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História Just Another Girl - Capítulo 25 - Substituição


Escrita por: footballergirl

Notas do Autor


Minhas amadas:
Peço perdão pela demora. Eu sei que prometi ser mais rápida, mas estou em ano de vestibular e muitas de vocês devem entender a loucura que é. Espero sinceramente que me perdoem. Eu amo o que faço e sinto a falta de vocês para dividir esse mundo insano que existe na minha cabecinha. Não me abandonem, por favor, porque eu posso demorar mas jamais abandonarei vocês!

Capítulo 25 - Capítulo 25 - Substituição


- Então... é isso.

Eu não tinha as orbes azuladas dele voltadas pra mim. Robert se recusava a me encarar, e isso me doía bastante, embora eu não tirasse sua razão. Descobrir que sua mulher e um dos melhores amigos já estiveram juntos não era tão fácil de engolir.

- Você ainda ama ele?

A sua pergunta veio como uma bomba - e como se desejasse me pressionar ainda mais, seus olhos acompanharam. Foi minha vez de desviar. - Hã... se eu amo? O Marco? - Robert rolou os olhos um pouco, aquela reação tão típica nas íris verdes do seu amigo, e meu coração desabou de repente com a constatação de que eu não tinha mais como mentir. Ele iria tirar satisfações com Marco mais cedo ou mais tarde, e saberia da verdade.

Eu o encarei por um longo instante. Quando Robert colocou seus olhos em mim, eu despejei. - Sempre amei. - Observei então eles mudarem de cor, passando de um azul cristalino pra algo mais escuro, assim como as águas profundas do oceano, de uma maneira que me fazia sentir o quão inacessível estava sua mente agora; o quão longe de mim seus pensamentos estavam.

O vinco na sua testa não fazia muito por mim, e esse era o meu calcanhar de Aquiles: depois de Marco eu tinha medo de não saber o que as pessoas estavam pensando. Eu tinha medo de eatar sendo enganada, o tempo todo. O que me fazia confiar em Robert - e talvez era o que me fazia amá-lo tanto - era a superficialidade das suas emoções. Eu sempre sabia o que ele estava pensando, ou sentindo, só lendo seu olhar, ou suas feições. Era simplesmente aterrorizante vê-lo se esconder de mim assim.

- É um sentimento quase infantil, Rob. Não digo que acabou porque nunca realmente teve um fim, mas eu superei isso há tanto tempo... Eu amo você, Robert. Até aceitei me casar com você! O que tem de errado com uma história do passado? Você era casado até algum tempo atrás!

Ele riu. Quando voltou a falar, a voz de Rob era calma, até um pouco sombria. Marco estaria gritando nesse momento - provavelmente teria socado alguma parede a essa altura. Mas Robert não. Sua passividade era assustadora, justamente porque assim eu não sabia o queia acontecer depois, nem onde seus pensamentos estavam.

- Sabe, Nicole... eu acho que a culpa foi minha, no fim das contas. Tinha algo errado com você, eu sempre soube. Muita mentira numa pessoa só não podia terminar bem.

- Rob, acredite em mim. - eu implorei, fazendo sua risada sádica e afiada reaparecer. Ele havia de virado de costas apoiado no parapeito da janela do seu hotel. A cortina de cor caramelo atrás dele voava com a brisa gelada que a noite trazia, aquela típica cena de filme que indica um mau presságio.

Ele me olhou, a voz num tom sombrio e frio novamente. - Tudo que eu fiz foi confiar em você. Eu deixei tudo que construí pra ficar com você... simplesmente aceitei que haviam coisas sobre você que eu jamais iria saber, e eu te queria mesmo assim. Se você tivesse dito antes... Você sabe que eu perdoaria, certo? Perdoei todas as outras mentiras, por que não essa?

Minha cabeça baixa me impedia de ver se a nota de dor que senti na sua voz era real.

- Sempre soube que você ia reagir assim quando soubesse.

