contato com jovens nesse período e que você é uma doçura.

“Doçura?!” Primeira coisa que passou na cabeça de Seren, não fazia a mínima ideia de quem tinha dito aquelas coisas, seus pais não falaram com ninguém e não acreditava que uma diretora pudesse espalhar coisas assim.

- É verdade, mas como sabem destas coisas? E doçura? Como assim?

Rosalya riu.

- Ouvi alguns meninos falando ontem, não sei quem começou com isso. Não precisa ficar assustada, logo logo você se acostuma com essas fofocas.

As palavras de Rosalya trouxeram segurança para Seren e as três seguiram em frente até o bloco onde era a primeira aula. No corredor todos secavam as garotas, uma menina loira mal-encarada chegou com outras duas amigas e se direcionou a Seren.

- Ah, então é você a novata viajante? Que roupa mais brega, decepção é o que sinto... Pensei que fosse alguém ao nível de entrar para o meu grupo. Mas não tive sorte, não é mesmo, garotas?

As duas garotas perto dela, uma asiática e outra morena, concordaram e saíram rindo. Mas antes que as garotas se distanciassem uma voz masculina surgiu de trás de Seren:

- Só uma cobra para estar num nível tão baixo quanto o deste seu grupo, Ambre.

Seren empalideceu na hora sobrando apenas suas bochechas vermelhas, olhou para trás e avistou um garoto alto de cabelos brancos e incríveis olhos heterocromaticos. Seren nunca havia visto olhos tão peculiares como aqueles e o gesto dele, de a defender mesmo não a conhecendo, a deixou ainda mais comovida. Não sabia como agradecer, ficou ainda mais vermelha e olhou para o chão. O garoto se aproximo, pegou no ombro de Seren e falou:

- Está tudo bem? Ambre é sempre babaca assim, não se sinta mal por isso. Ela faz esses escândalos o tempo todo, eu não costumo intervir, mas eu sei que o primeiro dia de aula é sempre complicado... Eu só queria poder mudar isso e fazer com que o seu não fosse ruim. Me chamo Lysandre, qual o seu nome?

Seren levantou a cabeça e os olhares dos dois se encaixaram, a garota sorriu e o respondeu:

- Seren. Seren Dahlia!

Lysandre corou, Seren tem realmente um sorriso especial, que comove qualquer coração, pois dentro dele ela expressa algo sincero e misterioso ao mesmo tempo, o que instiga qualquer um a desejar conhecê-la melhor.