- É  claro! - ele grunhiu, mais alto, parecendo tanto com Marco agora que aquela pontinha de medo atacou meu coração - e foi rapidamente sufocada quando eu lembrei quem era o homem na minha frente. O mais doce, fiel e delicado. - É claro que eu iria sentir raiva! Mas eu ia entender.

- Então qual é o problema agora?

Minha cabeça tornou pra cima, o sibilo fraco escapando dos lábios de Robert conforme ele registrava a petulância e a ironia disfarçadas na minha voz.

- O problema é que você o ama. O suficiente pra me iludir esse tempo todo, só pra se aproximar dele de novo. Você viu a minha fragilidade e o meu momento e eu não entendo como você pôde se aproveitar da situação de maneira tão cruel! Eu te dei tudo, garota! Eu te vi ali, tão pequena, parecendo tão quebrada quanto eu, e eu imaginei que nós fossemos o certo um pro outro. Como se Deus tivesse te mandado pra mim, pra me curar, pra me fazer feliz...

Nem em mil anos eu esperaria ter ouvido tais palavras saindo da boca de Robert. Conforme as nuances de raiva, dor e ressentimento passavam pela sua voz, eu percebi qual era o seu verdadeiro julgamento sobre mim. Ele pensava que eu tinha feito tudo pra me reaproximar do Marco!

Se eu pensava que a situação toda não podia ficar pior, eu nunca tinha estado tão enganada.

- Você  O QUÊ? Robert! Você está louco? Eu não me aproximei de você por causa do Marco!

- Então foi por qual motivo? Por Lisa e Thomas e Mário? Você não se importa com eles. Não depois de sumir por dez anos. Se você tivesse apenas me pedido, eu teria te levado até ele. Mas eu sou tão idiota... - ele riu de si mesmo, tão sinceramente que, em outro momento, eu veria essa cena com a certeza de que era uma das suas gargalhadas de puro contentamento.

Pisquei repetidamente durante quase um minuto até que meu cérebro pudesse registrar as suas palavras com clareza.

- Você não pode pensar que eu teria coragem de fazer isso. Não depois de todo esse tempo juntos.

Só percebi que tinha me levantado quando Robert deu passou para trás, se separando de mim tanto quando o pequeno espaço do quarto permitia. Eu olhei pro homem na minha frente, seus 1,90m de altura fazendo uma oposição quase cômica aos meus 1,68m, os braços fortes cruzados no peito como pedra, a expressão impassível. Olhando pra mim, meus próprios punhos retorcidos pendendo de cada lado do meu corpo, pude perceber o quão longe de engraçado era o momento.

- Eu não sei quem você é, Nicole. Posso pensar qualquer coisa de você.

As palavras entraram no meu coração - eu queria seu perdão, mas não admitiria um erro que nunca cometi, e se era isso que Robert queria, essa conversa estava longe de acabar.

Minha sobrancelha se arqueou conforme eu falava, e eu tentava olhar para qualquer parte do seu rosto exceto os olhos azuis fixados em mim. - Não tinha nenhuma intenção de voltar pra vida dessas pessoas quando nós nos encontramos, Robert. - eu cuspi o seu nome como se fosse um palavrão, assistindo enquanto suas barreiras de valentão caíam e o verdadeiro Rob, sensível, magoado com o que acabou de descobrir, saiu de sua concha. - Nem mesmo tinha qualquer intenção de me relacionar com você. Mas existe uma coisa com a gente - você sabe que sim - um tipo de conexão que era como um imã. Quando me assustava, nós já estávamos próximos de novo. Nem você tinha intenção de ter um caso quando nos "conhecemos", muito menos de se separar.

- Então por que eu? Entendo que eu me apaixonei, mas se você não tinha nenhuma intenção de voltar para a vida dessas pessoas - Ele me encarou de volta, repetindo minhas palavras com desgosto. - então por que você se envolveu justamente comigo? Toni estava na mesma festa, louco pra ter uma chance com você. Ele se sentiria motivado com apenas um olhar seu! Por que então você decidiu desgraçar a minha vida?

A brisa soprou forte pela janela; um arrepio de frio subiu pelos meus braços, me fazendo tremer. Eu teria me enrolado a essa altura, me encolhendo na tentativa tola de me esquentar, mas o choque pelas palavras do homem que eu tanto amava ainda ecoando na minha memória fresca me impedia de mexer qualquer músculo.

Nem mesmo meus olhos se desviaram dos dele. Ele podia ver - era claro o arrependimento na sua expressão, na forma como os braços cruzados se afrouxaram um pouco e os lábios se partiram, secos repentinamente, e as sobrancelhas unidas por um vinco característico que fazia aqueles amados olhos azuis se apertarem. Mas seu arrependimento era a pior parte: eu sabia que Robert nunca diria uma coisa daquelas pra me machucar. O que significa que ele <realmente acreditava naquilo.

Será que eu desgracei a vida dele também?

A solidão bateu na minha porta uma outra vez - como uma velha amiga que vinha para outra temporada. Imediatamente senti aquele enorme vazio no peito; aquele buraco negro que Marco tinha aberto no meu coração e que só Robert tinha sido capaz de amenizar se abrindo de novo, lentamente. Era fácil prever a dor que viria em seguida.

Eu tinha quinze anos outra vez.

No meio de um quarto com pouca luz, um frio intenso e as lágrimas quentes e claras escorrendo pela minha pele amendoada. De repente eu me sentia pequena e frágil - exatamente como eu devia parecer perto do corpo enorme e musculoso do homem a minha frente. A vontade de me encolher e me trancar dentro do guarda roupas certamente me consumiria, não fosse a necessidade súbita que me acometera de abraçar forte e apertado qualquer coisa, qualquer pessoa, nem que fosse um travesseiro estranho.

Robert suspirou fundo, recuperando a serenidade característica que o fazia tão diferente de Marco, e contornou o estreito sofá da pequena sala de sua suíte para ir embora, sem ter que passar por mim. Ele não negou seu comentário, embora parecesse arrependido por ter dito aquilo.

Quando abriu a porta, porém, eu toquei seu braço, tão ternamente quanto pude, disposta a tudo para fazê-lo ficar. - Eu amo você, Robert. Por favor. - as lágrimas tomaram os meus olhos. - Fique.

Ele balançou a cabeça, se desvencilhando do meu toque. - Vou pro hall do hotel. Lá tem pessoas o suficiente pra me impedir de tomar outro rumo e ir quebrar a cara daquele filho da mãe. - ele tornou a andar, parando no meio do caminho com uma expressão entre incrédula e desconfiada. - Isto é, o Marco pelo menos sabe que nós estávamos noivos?

- Robert! - eu protestei, meu queixo caindo em choque. Meu olhar deve ter sido suficiente para sua resposta, porque o próximo instante passou sem que ele disse mais nada. Até que a minha ficha caiu. O frio me congelava de dentro pra fora, como de a qualquer momento eu fosse deixar de sentir. - Espere aí. Estávamos?

- Agora você está livre pra ir atrás do bastardo e viver o seu conto de fadas adolescente. - ele disse com uma ironia ácida, tornando a me dar as costas enquanto atravessa o dossel.

- Eu não estou cancelando um casamento aqui, Robert.

Minha voz firme, mais do que eu esperava. Uma semana atrás eu não tinha assim tanta certeza de que queria me casar com ele - então a segurança com que as palavras saíram da minha boca me surpreenderam.

Ele parou uma última vez, como que decidindo, e eu jurava que havia algo no movimento dos seus ombros que indicava que ele tinha entregado os pontos. No entento, eu estava enganada. Mais uma vez.

- Não conte com o noivo, então.

E bateu a porta atrás de si.

~•~

Eu repousei a xícara de café sobre o pirex de porcelana de Lisa, imaginando em que momento ela tinha se tornado a dona de casa promissora e mãe de um time de críquete em potencial, que colecionava louças caríssimas vindas da China para serem vendidas no interior, numa dessas casas de leilão que só têm artigos milenares. Ouvi o seu suspiro e quase peguei o relance de uma revirada de olhos quando me foquei outra vez no seu rosto, imaginando se era motivada pela história que eu havia acabado de contar ou pela minha careta para os seus artigos domésticos.

- Então você decidiu terminar tudo você mesma só pra não pagar de idiota.

Não que eu pudesse, mas assim que Robert saiu pela porta, peguei meu celular e comprei a primeira passagem que encontrei para Munique. Vantagens de um emprego flexível. Inicialmente o plano era não deixar esse 'tempo' nos separar - um tempo podia ser uma semana ou uma década, e se algo na vida me assustava, esse algo era a idéia de passar longos anos separada de alguém que eu amava. Acabei mudando de idéia assim que pousei na capital da Bavaria, cerca de dezoito horas depois.

Vim parar na porta de Lisa. Sabia que Thomas havia acabado de chegar em casa, já que seus horários batiam com os de Rob, e não queria atrapalhar, mas ele era um cavalheiro e se disse muito necessitado de uma nova garrafa de vinho, e talvez um queijo especial, e portanto iria até a cidade resolver isso. Eu agradeci com um sorriso complacente - era o melhor que podia fazer naquele momento.

E aí contei tudo pra Lizz.

Tudo.

Suspirei. - Quase isso. Admito, eu não queria que as pessoas vissem o quão idiota eu fui de pensar que era boa o suficiente pra Marco. Mas eu simplesmente o amava demais pra causar qualquer tipo de dor a ele. Só a idéia de vê-lo brigando com Bastian - e você sabe que essa briga seria certa se Basti tivesse a menor noção do que aconteceu - já me causava arrepios.

Lizz encarava sua xícara, girando a colher de uma borda a outra enquanto meditava sobre as próximas perguntas.

- Não vou fingir que é uma desculpa boa o suficiente pra você ter ignorado a existência dos seus amigos por uma década, mas acho que consigo compreender sua atitude. Você só tinha quinze anos nessa época... - ela suspirou,  finalmente colocando seus olhos em mim. - Gostaria que tivesse me contado tudo naquela época. Eu adoraria chutar as bolas dele quando o encontrasse no corredor.

Minha risada alta me surpreendeu - eu não esperava ser capaz de sorrir. - Não duvido.

- Thomas certamente estaria mais apaixonado ainda. Ou iria fugir com medo de mim. - eu ergui uma sobrancelha e ela sorriu. - Ah, qual é! Você ainda sabe o que é senso de humor?

- Me desculpe. - eu estendi o braço até tocar levemente seu ombro direito. - Não estou num bom momento.

Ela suspirou, erguendo uma sobrancelha para mim. - E o que pretende fazer, afinal? Há alguma chance de vocês fazerem as pazes em breve?

- Nao sei, Lizz. - o encosto da cadeira parecia ainda mais confortável do que antes, como um abraço quentinho. - Talvez eu devesse ir até a mansão e esperar por ele, mas não acredito que conversar sobre esse assunto no lugar onde ele morou por tantos anos com aquela mulher deva fazer muita coisa por mim.

Lisa me olhou por um instante, provavelmente dividida entre a raiva e a pena. Surpreendentemente ela se levantou e me sufocou com os braços ao redor do meu pescoço - o que em sua concepção deve ter sido um caloroso abraço fraternal. - Tudo se ajeita, minha querida. Quem sabe esse não é o momento de dar uma chance ao Marco?

- OI??? - eu girei em seus braços, atônita com o que tinha acabado de ouvir. - Você só pode estar brincando, Lisa!

- Não, não! - ela sorriu, dando um passo para trás para me ver melhor. - Isso não lhe parece um sinal? Não tem como escolher de verdade entre os dois se você não der uma chance a cada. Talvez ele te surpreenda.

- Talvez eu termine o mês atropelando Marco na saída do treino. - eu disse, com as sobrancelhas erguidas.

- Talvez. Mas você precisa tentar, querida.

Lisa me beijou na bochecha e saiu pela porta, levando nossas xícaras para a cozinha.



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